segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Breve Entrevista: Aborto Pós-Nascimento

Breve entrevista escrita cedida ao jornalista Jônatas Dias Lima, da Gazeta do Povo, do Grupo Paranaense de Comunicação.


1)      Por que o aborto pós-nascimento não pode ser considerado uma opção moralmente aceitável?
O aborto pós-nascimento é um eufemismo para o homicídio infantil institucionalizado. É o assassinato de crianças. Liberar tal atrocidade e destinar o médico a realizar tais procedimentos é abrir mão da vida, do futuro de nossos filhos e da medicina como profissão defensora da vida e da dignidade do ser humano. Seria uma tragédia civilizacional causada por uma virada de valores.

Mesmo do ponto de vista jurídico, a sugestão de tal situação é criminosa por princípio, considerando o Pacto de San José da Costa Rica - possuidor de força constitucional no Brasil - que define como pessoa e ser humano digno de direitos o ser vivo desde sua concepção.
A medicina já se permitiu não defender a vida e a dignidade do ser humano, e tragédias horrorosas acometeram povos inteiros. O exemplo da medicina nazista realizando experimentos cruéis em judeus e da medicina soviética prendendo inimigos do Estado em hospícios sob acusação de loucura parecem ter ficado no passado, mas são um aviso constante do perigo que nos ronda.
2)      Baseado em sua experiência e observação na área acadêmica, o apoio a esse tipo de visão tem crescido? Se sim, por que?
Sim, o apoio a tal visão deturpada da realidade e da vida humana tem crescido, na maioria das vezes, por manipulação psicológica e linguística. O que assistimos é a troca de uma cultura que valoriza e dignifica a vida por uma outra cultura relativista que eleva o prazer ao status de bem máximo alcançável da humanidade. Os artifícios para eclodir tal mutação de valores civilizacionais normalmente são sutis e começam na academia, lentamente "descendo" à discussão pública. Uma tentativa de dar resposta foi oferecida no livro "A Morte da Medicina", publicado pela VIDE Editorial em 2014.
3)      Que tipo de consequência prática o legitimação acadêmica do infanticídio poderia trazer à sociedade?
Antes de qualquer outra coisa, é preciso lembrar que infanticídio é o ato no qual a mãe, tomada por um distúrbio psiquiátrico grave, mata o bebê sem total consciência de seu ato. O que se trata aqui é do homicídio infantil permitido pelo Estado (O artigo 123 do Código Penal caracteriza o crime de infanticídio como o ato de matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho durante o parto ou logo após. - http://athilabezerra.jusbrasil.com.br/artigos/111884551/infanticidio-no-direito-penal-brasileiro ).
Para se imaginar o que a legalização do homicídio infantil traria à sociedade, precisamos imaginar o que seria uma medicina capaz de matar e treinada para tal. Também precisamos encarar de frente as razões que levariam pessoas a matarem seus filhos, e as graves consequências psicológicas e existenciais derivadas de tal situação.
A banalização de tais práticas e sua legalização, ou até mesmo sua imposição pelo governo, causariam repercussões difíceis de se imaginar em larga escala de ação e tempo. A desvalorização da vida dos fetos levou à desvalorização da vida dos bebês, e que levará talvez à desvalorização da vida de adultos com demência, ou quem sabe, de grupos socialmente indesejáveis. É o que chamamos de argumento da ladeira escorregadia: dá-se um passo e há o risco de se escorregar muito além do que se desejava avançar. Muitos criticam o uso da "ladeira escorregadia", mas é fato  que as piores atrocidades começaram com simples ideias e atos aparentemente pouco perigosos.
Pessoalmente considero o passo de legalizar a monstruosidade do homicídio infantil uma abominação moral e uma total relativização do valor da vida. E uma vez aceito, poderá nos levar a situações extremamente perigosas à civilização e às nossas famílias. É um ato autodestrutivo e indigno do estado atual dos direitos humanos que conseguimos alcançar após tantas tragédias sofridas nos últimos séculos.