Uma típica mentira abortista.
Se proibir, aumenta?
Enquadrando a Discussão
Nas conversas entre
aquelas pessoas a favor da vida humana e aquelas a favor do direito de decidir
ou, em termos mais diretos, nas brigas entre os que são contra e os que são a favor
do aborto, respectivamente, alguém do último grupo sempre costuma apelar para
um dado curioso. Segundo a sabedoria abortista, proibir o aborto aumenta o
número de casos. Se o aborto fosse legalizado, segundo eles, os casos de aborto
tendem a diminuir.
Para muitos isso pode
parecer contraditório. E, na maioria dos casos, é pura contradição mesmo!
Essa é mais uma das
muitas mentiras a respeito do aborto que são veiculadas por iluminadas cabeças
pensantes em meio à sociedade. Se continuarem pensando com essa qualidade, há
de se questionar onde chegarão, senão na aniquilação da inteligência e da
capacidade de apreender a realidade.
Abortistas de todos os
tipos citam artigos produzidos por institutos claramente comprometidos com a
causa abortista para defender a ideia de que os abortos são reduzidos com a
legalização. Tais artigos, publicados em importantes revistas, são utilizados
como porretes da autoridade científica para calar o adversário em um pretenso
debate.
Vamos esclarecer algumas
coisas desde já.
O que se chama debate, no
Brasil, de regra é um reforço da mesma opinião previamente desejada,
pertencente a uma elite progressista que se acha dona da verdade e considera o
povo brasileiro retrógrado e incômodo. Como descreve Francisco Razzo em seu
livro Contra o Aborto, o debate de regra é entre diversas opiniões a favor do
aborto enquanto os contrários ao aborto são excluídos dos meios chiques da
sociedade e da mídia de massas.[1] Melhor assim, para os
detentores do futuro melhor de nosso país. Que esses evangélicos e católicos
conservadores sumam de nossa frente ou, como diria certo professor
universitário brasileiro, que sejam abordados em conversa na ponta de uma
espingarda.[2]
Segundo ponto: os
trabalhos que de regra são citados pertencem a Organizações Não Governamentais
abortistas que recebem verbas milionárias de fundações internacionais
abortistas e megaclínicas de aborto. O exemplo mais famoso é o Instituto Guttmacher, que publica nas
badaladas revistas médicas como a Lancet,
e recebe dinheiro da maior rede de clínicas abortistas do mundo, a Planned Parenthood, além de receber
verbas da Bill and Melinda Gates
Foundation. E tal instituto ainda tem a pachorra de afirmar que não há
conflito de interesses em suas publicações. E, verdade seja dita, quando
revistas como a Lancet ou o New England Journal of Medicine falam de
política, é perceptível a agressiva agenda ideológica subscrita pelos autores e
editores.
Terceiro ponto: há uma
série de distorções estatísticas nesses trabalhos usados como fonte de
autoridade científica. Mas, de regra, são citados por pessoas sem o menor
preparo em Medicina Baseada em Evidências ou Bioestatística, funcionando como
instrumentos de apelo à autoridade científica. Resumindo, esses artigos
repletos de manipulação e conflitos de interesse são exemplos do uso burro de
uma ciência deturpada por razões políticas e ideológicas.
E o que dizem os
abortistas e os artigos? E qual é a realidade? Vamos aos fatos.
A distorção estatística e o caso dos Estado Unidos
De certa forma, os
abortistas contam com a preguiça intelectual, a falta de competência em avaliar
artigos ou a pressa do leitor. Esperam que alguém leia a conclusão que é
lançada após páginas de expressões técnicas como Bayesiano e Teste de
Kolmogorov-Smirnov e aceite tudo como a verdade divina descendo como maná dos
céus. E na maioria das vezes é justamente isso que acontece.
Pessoas sem formação
alguma na área de Medicina Baseada em Evidências se aventuram a ler conclusões
ideológicas citadas em artigos distorcidos para fundamentarem suas crenças
prévias.
Recentemente, um trabalho
foi citado como prova de que liberar o aborto reduziria a prática.[3] Esse trabalho,
relativamente recente, afirma que o número de abortos em países ricos, que em
sua maioria legalizaram a prática, está caindo desde 1990, e que permanece alto
em países em desenvolvimento, que ainda não legalizaram o aborto em sua maioria.[4] O que você entende? Que a
legalização reduziu o número de abortos, certo? Vejamos com um olhar mais
acurado.
Na década de noventa do século
XX, a grande maioria dos países desenvolvidos já tinha legalizado o aborto há
muitos anos. E as medidas do número de abortos realizados em países em
desenvolvimento que não legalizaram a prática são expostas a diversos vieses e
cálculos de correção dos dados que inflacionam a casuística formidavelmente.
Se queremos concluir
sobre a legalização aumentar ou reduzir o número de abortos, o que devemos
fazer? Voltar ao momento em que o aborto foi legalizado e acompanhar, ano a
ano, a mudança no número de abortos. Isto significa checar os números antes e
após a decisão do famoso caso Roe vs Wade,
em 1973, nos Estados Unidos, por exemplo.
Antes da decisão, já se
observava um aumento contínuo no número de abortos relatados, sem dúvida por
causa da militância pró-aborto e das mudanças culturais dos anos sessenta,
conforme relatado por Bernard Nathanson.[5] Foram reportados 390 casos
de aborto para cerca de 4 milhões de nascimentos nos Estados Unidos em 1963.
Ano a ano, o número de abortos aumentou, chegando em 1973 a 744.610 abortos em
uma população de 3.136.965 nascidos vivos. O aborto ainda não fora liberado nos
moldes pós Roe vs Wade, mas a pressão
ideológica para sua liberação era intensa.
Neste momento os
abortistas falarão que o número de abortos é muito maior, só que não é
relatado. O que se conclui é que, uma vez legalizado, as mulheres procurarão um
serviço dentro da legalidade no qual realizarão o procedimento sem o risco
aumentado de uma intervenção clandestina, e o número real de abortamentos será
revelado.
Em 1974, um ano após a
decisão do tribunal no caso Roe vs Wade,
o número de nascidos vivos foi de 3.159.958 e o número de abortos relatados foi
de 898.570. Isso apontaria para um aumento de cerca de 150.000 casos
teoricamente creditados aos casos não relatados, se admitíssemos uma
estabilidade no número real de abortos realizados de 1973 para 1974.
Todavia, eis o que
acontece com a casuística de abortos nos anos seguintes.[6]
Ano
|
Nascidos Vivos
|
Abortos
|
Taxa de abortos por nascimentos (abortos
a cada 1000 nascimentos)
|
1975
|
3,144,198
|
1,034,170
|
328.9
|
1976
|
3,167,788
|
1,179,300
|
372.3
|
1977
|
3,326,632
|
1,316,700
|
395.8
|
1978
|
3,333,279
|
1,409,600
|
422.9
|
1979
|
3,494,398
|
1,497,670
|
428.6
|
1980
|
3,612,258
|
1,553,890
|
430.2
|
1981
|
3,629,238
|
1,577,340
|
434.6
|
1982
|
3,680,537
|
1,573,920
|
427.6
|
1983
|
3,638,933
|
1,575,000
|
432.8
|
1984
|
3,669,141
|
1,577,180
|
429.9
|
Há uma clara tendência de
aumento contínuo nos casos de aborto com certa estabilização após alguns anos
da liberação dos casos. Essa tendência não é exclusividade dos Estados Unidos,
repetindo-se em diversas outras casuísticas, às vezes com um crescimento muito
mais prolongado ao longo dos anos seguintes à legalização.
Como o trabalho
previamente citado verificou a casuística após a década de noventa, temos um
cenário completamente diferente do exposto inicialmente. A distância temporal
entre a legalização e os dados observados insere fatores de confusão que tornam
a tentativa de estabelecer nexos causais extremamente frágil. Deve ser lembrado
também que foi no ano de 1990 que se registrou o pico no número de abortos nos
Estados Unidos. Contabilizar a partir desse pico obviamente demonstrará uma
queda no número de abortos.
E há um agravante
raramente lembrado: muitos estados americanos tem falhado em reportar a
casuística de abortos realizados, o que gera um número subestimado. Um dos mais
recentes relatórios dos Estados Unidos, publicado em 2017, informa uma
casuística subestimada de abortos no ano de 2014 de 652.639 abortos.[7]
Há ainda outras
características a serem observadas no campo cultural e político dos Estados
Unidos. A recente ascensão da direita conservadora, a militância cristã pró-vida
fazendo frente à antiga militância pró-escolha da revolução cultural e as
alterações jurídicas que removem verbas bilionárias da indústria abortista no
governo de Donald Trump irão gerar um profundo impacto nos próximos anos,
salvando milhões de vidas e reduzindo ainda mais o número de abortos.
Tudo isso nos autoriza a
compreender que o número de abortos realizados após a legalização sobe de forma
catastrófica para décadas após ter a chance de começar a reduzir, caso o
ambiente cultural e político se altere significativamente.
Abortando
mundo afora
Em outros países o
aumento de abortos após a legalização também é observado. No reino Unido, a
legalização ocorreu em 1967. No ano seguinte, o número de abortos
contabilizados foi de 23.461, 72% maior do que o registro de dez anos antes,
que era de 13.570 abortos. Dez anos após a legalização, o número de abortos
registrados foi de 141.558, um aumento de 945% em relação ao registro de 1958.
Em 2008, o registro apresentou o explosivo aumento de 1480%, gerando uma casuística
de 202.158 abortos. A população do Reino Unido, nos mais de quarenta anos
contabilizados na série histórica do aborto, subiu somente 10%. É o genocídio
de um povo e, consequentemente, de seu legado humano e cultural.[8]
Na Suécia, onde a
legalização ocorreu em 1938, o número de abortos subiu em cerca de 9.000%, indo
de 220 casos registrados para mais de 38.000 casos em 2015.[9]
Na Espanha, quando o
aborto foi parcialmente legalizado em 1985, foram contabilizados 6.344 abortos.
Somente dois anos após a legalização, o número de abortos já alcançava 16.766,
quase o triplo de casos. O crescimento no número de casos de aborto ocorreu de
forma contínua até 1996, quando foram registrados 51.002 abortos, um número
aproximadamente oito vezes maior do que o registrado no primeiro ano. Só para
se ter uma idéia, em 2010, quando uma nova legislação ainda mais liberal foi
aprovada na Espanha, ocorreram 113.031 abortos.[10]
Analisando o reverso da
moeda, um caso ilustrativo é o do Chile, no qual a restrição do aborto reduziu
o número de casos e, para o desespero da militância abortista e aborteira,
sempre à busca das evidências glorificadoras do extermínio de fetos, apresentou
uma redução na mortalidade materna. Tal exemplo revela claramente que, se
alguém deseja proteger a vida das mulheres, o caminho não é se oferecer para
matar seus filhos.[11]
Outro país que conseguiu
reduzir o número de abortos com a proibição foi a Polônia. Em 1956, após a
legalização, o número de abortos também começou a crescer de forma
descontrolada por anos seguidos, alcançando a marca de cerca de 272.000 casos
em 1962. Cinco anos após a restrição legal em 1990, no ano de 1995, o número de
abortos caiu para 570.[12]
Dados mais recentes
publicados na Dinamarca, onde o aborto é legalizado, mostram, por fim, uma
perturbadora realidade. A mortalidade entre mulheres que cometem o aborto é até
três vezes maior do que a mortalidade entre as mulheres que não abortam.[13] Sacrificar o próprio
filho tem suas consequências, e é uma cicatriz que a mulher levará por toda a
vida e marcará profundamente a cultura de todo um povo.
Hélio Angotti Neto
Colatina, 28 de dezembro
de 2017.
[1]
RAZZO, Francisco. Contra o Aborto.
Rio de Janeiro & São Paulo: Editora Record, 2017.
[2]
Como afirmou Mauro Iasi, professor universitário ganhador do Prêmio Stálin da
Paz, isso mesmo, não ria, um prêmio da paz com o nome do assassino genocida e
tirano Stálin: “tal pessoa é um ‘inimigo’ e deveríamos estar dispostos a lhe
oferecer ‘um bom paredão’, o encontro com uma ‘boa espingarda’, uma ‘boa bala’,
e por fim, ‘depois de uma boa pá, uma boa cova’. Afinal, ufana-se ele, ‘com a
direita e o conservadorismo, nenhum diálogo, luta!’. BERLANZA, Lucas. Por que o
“paredão” comunista pode e o golpe militar não pode? Instituto Liberal. Internet,
https://www.institutoliberal.org.br/blog/por-que-o-paredao-comunista-pode-e-o-golpe-militar-nao-pode/
[3]
Como descrito na série de artigos intitulada “O Extermínio do Amanhã”.
[4]
Gilda Sedgh, Jonathan Bearak, Susheela Singh, Akinrinola Bankole, Anna Popinchalk,
Bela Ganatra, Clémentine Rossier, Caitlin Gerdts,Özge Tunçalp, Brooke Ronald
Johnson Jr, Heidi Bart Johnston, Leontine Alkema. ‘Abortion incidence between
1990 and 2014: global, regional, and subregional levels and trends’. Lancet,
vol. 388, 2016, p. 258-267.
[5]
NATHANSON, Bernard N. The Hand of God: A Journey from Death to Life by the
Abortion Doctor Who Changed His Mind. Washington, DC: Regnery Publishing, Inc.,
1996; NATHANSON, Bernard N. Aborting America:
A Doctor’s Personal Report on the Agonizing Issue of Abortion. Fort
Collins, CO: Life Cycle Books, 1979.
[6]
JOHNSTON, Robert. Historical abortion statistics, United States. Last updated
23 February 2017. Internet, http://www.johnstonsarchive.net/policy/abortion/ab-unitedstates.html
[7]
Jatlaoui TC, Shah J, Mandel MG, et al. Abortion Surveillance — United States,
2014. MMWR Surveill Summ 2017;66(No. SS-24):1–48. DOI: http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.ss6624a1
[8]
JOHNSTON, Robert. Historical abortion statistics, England and Wales (UK). Last
updated 22 October 2017. Internet, http://www.johnstonsarchive.net/policy/abortion/uk/ab-ukenglandwales.html
[9]
Estudos sobre Aborto. Estudos Nacionais. Internet,
http://estudosnacionais.com/numeros-na-suecia/
[10]
JOHNSTON, Robert. Historical abortion statistics, Spain. Last updated 25 February
2017. Internet, http://johnstonsarchive.net/policy/abortion/ab-spain.html
[11]
Koch E (2014) Epidemiología del aborto y su prevención en Chile [Epidemiology
of abortion and its prevention in Chile]. Rev Chil Obstet Ginecol 7(5):351-360.
Internet, http://www.revistasochog.cl/files/pdf/EDITORIAL50-e0.pdf
; Koch E, Thorp J, Bravo M, Gatica S, Romero CX, Aguilera H, Ahlers I (2012)
Women's education level, maternal health facilities, abortion legislation and
maternal deaths: a natural experiment in Chile from 1957 to 2007. PLoS ONE
7(5):e36613. DOI:10.1371/journal.pone.0036613. Internet, http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0036613
[12] JOHNSTON,
Robert. Historical abortion statistics, Poland. Last updated 23 February 2017. Internet, http://johnstonsarchive.net/policy/abortion/ab-poland.html
[13] Gissler, M., et. al.,
“Pregnancy-associated deaths in Finland 1987-1994 — definition problems and
benefits of record linkage,” Acta Obsetricia et Gynecolgica
Scandinavica 76:651-657 (1997).