terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Precisamos mesmo de falar sobre quem fala do Olavo de Carvalho?

Da arte de difamar e menosprezar o melhor...


Foto de Matheus Bazzo Malgarise - Permissão de Josias Teófilo

Se há algo cansativo no ambiente letrado – ou pseudoletrado – do Brasil é a difamação contra os melhores.

Exemplo mais que repetido é o que se faz contra o filósofo (filósofo sim), professor e escritor Olavo de Carvalho.

O filósofo Olavo reúne uma plêiade caricatural e tenebrosa de ex-alunos e de acadêmicos diplomados que não param de prestar-lhe atenção a todos os movimentos, dispostos ao ataque no mais simples deslize ou mal-entendido. Os professores e grandes pesquisadores já o deixaram em paz há anos, após terem se escaldado na água fervente de sua crítica cultural em obras essenciais para o Brasil como O Imbecil Coletivo I e II e O Mínimo. Porém, agora é a vez dos miúdos, que atacam sem a cautela dos grandes, e com menos vergonha também.

Um texto que repete a fórmula foi publicado na revista Colombo pelo economista Joel Pinheiro, que destaca alguns trechos de sua escolha para representar seu material (http://www.cafecolombo.com.br/ideias/precisamos-falar-sobre-olavo-de-carvalho/). O autor direciona sua mira também aos alunos e amigos do filósofo brasileiro radicado na Virgínia.

Solicitado a traçar um perfil, Joel respondera que este seria crítico. Mas creio que o significado da palavra crítico não foi bem compreendido pelo editor. O perfil foi, ao que parece pelos trechos selecionados, uma difamação pura e simplesmente, e não somente contra Olavo de Carvalho, mas também contra os seus alunos, entre os quais felizmente tenho a pretensão de me incluir.

Alguns trechos foram destacados pelo próprio autor, divulgando sua publicação na revista. Ofereço um contraponto baseado numa simples e concreta realidade: estudo a obra do Olavo há doze anos e faço seu curso online desde o início. Li praticamente tudo o que ele publicou nesse período, conheço seus alunos pelos resultados mostrados e, alguns, diretamente por meio de laços acadêmicos, de respeito ou de amizade.

Sei o que sou e sei do que e de quem falo em meu contexto. Coisa que não posso afirmar do Joel, de quem pouco sei. Mas o assunto não é Joel. O assunto é Olavo e os alunos de Olavo.


“Diante de tal cenário [dominação da América Latina pelo comunismo], Olavo propõe uma solução clara e consistente: um golpe militar para extirpar a esquerda do poder. Embora já tenha clamado pelo golpe nas redes sociais, prefere instruir seus seguidores a agirem com discrição e arquitetarem a intervenção por trás dos panos, junto às Forças Armadas. Felizmente, ninguém que o leva a sério parece ter muita influência nos centros de poder. ”


Olavo nunca propôs golpe militar algum. Como todo bom filósofo deveria fazer, ele por diversas vezes listou pontos contrários e favoráveis a tal medida e, inclusive, reuniu ofensas contra si mesmo por parte de alguns alunos intervencionistas quando criticou a avidez com que alguns desejavam jogar nas costas dos militares o dever de “salvar” o Brasil.

A medida sempre defendida pelo filósofo foi a de criar uma nova elite cultural, sábia, responsável e profundamente amparada pelo estudo, pela produção de alta qualidade e pela maturidade.

Sobre extirpar algo do poder, há sim uma pretensão: extirpar o monopólio esquerdista do poder político e cultural. Se muitas críticas são feitas à esquerda, qualquer informado com o mínimo aceitável de dados para ousar escrever um perfil deveria saber que muitas outras críticas são tecidas aos liberais e conservadores brasileiros. E extirpar o monopólio esquerdista é algo tremendamente diferente de extirpar a presença da esquerda!

Conselhos foram dados sim para inúmeras pessoas sobre inúmeros assuntos. Um conselho confirmado pelo próprio Olavo de forma explícita era o de que liberais deveriam ter se aproximado dos militares. Quem deveria escutar não escutou, e o que temos é a esquerda se esforçando para influenciar, cooptar e usar os militares brasileiros enquanto os liberais não querem se “misturar”.


“Estou convencido de que, na atuação de Olavo, a forma é mais importante que o conteúdo, e chega mesmo a substituí-lo. Olavo vende com maestria a imagem de sábio e de bravo defensor do bem para jovens sedentos de certezas. E, com a confiança que nele depositam, leva-os pela mão a seu mundo mental particular. ”


Algo escrito nas entrelinhas não cheira bem. Se alguém acusa Olavo de vender uma imagem, está implicitamente deixando a pista de que ele nada é do que afirma ser ou vende. Então, em uma pequena frase, temos as acusações de que Olavo é imprudente, falsário (apenas aparência, sem conteúdo) e maligno, além de possivelmente ser um aproveitador de jovens sedentos de certezas.

É engraçado notar alguns nomes entre os jovens cheios de incertezas, citados como leitores, admiradores e seguidores pelo próprio Joel: Reinaldo Azevedo, Felipe Moura Brasil, Rodrigo Constantino, Bruno Garschagen, Flavio Morgenstern, Rodrigo Gurgel, Martim Vasques da Cunha, Lobão, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e Padre Paulo Ricardo. É claro que a alcunha de jovens cheios de incertezas pode até ser lisonjeira para alguns desses experientes senhores repletos de cabelos brancos – ou carecas - e, em alguns casos, pais de família. Afinal, os pobres e imaturos citados são apenas escritores experientes, editores, economistas, cientistas políticos, críticos literários, músicos da “velha guarda” do rock brasileiro, políticos bem conhecidos e um sacerdote católico experiente com formação na Universidade Gregoriana do Vaticano.

Eu mesmo - pai de família, médico, presbítero, pesquisador, professor e gestor em educação médica – estaria incluído na lista de jovens inexperientes? Agradeço pelo jovem, e até mesmo pelo inexperiente, se isso significar alguém disposto a aprender com a experiência até o último suspiro.

Experiente, idoso e sábio mesmo deve ser o Joel, certo? Afinal, julga cientistas, escritores, sacerdotes e políticos com um ar repleto de nobre condescendência.

Em relação a ser fonte de certezas, após mais de meia década de aulas e uma década de leitura e pesquisa de seus livros e artigos, posso dizer que escutei muito mais a afirmação “não sei” do que respostas definitivas vindas do Olavo. E quando escutei respostas, provisórias ou definitivas, estas vieram classificadas conforme sua teoria aristotélica dos quatro discursos, graduadas de acordo com a credibilidade e o nível de certeza. Algo bem distante do perfil difamatório traçado na revista Colombo.

Foto de Matheus Bazzo Malgarise - Permissão de Josias Teófilo

Por fim, posso concordar que Olavo realmente conduziu muitos ao seu “mundo mental particular”, se por esse termo entende-se a explicitação de toda uma cosmovisão. Aliás, Olavo não possui mundo mental público! O Joel possui? Ou considera que o mundo particular mental de Joel é melhor do que o do Olavo? Não sei. Prefiro deixar para lá, dada a irrelevância de tal assunto “joelístico” para meu crescimento pessoal e considerando a amostra de seu mundo mental exposta na Revista Colombo. O fato é que toda a interação humana inclui o encontro entre mundos mentais, e que bom o Olavo disponibilizar o seu.


“O olavismo é um simulacro de religião que segrega seus adeptos do mundo. Uma “religião” que é parasitária do cristianismo por ele pregado, e em especial do catolicismo, mas que poderia facilmente se moldar a outros credos. Todos os possíveis pontos de contato com visões diferentes são neutralizados.”


Não vejo, entre os nomes de jovens inexperientes já citados, pessoas desligadas do mundo. Vejo cientistas políticos concluindo doutorados internacionais, colunistas de revistas de circulação nacional, críticos literários que participaram de bancas julgadoras em eventos internacionalmente reconhecidos e religiosos de grande repercussão.

E, pessoalmente, depois do estudo facilitado pela obra do Olavo, não posso afirmar que fiquei segregado. Pelo contrário. Participei de congressos nacionais e internacionais, fui reconhecido e premiado pelo meu trabalho, tornei-me diretor editorial de uma revista internacional, conheci acadêmicos, pesquisadores e professores do mundo inteiro, fui chamado a uma palestra nos Estados Unidos e fui escolhido para participar de uma iniciativa global em Bioética. Se isso é ser segregado do mundo, até canso em pensar o que seria ser “inserido” no mundo. Talvez o tecedor de perfis possa mostrar como é alguém superexposto, engajado e inserido para nossa iluminação, certo? Seria escrever um perfil difamatório na jovem revista Colombo o critério suficiente para o atestado de não alienação frente ao mundo? Ou na ainda jovem e interessante Dicta & Contradicta? A ausência de critérios nos leva a especular...

Sobre neutralização de perspectivas discordantes, tenho que discordar novamente. Vários de seus alunos discordam em pontos cruciais do que escutam, e nem por isso o diálogo e a aprendizagem são impedidos. Aliás, o ambiente filosófico criado raramente “neutraliza” alguém. Os poucos que foram retirados do curso (lembro de dois casos em mais de cinco anos em meio a milhares de alunos) demonstraram previamente uma falta de sinceridade e de caráter comprometedora. E os demais que saíram o fizeram por conta própria, muitas vezes tendo entrado com segundas intenções.

Eu mesmo, cristão protestante reformado, tenho minhas diferenças teológicas e discordâncias em relação ao que escuto, mas não vejo em que isso impossibilitaria uma produtiva relação de aprendizagem e amizade com o filósofo Olavo de Carvalho ou em que isso diminui o valor do conhecimento adquirido. Outros, como o genial Fábio Salgado de Carvalho, nutriram discussões metafísicas e metodológicas importantes e foram, inclusive, citados elogiosamente pelo professor, mesmo em discordância.

Sobre existir um fenômeno chamado olavismo, e tal fenômeno ser um simulacro de religião, pouco entendi. Faltaram na vulgar afirmação definições mais precisas para que alguém ouse entender melhor e tente responder (quem sabe não encontro no perfil completo quando chegar a Revista Colombo?). 

Se olavismo for estudar com Olavo de Carvalho, aí sim é algo real. Mas religião? Improvável. E se for uma deturpação alheia do que na realidade Olavo faz, não caberia ser citado de tal forma num perfil.


“Tudo em Olavo leva o aluno a se aferrar na autoridade e importância do mestre. Olavo destrói a autoestima de seus seguidores, substituindo-a pela devoção à sua pessoa. A dependência pessoal, a confiança exacerbada, a aniquilação do senso crítico em favor de uma visão supostamente mais profunda, o cultivo da admiração embasbacada. Em cada um deles, uma só conclusão: Olavo é o único canal seguro de contato com a realidade. E por isso a defesa tão aguerrida de seus seguidores. Se Olavo cair, isto é, se ficar patente que ele não é esse grande luminar do pensamento que lhes foi vendido, cairá o mundo dos discípulos.”


Joel confunde admiração e amizade pelo professor com devoção. Em relação à baixa autoestima, novamente incorre em terrível imprecisão. Depois que estudei com o Olavo, ganhei coragem para entrar no campo interdisciplinar de pesquisa e obtive todas as conquistas já descritas. Se ganhei algo, foi coragem, curiosidade e reconhecimento. E tudo foi feito sem nenhuma permissão ou orientação direta do Olavo, que à época mal sabia de minha existência; sou apenas um entre muitos alunos do curso online que nunca o viram pessoalmente, tampouco receberam orientação estratégica ou intelectual personalizada, mas que nutrem um cordial sentimento de amizade.

O desfile de mentiras sem fundamentação nos pequenos excertos selecionados pelo autor é grande, porém denota até certa criatividade ao imaginar um terrível guru opressor que instiga em seus “discípulos” (termo que gera particular aversão ao próprio Olavo): “a dependência pessoal, a confiança exacerbada, a aniquilação do senso crítico em favor de uma visão supostamente mais profunda, o cultivo da admiração embasbacada...”

Joel conclui que, para os alunos do Olavo, “Olavo é o único canal seguro de contato com a realidade”. Com a liberdade da expressão e autoridade de aluno, só posso responder uma coisa: mentirinha cabeluda, hein?

Sobre a pretensão de ser um “único canal seguro”, só posso afirmar que Olavo é ótimo em apresentar outros filósofos e escritores de peso para seus alunos e em ampliar formidavelmente o leque de influências. Onde mais alguém escutaria indicações elogiosas de filósofos, teólogos e escritores protestantes (Abraham Kuyper e Dooyeweerd), católicos (Tomás de Aquino, Bernard Lonergan e muitos, muitos outros), muçulmanos, seculares etc.

Se há alguém no Brasil que foi responsável por iniciar uma revolução editorial e refrescar com novos ares e múltiplas influências o embolorado ambiente intelectual brasileiro, esse alguém foi o Olavo.

Se, de acordo com Joel, Olavo cair, seja lá o que isso quer dizer, ficará comprovado o que o próprio Olavo afirma repetidamente: ele é apenas um ser humano, falho em diversos pontos, assim como eu ou até mesmo o tecedor de perfis, Joel Pinheiro. O mundo continua e, como já escutei em uma das aulas do Seminário de Filosofia, “um grande conforto é saber que se eu desaparecer de uma hora para outra, o mundo seguirá seu curso normalmente. ”

Sobre ser defendido de forma tão aguerrida por seus alunos e amigos – seguidores é uma palavra que beira um recurso erístico do tipo “rotulação odiosa” e nada acrescenta de útil ao perfil -, a razão é clara: ele ofereceu muito conhecimento de grande valor a muita gente. Pessoalmente, posso afirmar que o sentimento de gratidão e amizade pelo ensino e pelo incentivo recebido para o ingresso na vida intelectual geraram um profundo sentimento de respeito e uma vontade, aguerrida sim, de defendê-lo contra a injusta malícia alheia.

Isso não me torna um seguidor, um fanático ou qualquer outra coisa que caiba em perfis difamatórios, isso atesta que reconheço um benefício recebido.


“Quem quiser ler o resto, é só comprar a Revista Café Colombo. Não se decepcionará. ”


Fiz o que o editor da Revista Colombo provavelmente queria com a publicação do perfil, comprei um volume. Nada mais justo do que ler na íntegra o tal perfil e torcer para que seja muito melhor do que a seleção de trechos indicada pelo seu autor. Se algo de conteúdo aparecer, prometo escrever mais sobre o tema.

Espero ser a primeira e última vez que compro a Revista Colombo.

Primeira vez por um mórbido desejo de ver onde mais a difamação pode alcançar (talvez nutrido pela inclinação de estudar processos patológicos natural a um médico) e pelo sentimento de obrigação em defender a honra de um filósofo, pai de família, benfeitor e professor. Última vez pela constatação de que revistas que publicam perfis sensacionalistas e difamatórios não devem prosperar num ambiente decente. Mas, enfim, quem disse que nosso Brasil de hoje é decente?

Ah, antes que eu esqueça. Precisamos mesmo falar de quem fala do Olavo? Que canseira, não precisamos não!

Sei que o Joel é economista de estirpe liberal e é diplomado pela USP, e sei que escreveu um perfil difamatório sobre o Olavo. Mais não preciso e nem quero saber. Espero que, fora este ato difamatório, seja um bom moço e que alcance sucesso produzindo coisas melhores e mais dignas. E falemos de coisas mais importantes, certo?

Acredito que até mesmo o Olavo de Carvalho concordaria comigo e diria que é muito mais desafiador e intrigante escrever sobre filosofia, biografias de santos e/ou heróis e literatura de boa qualidade do que traçar perfis desta categoria sobre este ou aquele professor ou aluno.

Deixo somente uma recomendação final: se gostam de biografias e perfis de boa qualidade, prestem atenção a um projeto que promete muito: o documentário Jardim das Aflições. Será sobre a vida e obra do filósofo Olavo de Carvalho e está em produção nas mãos competentes de cineastas e entrevistadores profissionais. Possui uma qualidade quase que singular nesses nossos dias de Lei Rouanet: não utilizou verba pública! Algo que merece louvor até mesmo de um economista liberal como o Joel, não é mesmo?

***

Continuação do texto - após leitura do "perfil crítico" completo na Revista Colombo.

NADA DE NOVO, NADA DE ÚTIL
Escrevi há alguns meses um breve artigo sobre a maledicência contra Olavo de Carvalho.

Foi sobre um perfil difamatório publicado na Revista Colombo. A revista chegou e li o artigo na íntegra. Estava devendo a continuação da crítica.


Nada de novo e nada de útil encontrei após ler tudo. Só reforcei a constatação de que o jovem tecedor de perfis tem a capacidade de distorcer tudo com um olhar incrivelmente malicioso.

A capacidade de enxergar maldades é tão intensa no texto difamatório que eu imagino se, por exemplo, ao ler os quatro Evangelhos, o autor do escrito publicado na revista "cultural" não encontraria mil razões ocultas e malignas para até mesmo Cristo ter feito o que fez.

Por trás de cada atividade do Curso Online de Filosofia, Joel Pinheiro encontrou planos maquiavélicos e intenções escusas. Conseguiu distorcer todo o propósito (causa final) de tudo o que é ou foi feito no curso online, oferecendo explicações totalmente mediocrizantes, desprovidas de empatia ou de sincera busca bem intencionada pela verdade.

Depois é o Olavo quem é adepto da Teoria da Conspiração! (12 de agosto de 2016).

Prof. Dr. Hélio Angotti Neto
Coordenador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Liga de Humanidades Médicas no Natal.

A LIAHM organizou de uma singela ação hoje, no Hospital Maternidade São José, no Setor de Pediatria.

Participaram os alunos Kaique Dadalto, Letícia Dalvi, Alexandre Calasans, Suellen e Pâmela. Ainda hoje farão uma visita ao Orfanato, e já estão organizando ações junto à APAE de Colatina.

Parabéns aos alunos pela bela iniciativa.











Grupo de Estudos em Filosofia Política e Saúde - 1º Vídeo

Grupo de Estudos em Filosofia Política e Saúde - 1º Vídeo: Formas Discursivas


Está disponível a primeira comunicação em vídeo com o Grupo de Estudos em Filosofia Política e Saúde. Sugiro várias leituras de formação do imaginário e de aquisição de ferramentas discursivas básicas para analisar a realidade política.

Àqueles que desejarem participar, não deixem de enviar suas dúvidas e observações acerca das três obras básicas iniciais. Em até três semanas marcamos outro vídeo para responder às perguntas e comentar algo sobre os livros e sua aplicação à política brasileira.





sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Não li, não gostei?


NÃO LI, NÃO GOSTEI?



É incrível como no Brasil, de forma contínua, as pessoas que são referenciais para a cultura (acadêmicos, docentes e autoridades diversas) se erguem e dizem, sem a menor vergonha na cara, que desprezam ou não gostam de algo que simplesmente nunca leram.

É algo tão comum que passa como opinião válida numa conversa "normal". Coloco normal entre aspas por razões estatísticas, e não por acreditar que a situação seja a adequada.

Eu mesmo escutei uma vez, de alguém que leu somente as quatro páginas iniciais do meu livro A Morte da Medicina, que meus argumentos eram inválidos porque eram religiosos. Claro atestado de que o sujeito, formado na Universidade de Brasília e aspirante a intelectual conforme padrões brasileiros, simplesmente declarava seu preconceito infundado contra algo que nem conhecia. E clara evidência do exército de analfabetos funcionais e desavergonhados que são vomitados de nossas universidades todos os anos.

Não que não tenhamos direito a alguns preconceitos. Certas formas de cautela são indispensáveis para uma vida viável. Mas no campo intelectual, é lamentável que alguém se disponha a emitir opiniões com base em leituras fragmentárias ou parciais, ou com base em absolutamente nenhuma leitura.

Cansei de ver pessoas criticando a esquerda sem ao menos ler livros escritos pela esquerda.

Cansei de ver pessoas, teoricamente cultas, renderem-se à linguagem do politicamente correto e torcerem o nariz ao escutarem que alguém é conservador, mas que nunca em suas vidas leram um livro que descreve o que é ser um conservador nas palavras de alguém que o seja.

Cansei de ver gente criticando autores como Olavo de Carvalho sem ter lido sua obra inteira ou pelo menos uns dois ou três livros (não digo as compilações de artigos jornalísticos - excelentes, por sinal -, mas os livros do tipo "Jardim das Aflições" ou "Aristóteles em Nova Perspectiva").

Alguém poderia até dizer que tais exigências são muito altas. Mas a resposta é que tais exigências são o mínimo para uma categoria de pessoas que ousa afirmar pertencer à casta intelectual de uma sociedade. Isso inclui qualquer professor ou pesquisador. E não é uma questão somente de intelectualidade, é uma questão de caráter, de moral.

Alguém com conhecimento e, portanto, responsabilidade, tem a obrigação moral de emitir opiniões a público muito bem fundamentadas. E, neste caso, o famoso "não li e não gostei" do brasileiro não passa de um grande atestado de falência do caráter daqueles que, pretensamente, seriam as lanternas na vante do Brasil.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Grupo de Estudos em Política e Saúde - Parte 01

Leitura Recomendada: Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos. Autor: Olavo de Carvalho.



A primeira atividade do grupo é o estudo dos quatro discursos e o exercício de sua contextualização nas situações políticas vividas pelos profissionais da saúde.

Considerando que, dentro da tipologia do poder (coercitivo, de troca ou de convicção), a Medicina exerce primariamente e preferencialmente o tipo cultural, por convicção, e que o exercício de tal tipo se dá principalmente por meio da linguagem, há que se ter uma noção mais técnica da linguagem utilizada.

Um resumo da Teoria dos Quatro Discursos na Medicina pode ser visto no breve artigo: Os Quatro Discursos Aristotélicos na Medicina: Ferramentas Educacionais para Médicos[1]. Mas o ideal é que todos leiam o livro indicado na íntegra.[2]

Estabelecerei um tempo para leitura de duas semanas, e depois gravarei uma aula para refletirmos sobre o tema e aplicarmos o conhecimento obtido a situações práticas em política e saúde.
Aproveito para reforçar que a política, adequadamente entendida, é a parte da filosofia que envolve o relacionamento do indivíduo com a sociedade de forma pragmática e universal, sem descartar a moralidade inerente à experiência humana. Logo, não poderemos nos furtar de estudar uma boa dose de filosofia e de história.[3]

Se algum dos participantes quiser gravar uma breve resenha do livro ou escrever um resumo, não deixe de informar, para que compartilhemos com o grupo. Se alguém não recordar o que é tipologia do poder, um breve vídeo poderá ajudar a lembrar: https://www.youtube.com/watch?v=n-mP4U5vPUA 

Durante o estudo, todos os participantes do grupo poderão enviar perguntas que serão lidas e debatidas na gravação da aula. E aos poucos o intercâmbio entre os participantes naturalmente aumentará e a profundidade das análises feitas ganhará em qualidade. Sabendo que não há como fazer algo de qualidade sem tempo, sem paciência e sem estudo, deixo um antigo conselho para o grupo: in tempus veritas.

Abraços e bons estudos a todos.


Hélio Angotti Neto
Coordenador do SEFAM



[3] Cf. WEIL, Eric. Filosofia Política. São Paulo: Edições Loyola, 1990.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015