terça-feira, 22 de agosto de 2017

O RETORNO DA VERDADEIRA DIREITA?

O RETORNO DA VERDADEIRA DIREITA

O livro de Daniel Friberg aborda um tema que promete muitas outras publicações nos próximos anos: a reformulação da direita na política e na cultura ocidental após a agressiva e ominosa hegemonia esquerdista.[1]


A esquerda, ligada essencialmente à Mentalidade Revolucionária de raízes socialistas e acomodada com a hegemonia cultural, política e econômica alcançada nas últimas décadas, encontra-se em franca crise, abrindo um vácuo que, potencialmente, pode alterar radicalmente a situação política nas próximas décadas.

Porém, antes de falar da queda da esquerda, cabe seguir o autor em sua descrição da queda da direita. Olhando um pouco mais no passado, Friberg destaca os fatores que levaram à queda da antiga direita, que comento a seguir.

Segundo o autor, a derrota e a demonização do nazismo pela esquerda serviu como instrumento de queda da direta. Colocar o nazismo ligado à direita é uma fraqueza do livro, que já começa com uma falha de concepção grave ao assumir a manipulação discursiva empurrada pelos estrategistas stalinistas ao jogar Adolf Hitler no colo de conservadores e liberais, uma das mais toscas manipulações do século passado.

As raízes políticas e a forma mentis nazista são muito mais próximas da esquerda do que da direita, considerando o aspecto conservador ou liberal desta e o revolucionário socialista daquela. Para comparações, recomendo um autor que aborda o tema com muito mais competência e com a sobriedade necessária: Vladimir Tismaneanu, em sua magnífica obra O Diabo na História.[2]


Seria muito mais acurado dizer que, em parte, a direita caiu por ser alvo de uma das mais bem-sucedidas campanhas de destruição de reputação já elaboradas a nível global. Técnica desenvolvida e aplicada com extrema habilidade por revolucionários socialistas.[3]

Outro fator importante para a queda da direita a nível global, desta vez corretamente exposto por Daniel Friberg, foi a marcha gramsciana para dentro das instituições[4], usurpando a mídia, a cultura e os sistemas educacionais - pilares fundamentadores de nossos pensamentos e opiniões.

A mudança estratégica, abandonando em parte o uso marxista-leninista-stalinista da violência e assumindo a postura insidiosa e manipuladora de Gramsci e da Escola de Frankfurt, foi decisiva para o sucesso das últimas décadas em extirpar a direita do mapa político efetivo.

A nomeação de Paulo Freire, um ideólogo vulgar, como patrono da educação brasileira[5] é um distante e pálido reflexo tupiniquim da genialidade das iniciativas de Antônio Gramsci e de pensadores do calibre de Herbert Marcuse e Gyorgy Lukács, que criaram novas e eficazes cabeças para a Hidra Vermelha.[6]

O abandono estratégico dos matizes mais violentos, pelo menos de forma temporária e parcial, desarmou mentalmente a população e permitiu a ascensão da esquerda ao poder de forma pacífica, sem criar resistência. Mesmo que a semente da tirania ainda faça parte do genótipo esquerdista revolucionário, como se vê no apoio de políticos brasileiros à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela[7], tal face encontra-se maquiada por elementos culturais diversos.

Friberg acusa a substituição da análise histórica de Marx pelo sentimentalismo, o que, aos poucos, serviu para enfraquecer a capacidade de defesa contra a destruição da liberdade individual abrindo espaço para o avanço do Estado na vida privada.

Parte do empreendimento cultural da esquerda é definir ideologicamente o que é a direita foi, o que reduz o valor político desta a praticamente nada a não ser pretexto para ofensas e discriminação. Segundo Friberg, a direita sueca, os Tories e os republicanos do Estados Unidos são patéticos, e pouco compreendem da dialética revolucionária.

A restrição de escolhas empurrada pela esquerda sobre a discussão política - nazi-fascismo, liberalismo de livre mercado e utopia de esquerda - é uma falsa tricotomia. Daí o título: A Volta da Verdadeira Direita (The Real Right Returns – a Handbook for the True Opposition), demonstrando que uma nova opção começa a despontar no horizonte.

No livro, alguns conceitos importantes são ressaltados. Talvez o mais importante seja o de Metapolítica, que é uma guerra de transformação social, ao nível de cosmovisão, pensamento e cultura, que na obra de Olavo de Carvalho seria o tipo de poder cultural ou espiritual[8], o mais insidioso e mais duradouro de todos os poderes. É no campo da influência cultural e intelectual que os rumos dos povos serão decididos por décadas a seguir.

Do ponto de vista histórico e conceitual, diversas outras obras cumprem melhor o que Daniel Friberg se propõe a fazer. Em termos de análises culturais e históricas de qualidade, Olavo de Carvalho no Brasil e Roger Scruton no exterior estão a anos luz de distância à frente de Friberg, oferecendo instrumentos e informações muito mais precisas e aplicáveis. Em termos de estratégia, a direita americana tem dado exemplos significativos de que aprendeu a reagir contra os revolucionários, como pode ser observado nos esforços de Ben Shapiro, David Horowitz, Jeffrey Nyquist e do finado Andrew Breitbart.

Embora o livro toque em assuntos interessantes, eu não recomendaria, a princípio, sua leitura para brasileiros interessados em saber melhor o que é a verdadeira direita ou a pretensa nova direita. Há exemplos melhores e mais valiosos de brasileiros aptos a tecerem análises importantes nesse campo de estudo, como Felipe G. Martins, Benedito Barbosa, Flávio Gordon, Silvio Grimaldo e muitos outros que despontaram na última década, além da obra magistral que originou toda a quebra da hegemonia intelectual da esquerda no Brasil: os livros e cursos de Olavo de Carvalho.

Contudo, do pequeno livro de Friberg podem ser tiradas algumas lições curiosas e de utilidade geral.

COMO LIDAR COM A QUEDA DA ESQUERDA?

Mesmo que esteja em queda, tendo perdido a hegemonia intelectual, a esquerda ainda se contorce, tal qual a serpente decapitada. Em suas mãos ainda repousa a hegemonia cultural – reflexo inferior e distante da hegemonia intelectual -, a econômica e a política.

Após dominar os meios de poder institucionais, a esquerda nunca perde tempo, e concentra esforços para perseguir e destruir seus opositores, de dentro e de fora das instituições. No Brasil, só para citar um exemplo, o governo petista soltou uma lista de indesejáveis na mídia, algo que pode inclusive incitar agressão contra os “inimigos” do partido por meio de sua militância, reconhecida nacionalmente por sua intolerância e por sua cega devoção ao partido. Nada interessa mais à esquerda do que o monopólio da comunicação e da educação, incluindo as redes sociais e a Internet como um todo. Apontar e ameaçar jornalistas de oposição, como instrumento de manutenção do domínio cultural, é uma técnica perigosa e extremamente agressiva.[9]

Por que tanta vontade em controlar a mídia alternativa? Porque a realidade recente é que a mídia oficial (mainstream media) está em franca decadência, cedendo cada vez mais espaço às mídias alternativas como a Internet. E muitas destas mídias alternativas são claramente de direita.

Friberg oferece algumas sugestões para fugir à perseguição da esquerda, inclusive nos meios de mídia:

1 – Sem comentários: não ceda espaço e oportunidade de distorcer suas palavras aos entrevistadores enviesados da esquerda manipuladora. Não dê pano para a manga.

2 – Dê as boas-vindas que “eles” merecem: recepcione pessoas que não foram convidadas de formas desagradáveis, deixando bem claro que elas passaram dos limites.

3 – Negue tudo o que for acusado, descontextualizado ou distorcido. Ameace de processo se for publicado inadequadamente. Aceitar a distorção da informação é uma concessão estratégica inaceitável, e alimenta perigosas mentiras.

4 – Processe, processe, processe. Reúna material processual sempre!

5 – Boicote a mídia esquerdista.

6 – Dê à mídia manipulada o seu próprio remédio. Denuncie as perseguições e os erros.

7 – Estigmatize aqueles que tomaram parte na guerra cultural destruindo a civilização e boicote todos em futuras oportunidades de emprego ou promoção.

8 – Construa redes!

9 – Torne-se público.

10 – Não parar, criticar sempre, nunca retroceder, nunca desistir.

DICAS PARA HOMENS E MULHERES DE DIREITA

A esquerda está dizimando os “homens de verdade”, fiéis às tradições da honra, da coragem e da constância. Homens de direita são os defensores das famílias, da pátria e da civilização, segundo Friberg. Ele oferece algumas dicas que enxerga como básicas:

1 – Seja capaz de se defender fisicamente. Lute! Dica preciosa considerando o hábito de manifestações violentas e de depredação que as esquerdas nunca temem em executar.

2 – Não ceda ao vocabulário e às idéias esquerdistas. Ceder ao vocabulário da esquerda é restringir seu mundo mental e jogar pelas regras de quem quer te dizimar.

3 – Seja um Cavalheiro.

4 – Mulheres e homens são melhores em diferentes contextos. Conforme-se com a presença mais rara de mulheres na política e na Defesa, por exemplo.

5 – O foco é ser um bom homem. Não é achar uma boa mulher (isso é consequência).

6 – Seja um líder.

Para as mulheres, Friberg recomenda que não acreditem na igualdade, pois ela impõe à mulher o modelo masculino e nega a essência feminina. Eis suas dicas: Tenha muitos filhos! Valorize sua honra, respeite-se. Seja feminina.

CORAGEM, OPOSIÇÃO INTELIGENTE E FONTES DE ESTUDO

O que alguns chamam hoje de marxismo cultural – sem dúvida um estranho oximoro, ou assim pensaria Marx - tende a demonizar idéias e opiniões contrárias à ideologia esquerdista. Uma oposição disposta a encarar de frente o marxismo cultural precisa estudar, forjar um caráter firme e ganhar coragem no campo de batalha, seja na cultura, seja na política, compreendendo que fragilidade diante de um oponente que lhe quer mal só atrairá desprezo.

Pessoalmente, entendo que qualquer um que deseja conhecer um pouco da política sem ser um mero boneco de ventríloquo precisa ler de todas as fontes e ater-se à realidade. Repetir o discurso alheio é, de fato, algo que só pode colaborar para o enfraquecimento da individualidade. Atualmente, o discurso alheio mais repetido e mais emburrecedor é justamente aquele que se propõe a ser rebelde e inovador, tão utilizado pelas esquerdas ao longo de décadas, mas incapaz de enganar a todos por muito tempo.

É preciso ler von Mises, Marx e Scruton. É preciso ler Olavo de Carvalho e ficar atento à quilométrica lista de livros apontados em seus cursos. Cultura política se ganha com décadas de estudo e preparação, e com a coragem de enxergar aquilo que todos não querem ver, de falar aquilo que ninguém quer escutar e de trabalhar em situações e locais inóspitos.

Por mais que seja um livro interessante, creio que o público principal pertence à Europa. No Brasil, e mesmo na Europa, encontro referências muito melhores e mais profundas, como aquelas já citadas.

Sobre querer rotular-se como “de direita” ou “de esquerda”, a própria direita conservadora costuma repudiar rótulos ideológicos, tratando sua disposição política muito mais como um costume que gera virtudes do que como uma fidelidade ideológica definida.[10] Deixo um antigo alerta de Ortega y Gasset: “Ser de esquerda, como ser de direita, é uma das infinitas maneiras que o homem pode eleger para ser um imbecil: ambas são, de fato, formas de hemiplegia moral”. Eis um alerta bem conservador.

Hélio Angotti Neto, 22 de agosto de 2017, Colatina – ES.






[1] FRIBERG, Daniel. The Real Right Returns. A Handbook for the True Opposition. London: Arktos, 2015.
[2] TISMANEANU, Vladimir. O Diabo na História. Comunismo, Fascismo e Algumas Lições do Século XX. Campinas, SP: Vide Editorial, 2017.
[3] PACEPA, Ion Mihai; RYCHLAK, Ronald J. Desinformação. Ex-Chefe de Espionagem Revela Estratégias Secretas para Solapar a Liberdade, Atacar a Religião e Promover o Terrorismo. Campinas, SP: Vide Editorial, 2015.
[4] CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a Revolução Cultural. Fritjof Capra & Antonio Gramsci. 4ª Edição Revista e muito aumentada. Campinas, SP: Vide Editorial, 2014.
[5] GIULLIANO, Thomas (Editor). Desconstruindo Paulo Freire. São Paulo: Editora Expressa, 2017.
[6] AZAMBUJA, Carlos Ilich Santos. A Hidra Vermelha. Observatório Latino, 2016.
[7] ROSSI, Marina. Do PT ao PSOL, esquerda do Brasil poupa Maduro de críticas e apoia Constituinte. Apesar da escalada da violência em Caracas, partidos defendem que nova Carta é "via democrática". Manifesto de intelectuais de esquerda inclui brasileiros e critica "cegueira ideológica" de apoiadores. El País. São Paulo, 30 de julho de 2017. Internet, https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/28/politica/1501262473_019811.html
[8] CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexander. Os EUA e a Nova Ordem Mundial. Um debate entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho. Campinas, SP: Vide Editorial, 2012.
[9] CANTALICE, Alberto. A desmoralização dos pitbulls da grande mídia. Três vezes derrotados nos pleitos presidenciais, por Lula e Dilma e o PT, os setores elitistas albergados na grande mídia, ao se verem na iminência do quarto revés eleitoral, foram… 16/06/2014 16h01 - atualizado em 21/06/2016 16h15. Página do Partido dos Trabalhadores. Internet, http://www.pt.org.br/alberto-cantalice-a-desmoralizacao-dos-pitbulls-da-grande-midia/ . Comentários foram feitos por diversos jornalistas, incluindo um dos enunciados na lista negra: MAGNOLI, Demétrio. A lista do PT. A personificação dos ‘inimigos da pátria’ é um truque circunstancial: os nomes podem sempre variar, ao sabor das conveniências. Internet, https://oglobo.globo.com/opiniao/a-lista-do-pt-12915771 .
[10] KIRK, Russel. A Política da Prudência. São Paulo: É Realizações, 2013.