O Princípio de Humanidade. Parte I: O que está acontecendo?
Por sugestão do Professor Eduardo
Cabette, iniciei a leitura do livro "O Princípio de Humanidade", de Jean-Claude
Gillebaud.
Considerando a importância do escrito e os múltiplos insights que este oferece ao leitor atento que esteja inserido na área de estudo conhecida por Bioética, farei uma reflexão passo a passo da leitura, destacando pontos de grande valor ao lado de algumas reflexões próprias e convidando aquele que me lê para que leia também o livro.
Considerando a importância do escrito e os múltiplos insights que este oferece ao leitor atento que esteja inserido na área de estudo conhecida por Bioética, farei uma reflexão passo a passo da leitura, destacando pontos de grande valor ao lado de algumas reflexões próprias e convidando aquele que me lê para que leia também o livro.
O capítulo 1 abre a obra com a
grande pergunta: O que nos acontece?
O autor matou a grande charada da pergunta. Embora não tenha sido o primeiro a desvendar a esfinge, já que C. S. Lewis – entre outros - já alertava que a última derrota sofrida pela humanidade seria a derrubada da própria natureza do ser humano, Gillebaud contextualiza a resposta com preciosas evidências do trágico século XX e acerta na mosca, a humanidade do homem está sob ameaça de extinção.
O autor matou a grande charada da pergunta. Embora não tenha sido o primeiro a desvendar a esfinge, já que C. S. Lewis – entre outros - já alertava que a última derrota sofrida pela humanidade seria a derrubada da própria natureza do ser humano, Gillebaud contextualiza a resposta com preciosas evidências do trágico século XX e acerta na mosca, a humanidade do homem está sob ameaça de extinção.
Neste momento de grande mutação
que vivemos, de globalização de mercados, avanços na genética e tecnologia
abundante virtualizando a realidade do ser humano, adquirimos cada vez mais a capacidade
de recriar a natureza e, enfim, recriar o criador de tais avanços.
O autor lembra do evento marcante
do século passado que nos legou uma preciosa lição: o extermínio de seres
humanos de forma sistemática por ideologias totalitárias. Sejam comunistas, sejam nazistas,
o pressuposto que nutria sua sanha assassina basicamente era um: O ser humano
perdera sua dignidade ou seu estatuto de humanidade. Não merecia deferência,
tornara-se objeto, combustível para nutrir o avanço de grandes e idolatrados leviatãs
eternamente sedentos do sangue dos vivos.
Gillebaud lembra que o nazismo é
citado à exaustão como exemplo da tragédia humana do século XX. Alain Besançon também lembra da hipermnésia no que diz respeito ao nazismo, embora
ofereça uma crítica ao esquecimento da citação de crimes comunistas no seu
breve, mas importantíssimo livro, “A Infelicidade do Século”.
Mesmo que muitos torçam o nariz
para a memória dos crimes nazistas ou comunistas e sua repetida menção, é elemento de nossa
identidade civilizacional. Tal memória do mal é símbolo do quão fundo descemos, de nossos pecados culturais
que nos jogaram dentro do abismo mais profundo da perda da noção do que é a
Dignidade Humana. O esquecimento de tais fatos – reforço: FATOS – constitui o
triste retrato do que somos e de onde viemos.
Ao lado das glórias da
Cristandade, do Imago Dei que eleva o dignificado ser humano às alturas
divinas, apesar de suas mazelas, está a tenebrosa perda da humanidade, da
dignidade, está o esquecimento de quem somos.
Hoje intelectuais internacionalmente reconhecidos como Steven Pinker e a professora Ruth Macklin desprezam a noção de dignidade humana. Compreendo a ambos. Se esquecemos o ápice humano na longa tradição cultural do ocidente – e do oriente, por que não? – não há razão forte para enxergar no ser humano mais do que um amontoado de átomos que se chocam, grudam e desgrudam conforme o acaso, sem fim, sem inteligência, sem propósito, nada mais.
Hoje intelectuais internacionalmente reconhecidos como Steven Pinker e a professora Ruth Macklin desprezam a noção de dignidade humana. Compreendo a ambos. Se esquecemos o ápice humano na longa tradição cultural do ocidente – e do oriente, por que não? – não há razão forte para enxergar no ser humano mais do que um amontoado de átomos que se chocam, grudam e desgrudam conforme o acaso, sem fim, sem inteligência, sem propósito, nada mais.
Viktor Frankl acusara tudo isso.
Ele, um judeu prisioneiro dos campos de concentração, sobrevivente, psiquiatra,
psicólogo e filósofo, afirmou com muita razão que a culpa dos terríveis
genocídios era daqueles intelectuais que não poucas vezes foram laureados com
prêmios e reconhecimento internacional.
Hoje lemos um desses intelectuais - ceticistas, relativistas e cretinos - e suspiramos, encantados com sua prosa, sua sagacidade que vira e revira a realidade. Amanhã as palavras se concretizarão em atos,e destruirão os que antes suspiravam.
Hoje lemos um desses intelectuais - ceticistas, relativistas e cretinos - e suspiramos, encantados com sua prosa, sua sagacidade que vira e revira a realidade. Amanhã as palavras se concretizarão em atos,e destruirão os que antes suspiravam.
O problema está identificado. É a
destruição de um princípio do qual muitos outros derivam: O Princípio de
Humanidade. Esta é a ameaça.