quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

O PROBLEMA DO VALOR - MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

FILOSOFIA CONCRETA DOS VALORES

Mário Ferreira dos Santos

Vê-se claramente que o problema do valor é colocado na filosofia clássica de forma completamente diferente da filosofia dos nossos dias. Para a filosofia clássica, o ser é a essência do valor, é o ser que dá valor, é o ser que essencializa a dignidade das coisas. Uma inversão se dá em nossa época, a qual é bem compreensível, pois estamos atravessando um período em que o homem perde em dignidade e valor. E, nesta época, o ser se desvaloriza ante o homem, humilhado ante o intenso poder opressor das máquinas estatais, o homem é diminuído, desvalorizado, descristianizado pelo poder das forças policiais e opressoras, reduzido a número, reduzido a instrumento, reduzido a utilidade, a meio, a coisa. E ante esse espetáculo de redução da dignidade humana, em que o homem mediocrizado é dirigido por medíocres, guiado por finalidades também medíocres, primário e deficitário, a pergunta sobre o valor estruge terrível, exigente.
É preciso saber se o ser tem valor, e saber também qual o valor do ser. É preciso saber se a essência do ser não é apenas valor. E como o valor se lhe escapa cada vez mais, busca-o desesperadamente, através de especulações, procura-o infatigável, porque dele precisa, dele carece e, sem ele, não sabe como subsistir e suportar o espetáculo que assiste e do qual se torna também intérprete: o espetáculo de um mundo ensandecido, numa farândola desesperada que cresce em velocidade na busca avassaladora de um triste final.


JEAN GUITTON - CITAÇÕES

O TRABALHO INTELECTUAL

Jean Guitton


"Escolhe para ti, como teu livro de cabeceira, o que foi escrito pelo teu adversário mais incisivo, como o foi Montaigne para Pascal, Sêneca para Montaigne. Bom é conservar perto de nós os seres insolentes que fazem despertar as partes fracas de nosso eu e que nos obrigam a procurar argumentos, alguém que vê preto onde nós vemos branco, para que assim avalie-se melhor o que se sabe ou se corrijam as nossas incertezas."

"Precisamos ler os romances para conhecermos o sentido de nossa vida e da vida dos que nos rodeiam, e que o embotamento do quotidiano nos esconde; precisamos lê-los para penetrar em meios sociais diferentes do nosso e para neles encontrarmos, para além da diferença dos costumes, a semelhança da natureza humana; para estudarmos, como se fosse num laboratório, os problemas fundamentais, que são os do pecado, do amor e do destino, e isso de forma concreta e sem as transposições da moral; enfim, para que enriqueçamos a nossa vida com a substância e a magia de outras existências."

Jean Guitton ― de "O Trabalho Intelectual: Conselhos para os que estudam e para os que escrevem"