quinta-feira, 8 de março de 2018

A LEI, de Hipócrates

A LEI , DE HIPÓCRATES

1. A medicina é a mais notável de todas as artes, mas no momento, por ignorância dos que a praticam e daqueles que julgam tais pessoas de forma irrefletida, está em posição muito inferior a todas as demais artes. A causa do erro de julgamento parece-me ser fundamentalmente a seguinte: a única penalidade em assuntos médicos, nas cidades, está limitada a nada além da má-reputação; e isso não afeta aqueles que estão a ela vinculados. Tais pessoas são muito parecidas com os figurantes que se apresentam nas tragédias: da mesma forma que têm postura, traje e máscara de ator, mas não são atores, há também muitos médicos de nome, mas poucos de fato.


2. Pois é necessário, a quem quer que pretenda reunir conhecimentos sólidos de medicina, alcançar o seguinte: disposição natural, ensino, lugar favorável, aprendizado desde a infância, dedicação ao trabalho, tempo. De todas as coisas necessárias, a primeira é a disposição natural; se a disposição natural se opõe, todas as (outras) coisas são vazias; quando a disposição natural leva ao melhor caminho, o ensino da arte acontece. Ela deve ser obtida com reflexão, desenvolvendo-se desde a infância em local favorável ao aprendizado; (deve-se), ainda, acrescentar a dedicação ao trabalho durante longo tempo, de modo que o aprendizado, (uma vez) implantado adequada e vigorosamente, produza frutos.

3. O aprendizado da medicina é semelhante à contemplação do crescimento dos frutos na terra: nossa disposição natural é como a terra; as doutrinas dos que ensinam, como as sementes; os aprendizados desde a infância, o cair delas, no tempo devido, na terra laborada; o lugar onde se dá aprendizado, como o alimento que vem do ar ambiente para o desenvolvimento delas; o amor ao trabalho, (como) o cuidado diário. O tempo fortifica todas essas coisas, para que sejam nutridas por completo.

4. Isso é o que devemos introduzir na arte da medicina para que, depois de termos adquirido completo conhecimento dela, durante as idas e vindas pelas cidades, sejamos considerados médicos não somente de nome, mas de fato. A inexperiência, mau tesouro e mau espólio para aqueles que a têm, em sono ou vigília, não compartilha da alegria e da tranqüilidade, e alimenta a covardia e o atrevimento. Pois a covardia assinala a falta de capacidade; o atrevimento, a falta de perícia. São duas coisas (distintas), portanto, a ciência e a opinião: uma produz saber e a outra, ignorância.


5. As coisas sagradas são reveladas aos homens sagrados; às pessoas comuns (isso) não é permitido, antes de serem iniciadas nos mistérios da ciência. 




ΝΟΜΟΣ

I. Ἰητρικὴ τεχνέων μὲν πασέων ἐστὶν ἐπιφανεστάτη· διὰ δὲ ἀμαθίην τῶν τε χρεωμένων αὐτῇ, καὶ τῶν εἰκῆ τοὺς τοιούσδε κρινόντων, πολύ τι πασέων ἤδη τῶν τεχνέων ἀπολείπεται. ἡ δὲ τῶνδε ἁμαρτὰς μάλιστά μοι δοκεῖ ἔχειν αἰτίην τοιήνδε· πρόστιμον γὰρ ἰητρικῆς μούνης ἐν τῇσι πόλεσιν οὐδὲν ὥρισται, πλὴν ἀδοξίης· αὕτη δὲ οὐ τιτρώσκει τοὺς ἐξ αὐτῆς συγκειμένους. ὁμοιότατοι γάρ εἰσιν οἱ τοιοίδε τοῖσι παρεισαγομένοισι προσώποισιν ἐν τῇσι τραγῳδίῃσιν· ὡς γὰρ ἐκεῖνοι σχῆμα μὲν καὶ στολὴν καὶ πρόσωπον ὑποκριτοῦ ἔχουσιν, οὐκ εἰσὶν δὲ ὑποκριταί, οὕτω καὶ οἱ ἰητροί, φήμῃ μὲν πολλοί, ἔργῳ δὲ πάγχυ βαιοί.

II. Χρὴ γάρ, ὅστις μέλλει ἰητρικῆς σύνεσιν ἀτρεκέως ἁρμόζεσθαι, τῶνδέ μιν ἐπήβολον γενέσθαι· φύσιος· διδασκαλίης· τόπου εὐφυέος· παιδομαθίης· φιλοπονίης· χρόνου. πρῶτον μὲν οὖν πάντων δεῖ φύσιος· φύσιος γὰρ ἀντιπρησσούσης κενεὰ πάντα·  φύσιος δὲ ἐς τὸ ἄριστον ὁδηγεούσης, διδασκαλίη τέχνης γίνεται· ἣν μετὰ φρονήσιος δεῖ περιποιήσασθαι, παιδομαθέα γενόμενον ἐν τόπῳ ὁκοῖος εὐφυὴς πρὸς μάθησιν ἔσται·  ἔτι δὲ φιλοπονίην προσενέγκασθαι ἐς χρόνον πολύν, ὅκως ἡ μάθησις ἐμφυσιωθεῖσα δεξιῶς τε καὶ εὐαλδέως τοὺς καρποὺς ἐξενέγκηται.

III. Ὁκοίη γὰρ τῶν ἐν γῇ φυομένων θεωρίη, τοιήδε καὶ τῆς ἰητρικῆς ἡ μάθησις. ἡ μὲν γὰρ φύσις ἡμέων ὁκοῖον ἡ χώρη· τὰ δὲ δόγματα τῶν διδασκόντων ὁκοῖον τὰ σπέρματα· ἡ δὲ παιδομαθίη, τὸ καθ᾿ ὥρην αὐτὰ πεσεῖν ἐς τὴν ἄρουραν· ὁ δὲ τόπος ἐν ᾧ ἡ μάθησις, ὁκοῖον ἡ ἐκ τοῦ περιέχοντος ἠέρος τροφὴ γιγνομένη τοῖσι φυομένοισιν. ἡ δὲ φιλοπονίη, ἐργασίη· ὁ δὲ χρόνος ταῦτα ἐνισχύει πάντα, † ὡς τραφῆναι τελέως.

IV. Ταῦτα ὦν χρὴ † ἐς τὴν ἰητρικὴν τέχνην ἐσενεγκαμένους, καὶ ἀτρεκέως αὐτῆς γνῶσιν λαβόντας, οὕτως ἀνὰ τὰς πόλιας φοιτεῦντας, μὴ λόγῳ μοῦνον, ἀλλὰ καὶ ἔργῳ ἰητροὺς νομίζεσθαι. ἡ δὲ ἀπειρίη, κακὸς θησαυρὸς καὶ κακὸν κειμήλιον τοῖσιν ἔχουσιν αὐτήν, καὶ ὄναρ καὶ ὕπαρ, εὐθυμίης τε καὶ εὐφροσύνης ἄμοιρος, δειλίης τε καὶ θρασύτητος τιθήνη. δειλίη μὲν γὰρ ἀδυναμίην σημαίνει· θρασύτης δὲ ἀτεχνίην. δύο γάρ, ἐπιστήμη τε καὶ δόξα, ὧν τὸ μὲν ἐπίστασθαι ποιεῖ, τὸ δὲ ἀγνοεῖν.

V. Τὰ δὲ ἱερὰ ἐόντα πρήγματα ἱεροῖσιν ἀνθρώποισι δείκνυται· βεβήλοισι δὲ οὐ θέμις, πρὶν ἢ τελεσθῶσιν ὀργίοισιν ἐπιστήμης.



HippocratesPrognostic. Regimen in Acute Diseases. The Sacred Disease. The Art. Breaths. Law. Decorum. Physician (Ch. 1). Dentition. Translated by W. H. S. JonesLoeb Classical Library 148. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1923.
CAIRUS, Henrique F.; RIBEIRO Jr., Wilson A. Textos Hipocráticos. O Doente, o Médico e a Doença. Coleção História & Saúde. Clássicos & Fontes. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.