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sábado, 14 de abril de 2018

TREINANDO O CÉREBRO PARA ESTUDAR?

Um breve comentário acerca da obra “Treine o seu cérebro para provas”, de Augusto Cury.


Fico preocupado com a aprendizagem dos alunos de medicina. Não somente pelo grau e pela amplitude de conhecimento. É o curso mais concorrido e exigente que existe em nosso país, de forma geral, pelo menos por enquanto.
Há alguns anos tenho buscado informações que possam ajudar no processo, por si só tão complexo, de se tornar médico. Pesquiso na área de Humanidades Médicas, na formação ética e moral do aluno. Ensino o estudo das evidências médicas também, preocupo-me com a qualidade da ciência e com nossa capacidade de analisar o que lemos a fundo, com eficiência. Sou coordenador de curso, logo preocupo-me também com a qualidade de todo o processo, equilibrando necessidades e anseios de alunos, famílias, professores e administradores.
Contudo, há algo a mais a ser buscado. O estudo das melhores técnicas para o auxílio no estudo individual ou em grupo de nossos alunos. Para isso, pesquiso há vários anos as técnicas neuropedagógicas que podem nos ajudar a utilizar nosso cérebro de forma vantajosa com o menor sofrimento possível.
Grande influências nessa caminhada foram, sem dúvida, Olavo de Carvalho, Reuven Feuerstein, Carlos Nadalim, Pierluigi Piazzi e Barbara Oakley. 
Desenvolvi uma Oficina de Neuroaprendizagem e alguns instrumentos que podem colaborar na organização dos estudos dos alunos. Aplico tais conhecimentos e os divulgo no próprio Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina. E estou sempre atrás de novos conhecimentos para aprimorar meus métodos de estudo e ensino.
Um livro cujo título chamou minha atenção nesses dias foi “Treine o seu cérebro para provas”, de Augusto Cury. Adquiri e li o livro em três dias. Leitura rápida. E divido com vocês minhas impressões acerca do livro.
Porém, antes, falo de minhas expectativas ao comprar o livro. Queria um livro que trouxesse ferramentas úteis para aplicação no estudo cotidiano. Queria um livro com explicações fáceis e detalhadas que pudesse ser indicado a meus alunos e que realmente fizesse diferença. Infelizmente, minhas expectativas não foram contempladas. A proposta do livro na prática está longe da objetividade pragmática e útil dos livros de Piazzi e Oakley, por exemplo, que trazem dicas diretas e concretas ao leitor.
O livro de Augusto Cury segue a proposta muito comum nos dias de hoje de aplicar a psicologia positiva, na vertente do controle das emoções para aprimorar o controle do pensamento próprio e facilitar o estudo. 
Cury começa contando acerca de sua vida pessoal, de como enfrentou seus problemas e desenvolveu sua obra (que possui muitos pontos interessantes) apesar de todo o descrédito da Academia. A história tem caráter motivacional, e está muito bem contada. Funciona como estímulo ao aluno que está desanimado por não enxergar oportunidades à frente, no sentido em que estimula cada um a buscar com afinco a realização de suas metas. 
A sequencia do livro é uma reexposição da teoria da inteligência multifocal. Praticamente todo o restante do livro é a explicação de conceitos como pensamento dialético (atenção focal conforme descrito por Barbara Oakley), pensamento antidialético (atenção difusa e criativa?) e pensamento essencial, ligado à forma e estrutura que encadeia e gera pensamentos. Outros conceitos interessantes são os de Memória de Uso Contínuo (Memória de Trabalho), Memória Genética e Memória Existencial. São nomes diferentes para atividades humanas já descritas na literatura sobre neuroaprendizagem em outras obras. A desvantagem do livro de Augusto Cury é que ele não oferece as instruções claras de uso que Barbara Oakley e Pierluigi Piazzi oferecem. Cury permanece na explicação de seus conceitos e no convencimento do leitor sobre a utilidade de usá-los e de como alguém pode se controlar e promover a aprendizagem.
O livro termina com alguns questionários sobre identificação de sintomas do que Cury denomina Síndrome do Pensamento Acelerado e com mais estímulos motivacionais sobre a necessidade de controlar as emoções e promover atitudes e pensamentos positivos. Dicas interessantes, mas pouco práticas. Eu sei que preciso controlar minha ansiedade e que, por outro lado, um pouco de ansiedade é algo necessário, mas não encontro na obra de Cury as ferramentas úteis para realizar tal operação.
Gosto da forma como Cury escreve. Gostei muito de outras obras suas. Funciona como leitura motivacional. Mas esta, em especial, não oferece instrumentos para o aluno que está em busca de ajuda prática, pragmática e imediata. Para estes alunos, sugiro as seguintes obras:
- Inteligência em Concursos: Manual de Instruções do Cérebro para Concurseiros e Vestibulandos – Prof. Pierluigi Piazzi.
- Aprendendo a Aprender. Como ter sucesso em matemática, ciências e qualquer outra matéria (mesmo se você foi reprovado em álgebra). – Barbara Oakley.
O tempo gasto no preparo de como alguém deve estudar economizará muito tempo durante o processo de estudar, com certeza.