O RETORNO DA VERDADEIRA DIREITA
O
livro de Daniel Friberg aborda um
tema que promete muitas outras publicações nos próximos anos: a reformulação da
direita na política e na cultura ocidental após a agressiva e ominosa hegemonia
esquerdista.[1]
A
esquerda, ligada essencialmente à Mentalidade Revolucionária de raízes
socialistas e acomodada com a hegemonia cultural, política e econômica alcançada
nas últimas décadas, encontra-se em franca crise, abrindo um vácuo que,
potencialmente, pode alterar radicalmente a situação política nas próximas
décadas.
Porém,
antes de falar da queda da esquerda, cabe seguir o autor em sua descrição da
queda da direita. Olhando um pouco mais no passado, Friberg destaca os fatores que
levaram à queda da antiga direita, que comento a seguir.
Segundo
o autor, a derrota e a demonização do nazismo pela esquerda serviu como
instrumento de queda da direta. Colocar o nazismo ligado à direita é uma
fraqueza do livro, que já começa com uma falha de concepção grave ao assumir a
manipulação discursiva empurrada pelos estrategistas stalinistas ao jogar Adolf
Hitler no colo de conservadores e liberais, uma das mais toscas manipulações do
século passado.
As
raízes políticas e a forma mentis
nazista são muito mais próximas da esquerda do que da direita, considerando o
aspecto conservador ou liberal desta e o revolucionário socialista daquela.
Para comparações, recomendo um autor que aborda o tema com muito mais
competência e com a sobriedade necessária: Vladimir Tismaneanu, em sua
magnífica obra O Diabo na História.[2]
Seria
muito mais acurado dizer que, em parte, a direita caiu por ser alvo de uma das
mais bem-sucedidas campanhas de destruição de reputação já elaboradas a nível
global. Técnica desenvolvida e aplicada com extrema habilidade por
revolucionários socialistas.[3]
Outro
fator importante para a queda da direita a nível global, desta vez corretamente
exposto por Daniel Friberg, foi a marcha gramsciana
para dentro das instituições[4],
usurpando a mídia, a cultura e os sistemas educacionais - pilares fundamentadores
de nossos pensamentos e opiniões.
A
mudança estratégica, abandonando em parte o uso marxista-leninista-stalinista
da violência e assumindo a postura insidiosa e manipuladora de Gramsci e da
Escola de Frankfurt, foi decisiva para o sucesso das últimas décadas em
extirpar a direita do mapa político efetivo.
A
nomeação de Paulo Freire, um ideólogo vulgar, como patrono da educação
brasileira[5] é
um distante e pálido reflexo tupiniquim da genialidade das iniciativas de
Antônio Gramsci e de pensadores do calibre de Herbert Marcuse e Gyorgy Lukács,
que criaram novas e eficazes cabeças para a Hidra Vermelha.[6]
O
abandono estratégico dos matizes mais violentos, pelo menos de forma temporária
e parcial, desarmou mentalmente a população e permitiu a ascensão da esquerda
ao poder de forma pacífica, sem criar resistência. Mesmo que a semente da
tirania ainda faça parte do genótipo esquerdista revolucionário, como se vê no
apoio de políticos brasileiros à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela[7],
tal face encontra-se maquiada por elementos culturais diversos.
Friberg
acusa a substituição da análise histórica de Marx pelo sentimentalismo, o que,
aos poucos, serviu para enfraquecer a capacidade de defesa contra a destruição
da liberdade individual abrindo espaço para o avanço do Estado na vida privada.
Parte
do empreendimento cultural da esquerda é definir ideologicamente o que é a
direita foi, o que reduz o valor político desta a praticamente nada a não ser
pretexto para ofensas e discriminação. Segundo Friberg, a direita sueca, os
Tories e os republicanos do Estados Unidos são patéticos, e pouco compreendem
da dialética revolucionária.
A
restrição de escolhas empurrada pela esquerda sobre a discussão política - nazi-fascismo,
liberalismo de livre mercado e utopia de esquerda - é uma falsa tricotomia. Daí
o título: A Volta da Verdadeira Direita (The
Real Right Returns – a Handbook for the True Opposition), demonstrando que
uma nova opção começa a despontar no horizonte.
No
livro, alguns conceitos importantes são ressaltados. Talvez o mais importante
seja o de Metapolítica, que é uma guerra de transformação social, ao nível de cosmovisão,
pensamento e cultura, que na obra de Olavo de Carvalho seria o tipo de poder
cultural ou espiritual[8], o
mais insidioso e mais duradouro de todos os poderes. É no campo da influência
cultural e intelectual que os rumos dos povos serão decididos por décadas a
seguir.
Do
ponto de vista histórico e conceitual, diversas outras obras cumprem melhor o
que Daniel Friberg se propõe a fazer. Em termos de análises culturais e
históricas de qualidade, Olavo de Carvalho no Brasil e Roger Scruton no
exterior estão a anos luz de distância à frente de Friberg, oferecendo
instrumentos e informações muito mais precisas e aplicáveis. Em termos de
estratégia, a direita americana tem dado exemplos significativos de que
aprendeu a reagir contra os revolucionários, como pode ser observado nos
esforços de Ben Shapiro, David Horowitz, Jeffrey Nyquist e do finado Andrew Breitbart.
Embora
o livro toque em assuntos interessantes, eu não recomendaria, a princípio, sua
leitura para brasileiros interessados em saber melhor o que é a verdadeira
direita ou a pretensa nova direita. Há exemplos melhores e mais valiosos de
brasileiros aptos a tecerem análises importantes nesse campo de estudo, como
Felipe G. Martins, Benedito Barbosa, Flávio Gordon, Silvio Grimaldo e muitos
outros que despontaram na última década, além da obra magistral que originou
toda a quebra da hegemonia intelectual da esquerda no Brasil: os livros e
cursos de Olavo de Carvalho.
Contudo,
do pequeno livro de Friberg podem ser tiradas algumas lições curiosas e de
utilidade geral.
COMO LIDAR COM A QUEDA DA ESQUERDA?
Mesmo
que esteja em queda, tendo perdido a hegemonia intelectual, a esquerda ainda se
contorce, tal qual a serpente decapitada. Em suas mãos ainda repousa a
hegemonia cultural – reflexo inferior e distante da hegemonia intelectual -, a
econômica e a política.
Após
dominar os meios de poder institucionais, a esquerda nunca perde tempo, e
concentra esforços para perseguir e destruir seus opositores, de dentro e de
fora das instituições. No Brasil, só para citar um exemplo, o governo petista
soltou uma lista de indesejáveis na mídia, algo que pode inclusive incitar
agressão contra os “inimigos” do partido por meio de sua militância,
reconhecida nacionalmente por sua intolerância e por sua cega devoção ao
partido. Nada interessa mais à esquerda do que o monopólio da comunicação e da
educação, incluindo as redes sociais e a Internet
como um todo. Apontar e ameaçar jornalistas de oposição, como instrumento de
manutenção do domínio cultural, é uma técnica perigosa e extremamente
agressiva.[9]
Por
que tanta vontade em controlar a mídia alternativa? Porque a realidade recente
é que a mídia oficial (mainstream media)
está em franca decadência, cedendo cada vez mais espaço às mídias alternativas
como a Internet. E muitas destas mídias
alternativas são claramente de direita.
Friberg
oferece algumas sugestões para fugir à perseguição da esquerda, inclusive nos
meios de mídia:
1
– Sem comentários: não ceda espaço e oportunidade de distorcer suas palavras
aos entrevistadores enviesados da esquerda manipuladora. Não dê pano para a
manga.
2
– Dê as boas-vindas que “eles” merecem: recepcione pessoas que não foram convidadas
de formas desagradáveis, deixando bem claro que elas passaram dos limites.
3
– Negue tudo o que for acusado, descontextualizado ou distorcido. Ameace de
processo se for publicado inadequadamente. Aceitar a distorção da informação é
uma concessão estratégica inaceitável, e alimenta perigosas mentiras.
4
– Processe, processe, processe. Reúna material processual sempre!
5
– Boicote a mídia esquerdista.
6
– Dê à mídia manipulada o seu próprio remédio. Denuncie as perseguições e os
erros.
7
– Estigmatize aqueles que tomaram parte na guerra cultural destruindo a
civilização e boicote todos em futuras oportunidades de emprego ou promoção.
8
– Construa redes!
9
– Torne-se público.
10
– Não parar, criticar sempre, nunca retroceder, nunca desistir.
DICAS PARA HOMENS E MULHERES DE
DIREITA
A
esquerda está dizimando os “homens de verdade”, fiéis às tradições da honra, da
coragem e da constância. Homens de direita são os defensores das famílias, da
pátria e da civilização, segundo Friberg. Ele oferece algumas dicas que enxerga
como básicas:
1
– Seja capaz de se defender fisicamente. Lute! Dica preciosa considerando o
hábito de manifestações violentas e de depredação que as esquerdas nunca temem
em executar.
2
– Não ceda ao vocabulário e às idéias esquerdistas. Ceder ao vocabulário da
esquerda é restringir seu mundo mental e jogar pelas regras de quem quer te
dizimar.
3
– Seja um Cavalheiro.
4
– Mulheres e homens são melhores em diferentes contextos. Conforme-se com a
presença mais rara de mulheres na política e na Defesa, por exemplo.
5
– O foco é ser um bom homem. Não é achar uma boa mulher (isso é consequência).
6
– Seja um líder.
Para
as mulheres, Friberg recomenda que não acreditem na igualdade, pois ela impõe à
mulher o modelo masculino e nega a essência feminina. Eis suas dicas: Tenha
muitos filhos! Valorize sua honra, respeite-se. Seja feminina.
CORAGEM, OPOSIÇÃO INTELIGENTE E
FONTES DE ESTUDO
O
que alguns chamam hoje de marxismo cultural – sem dúvida um estranho oximoro,
ou assim pensaria Marx - tende a demonizar idéias e opiniões contrárias à
ideologia esquerdista. Uma oposição disposta a encarar de frente o marxismo
cultural precisa estudar, forjar um caráter firme e ganhar coragem no campo de
batalha, seja na cultura, seja na política, compreendendo que fragilidade
diante de um oponente que lhe quer mal só atrairá desprezo.
Pessoalmente,
entendo que qualquer um que deseja conhecer um pouco da política sem ser um
mero boneco de ventríloquo precisa ler de todas as fontes e ater-se à
realidade. Repetir o discurso alheio é, de fato, algo que só pode colaborar
para o enfraquecimento da individualidade. Atualmente, o discurso alheio mais
repetido e mais emburrecedor é justamente aquele que se propõe a ser rebelde e
inovador, tão utilizado pelas esquerdas ao longo de décadas, mas incapaz de
enganar a todos por muito tempo.
É
preciso ler von Mises, Marx e Scruton. É preciso ler Olavo de Carvalho e ficar
atento à quilométrica lista de livros apontados em seus cursos. Cultura
política se ganha com décadas de estudo e preparação, e com a coragem de
enxergar aquilo que todos não querem ver, de falar aquilo que ninguém quer
escutar e de trabalhar em situações e locais inóspitos.
Por
mais que seja um livro interessante, creio que o público principal pertence à
Europa. No Brasil, e mesmo na Europa, encontro referências muito melhores e
mais profundas, como aquelas já citadas.
Sobre
querer rotular-se como “de direita” ou “de esquerda”, a própria direita
conservadora costuma repudiar rótulos ideológicos, tratando sua disposição
política muito mais como um costume que gera virtudes do que como uma
fidelidade ideológica definida.[10] Deixo
um antigo alerta de Ortega y Gasset: “Ser de esquerda, como ser de direita, é
uma das infinitas maneiras que o homem pode eleger para ser um imbecil: ambas
são, de fato, formas de hemiplegia moral”. Eis um alerta bem conservador.
Hélio
Angotti Neto, 22 de agosto de 2017, Colatina – ES.
[1]
FRIBERG, Daniel. The Real Right Returns.
A Handbook for the True Opposition. London: Arktos, 2015.
[2]
TISMANEANU, Vladimir. O Diabo na História.
Comunismo, Fascismo e Algumas Lições do Século XX. Campinas, SP: Vide
Editorial, 2017.
[3]
PACEPA, Ion Mihai; RYCHLAK, Ronald J. Desinformação.
Ex-Chefe de Espionagem Revela Estratégias Secretas para Solapar a Liberdade,
Atacar a Religião e Promover o Terrorismo. Campinas, SP: Vide Editorial, 2015.
[4] CARVALHO,
Olavo de. A Nova Era e a Revolução
Cultural. Fritjof Capra & Antonio Gramsci. 4ª Edição Revista e muito
aumentada. Campinas, SP: Vide Editorial, 2014.
[5]
GIULLIANO, Thomas (Editor). Desconstruindo
Paulo Freire. São Paulo: Editora Expressa, 2017.
[6]
AZAMBUJA, Carlos Ilich Santos. A Hidra
Vermelha. Observatório Latino, 2016.
[7]
ROSSI, Marina. Do PT ao PSOL, esquerda do Brasil poupa Maduro de críticas e
apoia Constituinte. Apesar da escalada da violência em Caracas, partidos
defendem que nova Carta é "via democrática". Manifesto de
intelectuais de esquerda inclui brasileiros e critica "cegueira
ideológica" de apoiadores. El País.
São Paulo, 30 de julho de 2017. Internet,
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/28/politica/1501262473_019811.html
[8]
CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexander. Os
EUA e a Nova Ordem Mundial. Um debate entre Alexandre Dugin e Olavo de
Carvalho. Campinas, SP: Vide Editorial, 2012.
[9]
CANTALICE, Alberto. A desmoralização dos
pitbulls da grande mídia. Três vezes derrotados nos pleitos presidenciais,
por Lula e Dilma e o PT, os setores elitistas albergados na grande mídia, ao se
verem na iminência do quarto revés eleitoral, foram… 16/06/2014 16h01 - atualizado em 21/06/2016 16h15. Página do
Partido dos Trabalhadores. Internet, http://www.pt.org.br/alberto-cantalice-a-desmoralizacao-dos-pitbulls-da-grande-midia/
. Comentários foram feitos por diversos jornalistas, incluindo um dos
enunciados na lista negra: MAGNOLI, Demétrio. A lista do PT. A personificação dos ‘inimigos da pátria’ é um
truque circunstancial: os nomes podem sempre variar, ao sabor das
conveniências. Internet, https://oglobo.globo.com/opiniao/a-lista-do-pt-12915771
.
[10]
KIRK, Russel. A Política da Prudência.
São Paulo: É Realizações, 2013.