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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Uma típica mentira abortista

Uma típica mentira abortista.

Se proibir, aumenta?

Enquadrando a Discussão

Nas conversas entre aquelas pessoas a favor da vida humana e aquelas a favor do direito de decidir ou, em termos mais diretos, nas brigas entre os que são contra e os que são a favor do aborto, respectivamente, alguém do último grupo sempre costuma apelar para um dado curioso. Segundo a sabedoria abortista, proibir o aborto aumenta o número de casos. Se o aborto fosse legalizado, segundo eles, os casos de aborto tendem a diminuir.

Para muitos isso pode parecer contraditório. E, na maioria dos casos, é pura contradição mesmo!

Essa é mais uma das muitas mentiras a respeito do aborto que são veiculadas por iluminadas cabeças pensantes em meio à sociedade. Se continuarem pensando com essa qualidade, há de se questionar onde chegarão, senão na aniquilação da inteligência e da capacidade de apreender a realidade.

Abortistas de todos os tipos citam artigos produzidos por institutos claramente comprometidos com a causa abortista para defender a ideia de que os abortos são reduzidos com a legalização. Tais artigos, publicados em importantes revistas, são utilizados como porretes da autoridade científica para calar o adversário em um pretenso debate.

Vamos esclarecer algumas coisas desde já.

O que se chama debate, no Brasil, de regra é um reforço da mesma opinião previamente desejada, pertencente a uma elite progressista que se acha dona da verdade e considera o povo brasileiro retrógrado e incômodo. Como descreve Francisco Razzo em seu livro Contra o Aborto, o debate de regra é entre diversas opiniões a favor do aborto enquanto os contrários ao aborto são excluídos dos meios chiques da sociedade e da mídia de massas.[1] Melhor assim, para os detentores do futuro melhor de nosso país. Que esses evangélicos e católicos conservadores sumam de nossa frente ou, como diria certo professor universitário brasileiro, que sejam abordados em conversa na ponta de uma espingarda.[2]

Segundo ponto: os trabalhos que de regra são citados pertencem a Organizações Não Governamentais abortistas que recebem verbas milionárias de fundações internacionais abortistas e megaclínicas de aborto. O exemplo mais famoso é o Instituto Guttmacher, que publica nas badaladas revistas médicas como a Lancet, e recebe dinheiro da maior rede de clínicas abortistas do mundo, a Planned Parenthood, além de receber verbas da Bill and Melinda Gates Foundation. E tal instituto ainda tem a pachorra de afirmar que não há conflito de interesses em suas publicações. E, verdade seja dita, quando revistas como a Lancet ou o New England Journal of Medicine falam de política, é perceptível a agressiva agenda ideológica subscrita pelos autores e editores.

Terceiro ponto: há uma série de distorções estatísticas nesses trabalhos usados como fonte de autoridade científica. Mas, de regra, são citados por pessoas sem o menor preparo em Medicina Baseada em Evidências ou Bioestatística, funcionando como instrumentos de apelo à autoridade científica. Resumindo, esses artigos repletos de manipulação e conflitos de interesse são exemplos do uso burro de uma ciência deturpada por razões políticas e ideológicas.

E o que dizem os abortistas e os artigos? E qual é a realidade? Vamos aos fatos.


A distorção estatística e o caso dos Estado Unidos

De certa forma, os abortistas contam com a preguiça intelectual, a falta de competência em avaliar artigos ou a pressa do leitor. Esperam que alguém leia a conclusão que é lançada após páginas de expressões técnicas como Bayesiano e Teste de Kolmogorov-Smirnov e aceite tudo como a verdade divina descendo como maná dos céus. E na maioria das vezes é justamente isso que acontece.

Pessoas sem formação alguma na área de Medicina Baseada em Evidências se aventuram a ler conclusões ideológicas citadas em artigos distorcidos para fundamentarem suas crenças prévias.

Recentemente, um trabalho foi citado como prova de que liberar o aborto reduziria a prática.[3] Esse trabalho, relativamente recente, afirma que o número de abortos em países ricos, que em sua maioria legalizaram a prática, está caindo desde 1990, e que permanece alto em países em desenvolvimento, que ainda não legalizaram o aborto em sua maioria.[4] O que você entende? Que a legalização reduziu o número de abortos, certo? Vejamos com um olhar mais acurado.

Na década de noventa do século XX, a grande maioria dos países desenvolvidos já tinha legalizado o aborto há muitos anos. E as medidas do número de abortos realizados em países em desenvolvimento que não legalizaram a prática são expostas a diversos vieses e cálculos de correção dos dados que inflacionam a casuística formidavelmente.

Se queremos concluir sobre a legalização aumentar ou reduzir o número de abortos, o que devemos fazer? Voltar ao momento em que o aborto foi legalizado e acompanhar, ano a ano, a mudança no número de abortos. Isto significa checar os números antes e após a decisão do famoso caso Roe vs Wade, em 1973, nos Estados Unidos, por exemplo.

Antes da decisão, já se observava um aumento contínuo no número de abortos relatados, sem dúvida por causa da militância pró-aborto e das mudanças culturais dos anos sessenta, conforme relatado por Bernard Nathanson.[5] Foram reportados 390 casos de aborto para cerca de 4 milhões de nascimentos nos Estados Unidos em 1963. Ano a ano, o número de abortos aumentou, chegando em 1973 a 744.610 abortos em uma população de 3.136.965 nascidos vivos. O aborto ainda não fora liberado nos moldes pós Roe vs Wade, mas a pressão ideológica para sua liberação era intensa.

Neste momento os abortistas falarão que o número de abortos é muito maior, só que não é relatado. O que se conclui é que, uma vez legalizado, as mulheres procurarão um serviço dentro da legalidade no qual realizarão o procedimento sem o risco aumentado de uma intervenção clandestina, e o número real de abortamentos será revelado.

Em 1974, um ano após a decisão do tribunal no caso Roe vs Wade, o número de nascidos vivos foi de 3.159.958 e o número de abortos relatados foi de 898.570. Isso apontaria para um aumento de cerca de 150.000 casos teoricamente creditados aos casos não relatados, se admitíssemos uma estabilidade no número real de abortos realizados de 1973 para 1974.

Todavia, eis o que acontece com a casuística de abortos nos anos seguintes.[6]

Ano
Nascidos Vivos
Abortos
Taxa de abortos por nascimentos (abortos a cada 1000 nascimentos)
1975
3,144,198
1,034,170
328.9
1976
3,167,788
1,179,300
372.3
1977
3,326,632
1,316,700
395.8
1978
3,333,279
1,409,600
422.9
1979
3,494,398
1,497,670
428.6
1980
3,612,258
1,553,890
430.2
1981
3,629,238
1,577,340
434.6
1982
3,680,537
1,573,920
427.6
1983
3,638,933
1,575,000
432.8
1984
3,669,141
1,577,180
429.9

Há uma clara tendência de aumento contínuo nos casos de aborto com certa estabilização após alguns anos da liberação dos casos. Essa tendência não é exclusividade dos Estados Unidos, repetindo-se em diversas outras casuísticas, às vezes com um crescimento muito mais prolongado ao longo dos anos seguintes à legalização.

Como o trabalho previamente citado verificou a casuística após a década de noventa, temos um cenário completamente diferente do exposto inicialmente. A distância temporal entre a legalização e os dados observados insere fatores de confusão que tornam a tentativa de estabelecer nexos causais extremamente frágil. Deve ser lembrado também que foi no ano de 1990 que se registrou o pico no número de abortos nos Estados Unidos. Contabilizar a partir desse pico obviamente demonstrará uma queda no número de abortos.

E há um agravante raramente lembrado: muitos estados americanos tem falhado em reportar a casuística de abortos realizados, o que gera um número subestimado. Um dos mais recentes relatórios dos Estados Unidos, publicado em 2017, informa uma casuística subestimada de abortos no ano de 2014 de 652.639 abortos.[7]

Há ainda outras características a serem observadas no campo cultural e político dos Estados Unidos. A recente ascensão da direita conservadora, a militância cristã pró-vida fazendo frente à antiga militância pró-escolha da revolução cultural e as alterações jurídicas que removem verbas bilionárias da indústria abortista no governo de Donald Trump irão gerar um profundo impacto nos próximos anos, salvando milhões de vidas e reduzindo ainda mais o número de abortos.

Tudo isso nos autoriza a compreender que o número de abortos realizados após a legalização sobe de forma catastrófica para décadas após ter a chance de começar a reduzir, caso o ambiente cultural e político se altere significativamente.


Abortando mundo afora

Em outros países o aumento de abortos após a legalização também é observado. No reino Unido, a legalização ocorreu em 1967. No ano seguinte, o número de abortos contabilizados foi de 23.461, 72% maior do que o registro de dez anos antes, que era de 13.570 abortos. Dez anos após a legalização, o número de abortos registrados foi de 141.558, um aumento de 945% em relação ao registro de 1958. Em 2008, o registro apresentou o explosivo aumento de 1480%, gerando uma casuística de 202.158 abortos. A população do Reino Unido, nos mais de quarenta anos contabilizados na série histórica do aborto, subiu somente 10%. É o genocídio de um povo e, consequentemente, de seu legado humano e cultural.[8]

Na Suécia, onde a legalização ocorreu em 1938, o número de abortos subiu em cerca de 9.000%, indo de 220 casos registrados para mais de 38.000 casos em 2015.[9]

Na Espanha, quando o aborto foi parcialmente legalizado em 1985, foram contabilizados 6.344 abortos. Somente dois anos após a legalização, o número de abortos já alcançava 16.766, quase o triplo de casos. O crescimento no número de casos de aborto ocorreu de forma contínua até 1996, quando foram registrados 51.002 abortos, um número aproximadamente oito vezes maior do que o registrado no primeiro ano. Só para se ter uma idéia, em 2010, quando uma nova legislação ainda mais liberal foi aprovada na Espanha, ocorreram 113.031 abortos.[10]

Analisando o reverso da moeda, um caso ilustrativo é o do Chile, no qual a restrição do aborto reduziu o número de casos e, para o desespero da militância abortista e aborteira, sempre à busca das evidências glorificadoras do extermínio de fetos, apresentou uma redução na mortalidade materna. Tal exemplo revela claramente que, se alguém deseja proteger a vida das mulheres, o caminho não é se oferecer para matar seus filhos.[11]

Outro país que conseguiu reduzir o número de abortos com a proibição foi a Polônia. Em 1956, após a legalização, o número de abortos também começou a crescer de forma descontrolada por anos seguidos, alcançando a marca de cerca de 272.000 casos em 1962. Cinco anos após a restrição legal em 1990, no ano de 1995, o número de abortos caiu para 570.[12]

Dados mais recentes publicados na Dinamarca, onde o aborto é legalizado, mostram, por fim, uma perturbadora realidade. A mortalidade entre mulheres que cometem o aborto é até três vezes maior do que a mortalidade entre as mulheres que não abortam.[13] Sacrificar o próprio filho tem suas consequências, e é uma cicatriz que a mulher levará por toda a vida e marcará profundamente a cultura de todo um povo.

Hélio Angotti Neto
Colatina, 28 de dezembro de 2017.



[1] RAZZO, Francisco. Contra o Aborto. Rio de Janeiro & São Paulo: Editora Record, 2017.
[2] Como afirmou Mauro Iasi, professor universitário ganhador do Prêmio Stálin da Paz, isso mesmo, não ria, um prêmio da paz com o nome do assassino genocida e tirano Stálin: “tal pessoa é um ‘inimigo’ e deveríamos estar dispostos a lhe oferecer ‘um bom paredão’, o encontro com uma ‘boa espingarda’, uma ‘boa bala’, e por fim, ‘depois de uma boa pá, uma boa cova’. Afinal, ufana-se ele, ‘com a direita e o conservadorismo, nenhum diálogo, luta!’. BERLANZA, Lucas. Por que o “paredão” comunista pode e o golpe militar não pode? Instituto Liberal. Internet, https://www.institutoliberal.org.br/blog/por-que-o-paredao-comunista-pode-e-o-golpe-militar-nao-pode/
[3] Como descrito na série de artigos intitulada “O Extermínio do Amanhã”.
[4] Gilda Sedgh, Jonathan Bearak, Susheela Singh, Akinrinola Bankole, Anna Popinchalk, Bela Ganatra, Clémentine Rossier, Caitlin Gerdts,Özge Tunçalp, Brooke Ronald Johnson Jr, Heidi Bart Johnston, Leontine Alkema. ‘Abortion incidence between 1990 and 2014: global, regional, and subregional levels and trends’. Lancet, vol. 388, 2016, p. 258-267.
[5] NATHANSON, Bernard N. The Hand of God: A Journey from Death to Life by the Abortion Doctor Who Changed His Mind. Washington, DC: Regnery Publishing, Inc., 1996; NATHANSON, Bernard N. Aborting America:  A Doctor’s Personal Report on the Agonizing Issue of Abortion. Fort Collins, CO: Life Cycle Books, 1979.
[6] JOHNSTON, Robert. Historical abortion statistics, United States. Last updated 23 February 2017. Internet, http://www.johnstonsarchive.net/policy/abortion/ab-unitedstates.html
[7] Jatlaoui TC, Shah J, Mandel MG, et al. Abortion Surveillance — United States, 2014. MMWR Surveill Summ 2017;66(No. SS-24):1–48. DOI: http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.ss6624a1
[8] JOHNSTON, Robert. Historical abortion statistics, England and Wales (UK). Last updated 22 October 2017. Internet, http://www.johnstonsarchive.net/policy/abortion/uk/ab-ukenglandwales.html
[9] Estudos sobre Aborto. Estudos Nacionais. Internet, http://estudosnacionais.com/numeros-na-suecia/
[10] JOHNSTON, Robert. Historical abortion statistics, Spain. Last updated 25 February 2017. Internet, http://johnstonsarchive.net/policy/abortion/ab-spain.html
[11] Koch E (2014) Epidemiología del aborto y su prevención en Chile [Epidemiology of abortion and its prevention in Chile]. Rev Chil Obstet Ginecol 7(5):351-360. Internet, http://www.revistasochog.cl/files/pdf/EDITORIAL50-e0.pdf ; Koch E, Thorp J, Bravo M, Gatica S, Romero CX, Aguilera H, Ahlers I (2012) Women's education level, maternal health facilities, abortion legislation and maternal deaths: a natural experiment in Chile from 1957 to 2007. PLoS ONE 7(5):e36613. DOI:10.1371/journal.pone.0036613. Internet, http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0036613
[12] JOHNSTON, Robert. Historical abortion statistics, Poland. Last updated 23 February 2017. Internet, http://johnstonsarchive.net/policy/abortion/ab-poland.html
[13] Gissler, M., et. al., “Pregnancy-associated deaths in Finland 1987-1994 — definition problems and benefits of record linkage,” Acta Obsetricia et Gynecolgica Scandinavica 76:651-657 (1997).