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quinta-feira, 19 de março de 2020

NOS PIORES MOMENTOS, OS MELHORES

Essa frase – “nos piores momentos, os melhores” – foi inspirada no lema dos bombeiros voluntários que tive a feliz oportunidade de conhecer durante uma visita a trabalho em Santa Catarina. Fornecem grande inspiração para o presente e demonstram o valor daqueles que decidem realmente fazer a diferença positiva na sua comunidade.
Há momentos na história em que uma nação tem a chance de mostrar seu heroísmo e seu caráter, deixando para a posteridade a lembrança do que realmente alcançou em seus mais difíceis desafios ao mobilizar todo seu potencial. 
No caso de guerras, erguem-se os combatentes: membros das forças armadas que pegam em armas não para atacar os inimigos à frente, mas para proteger aqueles que ficaram para trás. 
No caso da suspeita ou instalação de epidemias, levantam-se os profissionais da saúde, não para pegar em armas, mas para usar da ciência e da excelência técnica contra um inimigo invisível e tantas vezes letal que por diversas vezes ressurge ao longo da história sob diferentes formas.
Hoje, esse inimigo que se aproxima assume a forma de um novo vírus altamente contagioso e potencialmente letal, principalmente na mais frágil parcela de nossa população.
Ainda não se sabe a real extensão do desafio que aguarda o nosso povo, mas sabemos do nobre papel milenar que pertence aos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos e tantos outros valorosos combatentes da saúde. Nos momentos de grande fragilidade, seja no tumulto dos dias de suspense frente à suspeita de epidemia, seja nos dias de franco combate, cabe ao profissional da saúde cumprir o papel hipocrático de valorizar a vida e cuidar daqueles que ficaram doentes.
Pode parecer duro e até mesmo injusto para alguns que, no momento em que a maioria se recolhe, o profissional de saúde deva se expor, mas é justamente isso o que está implícito no chamado profissional: a nobre busca pela virtude em prol do cumprimento de um dever considerado sagrado em benefício do próximo, pois profissão vem de professio: professar elevados valores que beneficiam a todos. 
Nenhuma mãe, pai, esposa, filho ou marido gosta de ver seu amado ir para o combate ou para um cenário de risco ao lidar com doenças contagiosas, mas todos sabem em seus corações o que é necessário nesse momento de crise.
Diante do desespero, há que se manter a equanimidade temperada pela ciência, pela habilidade técnica e pela presteza em tomar difíceis decisões diante da rápida evolução clínica ou de um conturbado cenário social. Diante do perigo, há que se comportar de forma prudente e cuidadosa, consciente de que riscos devem ser controlados para quem cuida e para quem recebe o cuidado. Diante da fraqueza e da necessidade alheia, há que se manter a coragem, a caridade e a compaixão. 
Após cada conquista, cada vida salva, cada dor aliviada ou cada família confortada, deve-se manter a humildade para reconhecer em si mesmo semelhante fragilidade àquela encontrada no paciente e a possibilidade de tornar-se também doente – de virar paciente – absorvendo no corpo e na alma a doença que no outro foi eliminada ou aliviada.
O chamado do qual aqui se fala não é um chamado para todos, como acredito que aqueles que me leem perceberam, mas é um chamado especialmente direcionado a alguns – daí o nome vocação – para que todos possam ser beneficiados. É o chamado heroico dos profissionais da saúde. E a resposta a esse grande chamado – marcado pela caridade, compaixão, integridade, ciência, coragem e esperança – é o que diferencia quem é profissional de fato daqueles que somente possuem um diploma.
A todos aqueles que se arriscam e se arriscarão para ajudar ao próximo e suas famílias, nenhum agradecimento é suficiente. Que Deus ajude cada profissional da saúde a ser o melhor possível para o próximo. E que nossos filhos e netos escutem acerca de nossa geração os grandes feitos e realizações que marcarão nossas vidas e o futuro de nossa nação.
Que sejamos, de fato, os melhores profissionais nos piores momentos.

Hélio Angotti Neto