segunda-feira, 30 de março de 2015

Curso: Formação Política para Profissionais da Saúde

SEFAM – Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina
Módulo Retórico

19 de Novembro de 2015, no CAMPUS MARUÍPE da UFES, em ColatinaVitória





Curso: Formação Política para Profissionais da Saúde

Introdução e objetivos do curso
         Por que estudar Política se és médico?
         Formação humanística do médico e sua importância na sociedade

Tipologia do poder em geral e do poder do profissional da saúde
         Definição de Poder
         Moralidade do Poder e inevitabilidade de sua presença
         Tipologia geral do poder
         Tipologia do poder médico
         Usos e abusos do poder médico por médicos
         Usos e abusos do poder médico por terceiros

Evolução histórica do poder no Ocidente conforme Bertrand de Jouvenel
         Constantes do Poder: concentração e crescimento
         Dialética do aumento e da concentração do poder
         A dialética do crescimento do poder na saúde

Psicopatia e poder, um estudo de Andrew Lobacewski
         Precedentes Históricos
         Rumos do Brasil de hoje, um cenário preocupante
         O papel irrecusável do médico “humanista”

Política e Filosofia Clássica: Platão e Aristóteles
         O Mito da Caverna e a República
         Ferramentas Aristotélicas para o Estudo da Ação Humana
         Políticas de Interiorização da Saúde no Brasil, Estudo de Caso
         Os Quatro Discursos na Medicina
         A Poética como instrumento de Poder
         A Retórica, a Dialética e a Lógica como Instrumentos de Poder
Estudo de Caso: A Desconstrução do médico brasileiro como racista

Política Medieval: Agostinho, João da Salisbúria e Tomás de Aquino
         Expectativas Transcendentes e Realidades Imanentes
         Eric Voegelia e a Imanentização Escatológica da Política Moderna
         O Sentimento de Ordem e Sentido
         Justiça, Guerra e Política
         O Príncipe clássico

Política de guerra em Sun Tzu e Clausewitz
         Logística de Combate
         Informação no Contexto da Confronto e da Gestão
         O papel do caráter do líder
         Desinformação
         Dividir e Conquistar
        
Política moderna maquiavélica
         A Busca pela Hegemonia e a destruição das elites concorrentes
         Estudo de caso: A ofensiva contra o médico como política hegemônica

Política revolucionária
Marx, Lênin e Stálin: O Comunitarismo revolucionário?
Gramsci, o Príncipe Moderno e a Ocupação das Mentes
A Escola de Frankfurt
Saul Alinski e as Regras para Radicais
Ernesto Laclau e a Busca Contemporânea pela Hegemonia

Política Conservadora e Liberal
Russel Kirk e a Política da Prudência
O Liberalismo Anárquico
Fogo contra Fogo, de Horowitz a Ben Shapiro

A Mentira e o  Segredo como instrumentos políticos
         A Mentira na Política, de Gabriel Liiceanu
         Projetos de Governo antes e após eleições
         Rastreio de reais projetos de governo

A erística de Schopenhauer
         Ferramentas Erísticas
         Exercício prático: Análise de debates

A manipulação psicológica na influência social
         A Medicina como ferramenta de engenharia social
         Formas de manipulação da psique humana
         A Medicina como auxiliar da manipulação social
         A manipulação semântica e psicológica no caso do Infanticídio

Análise dialética contextual, do micro ao macro
            Uso dialético dos resultados políticos

Redes em conflitos na guerra cultural
         Hierarquização da Estrutura de Poder
Redes em Guerra
         A lógica da ocupação de espaços e da derrubada hierárquica
         Rastreio da influência política: agentes, ideias, armas, drogas e dinheiro
         Estudo de caso: o panorama político da América Latina

Consequencialismo em 3 escalas conforme Allenby e Sarewitz
         As 3 Escalas de consequências políticas

Temor, humildade e responsabilidade em Hans Jonas
         O Paradigma da novidade na época contemporânea
         Temor e responsabilidade na política

Valores em Guerra
         Valores em disputa na Medicina
         A Tradição Hipocrática: a Busca pelo Bem
         A Justiça como Fator de reducionismo: o comunitarismo
         A Autonomia como Fator de reducionismo: o liberalismo
         Repercussão dos valores em sociedade

O Exercício do Poder Cultural
         Pensando as três escalas de consequências
         Ações Culturais Estratégicas
         O papel central da Academia na Política

O Exercício do Poder Econômico
         Elos econômicos na política e saúde no Brasil
         O Mais Médicos: Dinheiro, Poder e Hegemonia Ideológica
         Elos econômicos na engenharia social: Aborto e política internacional

O Exercício do Poder Político
         Coroamento de esforços antigos: o caso do Brasil socialista
         Ascensão e queda do socialismo brasileiro?
         O liberalismo e o conservadorismo em ascensão?
         De volta ao poder cultural

Medicina em Sociedade
         Medicina como Política
         Medicina como Ciência
         Medicina como Arte/Técnica
         Medicina como Filosofia de Vida



Metodologia
Exposição Dialogada
Práticas de Elaboração Estratégica e Análise Dialética
Síntese das discussões e propostas de ação

Preletor: Prof. Dr. Hélio Angotti Neto

Coordenador do Curso de Medicina do UNESC (Centro Universitário do Espírito Santo); Coordenador do SEFAM; Membro do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC; Diretor Editorial da Mirabilia Medicinae; Editor Associado da Revista Internacional de Humanidades Médicas. Membro da Sociedade Brasileira de Bioética, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, do Conselho Regional de Medicina do ES, do Center for Bioethics and Human Dignity, da Associação Brasileira de Educação Médica e da Academia Brasileira de Oftalmologia.



quarta-feira, 25 de março de 2015

Saúde em Cuba: O Outro Lado da História


Saiu no "The Lancet", um dos mais renomados periódicos de Medicina do mundo. Abaixo uma tradução pessoal:

"No passado o Lancet tem publicado Editoriais e Comentários em apoio à situação da Saúde Pública de Cuba sem levar muito em conta a situação política do país. Novamente os Editores fizeram isso no Editorial da edição de 3 de Janeiro do Lancet, apoiando o restabelecimento dos laços diplomáticos entre Cuba e os EUA em questões de saúde pública. No entanto, Cuba vive um regime totalitário que tem silenciado oponentes e prendido e matado líderes da oposição. A perseguição dos dissidentes ainda continua, como pode ser visto no caso da artista Tania Bruguera.

Na saúde pública não podemos esquecer das violações dos direitos humanos dos pacientes com HIV/AIDS no fim dos anos 80 e início dos 90, quando os testes sorológicos eram obrigatórios em Cuba e as pessoas soropositivas eram encarceradas em sanatórios descritos por Jonathan Mann como "belas prisões".

Como afirmado no Editorial do The Lancet, acesso universal ao cuidado com a saúde é uma grande conquista e uma fonte de orgulho para a população cubana. No entanto, o mesmo orgulho é erodido por um governo que pune  criatividade da população cubana e limita o exercício das liberdades civis. Em 2003, durante o que foi chamado de Primavera Negra, dois economistas foram condenados à prisão enquanto documentavam que a saúde pública cubana e a educação já estavam entre as melhores da América Latina antes da Revolução. Em 1958, a taxa de mortalidade infantil era de 33 por mil nascidos vivos, muito mais baixa do que a taxa da Argentina (61), da Costa Rica (89) e do México (80).

O governo cubano manda doutores e enfermeiras para trabalhar na Venezuela e no Brasil por minguados salários enquanto retém a maior parte dos ganhos obtidos pelo trabalho médico.

O uso da saúde pública como um dos principais tópicos do restabelecimento dos elos diplomáticos entre EUA e Cuba é uma boa ideia, como o Editorial e a carta de Anthony Robbins ao Lancet sugere. Mas ainda há outra oportunidade maior: o efeito benéfico da democracia na saúde pública está bem documentado. Se o governo cubano está tão preocupado com a saúde de sua população, deveria considerar seriamente uma transição para a democracia como parte das condições necessárias para uma nova relação com os EUA, não apenas por causa da liberdade em si, mas também por causa da saúde da população cubana."

Octávio Gómez-Dantés
Instituto Nacional de Saúde Pública, Cuernavaca, Morelos, México.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Medicina e Filosofia - Fevereiro de 2015...



No Journal of Medicine and Philosophy de fevereiro de 2015, alguns artigos bem interessantes podem ser vistos.

O primeiro une alguns conceitos de Edmund Pellegrino e Bernard Lonergan em busca de uma autêntica filosofia da medicina.

O segundo foi escrito por Teodora Manea, e relata a experiência da Medicina vivida num regime socialista (Romênia) em meio à desconfiança gerada pelo regime e em meio ao clima de corrupção. Lições históricas importantíssimas que podem ser aproveitadas por nós antes que seja tarde demais. O artigo tem o tema "Medical Bribery and the Ethics of Trust!, e cai como uma luva nesses dias em que o governo brasileiro ataca frontalmente seus médicos e gera a desconfiança e o ódio em meio à população. Vale uma boa reflexão...


O terceiro toca no assunto do aborto e da relação médico-paciente. 

Anne Barnhill e Franklin Miller falam sobre o engano e o uso do Placebo. Jonathan Pugh, no artigo subsequente, defende a moralidade do engano envolvido no uso do Placebo.

Por fim, Tessy Thomas e Laurence McCullough falam sobre uma proposta de taxonomia filosófica acerca do sofrimento moral eticamente significativo.

Boa leitura...

sábado, 7 de março de 2015

PARA COMPREENDER A SI MESMO E AO PRÓXIMO


Sugestão de Leitura: Todo médico precisa compreender o íntimo de seus pacientes, em maior ou menor proporção, de acordo com cada caso. Uma das ferramentas utilizadas no SEFAM é a leitura dos clássicos e de grande obras filosóficas.
Uma leitura capaz de proporcionar a compreensão dos movimentos da consciência humana é a obra de Louis Lavelle, filósofo francês cujo nome foi divulgado no Brasil pelo filósofo Olavo de Carvalho.
Para compreender o sofrimento humano e de que forma pode ser vivido, "O Mal e o Sofrimento" de Louis Lavelle é um excelente adendo a obras já consagradas como "A Morte de Ivan Illich". E estes dois ao lado de diversos outros clássicos enriquecem em muito a capacidade de compreensão do ser humano, adquirida com a vivência ao lado do leito e junto à comunidade.

quinta-feira, 5 de março de 2015

INTEGRIDADE E DIGNIDADE MÉDICA


A ação decisiva da Integridade ocorre justamente no conflito de interesses envolvendo tentações diversas que acometem o médico em sua prática moderna.

Diante de um sutil suborno de um laboratório farmacêutico, cabe dizer não, cabe se afastar e repreender o ofertante malicioso. Aceitar tal influência perniciosa insere um interesse que pode suplantar o interesse primordial: o paciente.

Diante de uma oferta de superfaturar a compra de equipamentos no serviço público ou de realizar procedimentos desnecessários, há de se ter integridade suficiente para se afastar e manter o foco, o médico não pode se perder.

As consequências individuais são funestas. A consciência se apaga e, de uma fraqueza moral inicial, o médico terminará domado, entregue a vontades que superarão sua vocação e deformarão seu caráter.

Na sociedade o resultado da destruição da Integridade Médica talvez seja ainda pior, pois o mal cometido por um indivíduo refletirá no nome de todo o grêmio profissional. Situação muito ilustrativa dos dias atuais no Brasil, onde o governo e a mídia destroem a reputação dos médicos utilizando exemplos decepcionantes de prática corrupta e maligna de alguns maus colegas.

Ao longo de mais de dois mil anos, há incontáveis textos que mostram como os médicos se preocuparam em tentar separar o joio do trigo e, junto com o benefício do paciente, beneficiar a profissão como um todo.

Tal é o papel dos atuais conselheiros dos órgãos de classe como o Conselho Federal de Medicina: proteger o paciente e proteger a honra e a integridade da profissão. Em nenhum momento se deveria esperar que o Conselho protegesse o médico, a não ser de si mesmo e da má prática dos inadequados à profissão. É duro falar isso, mas seria uma verdade óbvia para qualquer um que ainda possuísse um pingo de visão moral.

Fala-se muito em resgate da dignidade médica hoje em dia. Fizemos todos o nosso dever de casa? Exercitamos nossa integridade diariamente e resistimos com fortitude aos pequenos e grandes atos diários de fraqueza moral? Somos um exemplo digno para nossos filhos e colegas?

Ver órgãos de classe brigando principalmente por carreira médica estatal e salários médicos, por mais que seja necessário dentro de certos limites, me entristece. Pedir carreira médica para o Estado é pedir um nó apertado na coleira, é vender nossos valores profissionais aos valores do Estado na medida em que teremos que nos adequar às exigências de pessoas que nem sempre priorizam a saúde do próximo. Uma liderança política nunca, nunca mesmo, dá algo de graça.

Valorização se conquista, como conquistaram nossos antepassados de outras eras a duras penas, com grandes sacrifícios e exemplos imortalizados nos escritos de diversos povos e tempos[1]. Valorização é uma consequência decorrente de um objetivo alcançado, não o próprio objetivo pelo qual se luta.

Se alguém quiser uma dica sobre por onde começar, repito palavras proferidas por alguém incrivelmente mais sábio do que eu: “por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não repara na trave que está no teu próprio?[2]” Se não trabalharmos quem somos, a própria raiz que somos estará apodrecida, e nossa profissão irá merecidamente parar na lama.


[1] JONSEN, Albert. A Short History of Medical Ethics. Oxford, New York: Oxford University Press, 2000.
[2] Mateus 7.3. Bíblia de Estudo de Genebra.