terça-feira, 17 de novembro de 2015

Programação da Oficina de Formação Política

Oficina de Formação Política - III Seminário de Humanidades Médicas do UNESC e I Seminário de Humanidades Médicas da UFES



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Profa. Márcia de Cássia Cassimiro: palestrante do Seminário de Humanidades Médicas

Dignidade humana e conflito de interesses nos ensaios clínicos na obra "O Fiel Jardineiro”




Capes Split PhD Scholarships Program, 2015 (Bolsista Capes no Programa de Doutorado Sanduíche na Europa). Doutoranda em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Área de concentração: ética e Filosofia Política, Linha de pesquisa: fundamentação da Ética. 

Membro dos seguintes grupos de pesquisas: Filosofia e Interdisciplinaridade, e Filosofia Sistemática: dialética e Filosofia do Direito, ambos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Pesquisadora Visitante do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa (2015). Mestre em Saúde Coletiva, pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ/IESC (2010). 

Servidora Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ), lotada na Vice Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Instituto Oswaldo Cruz-IOC/FIOCRUZ. 

Docente e Coordenadora da Disciplina Bioética, em diversos Programas de Pós-Graduação Stricto sensu e do Curso Técnico de Nível Médio em Biotecnologia (CTB/IOC/Fiocruz). 

Membro do Grupo de Trabalho (GT) Biobanco da Fiocruz (Portaria n° 1228/2014-PR, de 07.11.2014). 

De maio a novembro de 2011, com bolsa concedida pela UNESCO cursou o VI Curso de Ética de la Investigación en Seres Humanos, do Programa de Educación Permanente en Bioética, da Redbioética UNESCO. 

Áreas de Interesse: Bioética; Integridade Científica; Política científica; Ética em Pesquisa com Seres Humanos. 

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

THE HEART OF A TRUE PHYSICIAN

Religião, Virtude e Medicina: meditações na Carta aos Romanos para Médicos

A convite do Programa de Humanidades Médicas estarei em fevereiro na Universidade de Baylor no Texas, Estados Unidos, tratando da essência do que é ser médico.

Saiba mais sobre o Programa de Humanidades Médicas da Baylor em: http://www.baylor.edu/medical_humanities/ 

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Entrevista

A Importância das Humanidades Médicas na Formação do Médico

Entrevista cedida a Davi Vieira, do Grupo de Estudos em Humanidades Médicas John Locke, da PUC-SP.



GELocke: Em primeiro lugar, nós do GELocke gostaríamos de agradecê-lo por aceitar nosso convite para esta entrevista. Como surgiu o seu interesse pelas Humanidades Médicas, e o que o fez criar o Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina?
Obrigado pelo convite!
O interesse nas Humanidades Médicas surgiu por uma confluência de diversos fatores.
Primeiro, começava a travar na época um contato mais próximo com meus pacientes, durante a residência, e assumia responsabilidades maiores pelo próximo, o que sempre estimula a maior reflexão.
À época, também conheci a obra filosófica de Olavo de Carvalho, que despertou o interesse pela área de Humanidades e me levou ao estudo de diversos outros filósofos e campos do saber, incluindo história, ética, psicologia, teologia e literatura.
Fortalecer minha fé também permitiu questionar com profundidade o sentido de minha profissão e o quão importante e valoroso era buscar o significado de tudo o que fazia, para mim e para o paciente que necessita de auxílio.
No decorrer dos estudos humanísticos, que se iniciaram aproximadamente em 2004, tive a oportunidade de ler Platão, Aristóteles, Hipócrates, Louis Lavelle, Diego Gracia, Xavier Zubiri, Eric Voegelin, Mário Ferreira dos Santos, Agostinho, João Calvino, Tomás de Aquino, José Ortega y Gasset, Pedro Lain Entralgo, Julián Marías, Viktor Frankl e vários outros.
Conforme estudava e vivia a prática médica, também percebi a falta que os estudos humanísticos de qualidade faziam à medicina. Quando muito, o acadêmico (inclusive eu em minha graduação) recebia o que agora denomino “marmita sociológica pop pseudointelectual”, uma vulgarização do que deveria ser o conhecimento humanístico, uma peça ideológica muito longe da verdadeira reflexão filosófica.
Em 2012, na qualidade de professor de medicina, resolvi fazer minha parte para mudar o cenário e montei o SEFAM (Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina). Meu objetivo era partilhar o que aprendera e prosseguir na busca de conhecimentos humanísticos úteis aos médicos e aos pacientes. Desde então sonho em formar novos estudiosos, novos médicos com bagagem cultural suficiente para trilharem seus próprios caminhos e enriquecerem a cultura médica em novas direções sem perderem suas raízes milenares.
Foi no SEFAM que comecei também a aprofundar os estudos na obra de Edmund Pellegrino - o pai da Ética Médica contemporânea, quase que completamente desconhecido no Brasil – e dos originais hipocráticos, iniciando uma de minhas linhas de pesquisa.
Como metodologia para o SEFAM, utilizei a Teoria Aristotélica dos Quatro Discursos elaborada por Olavo de Carvalho, iniciando com a formação cultural geral e literária, avançando pela retórica e pelas regras de argumentação, para enfim exercitar a dialética e a lógica, afinando o discurso e o pensamento durante dois ou mais anos. O SEFAM também trata de diversos outros assuntos, e é um pouco imprevisível na medida em que abordamos temas de interesse dos participantes. Podemos começar falando de metafísica aristotélica e terminar em economia, política e saúde, por exemplo.
Desde o começo, a grande preocupação era agregar pessoas verdadeiramente interessadas em crescer, refletir e aprender. Jamais foram enfatizados títulos, notas ou certificados. Felizmente tais pessoas motivadas apareceram e, embora poucas, tenho certeza que brilharão no futuro e, se Deus quiser, serão muito melhores do que consegui ser.
Hoje o SEFAM caminha bem, com um livro publicado (A Morte da Medicina), um trabalho premiado em Congresso Brasileiro e diversos outros apresentados em congressos de nível nacional e internacional, artigos acadêmicos publicados em revistas nacionais e internacionais, um segundo livro em edição e mais dois em elaboração, três iniciações científicas concluídas e dois convites para palestrar nos Estados Unidos e aumentar o intercâmbio cultural. Também estamos na terceira edição do Seminário UNESC de Humanidades Médicas e este ano ajudamos a organizar o I Seminário UFES de Humanidades Médicas. Com menos de quatro anos de existência o SEFAM foi muito mais longe do que eu pensava. E o melhor de tudo: estamos perto de concluir o ciclo de uma segunda turma do SEFAM!

GELocke: Qual é a importância das Humanidades na formação do médico?
A Medicina é uma maravilhosa Arte. Como toda arte, produz algo único, assim como é único cada ser humano e cada situação que vive. Mas a Medicina também utiliza a ciência e a tecnologia, amparada pela evidência estatística. Essa combinação só é eficaz se somarmos a experiência e prudência de um agente humano. Nenhum desses componentes pode faltar.
O médico precisa da ciência e da tecnologia para tratar com eficiência. E precisa das humanidades para ser ele mesmo um agente terapêutico, para gerar o famoso efeito placebo do médico. Precisa também das humanidades para se comunicar de forma eficaz e para sentir na pele o que o paciente sente, ter a tão necessária empatia que vem com a experiência de vida e com o caráter virtuoso.
É curioso notar que, ao longo da história, quando o médico mais cuidou de seu lado humanístico e, entenda-se, da ética profissional, de seu próprio caráter e de sua excelência, ele gerou maior confiança e satisfação em seus pacientes.
Por outro lado, mesmo dotada de incríveis aparatos tecnológicos e estatísticas extremamente complexas unidas à metodologia de pesquisa, a medicina contemporânea falha em satisfazer o paciente.
Medica-se! Porém não se “cuida” do paciente e, às vezes, nem de si mesmo.
As Humanidades Médicas complementam a Arte Médica. Dão profundidade, experiência, riqueza de emoções, compreensão e comunicação ao médico. E acima de tudo, potencializam o bem que pode ser feito ao paciente em necessidade.
E é claro que estudar humanidades é algo divertido, um fim em si mesmo. Como não apreciar a leitura dos clássicos? Como não se surpreender com os efeitos terapêuticos da música de qualidade em nosso espírito? Como não encher os olhos e a mente com a boa pintura? Como não meditar na profundeza das Escrituras e dos textos filosóficos?

GELocke: O nosso grupo tem como patrono o filósofo inglês John Locke. O que pensa a respeito de Locke e da tradição liberal britânica?
O pouco que sei disso deriva principalmente da obra de Roger Scruton, e de alguns volumes de história da filosofia (Giovanni Reale, Frederick Copleston, Olavo de Carvalho e Julián Marías). Julgo que ainda não estudei o suficiente para opinar a respeito de John Locke (não li seus livros) e da tradição liberal britânica com qualidade, embora a princípio não concorde com a idéia de não termos idéias inatas e considere que o liberalismo funciona muito bem somente quando se tem valores culturais bem estabelecidos e de boa qualidade.

GELocke: Recentemente, realizamos nosso primeiro evento, o I Ciclo de Palestras "Bioética".  Qual é a importância da Bioética, e quais são os tópicos que mais despertam o seu interesse na área?
Em primeiro lugar é importante ressaltar que não podemos falar da Bioética, mas de muitas bioéticas, com muitas ênfases e muitas perspectivas. Temos escolas de pensamento utilitaristas, escolas baseadas em princípios ou virtudes, escolas secularistas ou religiosas, escolas liberais ou marxistas, escolas feministas etc.
A Ética Médica é uma forma de bioética especializada. Mas também gostaria de lembrar que o termo bioética ganhou destaque há menos de meio século, enquanto que a Ética Médica já é discutida há mais de dois milênios.
Os temas que despertam meu interesse em bioética incluem o valor da vida humana e sua dignidade, o aborto e a eutanásia, a história da ética médica e da medicina ao longo dos séculos, a filosofia da medicina e a teologia aplicadas a questões éticas e a interface entre política, cultura e saúde. Por gostar de Medicina Baseada em Evidências e fazer parte de um Comitê de Ética em Pesquisa, acabo lidando também com Filosofia da Ciência, Metodologia Científica e Ética em Pesquisa, assuntos extremamente interessantes e importantes.

GELocke: Para maior aprofundamento nos tópicos relacionados à Bioética, quais leituras o senhor sugere?
Há enciclopédias, manuais e tratados de grande abrangência, e há livros sobre temas específicos. Depende muito do que se busca.
O primeiro conselho que posso dar é ir às fontes. Ler artigos é necessário, mas sem bagagem cultural e muitos livros, nada feito.
Quer saber como Edmund Pellegrino abordou a ética em saúde? Leia os livros de Pellegrino e tire suas conclusões.
Quer tecer críticas a respeito do principialismo? Leia os Princípios de Ética Biomédica e assista aos cursos online da Georgetown University (principalmente as aulas do Beauchamp).
Quer saber o que os religiosos pensam a respeito da Bioética? Leia Fundamentos da Bioética Cristã Ortodoxa (Tristram Engelhardt), Ética Cristã (Norman Geisler), a série publicada pela Editora Cultura Cristã e os dois volumes do Manual de Bioética (Elio Sgreccia). Isso só para falar dos Cristãos, sem tocar na Bioética judaica, islâmica ou oriental.
Quer entender a Ética Médica tradicional? Leia Hipócrates, Galeno, William Osler, Thomas Percival e outros antigos, medievais, modernos e contemporâneos de destaque.
Quer descobrir a fantástica trajetória da bioética e da Ética Médica? Leia Diego Gracia e Albert Jonsen.
E se alguém deseja abordar um problema, pesquise opiniões, artigos e livros de várias perspectivas, contrárias e favoráveis. Deixe correr um pouco de tempo enquanto acumula diferentes experiências e conhecimentos. In tempus veritas. Abstenha-se de emitir opiniões por um tempo enquanto ganha profundidade. Mantenha-se informado: a realidade e a experiência concreta das pessoas envolvidas é crucial. Para sair o meu primeiro artigo de bioética e meu primeiro livro foram quase dez anos de estudo sobre um tema; e ainda acho que poderia ter estudado mais.
Edmund Pellegrino dava outra dica importante. Não há como estudar Bioética sem estudar as Humanidades Médicas. E não há como estudar Humanidades sem apelar à Filosofia. E como compreender o ser humano sem compreender sua fé, seus valores, sua cosmovisão? Como consolar sem saber qual o sentido da existência de seu paciente? O bom médico que pretende refletir sobre a vida humana e a bioética apelará inclusive para a sabedoria dos textos sagrados e da Teologia.
Não há atalho. Há somente a perspectiva de uma vida de busca e intensos estudos.

GELocke: Nesse mesmo evento, uma das palestras tratou da teologia asclepíade em Hipócrates. Qual é a relevância de Hipócrates na história da medicina, e como seus ensinamentos ecoam na medicina contemporânea?
Hipócrates foi uma figura de grande carisma que nomeou toda uma escola incluindo uma linhagem de médicos que herdaram concepções religiosas de Pitágoras. Na extensa obra assinada com seu nome são demonstrados os fundamentos morais da Medicina - que considera o ser humano digno – e a busca pela virtude pessoal. Há um compromisso pessoal com a busca por uma vida compatível com tão nobre missão. É com a escola hipocrática e sua descendência também que o médico surge como profissional (professando valores), destacado do ofício religioso propriamente dito, porém sem tornar-se destituído do sentimento religioso.
A ética hipocrática é tão rica e possui elementos tão universais que foi inclusive absorvida pela cristandade primitiva e medieval.
Obviamente é necessária uma contextualização de qualquer ética prévia. Os tempos mudam sempre, com suas tecnologias e ciências, mas seu elemento de universalidade e seu conteúdo humanístico persiste, e permite ao estudioso ler Hipócrates e obter insights valorosos para a prática médica contemporânea.
GELocke: Muitíssimo obrigado, professor!

Novamente agradeço o convite. Sucesso a todos vocês, e não desistam de lutar por uma Medicina cada vez mais completa, mais científica e mais humana!