sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Não li, não gostei?


NÃO LI, NÃO GOSTEI?



É incrível como no Brasil, de forma contínua, as pessoas que são referenciais para a cultura (acadêmicos, docentes e autoridades diversas) se erguem e dizem, sem a menor vergonha na cara, que desprezam ou não gostam de algo que simplesmente nunca leram.

É algo tão comum que passa como opinião válida numa conversa "normal". Coloco normal entre aspas por razões estatísticas, e não por acreditar que a situação seja a adequada.

Eu mesmo escutei uma vez, de alguém que leu somente as quatro páginas iniciais do meu livro A Morte da Medicina, que meus argumentos eram inválidos porque eram religiosos. Claro atestado de que o sujeito, formado na Universidade de Brasília e aspirante a intelectual conforme padrões brasileiros, simplesmente declarava seu preconceito infundado contra algo que nem conhecia. E clara evidência do exército de analfabetos funcionais e desavergonhados que são vomitados de nossas universidades todos os anos.

Não que não tenhamos direito a alguns preconceitos. Certas formas de cautela são indispensáveis para uma vida viável. Mas no campo intelectual, é lamentável que alguém se disponha a emitir opiniões com base em leituras fragmentárias ou parciais, ou com base em absolutamente nenhuma leitura.

Cansei de ver pessoas criticando a esquerda sem ao menos ler livros escritos pela esquerda.

Cansei de ver pessoas, teoricamente cultas, renderem-se à linguagem do politicamente correto e torcerem o nariz ao escutarem que alguém é conservador, mas que nunca em suas vidas leram um livro que descreve o que é ser um conservador nas palavras de alguém que o seja.

Cansei de ver gente criticando autores como Olavo de Carvalho sem ter lido sua obra inteira ou pelo menos uns dois ou três livros (não digo as compilações de artigos jornalísticos - excelentes, por sinal -, mas os livros do tipo "Jardim das Aflições" ou "Aristóteles em Nova Perspectiva").

Alguém poderia até dizer que tais exigências são muito altas. Mas a resposta é que tais exigências são o mínimo para uma categoria de pessoas que ousa afirmar pertencer à casta intelectual de uma sociedade. Isso inclui qualquer professor ou pesquisador. E não é uma questão somente de intelectualidade, é uma questão de caráter, de moral.

Alguém com conhecimento e, portanto, responsabilidade, tem a obrigação moral de emitir opiniões a público muito bem fundamentadas. E, neste caso, o famoso "não li e não gostei" do brasileiro não passa de um grande atestado de falência do caráter daqueles que, pretensamente, seriam as lanternas na vante do Brasil.