terça-feira, 30 de junho de 2015

MIRABILIA MEDICINAE - 4ª EDIÇÃO


ANGOTTI NETO, Hélio (org.). Mirabilia Medicinæ 4 (2015/1).
Virtues and Principles in Healthcare
Virtudes e Princípios no Cuidado com a Saúde
Jan – Jun 2015

Publicação do Instituto de Estudos Medievais da Universidade Autônoma de Barcelona, sob Edição do Professor Ricardo da Costa e Organização do Professor Hélio Angotti Neto

Thematic Number

1. Editorial: Teaching Medical Virtues
Hélio ANGOTTI NETO (Centro Universitário do Espírito Santo - UNESC)

2. Can Virtues be taught in Medicine? Aristotle’s Virtue Theory and Medical Education and Clinical Practice
Niloy SHAH; James A. MARCUM (Medical Humanities Program and Department of Philosophy, Baylor University, Waco, Texas)

3. Living Will´s History: understanding the past and reflecting about the present.
Luciana DADALTO  (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG)

4. Philosophical aspects of medical schools with Problem-Based Learning: the Narcissus error.
Rinaldo Henrique AGUILAR-DA-SILVA (Faculdade de Medicina de Marília - FAMEMA)

5.  The body in the pedagogical philosophy of Ramon Llull (1232-1316).
Fabricia dos Santos GIUBERTI (Universitat d'Alacant (UA), España)

6.  Compassion: The Lost Pearl of Healthcare.
Jorge CRUZ (Universidade Católica Portuguesa)





domingo, 28 de junho de 2015

Profissionalismo e Ética Médica: Thomas Percival


“O Esprit du Corps é um princípio de ação fundamentado na natureza humana e que, quando apropriadamente regulamentado, é racional e louvável. Todo homem, quando entra numa fraternidade, compromete-se tacitamente a não apenas submeter-se às leis, mas a promover a honra e o interesse da associação, desde que tais sejam compatíveis com a moralidade e o bem geral da humanidade. Um médico, portanto, deve zelar cuidadosamente para evitar qualquer dano à respeitabilidade geral de sua profissão; e deve evitar qualquer apresentação desdenhosa da escola médica em geral; evitar todas as queixas gerais contra seu egoísmo ou improbidade; e evitar a indulgência frente a um ceticismo jocoso ou afetado frente à eficácia ou utilidade da arte de curar”[1].

Thomas Percival (1770-1804 AD)



[1] PERCIVAL, Thomas. Extracts from the Medical Ethics of Dr. Percival. Philadelphia, 1823, p. 18.

sábado, 27 de junho de 2015

Hipócrates e a Relação Médico-Paciente nos Aforismas - Parte 1


Este é o primeiro artigo de uma série que trata das raízes do que é ser médico.

Da obra hipocrática e seus posteriores pouco se aproveita quando o assunto é técnica ou teoria das doenças. A Patologia e Terapêutica sofreram indiscutíveis e maravilhosos avanços, deixando obsoleto o antigo conhecimento intitulado científico (conhecimento e explicação teorética das causas). Mas há um rico manancial de outros ensinamentos.

O que ainda se aproveita é justamente o componente atemporal dos escritos hipocráticos, o que se mantém válido e, ousaria dizer, essencial aos nossos tempos. O legado ético prático dos antigos médicos.

A descrição e a prescrição das virtudes e comportamentos que um médico deveria possuir não foram exclusividade de Hipócrates, e por muitas vezes foram repetidas nos séculos posteriores. Mas olhar o passado buscando o bom exemplo repetido por eras de profissionais dedicados é fonte de inspiração para o médico de hoje, e pode apontar algumas soluções para alguns problemas e conflitos que enfrentamos, além de colocar certas afirmações na perspectiva adequada.

Em breve abordaremos trechos da obra hipocrática denominada Aforismas.


Prof. Dr. Hélio Angotti Neto
Coordenador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina (http://www.medicinaefilosofia.blogspot.com.br/)
Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, da Academia Brasileira de Oftalmologia, da Associação Brasileira de Educação Médica, do Center for Bioethics and Human Dignity e do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC, onde atua também como Coordenador e Professor do Curso de Medicina.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O PROBLEMA DA AUSÊNCIA DE FORMAÇÃO POLÍTICA ENTRE MÉDICOS

O Problema da Ausência de Formação Política Entre Médicos


A Medicina encontra-se acometida de um grave problema: os médicos - e demais profissionais da saúde - carecem da formação política adequada. Isso gera a inevitável perda da eficácia de suas práticas em sociedade e o seu progressivo aviltamento diante da opinião pública.

Com formação política não digo conhecimentos de Ciência Política, mas sim, conhecimentos teóricos e práticos de estratégia, ação política e exercício do poder, técnicas dominadas com maestria por revolucionários e agitadores da esquerda radical ou da fabiana[1], e quase nunca utilizadas para algo de bom. Técnicas completamente desconhecidas pela enorme maioria dos médicos.

No Brasil não é prudente a ingenuidade diante dos lobos. Como as sábias palavras das Escrituras advertem há milênios: sejamos símplices como os pombos, porém prudentes como a serpente[2]. E como não ser prudente diante do revoltoso mar da política que tantas vezes faz submergir nações? Quem dirá pobres médicos latino-americanos?

Um sábio brasileiro afirma que os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal-intencionados[3], e quando colocamos nessa cadeia alimentar os médicos - partindo do princípio de que boa parte deles atua beneficamente para o próximo - a perda da efetividade política e, portanto, da efetividade geral da Medicina em sociedade não é algo a ser menosprezado. As consequências podem ser funestas.

Tal deformação, ou falta de formação política, afeta não somente médicos e seus pacientes, cujo sofrimento pode deixar de encontrar conforto eficaz, mas também afeta as famílias daqueles que padecem de algum mal e, consequentemente, toda a sociedade, reféns que são da má política.

Nos médicos observa-se diariamente o esgotamento, o desestímulo profissional e o abandono da carreira. Tais consequências inevitavelmente atrapalharão os resultados da prática médica, aumentando os riscos à saúde assim como, por exemplo, a má administração derivada de uma política inadequada faz ao deixar de fornecer ambientes próprios para o atendimento dos pacientes.

E, por fim, quem mais sofre é o paciente, o mais frágil elo da corrente, acometido pela doença e vulnerável, à mercê de uma situação malconduzida.

Ao observar o quadro geral da formação humanística e política do médico no Brasil, algo totalmente ineficiente ou ausente, o cenário torna-se assustador. Milhões de vidas e carreiras profissionais são afetadas ou até mesmo destruídas.

E diante desse cenário desanimador, quais são as medidas adotadas?

As lideranças políticas e estratégicas dos médicos, sejam seus sindicatos, sejam os Conselhos, tomam medidas políticas muitas vezes fragmentadas e fadadas ao fracasso desde o início[4]. Além do mais, a ação política não identifica o cenário político com a adequada visão; ou, se possui ciência da realidade, finge ineficácia e perplexidade diante dos movimentos políticos. Movimentos estes que tantas vezes colaboram para a destruição da saúde do brasileiro e para o aumento exponencial da corrupção e do assassinato moral de toda a classe médica no Brasil, verdadeiro Judas espancado.

A medida ideal é a atuação estratégica de fortes lideranças treinadas e capacitadas para o jogo político, orientadas por valores caros à prática médica e necessários à sociedade. E para que tal liderança exista há forte necessidade de tornar a ação política consciente e eficaz, concretizada por pessoas de grande valor e forte disposição.

Como tornar real tal consciência e tal exercício de poder benéfico? A solução aqui proposta é fornecer ferramentas analíticas para ler a sociedade de forma correta, para enxergar intencionalidades e estratégias de aliados e oponentes e para traçar planos de ação com competência rumo a ideais mais nobres.

Grupos de tais líderes seriam uma verdadeira benção para nosso país e, principalmente, para nossos doentes e profissionais da saúde, que ousariam sonhar com um ambiente menos hostil e insalubre para a busca da saúde.

Áreas do conhecimento importantes para esta empreitada incluem Filosofia, Estratégia, Comunicação, Logística, História, Relações Internacionais, Psicologia, Medicina Baseada em Evidências, Literatura, Retórica etc. As fontes incluem incontáveis artigos, livros e depoimentos de grandes líderes e estrategistas. Nenhum conhecimento ou ideologia podem ser estranhos ao se deparar com a realidade, ainda mais com a realidade que envolve o humano de forma tão íntima como saúde o faz.

Aviso claramente que não me aproximo do tema como um cientista político ou especialista em análises estratégicas, mas como um médico aplicado aos estudos e ansioso por ver tempos melhores para a cultura e para a política do Brasil, fatores que deveriam ser fontes de amparo e segurança, mas que em nosso Brasil se tornaram mananciais de temor e revolta.

E convido ao debate e ao estudo os colegas.

Em breve começarão as oficinas de Formação Política para Profissionais da Saúde e, quem sabe, um curso continuado de análises filosóficas, políticas e estratégicas em saúde pela internet.

Prof. Dr. Hélio Angotti Neto
Coordenador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina (http://www.medicinaefilosofia.blogspot.com.br/)
Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, da Academia Brasileira de Oftalmologia, da Associação Brasileira de Educação Médica, do Center for Bioethics and Human Dignity e do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC, onde atua também como Coordenador e Professor do Curso de Medicina.






[1] A esquerda fabiana, ao contrário da radical, prega uma lenta e insidiosa marcha rumo ao socialismo, normalmente utilizando-se dos mecanismos da democracia e evitando uma luta armada sempre que possível.

[2] Nas palavras do Cristo: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas”. Mateus 10.16. SPROUL, RC (Editor Geral). Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999.

[3] Cf. PUGGINA, Percival. Pombas e Gaviões: Uma indispensável leitura sobre política, porque os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal-intencionados. Porto Alegre: AGE Editora, 2010.

[4] Muitas das decisões e negociações são feitas dentro do panorama intelectual e linguístico da esquerda que deseja controlar a classe médica e instrumentalizá-la em seus planos de hegemonia. A questão não é ceder à esquerda ou à direita, mas sim, estabelecer um diálogo com capacidade própria, sem depender de muletas e travas pré-concebidas pelo oponente.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sugestão de Leitura: 10 Livros que Estragaram o Mundo. E outros cinco que não ajudaram em nada.

10 Livros que Estragaram o Mundo. E outros cinco que não ajudaram em nada.
Benjamim Wiker


Mais um livro traduzido do autor de "Darwinismo Moral: Como nos tornamos hedonistas". Com uma escrita irreverente, o professor e eticista Benjamin Wiker fala sobre livros que geraram problemas e dá a solução.

Queimar? Jamais. Ler, ler e ler outra vez com atenção, e expôr ao ridículo aquilo que é ridículo.

Trecho inicial do livro:

" 'Não há nada tão absurdo', caçoava Cícero, filósofo e estadista da antiga Roma, 'que não possa ser dito por um filósofo'. Infelizmente, os absurdos dos filósofos não se limitam às aulas de sofística e às suas especulações excêntricas. Eles perfazem todo o caminho editorial até serem despejados ao público. Eles podem ser - e têm sido - tão perigosos e nocivos quanto doenças mortais. E, como doenças, tais idéias letais podem infectar as pessoas sem que elas percebam. Essas idéias, geralmente não identificadas, pairam no ar intelectual que respiramos.

Se dermos uma boa e sóbria olhada nos efeitos horríveis dessas idéias mortíferas, só poderemos chegar a uma conclusão: há livros que realmente estragaram o mundo; livros sem os quais estaríamos bem melhor agora."

Quais são os livros?

Estragos preliminares: O Príncipe (Maquiavel); Discurso sobre o método (Descartes); Leviatã (Hobbes); e Discurso sobre a origem e fundamentos da desigualdade entre os homens (Rousseau).

Dez Grandes Estragos: Manifesto do Partido Comunista (Marx); Utilitarismo (Stuart Mill); A Descendência do Homem (Darwin); Além do bem e do mal (Nietzsche); O Estado e a Revolução (Lênin); O Eixo da Civilização (Margareth Sanger); Minha Luta (Hitler); O Futuro de uma Ilusão (Freud); Adolescência, Sexo e Cultura em Samoa (Margareth Mead); O relatório Kinsey (Alfred Kinsey).

E um extra: A Mística Feminina (Betty Friedan).

Concorda? Discorda? Leia o livro...


segunda-feira, 15 de junho de 2015

SUGESTÃO DE LEITURA: O PRINCÍPIO DE HUMANIDADE PARTE I

O Princípio de Humanidade. Parte I: O que está acontecendo?


Por sugestão do Professor Eduardo Cabette, iniciei a leitura do livro "O Princípio de Humanidade", de Jean-Claude Gillebaud.

Considerando a importância do escrito e os múltiplos insights que este oferece ao leitor atento que esteja inserido na área de estudo conhecida por Bioética, farei uma reflexão passo a passo da leitura, destacando pontos de grande valor ao lado de algumas reflexões próprias e convidando aquele que me lê para que leia também o livro.

O capítulo 1 abre a obra com a grande pergunta: O que nos acontece?

O autor matou a grande charada da pergunta. Embora não tenha sido o primeiro a desvendar a esfinge, já que C. S. Lewis – entre outros - já alertava que a última derrota sofrida pela humanidade seria a derrubada da própria natureza do ser humano, Gillebaud contextualiza a resposta com preciosas evidências do trágico século XX e acerta na mosca, a humanidade do homem está sob ameaça de extinção.

Neste momento de grande mutação que vivemos, de globalização de mercados, avanços na genética e tecnologia abundante virtualizando a realidade do ser humano, adquirimos cada vez mais a capacidade de recriar a natureza e, enfim, recriar o criador de tais avanços.

O autor lembra do evento marcante do século passado que nos legou uma preciosa lição: o extermínio de seres humanos de forma sistemática por ideologias totalitárias. Sejam comunistas, sejam nazistas, o pressuposto que nutria sua sanha assassina basicamente era um: O ser humano perdera sua dignidade ou seu estatuto de humanidade. Não merecia deferência, tornara-se objeto, combustível para nutrir o avanço de grandes e idolatrados leviatãs eternamente sedentos do sangue dos vivos.

Gillebaud lembra que o nazismo é citado à exaustão como exemplo da tragédia humana do século XX. Alain Besançon também lembra da hipermnésia no que diz respeito ao nazismo, embora ofereça uma crítica ao esquecimento da citação de crimes comunistas no seu breve, mas importantíssimo livro, “A Infelicidade do Século”.

Mesmo que muitos torçam o nariz para a memória dos crimes nazistas ou comunistas e sua repetida menção, é elemento de nossa identidade civilizacional. Tal memória do mal é símbolo do quão fundo descemos, de nossos pecados culturais que nos jogaram dentro do abismo mais profundo da perda da noção do que é a Dignidade Humana. O esquecimento de tais fatos – reforço: FATOS – constitui o triste retrato do que somos e de onde viemos. 

Ao lado das glórias da Cristandade, do Imago Dei que eleva o dignificado ser humano às alturas divinas, apesar de suas mazelas, está a tenebrosa perda da humanidade, da dignidade, está o esquecimento de quem somos.

Hoje intelectuais internacionalmente reconhecidos como Steven Pinker e a professora Ruth Macklin desprezam a noção de dignidade humana. Compreendo a ambos. Se esquecemos o ápice humano na longa tradição cultural do ocidente – e do oriente, por que não? – não há razão forte para enxergar no ser humano mais do que um amontoado de átomos que se chocam, grudam e desgrudam conforme o acaso, sem fim, sem inteligência, sem propósito, nada mais.

Viktor Frankl acusara tudo isso. Ele, um judeu prisioneiro dos campos de concentração, sobrevivente, psiquiatra, psicólogo e filósofo, afirmou com muita razão que a culpa dos terríveis genocídios era daqueles intelectuais que não poucas vezes foram laureados com prêmios e reconhecimento internacional.

Hoje lemos um desses intelectuais - ceticistas, relativistas e cretinos - e suspiramos, encantados com sua prosa, sua sagacidade que vira e revira a realidade. Amanhã as palavras se concretizarão em atos,e destruirão os que antes suspiravam.

O problema está identificado. É a destruição de um princípio do qual muitos outros derivam: O Princípio de Humanidade. Esta é a ameaça.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

SUGESTÃO DE LEITURA: Thomas Reid e o antídoto contra o Ceticismo Idealista



Thomas Reid, tido como fundador da escola filosófica escocesa do Bom Senso, teve sua primeira tradução no Brasil publicada pela Editora Vida Nova em 2013. Seu livro - Investigação Sobre a Mente Humana Segundo os Princípios do Senso Comum - aguardava leitura em minha estante desde o início de 2014 e, finalmente, foi desempoeirado.

O livro é uma resposta ao Idealismo Subjetivista do Tratado da Natureza Humana de Hume, e rendeu uma amarga resposta deste filósofo muito mais famoso, que disse: "Quiçá os pastores se limitassem à sua antiga ocupação de cuidar de suas ovelhas e deixassem para os filósofos a tarefa de argumentar com temperança, moderação e boas maneiras".

Reid era pastor protestante e, em sua resposta que contrapôs o que ele chamava de Senso Comum ao subjetivismo relativista da Filosofia Moderna, que ele denominava Filosofia Ideal, não poupou ironia.

Posteriormente seu Senso Comum forneceu percepções ricas capazes de colaborar com formas mais realistas de filosofar observadas em Edmund Husserl (voltemos às coisas mesmas!), Xavier Zubiri e, no Brasil, Olavo de Carvalho. 

O hábito de virar a filosofia enunciada contra o próprio filósofo também prenuncia o que hoje se conhece (ou deveria se conhecer) como Paralaxe Cognitiva. Reid criticava como certas filosofias eram iguais a um cavalo de pau. Escondido dentro de casa, alguém pode até montar num cavalinho de pau e fazer peripécias, mas se alguém sair à rua cavalgando alegremente em tal situação, provavelmente será tido como um louco incapaz. Assim é a filosofia de Hume e de outros idealistas modernos na crítica de Reid. Deixo um pequeno texto entre tantos recheados de aguda ironia:

"Suponhamos que tal homem (trabalhador diarista sensato) se encontre com um filósofo moderno e queira ser esclarecido sobre o que é o cheiro das plantas. O filósofo diz a ele que não há cheiro nas plantas, ou em coisa alguma, mas apenas na mente, e que tudo foi demonstrado pela filosofia moderna. Sem dúvida, o homem simples pensará que o filósofo é um brincalhão, mas se, porventura, achar que ele ficou sério, sua próxima conclusão será a de que é louco, ou a de que a filosofia , como mágica, põe os homens em um novo mundo e dá a eles faculdades diferentes dos homens comuns. E, assim, a filosofia e o senso comum são postos em divergência. Mas de quem é a culpa disso? Na minha opinião, a culpa é do filósofo. Afinal, se por cheiro ele quer dizer o que a humanidade comumente quer dizer, ele está certamente louco. Mas se ele atribui um dignificado diferente à palavra, sem respeitá-lo ou sem avisar os outros, ele abusa da linguagem e desgraça a filosofia sem prestar serviço algum à verdade: como se um homem devesse trocar o significado das palavras filha e vaca e então tentar provar para seu vizinho simples que sua vaca é sua filha, e sua filha é sua vaca."

"Estes (paradoxos da Filosofia Moderna), para homens sensatos simples, parecem absurdos palpáveis, mas, entre adeptos, se passam por descobertas profundas."

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Brazil’s Public Health: Utopia and the hard truth




In the NEJM’s first edition of June 2015, a very optimistic perspective was published about the Unified Health System of Brazil ( http://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMp1501140 ).

It is truth that the government “has invested substantially in expanding access to health care for all citizens” in absolute numbers. However, after the whole picture is seen, including the fact that we are talking of the “world’s fifth-largest population and seventh-largest economy”, a progressive lack of investment is the norm. There is a prevision of a more than 10 billion (R$) reduction in Healthcare funds for the year of 2015 and a 20 billion (R$) reduction considering all the four years of the actual Worker’s Party presidential mandate.

Even if the reach of the Family Health Strategy increased, the structural problems remain. The buildings dedicated to Healthcare assistance are, in most parts of Brazil, in a calamitous situation. At some places, the most basic materials – like gloves, masks, protection glasses, bandages, soap and even drinkable water - are not available. The decentralized administration proved mostly to be disastrous, and the central government is falling apart amidst scandals and corruption as never seen before.

Patients in need of a more complex treatment, a more elaborated diagnostic, or even in the need of a basic consultation of a specialist like an ophthalmologist, are waiting for months. The system just do not flow in most places, and the overcharged situation of secondary and tertiary Healthcare remains.

Moreover, the program Mais Médicos (More Doctors) proved to be an excuse to spend public money in Cuba for ideological reasons while the actual president of Brazil made her marketing using it in the 2014 presidential election. The allegedly good that it would provide, proved also to be false. Local mayors from the small cities from Brazil dismissed Brazilian physicians to save the money keeping in mind the fact that Cubans would arrive with Federal funds, which resulted in the decrease of the medical assistance in 49% of the municipalities reached by the Program Mais Médicos1.

If there is a lesson that “the world can learn (…) from the Brazilian experience” is that the most well planned Healthcare System can fall apart in a context of ludicrous ideological priorities and endemic corruption.

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1 – Jornal do CREMESP. Desafios dos Sistemas público e privado são debatidos no 2º fórum A Saúde do Brasil. Dados citados pelo Presidente da Associação Paulista de Medicina, Florisval Meinão, com base em informações do Tribunal de Contas da União.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

SUGESTÃO DE LEITURA: PARE DE ACREDITAR NO GOVERNO


Terminei a leitura do divertido - e preocupante - livro do cachoeirense Bruno Garschagen.
Nas páginas de "Pare de Acreditar no Governo: por que os brasileiros não confiam no governo e amam o estado" temos um panorama histórico, cultural e político de nossa conturbada história e de nossa vergonhosa subserviência aos nossos tiranos.
Com um olhar dotado de fina ironia, o autor percorre as desventuras em série que marcaram a escalada do poder estatal nessa terra marcada pelo que há de pior em termos de positivismo e marxismo.
Bruno segue uma longa tradição daqueles que amam a liberdade e acusam o perigo do poder tirânico. É um amante da liberdade ao estilo de Étienne de la Boétie dotado da capacidade de crítica e análise histórica de um Bertrand de Jouvenel que a capital secreta do mundo legou ao povo capixaba. É prata da casa, sem dúvida.
Compre e leia, nunca é tarde. E digo mais, darei para o meu filho ler assim que ele começar a estudar história do Brasil, ao lado do "Discurso da Servidão Voluntária".

A IDEOLOGIA SOCIALISTA E O CRISTIANISMO

Imprescindível é falar de cultura e ideologia...


segunda-feira, 1 de junho de 2015

A TEOLOGIA DE POLEMARCO, OU, É ISSO O QUE DÁ QUANDO CRISTO SAI E ENTRA MARX


A TEOLOGIA DE POLEMARCO, OU, É ISSO O QUE DÁ QUANDO CRISTO SAI E ENTRA MARX


Em sua magnífica obra “A República”, Platão nos brinda com um diálogo acerca do que seria a Justiça. Um dos personagens inquiridos é Polemarco, que prontamente responde com toda franqueza de seu torpe coração: Justiça é ajudar os amigos e prejudicar os inimigos[1].

Claro que a política evoluiu muito depois de Platão e hoje muitos políticos entendem que na Justiça está incluído o ato de destruir antigos aliados – excelentes bodes expiatórios - após a chegada ao poder com o objetivo de manter o controle indisputado de tudo, como aconselhava o chefe florentino de milícias, Maquiavel. Fórmula mais do que repetida por políticos de viés stalinista até às ditaduras de hoje. Nada melhor do que um pouco de sangue humano socialista para limpar a sujeira da causa socialista.

Em sua coluna de jornal o teólogo Leonardo Boff reproduz em parte esse antiquíssimo – e, por que não, reacionaríssimo – pensamento[2].

Divide novamente, como é de seu feitio e de toda nossa esquerda iluminada, o povo brasileiro entre “nós” e “eles”. Categorias classistas mais que anacrônicas reutilizadas à exaustão desde os tempos do velho profeta Marx. Só não pergunte a quem servem as profecias do antigo barbudo alemão e de seus imitadores contemporâneos.

Na categoria “nós” estão os santos esquerdistas; os guerreiros para os quais tudo é perdoado em nome da causa; os amantes dos pobres mesmo quando os roubam; os revolucionários que, justificados pelo futuro perfeito que nunca chegou e – ao ver o andar da carruagem desgovernada - provavelmente nunca chegará, têm licença para mentir, matar, cometer genocídios e roubar (muito).

Na categoria “eles” estão os profanos direitistas; maldosos que odeiam pobres e minorias; exploradores; conservadores (neste momento faça-se o sinal da cruz invertido para proteção, quem sabe); indignos desprovidos da cognição iluminada de um futuro perfeito que tudo perdoa e tudo permite desde que você esteja no lado adequado do espectro ideológico ou da lógica mortal da Guerra de Classes.

Para seus amigos, Boff recomenda, de forma muito cristã, a “autocrítica pública e humilde dos erros cometidos”, à luz do conhecimento de que “A vida nos ensina e as escrituras cristãs não se cansam de repetir: quem caiu sempre pode se levantar”. Para seus inimigos, os quais também deveriam merecer seu perdão e receber suas sinceras orações, Boff destina o desprezo e o franco combate.

São os inimigos – malditos conservadores direitistas - acusados de usarem “mentiras e distorções”, mas os amigos esquerdistas previsivelmente passam batido por tais acusações. Os inimigos são acusados de baterem “panelas cheias”, mas os bolsos lotados de dinheiro público dos amigos merecem o apelo ao perdão e recomeço.

Quando a crise é gerada pela esquerda, ela “funciona como um crisol que purifica o ouro das gangas e o libera para um novo uso”, integrando o caos “generativo” bem ao estilo da crítica destrutiva da Escola de Frankfurt. Se for gerada pela direita, não se deve jamais “aceitar as derrotas sem antes dar as batalhas”.

O nome disso não é cristianismo. Envergonha muito observar lições cristãs recortadas e prostituídas por ideólogos para que sirvam de munição numa guerra profana que vira brasileiro contra brasileiro, irmão contra irmão, corrompendo corações e transformando o amor em algo seletivo.

Não, cristianismo não é isso o que é pregado nos textos de incitação ao ódio classista exaustivamente despejados por Boff em suas colunas. Boff acerta quando lembra de que o Cristianismo pode ajustar as coisas, mas erra ao revelar que ele mesmo desconhece o que é o Cristianismo, trocando-o pela diabólica interpretação reducionista da Teologia da Libertação.

É isso o que dá trocar Cristo por Marx: a caridade, a disposição em aconselhar e perdoar e o espírito fraterno terminam onde termina a afinidade ideológica. Aos amigos, o bem, aos inimigos, o combate feroz.

Hélio Angotti Neto

*Imagem Retirada de: http://www.truthrevolt.org/news/atlantic-says-happy-valentines-day-karl-marx


[1] Plato. Republic, Volume I: Books 1-5. Edited and translated by Christopher Emlyn-Jones, William Preddy. Loeb Classical Library 237. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2013, p. 22-23.
[2] Disponível em: <http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/leonardo-boff/recado-para-o-pt-s%C3%A3o-poss%C3%ADveis-a-autocorre%C3%A7%C3%A3o-e-o-recome%C3%A7o-1.1046783>. Acesso em: 1 jun 2015.