segunda-feira, 28 de março de 2016

BIOÉTICA DA ELITE "ESCLARECIDA"

BIOÉTICA DA "ELITE ESCLARECIDA"

BIOÉTICA PARA O POVO, PELO POVO OU SOBRE O POVO? REFLEXÕES ACERCA DA BIOÉTICA COMO INSTRUMENTO DE ENGENHARIA SOCIAL


Em recente artigo publicado no Academia Médica, tratei acerca do aspecto de poder cultural ligado à Bioética. Neste, analiso algumas consequências e exemplos dessa realidade.

O discurso padrão nos informa que os jovens das décadas de 60 e 70, fomentados pela ideologia trazida pela famigerada Escola de Frankfurt, se ergueram contra as convenções, contra as tradições e contra o elitismo.

Nesse contexto surgiu a Bioética, justificada pelo anseio de democratizar o debate em saúde.

Segundo reza a lenda corrente na academia, deveríamos ter um debate de amplo acesso, diferente do debate enclausurado, elitista e opressor dos médicos, trancafiados em suas torres de marfim com seus códigos exclusivistas e seu Juramento antiquado e ineficaz para nos proteger de abusos horrendos.

O livro de Bioética mais lido no mundo inteiro, por exemplo, já começa anunciado placidamente, inexoravelmente, a derrota da moralidade hipocrática da medicina e a necessidade incontornável da adoção da nova Bioética. É o famigerado Mantra de Georgetown.[1]

Em todo esse cenário, parcialmente verdadeiro e, portanto, verossímil, há diversas mistificações e torções exageradas da realidade.

Não duvido que na raiz da Bioética estava o desejo saudável de transdisciplinaridade. Acredito sinceramente que os melhores bioeticistas ainda anseiam pelo contato com outras mentes e corações apaixonados pela vida humana, e querem realmente abrir o debate sincero em busca do melhor. Mas ao mesmo tempo vejo diversos estudiosos da Bioética que estão claramente dispostos a utilizá-la como arma de combate cultural, como instrumento de engenharia social e até mesmo de opressão contra discordantes.[2]

Quero convidar o leitor à reflexão acerca de quais usos tem sido atribuídos à Bioética em nossos dias.

Embora os médicos sejam acusados de paternalistas e elitistas, não é totalmente certo dizer que a ética denominada profissional é inadequada por não representar a sociedade. Médicos, enfermeiros, psicólogos e fisioterapeutas, entre tantos outros, são membros da sociedade e representam-na, acreditados como profissionais, em seus grêmios.

Mas é óbvio que, ao mesmo tempo, há que se buscar uma harmonia saudável entre os valores gerais da sociedade e os valores específicos de seus habitantes especializados em determinada área, neste caso a da saúde. É no mínimo suspeito ser instaurada uma medicina abortista num país cristão que é maciçamente contra o aborto, como está para acontecer no Brasil.

De certa forma, o debate democratizou, mas talvez não da forma que os mais otimistas esperavam.

Ao invés da participação da sociedade brasileira, muitas vezes observo a ingerência externa e a participação de agências e instituições internacionais totalmente contrárias aos valores brasileiros.[3]

É inegável que, hoje, profissionais de diversos ramos discutem assuntos arcanos onde antes médicos e enfermeiros dominavam. Porém, os assuntos ainda permanecem arcanos, dominados por “magos” diferentes.

Os temas especializados da Bioética ainda habitam o interior de suas torres de marfim e repetidamente revelam estar muito longe dos valores do público e de seu escrutínio.

Alguns bioeticistas, filósofos e formuladores de políticas públicas parecem repudiar o contato com a “plebe”. Plebe, esta, repleta daquilo que a Organização das Nações Unidas, por meio da UNESCO, chama de preconceitos familiares, isto é, religião e tradições herdadas.[4]

Descobri que a Bioética não era tão aberta quanto eu imaginava há algum tempo, quando encontrei o artigo que defendia chamar o assassinato de bebês pelo nome de Aborto Pós-Nascimento. Deparei-me com o artigo quase que aleatoriamente, ao passear pelo conteúdo do Journal of Medical Ethics. Levei-o ao Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina para discutir com os alunos e a reação foi quase que unânime: todos estavam chocados em saber como algo tão monstruoso quanto o homicídio infantil fora discutido de forma tão corriqueira, tão vã, no meio acadêmico especializado da Bioética.[5]

A reação na mídia também veio. Pessoas liam horrorizadas o que respeitáveis senhores e senhoras discutiam de cima de suas cátedras, com palavras elegantes e conceitos rigorosos. Era uma obscenidade, mas era uma obscenidade elegante e lógica, entenda bem.

Do outro lado, editores e pesquisadores reclamaram da violência verbal daqueles “populares” que leram o artigo e responderam horrorizados à proposta ali contida: matar bebês.

Eram os terríveis “reacionários incultos” que se erguiam escandalizados para censurar o debate iluminado dos acadêmicos.

De um lado havia o choque à sensibilidade moral de milhões de pessoas que mal podiam acreditar no que se propagava num respeitado periódico de ética médica e que reagiam com acusações verbais altamente agressivas; porém, do outro, estava uma elegante e erudita elite universitária que propunha, com termos mui chiques e técnicos – é tudo lógica, afinal – o extermínio de vidas humanas negando-lhes a condição de pessoa digna.

E isso chamou minha atenção.

Vive-se uma guerra cultural, isto não é novidade.

Mas o curioso é que de um lado está a elite política, a elite empresarial e a elite midiática com suas tropas de choque: artistas, professores, repórteres e cantores. Também desse lado está boa parte da elite universitária mundial. Uma privilegiada minoria, sem dúvida. Seus valores, de regra, são justamente o contrário do que o povo brasileiro maciçamente defende.

O povo é contra o aborto? Reúna atores e cantores para convencer a turba acéfala – ou assim devem achar ao querer manipular a massa de forma tão tosca – de que matar fetos e bebês é a coisa mais linda e progressista do universo.
O povo é religioso? Contrate milhares de professores para ensiná-los que esse negócio de religião é “coisa do capeta” ou, na melhor das hipóteses, é só uma superstição boba de gente burra.

O povo gosta de uma vida pacífica, ordeira e segura? Convença-os de que isso é coisa de burguês acomodado, e que o bom mesmo é exaltar a marginalidade, como Herbert Marcuse já ensinou quando percebeu que os proletários estavam enriquecendo e virando burgueses.

A atual elite que se diz progressista e seus aliados complacentes, interessados mesmo é na grana dos pagadores de impostos, estão aí para ensinar os jovens a rebelarem-se contra os valores de suas famílias, enquanto os domesticam e os preparam a entregar toda sua moral e sua cosmovisão aos iluminados que nunca os viram, ou, se os viram, pouco se importam com seu destino.

A Bioética, nesse contexto de elite praticante da ardilosa engenharia social, tocando ao som dos conselhos maquiavélicos de Gramsci, é mais uma arma do que um canal pelo qual a voz do povo pode se manifestar.

Se determinada escola de bioética convence as pessoas de certos interesses, de certas necessidades de mudanças sociais, a bioética é boa, é excelente, é maravilhosa. Se não, o povo é que é retrógrado e precisa de mais doses de bioética, intratecais, quem sabe?

Mas o que defendo é o seguinte: o povo deve ter acesso à ética médica e à bioética, e estas devem respeitar os valores do povo que as suporta, ao invés de ansiar por uma tosca e desrespeitosa engenharia social. Defender isso não é desestimular o debate, pelo contrário, é respeitar a bioética que respeita os valores do povo e colocar todos os conflitos às claras. O que vejo muitas vezes é a supressão daqueles que discordam de determinada elite.

Só para citar um breve exemplo, fui testemunha pessoal do bloqueio autoritário da participação de um filósofo num evento de Direitos Humanos por causa de seu espectro político de direita. Veja bem, debate só parece ser bom para essas mentes tacanhas quando os dois lados concordam.

E cabe lembrar, aqui no fim, que há muitas bioéticas, e várias respeitam os valores do povo brasileiro sim.

O que não suporto é a bioética ideológica da torre de marfim (ou de rubi, no caso do Brasil), que ao chocar o cidadão comum com seu sangrento pensamento de vanguarda, ataca a moralidade alheia com a pose de iluminada ditadora de parâmetros civilizacionais e guia confiável do povo, suprimindo outras visões e utilizando rótulos odiosos.

Não posso concordar com a utilização de jovens médicos como bucha de canhão e massa de manobra para o ataque aos valores da sociedade no contexto de guerra cultural em que vivemos.

Podem discordar dos valores que eu defendo, e é claro que muitos discordam. Mas que o façam conscientes de seus atos e de suas influências ideológicas, em respeito à própria integridade e à sanidade, e que não tenham a ousadia irresponsável de silenciar um dos lados e chamar isso de debate.



[1] BEAUCHAMP, Tom L.; CHILDRESS, James F. Principles of Biomedical Ethics, Seventh Edition. New York: Oxford University Press, 2013, p. 1.

[2] Exemplos bem conhecidos são os dos bioeticistas internacionalmente famosos, como Giani Vattimo e Julian Savulescu que defendem ser obrigatório para um médico realizar o aborto, independente de seus valores pessoais, e Udo Schüklenk, que escreve contra a objeção de consciência de médicos canadenses que não desejam praticar a eutanásia.

[3] A Organização Mundial da Saúde, claramente favorável ao projeto abortista em países “subdesenvolvidos” ou “em desenvolvimento”, distribui material educativo e pressiona diversos países com sua agenda ideológica específica.

[4] Como denunciado por Pascal Bernardin em seu livro Maquiavel Pedagogo. BERNARDIN, Pascal. Maquiavel Pedagogo. Campinas: Vide Editorial, 2010.

[5] GIUBILINI, Alberto; MINERVA, Francesca. After-birth abortion: why should the baby live? Journal of Medical Ethics, (2012). doi:10.1136/medethics-2011-100411 Internet, http://jme.bmj.com/content/early/2012/03/01/medethics-2011-100411.full.pdf+html

sexta-feira, 25 de março de 2016

Pérolas da Medicina: Mortais - Atul Gawande

Mortais - Atul Gawande




"O problema com a medicina moderna e as instituições por ela geradas para cuidar dos doentes e dos idosos não é o fato de terem uma visão incorreta daquilo que dá sentido à vida. O problema é que praticamente não têm visão nenhuma. O foco da medicina é estreito. Os profissionais da área médica concentram-se na reparação da saúde, não no sustento da alma. Porém - e esse é o doloroso paradoxo -, decidimos que são esses os profissionais que devem definir a maneira como vivemos nossos últimos dias. Por mais de meio século, tratamos as provações da doença, do envelhecimento e da mortalidade como questões médicas. Tem sido um experimento de engenharia social, colocando nossos destinos nas mãos de pessoas valorizadas mais por suas capacidades técnicas do que por sua compreensão das necessidades humanas. 

Esse experimento vem fracassando. Se a segurança e a proteção fossem tudo o que buscamos na vida, talvez pudéssemos chegar a uma conclusão diferente. Porém, como buscamos uma vida de valor e propósito, mas ainda assim somos rotineiramente privados das condições que poderiam torná-la possível, não há outra maneira de enxergar o que a sociedade moderna fez."

GAWANDE, Atul. Mortais: Nós, a Medicina e o que realmente importa no final. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 2014, p. 124.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Iniciativa Global de Educação em Bioética

Global Bioethics Education Initiative



No final de maio parto para Illinois com o objetivo de passar um mês estudando, pesquisando e apresentando temas ligados à Bioética na Universidade Internacional Trinity. Fui escolhido para integrar a Iniciativa Global de Educação em Bioética do Centro para a Bioética e para a Dignidade Humana.

Anteriormente, foram escolhidos pesquisadores de diversos locais: Polônia, Filipinas, Índia, Camarões, Finlândia e Austrália.



Meu tema principal de pesquisa será o Juramento de Hipócrates e sua interpretação literária, simbólica e moral. 

Lá terei a oportunidade de pesquisar, além do Juramento, outros temas ligados a minhas pesquisas: Bioética Comparativa (estudos em bioética judaica, cristã, transumanista, islâmica, etc) e a obra de Edmund Pellegrino. 

Participarei também da Conferência Anual do CBHD, apresentando meu trabalho sobre o Juramento.



No Brasil, o trabalho de alguns membros do CBHD foi trazido pela Editora Cultura Cristã, que publicou a série sobre Bioética. Atualmente, o CBHD está atuando fortemente na questão da venda de pedaços de bebês e fetos pela multinacional abortista Planned Parenthood.


Será uma excelente oportunidade de ampliar contatos internacionais, aprofundar os conhecimentos e as práticas em Bioética e trazer novidades para o SEFAM aqui no Brasil. 



domingo, 28 de fevereiro de 2016

Fé na Ciência?

FÉ NA CIÊNCIA?


Hoje muitos usam o nome da ciência como um talismã.

Sacodem panfletos pseudocientíficos, ou até mesmo resultados extremamente científicos e rigorosos, com o fervor de um cruzado cristão saído de tempos antigos.

Mas quando são questionados sobre o caráter inevitavelmente indutivista e probabilístico da ciência experimental moderna, e sobre como uma teoria científica é uma verdade provisória de limitado poder de explicação com o potencial de ser completamente revogada, olham de soslaio com a autoridade dos néscios e respondem que isso não é ciência...

Há pessoas na medicina que dedicam suas vidas inteiras à pesquisa e nunca ouviram o mínimo sobre Karl Popper, Austin Bradford Hill, Aristóteles ou Thomas Kuhn. São pesquisadores num sentido válido e menor, mas nunca poderiam ser considerados cientistas reais.

Após o livro "Estrutura" de Thomas Kuhn, é lamentável, ou até mesmo imperdoável, que um bom cientista não saiba Filosofia da Ciência.

Esse é um dos problemas que tento abordar no Módulo Ciência, Cultura e Saúde, no SEFAM.

(na foto, a capa do livro de James Marcum sobre seu falecido professor, Thomas Kuhn)

Site do curso online: http://katedra.com.br/?product=sefam-modulo-1-ciencia-cultura-e-saude 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Por que o médico é tão mal visto na sociedade?

http://katedra.com.br/?product=sefam-modulo-1-ciencia-cultura-e-saude
Ontem, no SEFAM PRESENCIAL, os alunos questionaram sobre o contexto brasileiro da prática médica:
  • Por que o médico é tão mal visto na sociedade?
  • Qual a solução para a Medicina do Brasil?
  • Adianta mudar o currículo médico e inserir humanidades?
Já adianto a resposta para a segunda pergunta: não sei nada de soluções para a medicina do Brasil, mas sei de muitas soluções para a minha prática médica e a de quem compartilha ideais semelhantes.
Durante as respostas, lembrei de uma interessante e enriquecedora discussão com o Professor Valdir Reginato, ocorrida durante o III Congresso Internacional de Humanidades Médicas, em São Paulo. Como encarar a indisponibilidade das humanidades no currículo médico? Implantar e forçar o aluno a estudar? Oferecer a quem quiser?
Uma preocupação minha em relação ao tema pode ser vista na Academia Médica em http://academiamedica.com.br/a-busca-do-medico-pela-filosofia/
Acrescentarei a discussão ao SEFAM ONLINE. Desta forma os participantes da modalidade online terão acesso às discussões ocorridas nas aulas presenciais, muito mais dinâmicas e imprevisíveis!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A Busca do Médico pela Filosofia

A BUSCA DO MÉDICO PELA FILOSOFIA - Artigo no Academia Médica!


Escutei que “humanizar” a medicina era um desafio, pois haveriam de oferecer formação filosófica adequada aos médicos. Mas onde achar a Filosofia na formação médica? 
Lembro um antigo ditado:
“MÉDICO, CURA-TE A TI MESMO!”

 Médico Filósofo, Filósofo da Medicina ou Manipulador Ideológico?

Leia mais no ACADEMIA MÉDICA!

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Programação do Módulo I do SEFAM

Módulo I do SEFAM: Humanidades Médicas

Ciência, Filosofia e Saúde


No primeiro semestre de 2016, teremos o módulo I presencial gratuito para os alunos do UNESC. E uma novidade: teremos também a versão online! Já estou concluindo as negociações para disponibilizar o conteúdo.


I.                   Descrição do Curso e Objetivos

Estudaremos as Humanidades Médicas na busca do aprimoramento pessoal enquanto profissionais da área da saúde e estudiosos interessados no fenômeno da vida humana. Os participantes terão acesso a leituras, filmes e artigos acadêmicos durante seminários, aulas expositivas e debates. A capacidade de estudo interdisciplinar é um pré-requisito, ou pelo menos a boa vontade em fazê-lo, e todos deverão estar abertos a um amplo estudo e para a busca nas mais diversas fontes.

Os objetivos deste curso são: (1) promover a busca pela Alta Cultura entre os participantes; (2) conhecer os principais temas e materiais em Humanidades Médicas; (3) aprimorar-se intelectual e moralmente; (4) treinar as capacidades argumentativa, deliberativa e meditativa; (5) pensar sobre o papel do médico e do profissional de saúde na sociedade.

A versão online será um curso livre e não oferecerá certificação institucional ou governamental. 

O curso presencial poderá oferecer certificação via UNESC na qualidade de Atividade Complementar e é gratuito.


II.              Cronograma

Introdução
Questões administrativas básicas do curso. Apresentação da bibliografia. Em Busca da Alta Cultura. Apeirokalia. O ideal grego clássico de formação nobre (Paidéia). O valor do estudo dos clássicos em saúde. Literatura e Medicina.

A Vida Intelectual e a Vida Acadêmica
As condições para uma vida intelectual verdadeira. A busca da formação humanística. Disciplina e Perseverança. Moralidade e conhecimento. A formação clássica do livre pensador. Rotinas da vida acadêmica. Publicando em Humanidades Médicas e Bioética. A crítica da Academia internacional e brasileira. A invasão vertical dos bárbaros na Academia. A deturpação das instituições conforme Eric Voegelin no livro Hitler e os Alemães.

Origens da Filosofia.
O projeto Socrático. Filosofia X Produto Filosófico X Sofística X Filodoxia. Platão e a Academia. O Liceu Aristotélico. O Mito da Caverna. Apologia de Sócrates e a Verdade da alma contra o mundo. O conhecimento da própria ignorância como passo elementar da filosofia socrática.

Os Quatro Discursos Aristotélicos.
Introdução aos Quatro Discursos. Os quatro discursos na Medicina. Poética. Retórica, Dialética. Lógica. O uso dos quatro discursos como ferramenta para classificação do próprio conhecimento.

Ferramentas Aristotélicas para Médicos.
As quatro causas. Substância e Acidente. Ato e Potência. Aplicação das Causas Metafísicas na saúde humana, na avaliação de artigos científicos e na análise de situações em bioética.

Retórica e Argumentação.
A retórica clássica. Introdução à Lógica Informal. Erística. Comunicação não-verbal. Como ouvir, como falar. Programação neurolinguística. Análise de casos.

Filosofia da Ciência.
A Ciência Clássica. A ciência moderna experimental e empírica. O paradigma indutivista. O Falsificacionismo de Karl Popper. A Teoria das Revoluções Científicas de Thomas Kuhn e a resposta de Giovanni Reale. Ciência e Mito. CiÊncia como religião. Progresso e Responsabilidade na filosofia de Hans Jonas.

O Método Filosófico.
Introdução ao método filosófico por Olavo de Carvalho. Os passos do método filosófico. Aplicação do método filosófico a uma questão de bioética.

Fundações Culturais da Medicina
Valores judaicos, gregos e cristãos. A Medicina da Grécia Antiga. Hipócrates. O Juramento. A Obra Hipocrática. Antigos valores, lições ainda válidas.

A Erística
Truques erísticos comuns na altercação brasileira. Argumentos ad hominem. Golpes psicológicos na discussão. Análise de debates.



III.              Professor
Prof. Dr. Hélio Angotti Neto graduou-se médico na Universidade Federal do Espírito Santo; fez residência médica na Universidade de São Paulo, em Oftalmologia, onde também fez Doutorado em Ciências Médicas (Oftalmologia); foi preceptor no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP em 2006; foi assistente médico em Oftalmologia na Universidade Federal do Espírito Santo e na Universidade Federal do Triângulo Mineiro; é professor do Centro Universitário do Espírito Santo onde atua desde dezembro de 2012 na qualidade de Coordenador do Curso de Medicina; foi Coordenador do Mestrado Interinstitucional entre o UNESC de Colatina e a UNESC de Criciúma; atua no Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC; É Diretor Editorial da revista internacional em Humanidades Médicas Mirabilia Medicinae, sediada no Institut d’Estudis Medievals da Universidade Autônoma de Barcelona; atua como revisor dos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia; é membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, da Associação Brasileira de Educação Médica, da Sociedade Brasileira de Bioética, do Center for Bioethic and Human Dignity e da Academia Brasileira de Oftalmologia.

IV.                BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ADLER, Mortimer. Aristóteles Para Todos: Uma introdução simples a um pensamento complexo. São Paulo, SP: É Realizações, 2010.

BEAUCHAMP, T.L.; CHILDRESS, J.F. Principles of Biomedical Ethics 7th ed. Oxford University Press, 2012.

NOUGUÉ, Carlos. Suma Gramatical da Língua Portuguesa. São Paulo: É Realizações, 2015.

PELLEGRINO, Edmund D.; ENGELHARDT Jr., H.T.; JOTERRAND, Fabrice. The Philosophy of Medicine Reborn: A Pellegrino Reader. University of Notre Dame Press: 2008.

______, THOMASMA, D.C. Helping and Healing: Religious Commitment in Health Care. Georgetown University Press, 1997.

______, THOMASMA, D.C. The Christian Virtues in Medical Practice. Georgetown University Press, 1996.

______, THOMASMA, D.C. The Virtues in Medical Practice. Oxford University Press, 1993.

PLATO. Plato: Euthyphro. Apology. Crito. Phaedo. Phaedrus (Loeb Classical Library). Harvard University Press:1999.

SCHOPENHAUER, Arthur. Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão, em 38 estratagemas. São Paulo, SP: Topbooks, 2003.

SERTILLANGES, Antonin-Dalmace. A Vida Intelectual: Seu Espírito, Suas Condições, Seus Métodos. São Paulo, SP: É Realizações, 2015.

WALTON, Douglas N. Lógica Informal. São Paulo, SP: WMF Martins Fontes, 2012.


domingo, 10 de janeiro de 2016

Sugestão de Leitura: O Médico, de Rubem Alves

O Médico, de Rubem Alves



Há dois dias li "O Médico", de Rubem Alves. 

O livro abre com capítulos repletos de lirismo ao redor da bela obra de Luke Fields. A mesma que adorna a página de abertura do SEFAM. O protótipo do bom médico, do médico humanista, do médico presente, reflexivo e prestativo. 

Rubem Alves segue o livro contando um pouco da inspiradora história de Albert Schweitzer, músico, filósofo e médico ganhador do prêmio Nobel da paz. 

Fala também sobre a sempre presente morte. Certeza dos nascidos e amiga incômoda de todo médico, de toda a vida.

Terminaria bem o livro, mas não segue na mesma toada de seu início.

Aqui sei que arrisco muito em futucar um buda dourado, um ícone "sagrado", como Rubem Alves.

Mas quando o lirismo descamba para uma romantização artificialmente embelezadora de maníacos cruéis como Lênin e Marx, quando velhas figuras de linguagem automatizadas pela ideologia de esquerda ("caminhando e cantando...") aos poucos substituem o lirismo profundo, íntimo e belo, o escrito progressivamente toma um ar de superficialidade, de ênfase forçada.

O lirismo de Rubem Alves também soa superficial ao criticar a religião e a teologia cristã, contra as quais o autor guardou, provavelmente, alguns ressentimentos de antigos desafetos. Transforma fenômenos complexos e sublimes em espantalhos.

Mas creio sinceramente que este livro não é amostra do que o autor tem de melhor. 

Mais, eu não digo, pois sei que já remexi demais o vespeiro. E antes que algum dardo inflamado dispare em minha direção, deixo duas excelentes opções de crônicas e relatos belíssimos sobre a arte de ser médico e de ser paciente, sem pretensões ideologizantes:

- Sinto Muito, de Nuno Lobo Antunes;



- A Morte de Ivan Illitch, de Leon Tolstói.


Boa leitura.

Entrevista sobre o SEFAM cedida à Radio Vox

Entrevista cedida em 16 de novembro de 2015.




Os Desafios do Médico

O médico salva diversas vidas, sim! Isso pode até não ser um grande desafio na maioria das vezes, mas é maravilhoso e recompensador.

 Li um comentário que despertou o interesse em falar acerca de qual seria o maior desafio do médico.

“Não há desafio maior do que salvar vidas humanas”.

Antes de falar qual seria o maior desafio, seria bom começar a falar de quais são os desafios do médico.

A tríade da clínica nos impõe três grandes desafios de caráter geral. O primeiro grande desafio geral é o diagnóstico. Investigar e descobrir qual o problema, mapear terrenos.

O segundo grande desafio é o prognóstico. De posse do conhecimento acerca do problema do paciente, prever o risco, os possíveis caminhos a seguir, os possíveis destinos a alcançar.

O terceiro grande desafio é a terapêutica. O tratamento, que pode ser cirúrgico, farmacológico, de reabilitação ou simplesmente de conforto. Sem o mapeamento do terreno a caminhar e sem saber o que esperar ao fim de cada caminho, como traçar um percurso?

Esses três desafios gerais são complementares. Algumas vezes o mais desafiador será o diagnóstico, e um tratamento simples poderá poupar uma vida. Às vezes o diagnóstico será facílimo, porém o tratamento necessitará de grande perícia, ou muita coragem.

Mas toda a tríade da ação médica visa um objetivo, uma finalidade: o bem do paciente. Aí cabe uma série de desafios adicionais.

Qual o bem desejado pelo paciente? Qual o bem necessário identificado pelo médico? Qual o maior bem possível de ser alcançado na relação médico-paciente?
Posso atender a um paciente que deseja novos óculos e detectar um dano ao nervo óptico compatível com o diagnóstico de Glaucoma Primário de ângulo Aberto. A doença é silenciosa, e o paciente mal sabia que a tinha. O paciente chegou pensando num resultado: enxergar melhor com novos óculos. No meio da consulta ele descobre um outro problema e um objetivo alternativo: evitar a cegueira num futuro hipotético. Qual o melhor resultado possível desta situação e qual o maior desafio? E ainda estamos num exemplo relativamente bem simples, bem cotidiano.
O bem final a ser alcançado pode ser um entre muitos: salvar uma vida, aliviar a dor, confortar alguém que sofre, oferecer sentido à situação de fragilidade e dúvida, informar conhecimentos e promover a autonomia do paciente e de sua família etc.
O desafio e sua gradação mudam de acordo com a situação.

Às vezes o tratamento que salvará uma vida é algo simples, corriqueiro, como a simples injeção da tradicional Penicilina Benzatina que salvará de uma infecção potencialmente mortal. Às vezes salvar uma vida será um desafio extraordinário, de ousadia, técnica, ciência e compaixão, como o grande desafio aceito por nobres cirurgiões pediátricos que decidiram lutar pela vida humana quando tantos outros desistiram.

Um exemplo clássico pode ser visto no esforço de Rob de Jong, crítico do Protocolo de Eutanásia Infantil conhecido como Protocolo Groningen.

O Protocolo Groningen, da Holanda, advoga o extermínio da vida de um bebê em situações drásticas, sem prognóstico, de grande sofrimento irreversível. Joga-se a toalha. Em 2008 foram reportados 22 casos de aplicação do Protocolo em crianças com espinha bífida.[1]

Desistir sempre da vida humana seria tão fácil! Alguns resultados garantem que tudo pôde ser feito em acordo com os pais e a equipe médica, e sem gerar processos legais incômodos.

Mas aí o grande desafio é realmente salvar uma vida, inovar, batalhar. Rob de Jong mostra o resultado de uma de suas batalhas: uma criança operada e sorridente, aos 7 meses, interagindo, com o diagnóstico que garantiria sua entrada no Protocolo Groningen, porém sem o sofrimento insuportável ou o prognóstico irreversível descrito.[2]

Foto do artigo de Rob de Jong, Internet, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2092440/

Quantas vezes um médico ou um cientista não se deparou com o que parecia ser um beco sem saída? Quantas vezes o impossível não se tornou possível e hoje parece ser algo garantido?

Lembro da história do Dr. Ben Carson, neurocirurgião pediátrico que pela primeira vez separou com sucesso dois gêmeos siameses unidos pela região occipital do crânio. Assim como ele venceu um desafio pela primeira, vez, alguém pela primeira vez realizou um transplante de rim, operou um coração, usou com sucesso um antibiótico etc.

Sim, salvar a vida é um grande desafio em diversas oportunidades.

Mas há oportunidades nas quais a grande novidade, a grande descoberta, a revolução no tratamento não ocorre. Nesses casos a vida não poderá ser salva. O grande desafio será aliviar ou confortar, e esses atos são deveres primários de qualquer médico.

Esqueça o conselho amargo de alguns desiludidos ou menos otimistas que afirmam que o médico nada faz, que o médico não está lá para salvar vidas. O médico faz muita coisa, e se for um bom médico, de boa formação humanística e científica, fará ainda mais. O médico salva diversas vidas, sim! Isso pode até não ser um grande desafio na maioria das vezes, mas é maravilhoso e recompensador.

Prof. Dr. Hélio Angotti Neto é Coordenador do Curso de Medicina do UNESC, Diretor da Mirabilia Medicinæ (Revista internacional em Humanidades Médicas), Membro da Comissão de Ensino Médico do CRM-ES, Médico Oftalmologista pela Secretaria de Saúde do ES, Membro do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC e criador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina (SEFAM).



[1] Verhagen AA, Sol JJ, Brouwer OF, Sauer PJ. Deliberate termination of life in newborns in The Netherlands; review of all 22 reported cases between 1997 and 2004. Ned Tijdschr Geneeskd. 2005 Jan 22;149(4):183-8.
[2] JONG, T. H. Rob de. Deliberate termination of life of newborns with spina bifida, a critical reappraisal. Childs Nerv Syst. 2008 Jan; 24(1): 13–28.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Pérolas da Medicina: Margaret Somerville



"A idéia mais perigosa do mundo é achar que não há nada de especial no ser humano"


É Possível Agradar Gregos e... Romanos?

No Academia Médica, acaba de iniciar uma série de artigos sobre Ética Médica e Bioética. E já começamos o ano de 2016 colocando um pouco de lenha na fogueira. Há incompatibilidade entre a Ética Hipocrática e Cristã e a Bioética contemporânea? Mas, espere um momento... Qual bioética?


Confira: http://academiamedica.com.br/bioetica-e-etica-medica/

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Projetos para 2016

2016 promete muito para o Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina.

Prosseguiremos com a iniciativa cultural em Humanidades Médicas. Com a ajuda da Liga Acadêmica de Humanidades Médicas de Colatina (LIAHM) promoveremos o IV Seminário UNESC de Humanidades Médicas, trazendo diversos convidados para Colatina e criando um proveitoso espaço para o debate em saúde.

A parceria com os acadêmicos que criaram a LIAHM promete excelentes frutos, e diversos projetos de humanização ocorrerão por iniciativa dos alunos nos locais de atendimento à saúde ligados ao UNESC.
A edição da Mirabilia Medicinae continua, com a previsão de um volume para junho e outro para dezembro de 2016. Um dos volumes será dedicado aos trabalhos apresentados no Seminário de Humanidades Médicas.
Recomeçamos o ciclo bianual do SEFAM no UNESC. Em dois anos teremos os quatro módulos, um por semestre, gratuitos, oferecidos aos interessados em Humanidades Médicas, Ética Médica, Bioética e Filosofia da Medicina.

O primeiro módulo será principalmente sobre Humanidades Médicas, e se chama: Ciência, Filosofia e Saúde. O segundo será Narrativa e Retórica Médica. O terceiro será Bioética em Questões. O último, no segundo semestre de 2017, será Filosofia da Medicina. Todos juntos promoverão a passagem do aluno pelo estudo e pela prática do discurso nas quatro formas: Poética, Retórica, Dialética e Lógica, conforme o artigo publicado no seguinte link: http://www.biomedicalandbiopharmaceuticalresearch.com/images/Article2_11n2.pdf 

Está previsto para 2016 o lançamento do livro "A Tradição da Medicina", com uma análise discursiva e simbólica do Juramento de Hipócrates e outros materiais sobre a formação em Virtudes para o médico e a criação e fundamentação do SEFAM. O livro deverá ser lançado pela VIDE Editorial, que lançou o livro "A Morte da Medicina".

Novos alunos do SEFAM se preparam para iniciar suas pesquisas em Humanidades. Após completarem a segunda edição do Seminário, preparam um estudo sobre a Ética Hipocrática, que auxiliará na formação do imaginário médico contemporâneo e nos lembrará de quem somos. Todos estaremos trabalhando no resgate da cultura médica, sem a qual qualquer tentativa de crítica cultural ou aprimoramento moral profissional será quase impossível.


E, por fim, dois honrosos convites foram feitos para apresentações nos Estados Unidos. Em fevereiro, na Baylor University, tratarei da formação moral do médico na cidade de Waco, no Texas, no retiro anual de Humanidades Médicas (mais informações no jornal: http://www.baylor.edu/medical_humanities/doc.php/254888.pdf )


E no mês de junho, participarei como convidado da Iniciativa Global em Bioética do Center for Bioethics and Human Dignity, numa série de eventos sobre Bioética Cristã. Em Illinois, na Trinity International University, terei a chance de apresentar o trabalho sobre o Juramento de Hipócrates que deu sustentação ao livro A Tradição da Medicina.


Só posso agradecer àqueles que colaboraram para o sucesso do SEFAM e de nossos estudos e pesquisas. Um feliz 2016 para todos, cheio de grandes desafios e sucessos, se Deus quiser!

Prof. Dr. Hélio Angotti Neto
Coordenador do SEFAM
www.medicinaefilosofia.blogspot.com.br