domingo, 30 de julho de 2017

RESENHA: DESCONSTRUINDO PAULO FREIRE

O TERRÍVEL PATRONO DA DESEDUCAÇÃO BRASILEIRA




As escolas brasileiras, de regra, são coerentes com o patrono que lhes foi outorgado: Paulo Freire. Com a escusa de se ensinar algo a alguém, o que é praticado dentro das mentes de crianças e adolescentes inexperientes é a verdadeira deseducação.

Em recente obra organizada por Thomas Giulliano, diversos autores constroem uma análise séria, competente e de elevada qualidade sobre a obra e a personalidade de Paulo Freire, destituídos de posturas paralisantes como a devoção embasbacada da hoste de pedagogos brasileiros que tanto amam sem nunca terem lido de fato Freire, e também sem a aversão que incapacita a qualquer um enxergar qualidades de quem se critica, por mais que estas sejam escassas. A análise feita em “Desconstruindo Paulo Freire” envolve diversas perspectivas úteis a todos os pais, professores e jovens que desejam entender melhor o tamanho da enrascada em que se meteram.


No capítulo 1, “Paulo Freire, o patrono do pau oco”, Thomas Giulliano Ferreira dos Santos contextualiza a obra e escava os comprometedores antecedentes ideológicos do patrono da deseducação brasileira. Se o antigo adágio “diga-me com quem andas e te direi quem és” for verdadeiro, Freire está de fato em uma terrível situação. Com uma postura tão dócil e amável diante de tiranos monstruosos como Stálin, Lênin, Mao Tsé Tung e Fidel Castro, Freire acima de tudo “desejava combater uma visão de mundo adversária”.

No capítulo 2, “A educação clássica é a opressão da ignorância”, o professor de Artes Liberais Clístenes Hafner Fernandes desfaz a ardilosa construção de expressões freireanas, mostrando como o projeto ideológico de deseducação é o que realmente oprimirá a juventude brasileira. A educação que mais chances tem de fornecer os instrumentos reais de libertação da mente é justamente aquela tantas vezes difamada e combatida por professores, a boa, rigorosa, árdua e velha educação nas Artes Liberais.

No capítulo 3, “Apontamentos sobre a educação bancária”, Rafael Nogueira aborda o conceito freireano de educação bancária, desumanizante e alienante segundo o patrono. Nogueira também ressalta pontos obviamente positivos da obra de Paulo Freire, que repetiu certas platitudes da sabedoria popular originalmente derivada de antigos como Platão, Plutarco, Montaigne e Schopenhauer. Nogueira também descreve de forma resumida os achados e apontamentos de educadores e filósofos modernos como Frank Laubach, Mortimer Adler, Hannah Arendt e Ken Wilber.

Rafael Nogueira acerta na mosca quando dispara que Paulo Freire parece apenas “um escritor presunçoso e impreciso”, criador de uma obra com “mais conteúdo datado e ideológico do que técnico e metódico”, “enxergando tudo como luta de classes” com uma prática que “visa ao enfrentamento entre as classes sociais”.

O parecer final de Nogueira é duro, mas bem embasado: não vi nenhum mérito pedagógico em Paulo Freire. Talvez seja a hora de reconhecermos que, como educador, ele foi um bom revolucionário”.

No capítulo 4, “Paulo Freire: uma teoria e metodologia em educação e sua eventual relação com o construtivismo”, Roque Callage Neto busca os paralelos entre Freire e referências mundialmente reconhecidas para a educação: Emmanuel Mounier, Jean Piaget e Lev Vigotsky. Segundo o autor, a abordagem reducionista visualizada na obra de Paulo Freire não é uma boa amostra do que o construtivismo na qualidade de filosofia da educação poderia oferecer de útil à educação.

No capítulo 5, “O mundo político de Paulo Freire”, o cientista político Percival Puggina retoma os marcos biográficos de Paulo Freire e suas conexões com o movimento revolucionário no Brasil e na América Latina. Puggina expõe as manobras e estratégias utilizadas por teólogos da libertação dentro da Igreja Católica e no Concílio Mundial de Igrejas, politizando a religião, transformando Deus em César. Se estamos diante de um Brasil imerso no caos, burro, violento e corrupto, uma das conclusões à qual chegamos é a de que somos produtos de uma “ educação da miséria. Os intelectuais orgânicos que comandam o processo não se importam com o paraefeito do que fazem. O arremedo de ensino que criaram cristaliza a desigualdade, atrasa o país, frustra o desenvolvimento humanos de milhões de jovens e lhes impõe um déficit de formação dificilmente recuperável ao longo da vida.

Por fim, no capítulo 6, “Paulo Freire: educação popular, religião, teologia da libertação de inspiração marxista”, Cléber Eduardo dos Santos Dias expõe a profunda identidade entre a obra de Freire e a teologia da libertação, que instrumentaliza alunos, transformando-os em bucha de canhão para a revolução socialista. Cléber também resgata os pífios resultados da obra de Paulo Freire, incapaz de educar cidadãos verdadeiros quando submissos a um governo revolucionário e realmente opressor.

O livro encerra com um preocupante desfile de exemplos da infiltração das idéias de Paulo Freire na academia brasileira.

Se hoje observamos a derrocada de nosso país, que tudo tinha para ser uma potência mundial habitada por um povo próspero e feliz, é necessário identificar os responsáveis. No diagnóstico do estado mórbido em que nos encontramos, Paulo Freire sem dúvida nenhuma consta como importante vetor da praga revolucionária, que tanta morte, opressão, burrice e destruição já legou à história da humanidade nos últimos dois séculos.


Enquanto professores enxergarem em seus pupilos apenas pequenos instrumentos para seus projetos ideológicos, demonstrando a brutal falta de amor e respeito pelo próximo e a vexatória falta de profissionalismo, continuaremos deseducando nossas próximas gerações, condenando nosso país a ser um local de brutalidade e estupidez, elementos característicos da ignorância e da maldade justificada pelas inversões da mentalidade revolucionária.


Livro disponível em: http://historiaexpressa.com.br/ 

Hélio Angotti Neto, 30 de julho de 2017.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

MÓDULO IV DO SEFAM: FILOSOFIA DA MEDICINA E RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

FILOSOFIA DA MEDICINA E RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE



Data: 25 de julho a 16 de dezembro de 2017 – Terças-Feiras

Local: Biblioteca do UNESC e Hospital Maternidade São José

Horário: 18:00 – 21:00

Carga Horária Total: 54 horas

JUSTIFICATIVA
Promover a formação integral do aluno de medicina, abordando os aspectos humanísticos, técnicos e científicos necessários para um profissional realmente ativo na sociedade, capaz de criticar positivamente e agir de forma efetiva.

OBJETIVO
Aprofundar os conhecimentos nos aspectos humanísticos da medicina e contextualizar na prática o estudo da Filosofia da Medicina, da Relação Médico-Paciente e do Raciocínio Clínico.

NÚMERO DE VAGAS
15 alunos do Curso de Medicina do UNESC.
Critério de seleção será baseado nos seguintes critérios por ordem de importância (os posteriores servirão como desempate para os anteriores):
- Alunos que tenham obtido mais que 40% de presença nas Atividades Complementares do “Curso de Bioética” e do “Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina” em 2017-1;
-  Coeficiente de rendimento somado aos seguintes quesitos: Módulos do SEFAM concluídos = 0,2 por cada um; Iniciação Científica = 0,2 por cada uma; Trabalho Publicado em Revista Indexada – 0,2 cada um;
- Período mais avançado;
- O aluno deverá ser capaz de plena leitura na língua inglesa.

METODOLOGIA
Práticas no hospital incluindo anamnese e exame físico com problematização
Aulas expositivas dialogadas
Seminários com participação dos alunos


CRONOGRAMA

25 de julho - Aula 1 – Modelos de Relação Médico-Paciente e Medicina Centrada na Pessoa – Biblioteca UNESC
Modelo estatal, modelo hipocrático, modelo contratualista liberal, modelo utilitarista. Princípios da Medicina Centrada no Paciente. Apresentação da bibliografia básica. Organização do Módulo. Ficha de Entrevista Clínica e Exame Clínico com Avaliação Bioética. Orientação para problematização dos casos. Desenvolvimento do Raciocínio Clínico Integral. Perfis Psiquiátricos e Psicopatológicos do Paciente. Estágios do paciente de acordo com Elisabeth Kubler-Ross.

01 de agosto - Aula 2 – Práticas de Saúde e Atividade Hospitalar (0,5) - HMSJ
Anamnese, Exame Físico, Análise de Prontuário e Exames Complementares e Entrevista Bioética. Apresentação dos Casos Clínicos e Problematização.

8 de agosto - Aula 3 – Tradição Hipocrática da Medicina e Ética Baseada em Virtudes – Biblioteca UNESC
O Juramento de Hipócrates e a Obra Hipocrática. Princípios, Virtudes e Valores. Como desenvolver as virtudes. O papel da ética baseada em Virtudes na Profissão Médica. Autoridade Médica, Confiabilidade e Virtuosidade. Esferas Morais e Desenvolvimento da Personalidade.

15 de agosto - Aula 4 – Práticas de Saúde e Atividade Hospitalar (0,5) - HMSJ
Discussão dos Casos Anteriores. Anamnese, Exame Físico, Análise de Prontuário e Exames Complementares e Entrevista Bioética. Apresentação dos Casos Clínicos e Problematização.

29 de agosto - Aula 5 – Literatura, Cinema, Arte e Medicina – Biblioteca UNESC
Os clássicos da literatura e a saúde humana. Análise de pinturas e contexto médico. Cinema, Bioética e Medicina. Narrativas Médicas e Padrões expressivos dos pacientes. Elementos da Entrevista Psiquiátrica. Fenomenologia e Empatia Clínica.

12 de setembro - Aula 6 – Práticas de Saúde e Atividade Hospitalar (0,5) - HMSJ
Discussão dos Casos Anteriores. Anamnese, Exame Físico, Análise de Prontuário e Exames Complementares e Entrevista Bioética. Apresentação dos Casos Clínicos e Problematização.

19 de setembro - Aula 7 – Seminários de Filosofia da Medicina – Apresentações – Biblioteca UNESC
Três apresentações de quarenta minutos cada uma com vinte minutos para debate e arguição. Cada apresentação tem o peso de 3 na pontuação final do aluno. Cosmovisões Médicas. Causação Médica e Realismo. Paciente enquanto Corpo e Pessoa.

26 de setembro - Aula 8 – Práticas de Saúde e Atividade Hospitalar (0,5) - HMSJ
Discussão dos Casos Anteriores. Anamnese, Exame Físico, Análise de Prontuário e Exames Complementares e Entrevista Bioética. Apresentação dos Casos Clínicos e Problematização.

3 de outubro - Aula 9 – Seminários de Filosofia da Medicina – Apresentações – Biblioteca UNESC
Três apresentações de quarenta minutos cada uma com vinte minutos para debate e arguição. Cada apresentação tem o peso de 3 na pontuação final do aluno. Doença e Mal-Estar, Saúde e Bem-Estar. Diagnóstico e Terapêutica. Pensamento Médico.

10 de outubro - Aula 10 – Práticas de Saúde e Atividade Hospitalar (0,5) - HMSJ
Discussão dos Casos Anteriores. Anamnese, Exame Físico, Análise de Prontuário e Exames Complementares e Entrevista Bioética. Apresentação dos Casos Clínicos e Problematização.

17 de outubro - Aula 11 – Seminários de Filosofia da Medicina – Apresentações – Biblioteca UNESC
Três apresentações de quarenta minutos cada uma com vinte minutos para debate e arguição. Cada apresentação tem o peso de 3 na pontuação final do aluno. Juízo Clínico e Tomada de Decisões. Explicações Médicas. Conhecimento Diagnóstico.

24 de outubro - Aula 12 – Práticas de Saúde e Atividade Hospitalar (0,5) - HMSJ
Discussão dos Casos Anteriores. Anamnese, Exame Físico, Análise de Prontuário e Exames Complementares e Entrevista Bioética. Apresentação dos Casos Clínicos e Problematização.

31 de outubro - Aula 13 – Seminários de Filosofia da Medicina – Apresentações – Bibliotreca UNESC
Três apresentações de quarenta minutos cada uma com vinte minutos para debate e arguição. Cada apresentação tem o peso de 3 na pontuação final do aluno. Conhecimento Terapêutico. Axiologia Médica e Valores. Origens da Bioética e Ética Normativa. 

7 de novembro - Aula 14 – Práticas de Saúde e Atividade Hospitalar (0,5) - HMSJ
Discussão dos Casos Anteriores. Anamnese, Exame Físico, Análise de Prontuário e Exames Complementares e Entrevista Bioética. Apresentação dos Casos Clínicos e Problematização.

14 de novembro - Aula 15 – Seminários de Filosofia da Medicina – Apresentações – Biblioteca UNESC
Três apresentações de quarenta minutos cada uma com vinte minutos para debate e arguição. Cada apresentação tem o peso de 3 na pontuação final do aluno. Principialismo e Futuro da Bioética. Preocupação Emocionalmente Afastada ou Cuidado Empático. Relações entre Médicos e Pacientes.

21 de novembro - Aula 16 – Práticas de Saúde e Atividade Hospitalar (0,5) - HMSJ
Discussão dos Casos Anteriores. Anamnese, Exame Físico, Análise de Prontuário e Exames Complementares e Entrevista Bioética. Apresentação dos Casos Clínicos e Problematização.

28 de novembro - Aula 17 – Avaliação Escrita – UNESC – Local a informar
Avaliação discursiva com peso 3 na nota final.

5 de dezembro - Aula 18 – Vista de Prova e Encerramento do Módulo – UNESC – Local a informar
Encerramento do Módulo, vista de prova e confraternização. Discussão sobre projetos de pesquisa e publicação. Orientação acadêmica personalizada.

12 de dezembro – Prova de Recuperação

15 de dezembro – Resultado Final do Projeto de Extensão


CRITÉRIOS DE CERTIFICAÇÃO

A nota final de cada estudante será a somatória do desempenho nas avaliações cognitivas teóricas e práticas, de acordo com a seguinte escala:

ATIVIDADE
PESO
AVALIAÇÃO TEÓRICA
3
SEMINÁRIOS DE APRESENTAÇÃO
3
PRÁTICAS DE SAÚDE E ATIVIDADE HOSPITALAR
4

Os alunos que não obtiverem a média mínima de 6,0 não serão aprovados, devendo fazer a Prova de Recuperação. Todos deverão participar de mais de 75% das atividades de forma geral, caso contrário não obterão certificação.

Prova de Recuperação: Para os alunos que não obtiveram Média Final 6,0 ou maior, a Prova de Recuperação deverá ser realizada. O Resultado Final será a soma da Média Final e da Prova de Recuperação dividida por 2. Caso o aluno não obtenha a média mínima de 6,0 no Resultado Final ele estará reprovado e não receberá nenhuma certificação.

Resultado Final = (Média Final + Prova de Recuperação) / 2

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ANGOTTI NETO, Hélio. A Tradição da Medicina. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2016.

MARCUM, James A. An Introductory Philosophy of Medicine. Humanizing Modern Medicine. Philosophy and Medicine Volume 99. Springer, 2008.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BICKLEY, L. S. Bates propedêutica médica. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

CRUZ, Jorge. Que Médico Queremos? Uma Abordagem a Partir de Edmund Pellegrino. Coimbra: Almedina, 2012.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais.  2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

GOLDMAN, Lee et al. Cecil tratado de medicina interna. 23. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

KANSKI, J. J. Oftalmologia clínica: uma abordagem sistemática. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

KASPER, D. L. et al. Harrison medicina interna. 17. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

LOPES, A. C. Tratado de clínica médica. 2. ed. São Paulo: Roca, 2009.

MACKINNON, Roger A; MICHELS, Robert; BUCKLEY, Peter J. A Entrevista Psiquiátrica na Prática Clínica. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2008.

OAKLEY, Barbara. Aprendendo a Aprender. Como Ter Sucesso em Matemática, Ciências e Qualquer Outra Matéria. São Paulo: Infopress, 2015.

PORTO, C. C. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

ABORTO EM BAIXA NOS EUA

ABORTO EM BAIXA




Os abortistas e aborteiros que infectam os editoriais de periódicos famosos nos Estados Unidos estão indo à loucura nesses primeiros meses do presidente cor-de-abóbora, o tal do Trump.
Esperneiam por aí e choram as pitangas por causa das diversas clínicas de aborto fechadas graças à redução das verbas federais que eram antes tão rechonchudas.
Segundo Gavin Cleaver, que subscreve o artigo publicado recentemente no Lancet, coisas terríveis aconteceram na terra do Tio Sam! A maioria das clínicas de aborto no Texas (eram 42 ao total) fechou. No Kentucky, sobraram somente três médicos em uma única clínica que ainda realiza procedimentos abortivos. Em Utah, onde restaram duas clínicas das dez ou doze que existiam há poucos anos, uma mulher que deseja abortar deve esperar 72 horas, a maior espera do país.[1] A morte realmente não pode esperar...
Segundo Cleaver – um nome extremamente sugestivo para alguém que defende o abortamento – as mulheres são humilhadas perante as novas restrições ao procedimento. Coisas horríveis, como obrigá-las a fazer uma ultrassonografia, escutar o coração de seus filhos, aprender um pouco sobre desenvolvimento fetal ou receber acompanhamento psicológico, foram impostas. O bom mesmo é mandar dilacerar e aspirar logo a bagaça, se é que vocês entendem o que quero dizer.
Outro grande problema é a cobrança governamental feita em relação à estrutura e à qualidade das clínicas de fazer anjinhos. Uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de junho de 2016 (Whole Woman’s Health v Hellersted) exige dos aborteiros um padrão estrutural equivalente ao dos centros cirúrgicos ambulatoriais.[2] Isso impactou os lucros gerados pelo sangue fetal e fechou muitas clínicas. Pobres aborteiros, obrigados a manter padrões mínimos de boa qualidade. Mas não era esta justamente a desculpa de tantos para se legalizar o procedimento, a busca por uma qualidade maior na assistência?
E a cereja do bolo da angústia é a chegada de um novo magistrado para suceder a Antonin Scalia na suprema corte americana: Neil Gorsuch. Segundo as hostes horrorizadas de progressistas democratas e abortistas, o novo juiz carrega os maiores dos pecados do mundo: é conservador (ou republicano, depende da versão), foi indicado pelo terrível Donald Trump e é pró-vida.
Assim como ocorre no Brasil, os iluminados progressistas também afirmam categoricamente que dificultar ou proibir o acesso ao abortamento irá aumentar o número de abortamentos realizados. Isso mesmo. Proibir ou dificultar é estímulo. O melhor seria, pelo menos ao seguir esse raciocínio, destinar verbas e liberar geral. Entendeu? Hegel deve estar orgulhoso no além.
Para validar essa profecia aparentemente contraditória, utilizam dados fornecidos pelo braço pseudocientífico da Planned Parenthood, o Instituto Guttmacher.[3]
A profecia deriva do seguinte raciocínio: clínicas de aborto não somente matam fetos, também fornecem cuidados contraceptivos. Remova as bilionárias verbas progressistas destinadas à matança global de fetos e você logo terá milhões de mulheres sendo obrigadas a matarem seus filhos por falhas na anticoncepção.[4]
Apesar do aumento no número de abortamentos profetizado pelos arautos anti-Trump e ativistas pró-escolha, algo bem diferente acontece na realidade.
Dados fornecidos pelo próprio Instituto Guttmacher comprovam que o número de abortamentos caiu drasticamente, chegando ao menor índice desde 1974. Isto mesmo! O instituto de pesquisa que nasceu dentro da megaempresa aborteira Planned Parenthood, desesperadamente proselitista a favor do abortamento, revela que a profecia não vingou até o momento.[5]
A verdade seja dita: goste ou não do sujeito cor-de-abóbora e com cabelo esquisito que ocupa a Casa Branca, ele é responsável indireto por salvar milhares e milhares de vidas inocentes da próxima geração.
E antes que um daqueles abortistas aguerridos venha com punhos em riste profetizando a morte de bilhões... não, trilhões... não, mais ainda, infinitas jovens obrigadas a abortar com arames e cabides sujos no fundo do quintal de uma clínica ilegal, devo informar que mulheres que abortaram, mesmo que legalmente em estabelecimentos dentro das normas, estão expostas a maior risco de morte.[6]
Contudo, matar fetos ainda é bom negócio, e ainda faz parte da agenda iluminada e liberal que algumas pessoas maravilhosas tanto insistem em impor ao resto do mundo. Mundo este, em sua maioria, composto pelos atrasados e incapazes de enxergar a maravilhosa bondade que é sair por aí destruindo os filhos dos outros.

Hélio Angotti Neto
Colatina, 20 de julho de 2017.



[1] CLEAVER, Gavin. Access to abortion in the USA – the legal battle. The Lancet, vol. 389, June 17, 2017, p. 2361-2362.
[2] MALLAMPATI, Divya; SIMON, Melissa A.; JANIAK, Elizabeth. Evolving State-Based Contraceptive and Abortion Policies. JAMA, Volume 317, Number 24, June 27, 2017, p. 2481-2482.
[3] SCHWERDTLE, Patricia. Trump's Executive Order Will Cause More Abortions: NGOs that may be forced to reduce or close health services are often a woman's only source of reproductive health care. In: USNEWS.COM. Internet, https://www.usnews.com/news/best-countries/articles/2017-01-26/donald-trumps-executive-order-will-cause-more-abortions-not-fewer
[4] KUNTZMAN, Gersh. Trump’s anti-abortion executive order will not lower the number of women seeking to terminate — it will do the opposite. DAILY NEWS. Internet, http://www.nydailynews.com/news/politics/trump-anti-abortion-order-not-decrease-number-abortions-article-1.2954124
[5] ASSOCIATED PRESS. New report: Abortions in US drop to lowest level since 1974. Fox News Health. Internet, http://www.foxnews.com/health/2017/01/18/new-report-abortions-in-us-drop-to-lowest-level-since-1974.html ; MCCAMMON, Sarah. U.S. Abortion Rate Falls To Lowest Level Since Roe v. Wade. The Two Way – Breaking News from NPR. Internet, http://www.npr.org/sections/thetwo-way/2017/01/17/509734620/u-s-abortion-rate-falls-to-lowest-level-since-roe-v-wade
[6] Como pode ser observada em trabalhos como o publicado na Dinamarca e em diversos outros estudos. COLEMAN, Priscilla K.; REARDON, David C.; CALHOUN, Byron C. Reproductive history patterns and long-term mortality rates: a Danish, population-based record linkage study. European Journal of Public Health, Vol. 23, No. 4, 2012, p. 569–574; PROLIFE OB/GYNS – American Association of Pro-Life Obstetricians and Gynecologists. Induced Abortion and Maternal Mortality. Internet, http://aaplog.org/induced-abortion-and-maternal-mortality/

quinta-feira, 6 de julho de 2017

ATÉ QUANDO LUTAR PELA VIDA HUMANA?

ATÉ QUANDO LUTAR PELA VIDA HUMANA?

Dever de Matar 2




No artigo Dever de Matar, abordei perigosos aspectos observados no caso do pequeno Charlie Gard, um recém-nascido com uma grave doença retido no hospital contra a vontade dos pais para que morresse, conforme denominação da equipe médica, com dignidade e sem intervenções consideradas fúteis e potencialmente lesivas.

O nome das intervenções inúteis, lesivas e obstinadas em medicina é distanásia, uma falha técnica e moral, sem dúvida. Mas será que o conceito se aplica realmente à situação?

Um exemplo claro de distanásia é um paciente de idade avançada com câncer de pulmão metastático[1], já muito próximo à morte, no estádio mais avançado de sua doença, que apresenta uma comorbidade[2] como dificuldade urinária por hiperplasia prostática benigna, por exemplo. Diante da morte iminente, não cabe submeter o paciente a procedimentos cirúrgicos de ressecção da próstata, mas caberia a passagem de sonda para eliminar a urina e promover conforto. A cirurgia seria claramente um exagero.

No caso do bebê Charlie a situação é muito mais complexa do que o exemplo descrito. O procedimento é experimental e a possibilidade de vida é incerta. Como pensar essa situação?

Relato alguns elementos que apoiariam a compreensão de que estamos diante de um caso potencial de distanásia:

- A baixíssima probabilidade de sobrevivência;

- O aspecto completamente experimental do tratamento;

- O dano cerebral já presente, teoricamente incompatível com uma vida de boa qualidade segundo algumas informações porém ainda não definido;

- O excesso da intervenção já promovida.

- A possibilidade de que os pais estejam em fase de negação ou negociação da doença terminal de seu pequeno bebê.[3]

Contudo, quais os perigos em se chamar de distanásia a possibilidade de tentar o tratamento experimental no caso em questão?

A situação envolve sentimentos intensos e muitas vezes contraditórios por parte dos pais e, não duvido, por parte de alguns da própria equipe médica, que em algum grau podem se solidarizar com o sofrimento do bebê e imaginar o que seria uma vida extremamente limitada para o pequeno paciente na hipótese de sucesso limitado do tratamento experimental, acrescentando sofrimento para a família em níveis imprevisíveis ao longo de anos.

Tive a chance de acompanhar alguns pacientes até o momento do óbito e vi de perto o sofrimento de diversas famílias. Mesmo sendo oftalmologista[4], fui chamado a oferecer suporte em domicílio em casos graves com alterações oftalmológicas e já alerto: todo médico deve aprender a lidar com a morte e o sofrimento, pois cedo ou tarde irá se deparar com essa velha e indesejada companheira. Há quase sempre um intenso sofrimento por parte da família que vem ao lado do sentimento profundo de obrigação para com o doente e, quando o familiar querido falece, do sentimento de um triste dever cumprido, se tudo tiver corrido bem.

O sentimento dos pais do bebê Charlie, de não querer que algo deixe de ser feito, realmente pode disparar culpas desnecessárias e inadequadas em determinadas situações, mas é um sentimento que deve ser respeitado. A vida humana possui valor ontológico e precede qualquer outro direito como condição sine qua non, e a resposta preocupada daqueles que cuidam de pacientes graves ou em fase final de vida é algo coerente com esse valor apreendido da realidade. Se abandonarmos os valores fundamentais de nossa civilização, o respeito à dignidade da vida humana entre eles, a vida passará a ter valor puramente subjetivo e relativizado, abrindo caminho para as loucuras mais cruéis já presenciadas na história.

Ao mesmo tempo, deve-se compreender que expectativas irreais não justificam plenamente o emprego fútil de medidas médicas inúteis. Isso onera a família, cria anseios que jamais poderão ser supridos e aumenta o sofrimento de todos: pacientes, familiares e equipe médica.

Qual será o caso do pequeno Charlie Gard? Distanásia? Abandono do paciente por causa da Cultura da Morte? O que fazer?

Não acredito que haja resposta simples.

Tratar de forma insistente com baixíssimas chances de manter a vida guarda sim um elemento de obstinação. Todavia, nem toda obstinação é vã.

Por outro lado, o emprego da morte alheia como conceito corriqueiro, útil e ativo da prática médica guarda perigosas repercussões e restrições profissionais. Pode nos levar à instrumentalização da morte como meio eficaz de “tratamento” dos indesejados e como marca de uma profissão médica que passará a ser ainda mais temida e odiada por alguns, agora que tornou-se eficaz distribuidora da morte.

Lembro da situação já descrita na obra “A Morte da Medicina”, na qual crianças com espinha bífida foram sistematicamente submetidas ao Protocolo Groningen, na Holanda, cuja implantação o Conselho Federal de Medicina do Brasil chegou a sugerir em uma gestão anterior.[5] Mais de vinte casos de eutanásia infantil por doença “incurável” foram executados por meio da eutanásia com a concordância dos pais e com a indicação da equipe médica. Pouco tempo após o Dr. Verhagen ter publicado sua mórbida casuística[6], Rob de Jong, um neurocirurgião pediátrico, publicou o sucesso de uma inovadora cirurgia de grande porte e muita complexidade capaz de restituir potencial de vida útil a um bebê nascido com a trágica deformação.[7] Não consigo parar de pensar quantas crianças foram mortas em vão, e imagino como deve estar a consciência dos pais que foram convencidos de que não valia a pena lutar por seus filhos, que nada poderia ser feito. O rosto sorridente do paciente do Dr. De Jong é um potente alerta vermelho para os entusiastas da fácil solução final.

Imagem de público aceso, disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2092440/

A medicina, ao longo dos milênios, fez inúmeras descobertas sobre como salvar a vida, prolongá-la ou melhorá-la, além de descobrir recursos para prevenção de doenças. Desde as coisas simples como a antissepsia até as técnicas avançadas como transplantes de órgãos e implante de próteses foram descobertas e aplicadas com sucesso por médicos que sempre estiveram abertos a novas possibilidades de auxiliar o próximo.

Se há necessidade de evitar intervenções esdrúxulas, há também necessidade de se buscar novos caminhos.

Diante de um caso de doença grave e irreversível em pacientes de idade muito avançada, realmente o excesso de intervenção pode ser desaconselhado. E qualquer médico tem o direito, e às vezes o dever, de recusar tratamentos inúteis ou errados.

Mas a situação é bem mais complexa. Não se fala de um tratamento inútil, fala-se de um tratamento experimental que pode dar errado ou pode funcionar provocando algum tipo de melhora.

O tema em jogo não é o de uma equipe médica sendo obrigada a tratar um paciente empregando técnicas que acredita serem erradas. A questão em jogo é levar o pequeno paciente a médicos que podem empregar um tratamento inovador e incerto, mas que estão dispostos a tentar.

Não se fala de um tratamento contraindicado ou inútil, fala-se de um tratamento com possibilidade de funcionar, mesmo que mínima, e que seria indicado para outras crianças se fosse bem-sucedido, mudando completamente o prognóstico de outras pessoas e famílias num futuro próximo.

Não se fala em aumentar o sofrimento de pessoas muito idosas e já sem esperança de vida sem nada lhes acrescentar de vida, fala-se em tentar aumentar o potencial de vida de um bebê.

Quais serão as consequências de empregar a morte como opção válida para evitar tratamentos inovadores?

Deixar morrer ou matar é coisa simples, qualquer energúmeno consegue. Criar um tratamento diferente ou uma cirurgia inovadora é coisa dificílima, uma verdadeira obra de arte e ciência.

Não seria mais fácil para todos simplesmente lavar as mãos e repetir a velha frase quid est veritas?

E ainda há outro aspecto: o da imagem da medicina diante de tudo isso.

Que imagem essa família e as pessoas em todo o mundo guardarão desses médicos e dessa medicina coercitiva? Faço a pergunta com muito receio, pois acredito de coração que os colegas britânicos realmente consideram que fazem o melhor para o pequeno bebê. O próprio juiz que emitiu parecer sobre o caso afirmou fazê-lo com pesar. Mas acredito também que há um profundo equívoco nessa decisão imposta à família e na tomada da tutela do bebê à força pelo Estado.

Há elementos potencialmente lesivos para toda a sociedade nesse caso, há precedentes perigosos que podem mudar completamente a forma pela qual enxergamos os médicos e os serviços de saúde, se é que já não mudaram.

A pergunta que se faz ao final de tudo é quanto vale a vida humana? Dessa pergunta surgem muitas outras.

Deve-se calcular o preço da vida humana, ou quanto esforço fazemos para salvá-la, conforme sua capacidade de ser útil, de obter prazer ou de fornecê-lo? Podemos parar de lutar por novos tratamentos para aquelas condições terríveis que teoricamente nos levarão sempre à morte e ao sofrimento? Todo sofrimento deve ser ferozmente evitado?

Jeffrey Bishop, de forma semelhante ao médico Viktor Frankl, inventor da Logoterapia[8], questiona se a medicina não deveria pensar na vida humana como finalidade, dotada de um propósito iluminado pela consciência e desvelado pela biografia de cada ser vivo em comunidade.[9]

O propósito dos pais é o de proteger seu filho. Devem fazê-lo dotados das melhores informações possíveis em um ambiente de compreensão e amparo.

O propósito dos médicos é beneficiar o paciente e, quando possível, salvar e resguardar a vida, considerando os já tradicionais aspectos físicos, mentais, sociais e espirituais. Nessa equação cabe a observação de Viktor Frankl e Jeffrey Bishop sobre a valorização dos aspectos existenciais.

Até mesmo o pequeno Charlie já pode ter um propósito em seu contexto. Ao que indica, muitos enxergaram na luta dessa família e na vida do bebê um símbolo do valor pela luta contra a morte e a doença, um pequenino e ao mesmo tempo grande símbolo de esperança, perseverança e amor.

Como já afirmei, há elementos de obstinação neste caso, porém o emprego da autoridade tecnocrática dos médicos e do Estado contra a autoridade familiar, além da proibição ativa do tratamento, pode nos levar a consequências de espectro muito mais amplo do que o previsto.

Estamos diante de atitudes e valores que fundamentam nossa civilização e caracterizam a profissão médica e os cuidados com a saúde em geral. Qual o modelo médico que desejamos seguir? Onde nossas escolhas nos levarão? Quem deve ter a guarda do pequeno Charlie? Deve ser seu responsável a sua família que o ama, que o carregou no ventre e que perde noites de sono ao seu lado, sofrendo? Ou deve ser responsável a fria tecnocracia estatal, que enxerga o pequeno Charlie como um problema num sistema de saúde?

Peço desculpas se encho a cabeça dos leitores com perguntas, mas diante de uma decisão irreversível que pode levar à morte, só Deus sabe o estrago que pode ser feito na vida dessa sofrida família, na carreira dos médicos de forma geral e em nossa civilização.



[1] Um câncer que já se espalhou pelo organismo e, de regra, é incurável.
[2] Uma outra doença não diretamente relacionada com a doença principal.
[3] KUBLER-ROSS, Elizabeth. Sobre a Morte e o Morrer. Ão Paulo: WMF Editora Martins Fontes, 2008.
[4] O fato de eu trabalhar com doenças relacionadas à Órbita e à Neuro-Oftalmologia, incluindo tumores oculares e de cabeça e pescoço, acaba por aumentar a chance de lidar com esses casos mais exigentes.
[5] CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Conselhos de Medicina se posicionam a favor da autonomia da mulher em caso de interrupção da gestação. Quinta, 21 de março de 2013. Internet, http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=23661
[6] VERHAGEN, Eduard; SAUER, Pieter J.J. ‘The Groningen Protocol — Euthanasia in Severely Ill Newborns’. New England Journal of Medicine, 352, 2005, p. 959-962.
[7] ANGOTTI NETO, Hélio. A Morte da Medicina. Campinas: Vide Editorial, 2014; JONG, T. H. Rob de. Deliberate termination of life of newborns with spina bifida, a critical reappraisal. Child’s Nervous System, 24, 2008, p.13–28.
[8] XAUSA, Izar Aparecida de Moraes. A Psicologia do Sentido da Vida. A primeira obra sobre logoterapia publicada no Brasil. 2ª edição. Campinas, SP: Vide Editorial, 2013.
[9] BISHOP, Jeffrey. The Anticipatory Corpse. Medicine, Power, and the Care of the Dying. Notre Dame, Indiana: University of Notre Dame Press, 2011.