terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Mirabilia Medicinae 3 Online!



 Thematic Number
http://www.revistamirabilia.com/medicinae/issues/mirabilia-medicinae-3-2014-2
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1. Editorial: II UNESC Seminar of Medical Humanities
Hélio ANGOTTI NETO (Centro Universitário do Espírito Santo - UNESC)
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/medicinae/pdfs/med2014-02-01.pdf

2. Research integrity and the impact of conflicts of interests on society: An Analysis in the Light of the Theory of Recognition of Axel Honneth
Márcia Cássia CASSIMIRO; Agemir BAVARESCO; André Marcelo M. SOARES (Oswaldo Cruz Foundation/PUCR/UFRJ)
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/medicinae/pdfs/med2014-02-02.pdf

3. The Use of Eponyms in Medical Practice
Fleury Marinho da SILVA; Rodolfo Costa SYLVESTRE; José Guilherme Pinheiro PIRES (Centro Universitário do Espírito Santo - UNESC)
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/medicinae/pdfs/med2014-02-03.pdf

4. Beliefs, Values and Social Representations of Normal Birth
Luciano Antonio RODRIGUES; Bruno Alves da SILVA; Priscila Margarete Araújo Beserra VALENTIM (Centro Universitário do Espírito Santo - UNESC)
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/medicinae/pdfs/med2014-02-04.pdf

Articles

5. Humanizing the Biomedical Model, and the Quality-of-Care Crisis
James A. MARCUM (Baylor University)
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/medicinae/pdfs/med2014-02-05.pdf

6. Bioethics in the process of medicine's humanization: an interdisciplinary approach
Euler Renato WESTPHAL (Faculdades EST/UNIVILLE)
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/medicinae/pdfs/med2014-02-06.pdf

Review

7. Book Review: Angotti Neto and the case against Medicine as Ideology
Ivanaldo Oliveira dos SANTOS FILHO (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN)
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/medicinae/pdfs/med2014-02-07.pdf

domingo, 28 de dezembro de 2014

MÉDICO, O GOLDENSTEIN DO PT


Emmanuel Goldenstein foi um personagem fictício criado na alegoria política de George Orwell, 1984[1]. No seu romance, que é referência obrigatória para se entender como funciona a política mundial depois da segunda guerra mundial, inclusive no Brasil[2], Emmanuel Goldenstein era uma figura utilizada pelo partido governante, o Socialismo Inglês (IngSoc), para despejar a culpa por todos os erros e problemas enfrentados pela população submissa ao regime tirânico. O perigoso Goldenstein seria o famoso líder de um grupo subversivo denominado “A Irmandade”.

Seria algo do tipo: Faltou água? Foram os seguidores do rebelde Goldenstein que sabotaram a Estação de Água ou que modificaram o clima. Faltou comida? As plantações foram sabotadas por lavradores preguiçosos que se uniram à causa de Goldenstein para minar o sucesso de Oceânia. Há inclusive a “Semana do Ódio” e os “dois minutos de ódio”, nos quais a imagem de Goldenstein é exibida para a catarse de uma coletividade ensandecida de raiva e frustração[3].

Estou falando do fenômeno conhecido pelo nome de Bode Expiatório, tão bem descrito pelo filósofo francês René Girard. Desde o início da civilização, os conflitos acumulados em sociedade tendem a buscar uma válvula de escape. Um bode expiatório que catalisasse o ódio coletivo era sempre a ferramenta ideal[4]. É claro que com o advento do Cristo essa ferramenta de aliviar tensões ficou obsoleta, desmanchada pela vítima que se tornara então o juiz de seus algozes e de toda a humanidade.

Mas uma ferramenta obsoleta ainda funciona bem, ainda mais num povo facilmente manipulado pelas estratégias políticas de baixo nível como as demonstradas pelo governo brasileiro.

E no contexto de se buscar um Bode Expiatório para desviar a atenção do que realmente importa, para desviar o ódio e a frustração dos problemas do cotidiano e para capitalizar tudo em lucro político, qual seria a vítima eleita? Sim, o médico.

Por vários anos a saúde no Brasil foi sucateada. Falta de plano de carreira, fechamento de milhares de leitos hospitalares, falta de investimento, incompetência na gestão de recursos (escassos) para a saúde e constante evasão de divisas por razões ideológicas ao invés de investir na saúde do próprio povo. Foi uma lambança.

Com a aproximação das eleições, uma convulsão social foge do controle da elite governante e explode nas ruas com demandas contrárias à política vigente, cobrando dos líderes coisas mais que óbvias como saúde, segurança e educação de qualidade – o de sempre – e gera terror nas elites dominantes ao se mostrar como apartidária (até mesmo hostil às diversas tentativas de penetração partidária) e, pasmem, conservadora!

Chega então o momento de buscar o bode ou nomear o Goldenstein da vez.

Na votação do famigerado Ato Médico, as diversas profissões da área da saúde são voltadas contra a classe médica e inflamadas por discursos de demagogos governistas que declararam em alto e bom som que o “médico inventa a doença para lucrar com o paciente”, e que o ato médico era uma “opressão médica contra as outras classes”, e outras imbecilidades extemporâneas da mesma estirpe.

O plano de carreira para médicos é descartado. Os médicos são taxados de ignorantes e mal educados. São acusados de ódio aos pobres e ojeriza ao interior do Brasil. É instalado o controverso e suspeitíssimo “Mais Médicos” logo após o “PROVAB”. Milhares de médicos estrangeiros que servem de atravessadores de dinheiro para o regime cubano são inseridos no Brasil ao custo do emprego de muitos médicos lotados no interior e nos centros urbanos de assistência à saúde[5].

E agora a peça mais recente da propaganda de ódio do governo petista do Brasil: os médicos são racistas e, por isso, atendem mal aos negros e deixam os mesmos morrerem numa frequência maior.

Numa série de propagandas exibindo estatísticas completamente fora de contexto, o Ministério da Saúde acusa os médicos de atenderem mal às pacientes negras, por menos tempo, de forma incompleta e, inclusive, permitindo um maior número de complicações médicas e mortes na população negra do que na branca. Tudo isso sem referência nenhuma à diferença entre a proporção de brancos, pardos e negros no sistema público de saúde, no complementar ou no privado e sem referências para uma análise detalhada dos dados que não seja um mero banco de dados de prevalência[6].

Alguns dos dizeres veiculados na mídia são os seguintes:

“60% da mortalidade materna no Brasil ocorre entre mulheres negras. Entre as mulheres brancas esse número é de 34%.”

“74,5% das mulheres brancas declaram fazer o pré-natal, enquanto 55,7% das mulheres pretas declaram fazer esse acompanhamento.”

“A diferença entre os níveis de mortalidade de crianças negras e brancas aumentou de 21% para 40% em 20 anos.”

“77,7% das mulheres brancas foram orientadas sobre a importância do aleitamento materno, enquanto 62,5% das mulheres negras tiveram essa orientação.”

“Uma mulher negra recebe menos tempo de atendimento que uma mulher branca.”

E talvez uma das mais calamitosas acusações, curiosamente removida após alguns protestos[7]:

“Em 2012, a taxa de mortalidade por doença falciforme entre pessoas pretas foi de 0,73 mortes (por 100.000 hab.) e de 0,28 (por 100.000 hab.) entre pardas; enquanto na população branca 0,08 (por 100.000 hab.)”

O ardil é tão baixo que qualquer um ao estudar o mínimo sobre a doença em questão – a Anemia Falciforme – descobrirá que é ligada a questões genéticas e é hereditária, e sua prevalência na população negra é bem maior do que na branca. Não morrem mais negros do que brancos porque os médicos deixam os negros morrerem; morrem mais negros do que brancos porque existem muito mais negros do que brancos portadores da doença! Seria quase o mesmo que dizer que os médicos discriminam os brancos porque estes sofrem mais com o câncer de pele (que sabidamente afeta pessoas de pele mais clara e com menor proteção aos raios solares), ou que os médicos discriminam as mulheres porque elas morrem de carcinoma de colo uterino (vejam bem, somente as mulheres possuem úteros). É cômico para não dizer trágico.

Uma rápida busca nos meios de pesquisa digitais informará que a prevalência, isto é, a frequência dos diagnósticos da doença falciforme na população brasileira encontra-se expressivamente concentrada na população que se declara negra ou, em menor escala, na população parda.

Só para ilustrar, um artigo reportou que na cidade de Uberaba foram estudados 47 casos presentes em adultos, e que a proporção era distribuída da seguinte forma: 78,7% em negros, 17% em pardos e 4,3% em brancos, preponderando o gênero feminino (59,6%)[8]. Daqui a pouco falarão que morrem mais mulheres de doença falciforme do que homens porque os médicos não gostam das mulheres.

Toda a campanha do governo pode ser interpretada considerando os seguintes atos:

1.      Procura-se exercer o recurso erístico – isto é, a trapaça intelectual - conhecido como rotulação odiosa, no qual se atribui a determinado indivíduo, classe ou grupo um adjetivo que invoca sentimentos ruins naqueles que escutam a rotulação (neste caso racista assassino)[9];

2.      Imputa-se crime de ódio racial à classe médica brasileira, pois se há uma afirmação de que um possível racismo gera dados estatísticos que demonstram uma pior qualidade de atendimento a determinada população, ao ponto em que se sugere maior mortalidade decorrente de tal racismo, há um terrível crime em curso;

3.      Usa-se de forma inadequada as estatísticas, procurando dar credibilidade científica a dados interpretados sob forte viés ideológico, atestando extrema incompetência de órgãos governamentais que deveriam prezar pela qualidade ao cuidar da saúde do brasileiro ou a simples e criminosa má-fé.

Logo, é difícil concluir outra coisa que não a seguinte: toda a campanha governista de combate ao “racismo no SUS” não passa de uma manobra política e ideológica de má qualidade, executada de forma incompetente e com o objetivo de difamar por meio de imputação de terrível crime a toda uma classe de profissionais brasileiros, desviando a atenção da população e atribuindo a culpa por seus problemas de saúde à classe médica e não ao governo, interessado em manter sua hegemonia.

Sem dúvida nenhuma é um produto deficiente de mentes corrompidas pelo maquiavelismo político.

Faltou ao Ministério da Saúde o conhecimento, a responsabilidade, a competência e a boa intenção em servir à população a verdade dos fatos. Lamentavelmente, é mais um exemplo de um período que talvez seja conhecido posteriormente por sua extrema concentração de corrupção e vileza, talvez a maior desde o descobrimento destas terras pelos portugueses há mais de 500 anos[10].





[1] ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

[2] Para uma breve resenha comparativa sugiro a leitura da um texto publicado no SEFAM: ANGOTTI NETO, Hélio. 1984: A Profecia Moderna de George Orwell. Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina. Disponível em: <http://www.medicinaefilosofia.blogspot.com.br/2014/09/1984-profecia-moderna-de-george-orwell.html>. Acesso em 28 dez. 2014.

[3] Uma clara alusão de George Orwell à prática soviética de destruir a reputação de seus inimigos e utilizá-los para capitalizar o ódio das massas. Semelhanças com o Partido dos Trabalhadores não são mera coincidência. Recomendo a leitura de: TUMA JÚNIOR, Romeu. Assassinato de Reputações: Um Crime de Estado. Rio de Janeiro: Topbooks, 2013.

[4] GIRARD, René. O Bode Expiatório. São Paulo: Editora Paulus, 2004.

[5] ANGOTTI NETO, Hélio. “POLÍTICAS DE INTERIORIZAÇÃO DO MÉDICO BRASILEIRO”. Ibérica – Revista Interdisciplinar de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos (ISSN 1980-5837) Vol. VII, Nº 21, 2013, p. 40-56. Disponível em: <http://www.sophiaweb.net/repositorio/iberica/iberica21/interiorizacao-medico-angotti.pdf>. Acesso em: 28 dez. 2014.

[6] Alguns locais onde a propaganda de ódio do governo é destilada podem ser vistos nos seguintes locais: SUS sem racismo: organização governamental no Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/SUSnasRedes>. Acesso em: 28 dez. 2014.
Blog da Saúde – Ministério da Saúde. Disponível em: <http://www.blog.saude.gov.br/index.php/34777-campanha-mobiliza-a-populacao-contra-o-racismo-no-sus>. Acesso em: 28 dez. 2014.
Portal da Saúde – Ministério da Saúde. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/sgep/doges-departamento-de-ouvidoria-geral-do-sus/ouvidoria-g-sus/noticias-ouvidoria-geral-do-sus/15854-campanha-mobiliza-a-populacao-contra-o-racismo-no-sus>. Acesso em: 28 dez. 2014.

[7] CARDOSO, Francisco. SUS SEM FASCISMO - GOVERNO UTILIZA TÁTICA NAZISTA DE PEGAR DADOS DESFAVORÁVEIS A ELE E JOGAR A CULPA EM UM GRUPO POPULACIONAL ATRAVÉS DA DETURPAÇÃO DE ESTATÍSTICAS. Disponível em: <http://www.perito.med.br/2014/12/sus-sem-fascismo-governo-utiliza-tatica.html>. Acesso em: 28 dez. 2014.
BRASIL, Felipe Moura. Campanha do SUS atribui a ‘racismo’ mortes por doença genética predominante em negros. Médicos reagem. Blog da Veja - Felipe Moura Brasil: Cultura e Irreverência. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/12/25/campanha-do-sus-atribui-a-racismo-mortes-por-doenca-genetica-predominante-em-negros-medicos-reagem/>. Acesso em: 28 dez. 2014.

[8] FELIX, A.A.; SOUZA, H.M.; RIBEIRO, S.B.F. Aspectos epidemiológicos e sociais da doença falciforme. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 32(3), 2010, p. 203-208.

[9] Sugiro consultar a excelente obra comentada pelo filósofo Olavo de Carvalho: SCHOPENHAUER, Arthur. Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão, em 38 Estratagemas (Dialética Erística). Introdução, Notas e Comentários de Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003.

[10] Uma irônica conclusão, que remete ao hábito governista de sempre gabar-se com a frase “nunca antes neste país...”. Poder-se-ia igualmente tecer o seguinte comentário: Nunca antes neste país houve tanta corrupção, tanta impunidade e tanta ausência de vergonha.

domingo, 21 de dezembro de 2014

A VIRTUDE MÉDICA DA COMPAIXÃO

Artigo originalmente publicado no site Academia Médica, disponível em: http://academiamedica.com.br/compaixao-como-uma-das-virtudes-medico/


Edmund Pellegrino lembra em seu livro sobre virtudes médicas que muitos criticam o médico contemporâneo justamente por sua falta de compaixão, por sua insensibilidade[1].

Diariamente, ao tratar um paciente com cordialidade (de cordis – coração), escuto algumas exclamações de surpresa. Hoje mesmo escutei algo que me deixou triste ao cumprimentar um paciente da rede pública: “Doutor, você dá a mão?”

Acredito sinceramente que a maioria dos médicos brasileiros trata bem seus pacientes, mas os maus exemplos gritam enquanto os bons exemplos sussurram. Além dessa característica típica em se julgar assimetricamente bons e maus exemplos, há o fato de que existe uma campanha maciça de difamação profissional movida pelo governo brasileiro, sempre à busca do bode expiatório da hora[2].

Mas voltemos à compaixão, palavra que significa “sofrer junto”. Para compreender melhor, podemos também apelar para as definições de palavras que não são sinônimas de compaixão.

Misericórdia e Piedade, por exemplo, denotam atos de caridade e graça de alguém em posição superior a alguém de posição inferior. Compaixão denota uma simetria maior entre o que sofre e o que acompanha o sofrimento. Há uma assimetria óbvia na relação médico-paciente, mas cabe ao médico trabalhar também para que a integridade de seu paciente seja preservada ou restituída o quanto antes. Na reconstrução dessa integridade, o médico precisa “sentir” o que o paciente sente.

Simpatia é mais abrangente, denotando participação em sentimentos positivos ou negativos, sem a especificidade da compaixão, muito mais característica do médico que vive uma situação de sofrimento ao lado do paciente.

Já a empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, imaginando como seria uma determinada resposta frente a uma determinada situação. Também é mais abrangente que a compaixão, que é a compreensão participativa do sofrimento alheio. A empatia seria uma habilidade que possibilitaria uma compaixão adequada à prática médica.
A compaixão não é somente uma necessidade moral, mas também é uma necessidade intelectual da atividade médica.

Sem a adequada compreensão do sofrimento alheio, o diagnóstico pode ser comprometido, assim como o plano terapêutico. O médico pode “sofrer” de forma ineficaz, e julgar mal a situação de seu paciente.

O médico precisa sentir como o paciente sente, porém não pode ser emocionalmente envolvido a ponto de nublar sua capacidade de raciocínio clínico e sua objetividade, denotando a qualidade que Sir William Osler exaltava como Aequanimitas (autocontrole e constante “presença de espírito”)[3].

Também não há necessidade de que o médico sofra “na carne” o mal de seu paciente, ou teríamos uma inescapável falta de oncologistas! E nenhum homem poderia ser ginecologista. Viver de fato a doença oferece uma perspectiva única e proveitosa para o médico sábio o suficiente, mas não é pré-requisito.

Há sim a necessidade de que o médico exerça sua compaixão com a verdadeira postura de um amigo, compreendendo o sofrimento do paciente e comprometendo-se com a sua cura, com o alívio do mal que o acomete e com o tratamento respeitoso devido à pessoa querida.



[1] PELLEGRINO, Edmund D.; THOMASMA, David. The Virtues in Medical Practice. New York, Oxford: Oxford University Press, 1993.

[2] É pública e notória a difamação que o Partido dos Trabalhadores e seus aliados movem contra os médicos, rotulados de inimigos convenientemente no momento em que o governo é cobrado em relação à qualidade da saúde.

[3] OSLER, William. AEQUANIMITAS: With Other Addresses to Medical Students, Nurses and Practioners of Medicine. Philadelphia: P. Blakiston’s Son & Co., 1910.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Editorial da Mirabilia Medicinae, Volume 1


Humanidades Médicas: O Projeto de Edmund Pellegrino

"Para estudar a vida humana é necessário estudar o que é o “humano”. Nas Artes Liberais, nas Belas Artes e demais áreas das Humanidades (Literatura, História, Filosofia, Antropologia e Sociologia).

Mas para estudar as Humanidades Médicas é necessário adentrar na Filosofia da Medicina e saber quais seus aspectos específicos que geram uma Filosofia Moral específica. Só assim podemos compreender e aplicar de forma adequada as ferramentas filosóficas à reflexão em saúde. 

Nas sábias palavras de Gregório Marañón y Posadillo (1887-1960), “o médico que somente medicina sabe, nem sequer medicina sabe”. É com vistas a esta busca por um médico humanisticamente mais capacitado (e, acima de tudo, que beneficie mais o paciente) que a seção Mirabilia Medicinæ foi criada. Nosso intento é seguir a (longa) tradição de médicos humanistas, assumir um caráter interdisciplinar por essência e investigar, nos distintos domínios do conhecimento humano, aqueles fragmentos que podem colaborar no grande projeto de tornar a relação médico-paciente mais benéfica e mais rica, cultural e existencialmente, para ambos."

Para saber mais, acesse: http://www.revistamirabilia.com/medicinae/issues/mirabilia-medicinae-1-2013-2


domingo, 30 de novembro de 2014

GAZETA DO POVO: Sobre o Aborto pós-nascimento

Matéria sobre a desprezível proposta do aborto pós-nascimento publicada no Blog da Vida do jornalista Jônatas Dias Lima, que encomendou uma breve entrevista sobre o tema.

Veja a matéria do nobre Jônatas Dias Lima em:

http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1517204&tit=Pratica-do-aborto-pos-nascimento-ganha-defensores-no-meio-academico


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Virtudes Médicas: Confiabilidade

Originalmente publicado no "Academia Médica" em: http://academiamedica.com.br/virtudes-medicas-confiabilidade/

Jean Hamburger, Médico francês e fundador da Nefrologia como especialidade médica.


Uma virtude central em toda relação humana sem dúvida nenhuma é a confiabilidade[1].

Alain Peyrefitte já apontava o valor que a confiança tem no caminhar de uma sociedade e qual o seu papel no desenvolvimento: sem confiança não há ambiente para nenhum tipo de progresso, somente há o caos[2].

Das relações de confiança que perduram nas diferentes sociedades, uma das mais emblemáticas e complexas, porém essencial, é a Relação Médico-Paciente. E parte dessa relação de confiança é a crença na disposição alheia em contar a verdade.

O paciente busca o médico confiando que, geralmente:

- O médico o informará se o problema de saúde estiver acima de sua capacidade de resolução ou auxílio;

- O médico informará tudo o que é importante saber acerca da condição de saúde;

- O médico informará as melhores opções possíveis ao paciente, explicando cada uma e aconselhando se preciso for;

- O médico não esconderá informações intencionalmente ou, se o fizer considerando o bem do paciente, o fará apenas de forma temporária.

Essa confiabilidade repousa sobre outras características também essenciais ao médico.

A principal dessas características é o espírito de benevolência junto com seu complemento indispensável: a não maleficência. O médico porta-se de forma confiável sabendo que isso se traduz num bem para seu paciente, e este bem envolve a comunicação da verdade e a atuação sincera como elementos para a manutenção da integridade do paciente, considerando acima de tudo a integridade como um elemento beneficente, e a autonomia do paciente como um dos componentes da sua integridade.

Outra característica é o autoconhecimento do médico, que deve verificar em sua consciência o que sabe, o quanto sabe e com que fim sabe algo. Sem a noção adequada do próprio conhecimento o médico age de forma imprudente (o contrário da grande virtude médica: a prudência ou phronesis).

O médico utiliza a confiabilidade em diversas situações. Comento acerca de duas situações.

Hoje em dia se fala muito acerca do Testamento Vital, no qual o paciente deixa um relato de como quer ser tratado próximo à sua morte. Cabe ao médico assistente fazer cumprir a vontade de seu paciente mesmo na ausência de sua consciência por motivo de agravo à saúde. O médico que recebeu a honrosa posição de protetor da vontade de seu paciente deve zelar com honra, veracidade e extrema confiabilidade no momento mais frágil da existência humana.

Uma situação mais comum na realidade do médico brasileiro é o momento de comunicar más notícias, como o diagnóstico de um câncer intratável ou a baixa expectativa de sobrevida num paciente grave internado na Unidade de Tratamento Intensivo.

Alguns defendem que o médico pode ocultar o diagnóstico ou o prognóstico para oferecer momentos mais proveitosos ao paciente, para que se desfrute do resto da vida sem o peso da consciência da morte. Tal postura de ocultação da verdade, porém, é uma armadilha.

Negar a realidade ao paciente autônomo é negar-lhe o conhecimento necessário acerca de sua vida para que ele programe de forma adequada suas prioridades. Se o diagnóstico e a informação do prognóstico demorarem muito, tempo precioso pode ser perdido, e danos irreversíveis podem ser acrescidos à situação já dramática do paciente.

Com isso não quero dizer que a informação deve ser dada de qualquer forma e imediatamente. Daí a necessidade de treinar os jovens médicos na arte de comunicar más notícias.

Jean Hamburger já avisava que certas palavras não devem ser utilizadas, e que um resquício de esperança, por menor que seja, nunca deve ser extirpado. Tais medidas temperam a confiabilidade do médico com tratos humanísticos e empáticos ao sofrimento do paciente[3].

Algumas dicas preciosas do nefrologista Jean Hamburger:

1 – O ponto primordial é a formação da relação com o paciente;

2 – Não basta se apoiar somente no instinto e no amor ao próximo (há formas adequadas de executar ações em saúde);

3 – Entender reações psicológicas do paciente;

4 – Utilizar auxílio, informação e conforto como instrumentos terapêuticos;

5 – Não utilizar palavras com forte conteúdo emotivo negativo como: morte, lepra, câncer, coma ou autópsia (ou fazê-lo de forma gradual e empática);

6 – Explicar tudo ao paciente e jamais, jamais mentir;

7 – A explicação de cada ato praticado reduz o desconforto e a dor;

8 – Jamais anunciar uma doença como absolutamente incurável ou intratável; permitir um mínimo de esperança.

O último conselho poderia ser questionado, mas o fato real é que inúmeras pesquisas acontecem todos os dias buscando soluções e alívio para doenças ainda incuráveis ou intratáveis, e a esperança de alguma novidade sempre existe.

Até mesmo as situações mais corriqueiras do cotidiano médico exigem confiabilidade.

Ao solicitar exames para diagnosticar determinada condição de saúde do paciente, o médico precisa ser claro e veraz em suas suspeitas, e informar ao paciente sobre as repercussões do diagnóstico. Ao realizar o diagnóstico, o médico precisa informar ao paciente o prognóstico de acordo com as diferentes formas de tratamento adotadas.

O paciente precisa acreditar que o médico é confiável e benevolente, ou jamais confiará no plano terapêutico prescrito. E é preciso lembrar que o médico é buscado em uma situação extrema, na qual o paciente se encontra frágil, assustado e disposto a entregar, muitas vezes, grande parcela de sua autonomia em mãos de outrem, em quem deposita grandes esperanças.

Cabe ao médico avaliar de forma verdadeira a esperança nele depositada e agir de acordo.

Interesses discretos ou ocultos não cabem numa Relação Médico-Paciente saudável. O médico precisa ser bem claro e confiável até mesmo em relações entre profissionais, como apresentações acadêmicas nos congressos, informando possíveis interações com laboratórios e verbas recebidas de fontes privadas ou públicas. A confiabilidade também é crucial nas passagens de plantão, nas quais a informação transmitida poderá auxiliar a salvar vidas e ganhar tempo.

Sem confiabilidade, a Medicina gerará somente desconfiança e hostilidade. Não está em jogo somente o nome do médico, mas toda a confiabilidade da sociedade na Medicina e a percepção dessa antiga profissão como empreendimento honrado.

 




[1] PELLEGRINO, Edmund D.; THOMASMA, David C. The Virtues in Medical Practice. New York, NY: Oxford University Press, 1993, p. 65-78.
[2] PEYREFITTE, Alain. La societe de confiance: Essai sur les origines et la nature du developpement. France: Editions O. Jacob, 1995.
[3] HAMBURGER, Jean. Conseils aux étudiants en médicine dans mon service. Paris: Flammarion; 1963.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Breve Entrevista: Aborto Pós-Nascimento

Breve entrevista escrita cedida ao jornalista Jônatas Dias Lima, da Gazeta do Povo, do Grupo Paranaense de Comunicação.


1)      Por que o aborto pós-nascimento não pode ser considerado uma opção moralmente aceitável?
O aborto pós-nascimento é um eufemismo para o homicídio infantil institucionalizado. É o assassinato de crianças. Liberar tal atrocidade e destinar o médico a realizar tais procedimentos é abrir mão da vida, do futuro de nossos filhos e da medicina como profissão defensora da vida e da dignidade do ser humano. Seria uma tragédia civilizacional causada por uma virada de valores.

Mesmo do ponto de vista jurídico, a sugestão de tal situação é criminosa por princípio, considerando o Pacto de San José da Costa Rica - possuidor de força constitucional no Brasil - que define como pessoa e ser humano digno de direitos o ser vivo desde sua concepção.
A medicina já se permitiu não defender a vida e a dignidade do ser humano, e tragédias horrorosas acometeram povos inteiros. O exemplo da medicina nazista realizando experimentos cruéis em judeus e da medicina soviética prendendo inimigos do Estado em hospícios sob acusação de loucura parecem ter ficado no passado, mas são um aviso constante do perigo que nos ronda.
2)      Baseado em sua experiência e observação na área acadêmica, o apoio a esse tipo de visão tem crescido? Se sim, por que?
Sim, o apoio a tal visão deturpada da realidade e da vida humana tem crescido, na maioria das vezes, por manipulação psicológica e linguística. O que assistimos é a troca de uma cultura que valoriza e dignifica a vida por uma outra cultura relativista que eleva o prazer ao status de bem máximo alcançável da humanidade. Os artifícios para eclodir tal mutação de valores civilizacionais normalmente são sutis e começam na academia, lentamente "descendo" à discussão pública. Uma tentativa de dar resposta foi oferecida no livro "A Morte da Medicina", publicado pela VIDE Editorial em 2014.
3)      Que tipo de consequência prática o legitimação acadêmica do infanticídio poderia trazer à sociedade?
Antes de qualquer outra coisa, é preciso lembrar que infanticídio é o ato no qual a mãe, tomada por um distúrbio psiquiátrico grave, mata o bebê sem total consciência de seu ato. O que se trata aqui é do homicídio infantil permitido pelo Estado (O artigo 123 do Código Penal caracteriza o crime de infanticídio como o ato de matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho durante o parto ou logo após. - http://athilabezerra.jusbrasil.com.br/artigos/111884551/infanticidio-no-direito-penal-brasileiro ).
Para se imaginar o que a legalização do homicídio infantil traria à sociedade, precisamos imaginar o que seria uma medicina capaz de matar e treinada para tal. Também precisamos encarar de frente as razões que levariam pessoas a matarem seus filhos, e as graves consequências psicológicas e existenciais derivadas de tal situação.
A banalização de tais práticas e sua legalização, ou até mesmo sua imposição pelo governo, causariam repercussões difíceis de se imaginar em larga escala de ação e tempo. A desvalorização da vida dos fetos levou à desvalorização da vida dos bebês, e que levará talvez à desvalorização da vida de adultos com demência, ou quem sabe, de grupos socialmente indesejáveis. É o que chamamos de argumento da ladeira escorregadia: dá-se um passo e há o risco de se escorregar muito além do que se desejava avançar. Muitos criticam o uso da "ladeira escorregadia", mas é fato  que as piores atrocidades começaram com simples ideias e atos aparentemente pouco perigosos.
Pessoalmente considero o passo de legalizar a monstruosidade do homicídio infantil uma abominação moral e uma total relativização do valor da vida. E uma vez aceito, poderá nos levar a situações extremamente perigosas à civilização e às nossas famílias. É um ato autodestrutivo e indigno do estado atual dos direitos humanos que conseguimos alcançar após tantas tragédias sofridas nos últimos séculos.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Em 2015: Formação Política para Profissionais da Saúde

 
Curso que busca as bases históricas, filosóficas e as estratégias práticas da política, com aplicação dos princípios e ferramentas às situações que envolvem a saúde do povo brasileiro e os dilemas enfrentados pelos profissionais que atuam na saúde. Em breve!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

FORMAÇÃO DO MÉDICO – A Comunidade Moral Terapêutica



Antes de falar das virtudes médicas, é preciso falar de algumas obviedades que ajudarão a compreender melhor o que queremos dizer quando falamos de Formação Médica.
A Medicina é uma Comunidade Moral Terapêutica. O que isso quer dizer?
Todos aqueles que se dizem médicos defendem um grupo razoavelmente semelhante de valores e princípios, isto é, a Medicina é eticamente semelhante em diferentes épocas e diferentes sociedades, pois defende praticamente as mesmas “coisas”.
Alguns defendem que você pode ter qualquer cosmovisão ou ideologia e ser um bom médico. É preciso deixar bem claro desde já que isso é mentira ou desinformação.
Um nazista que participou dos experimentos em campos de concentração, como aqueles observados no assustador relato sobre os testes de hipotermia de Dachau[1], jamais poderia afirmar que é um médico. É um monstro pura e simplesmente pelo simples fato de consentir com uma ideologia monstruosa. Da mesma forma um psiquiatra comunista da União Soviética que utilizava sua profissão para realizar controle político e ideológico da população não passava de um monstro moral.
 
Logo, não são todas as ideologias e tendências políticas que são compatíveis com a Medicina. Algumas, inclusive, são completamente deletérias à Medicina e ao bem do ser humano.
 
Como fundamentos para a existência da Medicina, nós podemos listar alguns elementos bem simples e evidentes:
1 – As pessoas morrem e ficam doentes ou limitadas durante um segmento de suas vidas ou por toda a vida;
2 – Quando fragilizadas, as pessoas normalmente buscam auxílio;
3 – Alguns se dispõem a auxiliar quem se encontra fragilizado.
Esses três elementos são reais e independem da cultura em que se vive. Eles fundamentam ontologicamente a relação médico-paciente.
Ao redor dessa realidade de auxílio terapêutico é organizada uma comunidade moral que se ampara em códigos de ética, leis, princípios e virtudes para exercer a prática médica.
Nosso Código de Ética é aquele elaborado pelo Conselho Federal de Medicina traduzindo valores importantes para nossa sociedade no contexto da relação médico-paciente e, inclusive, médico-médico e médico-sociedade.
Os princípios básicos observados pela Bioética contemporânea, principalmente em sua vertente principialista, são: Autonomia, Beneficência, Não-Maleficência e Justiça. Um estudo aprofundado sobre tais princípios pode ser encontrado naquela que, talvez, seja a mais lida obra de Bioética do mundo inteiro, escrita por Beauchamp e Childress[2].
E no íntimo dos médicos estão as virtudes que tornam possíveis a manifestação dos princípios de uma forma sincera e comprometida com o paciente. Tais virtudes, descritas por Edmund Pellegrino, são: Fidelidade (confiabilidade), Compaixão, Sabedoria, Justiça, Fortaleza, Temperança, Integridade e Altruísmo[3].  Pellegrino também acrescenta três virtudes adicionais presentes no ambiente cristão de nossa civilização que, segundo ele, potencializam a atitude do médico: Fé, Esperança e Caridade[4].
Por que a Medicina foi uma profissão em geral tão respeitada no passado, mesmo quando detinha pouca tecnologia, e agora se encontra tão mal falada, mesmo ao oferecer soluções tecnológicas que no passado seriam consideradas milagrosas? Creio que parte da resposta pode ser encontrada na decadência e no desconhecimento da Ética baseada em virtudes e na negligência em cuidar da formação moral dos novos médicos.
Cabe, no presente momento, em que a Medicina no Brasil sofre um pesado ataque de origem política e ideológica, defender o que realmente vale a pena: o bem do paciente e as virtudes e princípios que nos ajudarão a promovê-lo, ao lado da técnica e do conhecimento avançado que alcançamos.
A Medicina possui estatuto filosófico moral próprio. Não deve ceder nem ao mercantilismo, já proibido pelo Código de Ética, e nem tornar-se subserviente ao Estado, assumindo o papel de atravessadora dos cuidados de um aparato burocrático inchado, opressivo e despersonalizado. A Medicina é uma profissão liberal no sentido em que é executada por livres praticantes, capazes de renunciar às pressões estatais e às do mercado em prol daquilo pelo que lutam: o bem do paciente. Pessoas livres para defenderem seus ideais[5].
Prof. Dr. Hélio Angotti Neto
Doutorado em Ciências Médicas pela FMUSP
Médico Oftalmologista pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia
Coordenador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina – SEFAM www.medicinaefilosofia.blogspot.com.br
Coordenador do Curso de Medicina do Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC http://www.unesc.br/website/index.php?filtro=Colatina
Diretor Editorial da Mirabilia Medicinae, revista especializada em Humanidades Médicas http://www.revistamirabilia.com/medicinae
 




[1] BERGER, Robert L. Nazi Science – The Dachau Hypothermia Experiments. New England Journal of Medicine, vol. 322, 1990, p. 1435-1440.
[2] BEAUCHAMP, Tom L. & CHILDRESS, James F. Principles of Biomedical Ethics, 7ª edição. New York: Oxford University Press, 2013. No Brasil há um atradução de uma versão antiga do livro, que já ganhou novos capítulos e argumentações diversas frente às contestações que vem sofrendo.
[3] PELLEGRINO, Edmund D. & THOMASMA, David C. The Virtues in Medical Practice. New York: Oxford University Press, 1993.
[4] PELLEGRINO, Edmund D. & THOMASMA, David C. The Christian Virtues in Medical Practice. New York: Oxford University Press, 1996.
[5] Um excelente texto sobre o risco de abandonarmos nossos ideais foi escrito pelo Filósofo Olavo de Carvalho e pode ser encontrado em: http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/ideais.htm .