quarta-feira, 24 de junho de 2015

O PROBLEMA DA AUSÊNCIA DE FORMAÇÃO POLÍTICA ENTRE MÉDICOS

O Problema da Ausência de Formação Política Entre Médicos


A Medicina encontra-se acometida de um grave problema: os médicos - e demais profissionais da saúde - carecem da formação política adequada. Isso gera a inevitável perda da eficácia de suas práticas em sociedade e o seu progressivo aviltamento diante da opinião pública.

Com formação política não digo conhecimentos de Ciência Política, mas sim, conhecimentos teóricos e práticos de estratégia, ação política e exercício do poder, técnicas dominadas com maestria por revolucionários e agitadores da esquerda radical ou da fabiana[1], e quase nunca utilizadas para algo de bom. Técnicas completamente desconhecidas pela enorme maioria dos médicos.

No Brasil não é prudente a ingenuidade diante dos lobos. Como as sábias palavras das Escrituras advertem há milênios: sejamos símplices como os pombos, porém prudentes como a serpente[2]. E como não ser prudente diante do revoltoso mar da política que tantas vezes faz submergir nações? Quem dirá pobres médicos latino-americanos?

Um sábio brasileiro afirma que os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal-intencionados[3], e quando colocamos nessa cadeia alimentar os médicos - partindo do princípio de que boa parte deles atua beneficamente para o próximo - a perda da efetividade política e, portanto, da efetividade geral da Medicina em sociedade não é algo a ser menosprezado. As consequências podem ser funestas.

Tal deformação, ou falta de formação política, afeta não somente médicos e seus pacientes, cujo sofrimento pode deixar de encontrar conforto eficaz, mas também afeta as famílias daqueles que padecem de algum mal e, consequentemente, toda a sociedade, reféns que são da má política.

Nos médicos observa-se diariamente o esgotamento, o desestímulo profissional e o abandono da carreira. Tais consequências inevitavelmente atrapalharão os resultados da prática médica, aumentando os riscos à saúde assim como, por exemplo, a má administração derivada de uma política inadequada faz ao deixar de fornecer ambientes próprios para o atendimento dos pacientes.

E, por fim, quem mais sofre é o paciente, o mais frágil elo da corrente, acometido pela doença e vulnerável, à mercê de uma situação malconduzida.

Ao observar o quadro geral da formação humanística e política do médico no Brasil, algo totalmente ineficiente ou ausente, o cenário torna-se assustador. Milhões de vidas e carreiras profissionais são afetadas ou até mesmo destruídas.

E diante desse cenário desanimador, quais são as medidas adotadas?

As lideranças políticas e estratégicas dos médicos, sejam seus sindicatos, sejam os Conselhos, tomam medidas políticas muitas vezes fragmentadas e fadadas ao fracasso desde o início[4]. Além do mais, a ação política não identifica o cenário político com a adequada visão; ou, se possui ciência da realidade, finge ineficácia e perplexidade diante dos movimentos políticos. Movimentos estes que tantas vezes colaboram para a destruição da saúde do brasileiro e para o aumento exponencial da corrupção e do assassinato moral de toda a classe médica no Brasil, verdadeiro Judas espancado.

A medida ideal é a atuação estratégica de fortes lideranças treinadas e capacitadas para o jogo político, orientadas por valores caros à prática médica e necessários à sociedade. E para que tal liderança exista há forte necessidade de tornar a ação política consciente e eficaz, concretizada por pessoas de grande valor e forte disposição.

Como tornar real tal consciência e tal exercício de poder benéfico? A solução aqui proposta é fornecer ferramentas analíticas para ler a sociedade de forma correta, para enxergar intencionalidades e estratégias de aliados e oponentes e para traçar planos de ação com competência rumo a ideais mais nobres.

Grupos de tais líderes seriam uma verdadeira benção para nosso país e, principalmente, para nossos doentes e profissionais da saúde, que ousariam sonhar com um ambiente menos hostil e insalubre para a busca da saúde.

Áreas do conhecimento importantes para esta empreitada incluem Filosofia, Estratégia, Comunicação, Logística, História, Relações Internacionais, Psicologia, Medicina Baseada em Evidências, Literatura, Retórica etc. As fontes incluem incontáveis artigos, livros e depoimentos de grandes líderes e estrategistas. Nenhum conhecimento ou ideologia podem ser estranhos ao se deparar com a realidade, ainda mais com a realidade que envolve o humano de forma tão íntima como saúde o faz.

Aviso claramente que não me aproximo do tema como um cientista político ou especialista em análises estratégicas, mas como um médico aplicado aos estudos e ansioso por ver tempos melhores para a cultura e para a política do Brasil, fatores que deveriam ser fontes de amparo e segurança, mas que em nosso Brasil se tornaram mananciais de temor e revolta.

E convido ao debate e ao estudo os colegas.

Em breve começarão as oficinas de Formação Política para Profissionais da Saúde e, quem sabe, um curso continuado de análises filosóficas, políticas e estratégicas em saúde pela internet.

Prof. Dr. Hélio Angotti Neto
Coordenador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina (http://www.medicinaefilosofia.blogspot.com.br/)
Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, da Academia Brasileira de Oftalmologia, da Associação Brasileira de Educação Médica, do Center for Bioethics and Human Dignity e do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC, onde atua também como Coordenador e Professor do Curso de Medicina.






[1] A esquerda fabiana, ao contrário da radical, prega uma lenta e insidiosa marcha rumo ao socialismo, normalmente utilizando-se dos mecanismos da democracia e evitando uma luta armada sempre que possível.

[2] Nas palavras do Cristo: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas”. Mateus 10.16. SPROUL, RC (Editor Geral). Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999.

[3] Cf. PUGGINA, Percival. Pombas e Gaviões: Uma indispensável leitura sobre política, porque os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal-intencionados. Porto Alegre: AGE Editora, 2010.

[4] Muitas das decisões e negociações são feitas dentro do panorama intelectual e linguístico da esquerda que deseja controlar a classe médica e instrumentalizá-la em seus planos de hegemonia. A questão não é ceder à esquerda ou à direita, mas sim, estabelecer um diálogo com capacidade própria, sem depender de muletas e travas pré-concebidas pelo oponente.