quinta-feira, 11 de junho de 2015

SUGESTÃO DE LEITURA: Thomas Reid e o antídoto contra o Ceticismo Idealista



Thomas Reid, tido como fundador da escola filosófica escocesa do Bom Senso, teve sua primeira tradução no Brasil publicada pela Editora Vida Nova em 2013. Seu livro - Investigação Sobre a Mente Humana Segundo os Princípios do Senso Comum - aguardava leitura em minha estante desde o início de 2014 e, finalmente, foi desempoeirado.

O livro é uma resposta ao Idealismo Subjetivista do Tratado da Natureza Humana de Hume, e rendeu uma amarga resposta deste filósofo muito mais famoso, que disse: "Quiçá os pastores se limitassem à sua antiga ocupação de cuidar de suas ovelhas e deixassem para os filósofos a tarefa de argumentar com temperança, moderação e boas maneiras".

Reid era pastor protestante e, em sua resposta que contrapôs o que ele chamava de Senso Comum ao subjetivismo relativista da Filosofia Moderna, que ele denominava Filosofia Ideal, não poupou ironia.

Posteriormente seu Senso Comum forneceu percepções ricas capazes de colaborar com formas mais realistas de filosofar observadas em Edmund Husserl (voltemos às coisas mesmas!), Xavier Zubiri e, no Brasil, Olavo de Carvalho. 

O hábito de virar a filosofia enunciada contra o próprio filósofo também prenuncia o que hoje se conhece (ou deveria se conhecer) como Paralaxe Cognitiva. Reid criticava como certas filosofias eram iguais a um cavalo de pau. Escondido dentro de casa, alguém pode até montar num cavalinho de pau e fazer peripécias, mas se alguém sair à rua cavalgando alegremente em tal situação, provavelmente será tido como um louco incapaz. Assim é a filosofia de Hume e de outros idealistas modernos na crítica de Reid. Deixo um pequeno texto entre tantos recheados de aguda ironia:

"Suponhamos que tal homem (trabalhador diarista sensato) se encontre com um filósofo moderno e queira ser esclarecido sobre o que é o cheiro das plantas. O filósofo diz a ele que não há cheiro nas plantas, ou em coisa alguma, mas apenas na mente, e que tudo foi demonstrado pela filosofia moderna. Sem dúvida, o homem simples pensará que o filósofo é um brincalhão, mas se, porventura, achar que ele ficou sério, sua próxima conclusão será a de que é louco, ou a de que a filosofia , como mágica, põe os homens em um novo mundo e dá a eles faculdades diferentes dos homens comuns. E, assim, a filosofia e o senso comum são postos em divergência. Mas de quem é a culpa disso? Na minha opinião, a culpa é do filósofo. Afinal, se por cheiro ele quer dizer o que a humanidade comumente quer dizer, ele está certamente louco. Mas se ele atribui um dignificado diferente à palavra, sem respeitá-lo ou sem avisar os outros, ele abusa da linguagem e desgraça a filosofia sem prestar serviço algum à verdade: como se um homem devesse trocar o significado das palavras filha e vaca e então tentar provar para seu vizinho simples que sua vaca é sua filha, e sua filha é sua vaca."

"Estes (paradoxos da Filosofia Moderna), para homens sensatos simples, parecem absurdos palpáveis, mas, entre adeptos, se passam por descobertas profundas."