Da arte de difamar e menosprezar o melhor...
Se há algo cansativo no ambiente
letrado – ou pseudoletrado – do Brasil é a difamação contra os melhores.
Exemplo mais que repetido é o
que se faz contra o filósofo (filósofo sim), professor e escritor Olavo de
Carvalho.
O filósofo Olavo reúne uma
plêiade caricatural e tenebrosa de ex-alunos e de acadêmicos diplomados que não
param de prestar-lhe atenção a todos os movimentos, dispostos ao ataque no mais
simples deslize ou mal-entendido. Os professores e grandes pesquisadores já o
deixaram em paz há anos, após terem se escaldado na água fervente de sua
crítica cultural em obras essenciais para o Brasil como O Imbecil Coletivo I e
II e O Mínimo. Porém, agora é a vez dos miúdos, que atacam sem a cautela dos
grandes, e com menos vergonha também.
Um texto que repete a fórmula
foi publicado na revista Colombo pelo economista Joel Pinheiro, que destaca
alguns trechos de sua escolha para representar seu material (http://www.cafecolombo.com.br/ideias/precisamos-falar-sobre-olavo-de-carvalho/). O
autor direciona sua mira também aos alunos e amigos do filósofo brasileiro
radicado na Virgínia.
Solicitado a traçar um perfil,
Joel respondera que este seria crítico. Mas creio que o significado da palavra
crítico não foi bem compreendido pelo editor. O perfil foi, ao que parece pelos
trechos selecionados, uma difamação pura e simplesmente, e não somente contra
Olavo de Carvalho, mas também contra os seus alunos, entre os quais felizmente tenho
a pretensão de me incluir.
Alguns trechos foram destacados
pelo próprio autor, divulgando sua publicação na revista. Ofereço um
contraponto baseado numa simples e concreta realidade: estudo a obra do Olavo
há doze anos e faço seu curso online desde o início. Li praticamente tudo o que
ele publicou nesse período, conheço seus alunos pelos resultados mostrados e,
alguns, diretamente por meio de laços acadêmicos, de respeito ou de amizade.
Sei o que sou e sei do que e de
quem falo em meu contexto. Coisa que não posso afirmar do Joel, de quem pouco
sei. Mas o assunto não é Joel. O assunto é Olavo e os alunos de Olavo.
“Diante
de tal cenário [dominação da América Latina pelo comunismo], Olavo propõe uma
solução clara e consistente: um golpe militar para extirpar a esquerda do
poder. Embora já tenha clamado pelo golpe nas redes sociais, prefere instruir
seus seguidores a agirem com discrição e arquitetarem a intervenção por trás
dos panos, junto às Forças Armadas. Felizmente, ninguém que o leva a sério
parece ter muita influência nos centros de poder. ”
Olavo nunca propôs golpe militar
algum. Como todo bom filósofo deveria fazer, ele por diversas vezes listou
pontos contrários e favoráveis a tal medida e, inclusive, reuniu ofensas contra
si mesmo por parte de alguns alunos intervencionistas quando criticou a avidez
com que alguns desejavam jogar nas costas dos militares o dever de “salvar” o
Brasil.
A medida sempre defendida pelo
filósofo foi a de criar uma nova elite cultural, sábia, responsável e
profundamente amparada pelo estudo, pela produção de alta qualidade e pela maturidade.
Sobre extirpar algo do poder, há
sim uma pretensão: extirpar o monopólio esquerdista do poder político e
cultural. Se muitas críticas são feitas à esquerda, qualquer informado com o
mínimo aceitável de dados para ousar escrever um perfil deveria saber que
muitas outras críticas são tecidas aos liberais e conservadores brasileiros. E
extirpar o monopólio esquerdista é algo tremendamente diferente de extirpar a
presença da esquerda!
Conselhos foram dados sim para
inúmeras pessoas sobre inúmeros assuntos. Um conselho confirmado pelo próprio
Olavo de forma explícita era o de que liberais deveriam ter se aproximado dos
militares. Quem deveria escutar não escutou, e o que temos é a esquerda se
esforçando para influenciar, cooptar e usar os militares brasileiros enquanto
os liberais não querem se “misturar”.
“Estou
convencido de que, na atuação de Olavo, a forma é mais importante que o
conteúdo, e chega mesmo a substituí-lo. Olavo vende com maestria a imagem de
sábio e de bravo defensor do bem para jovens sedentos de certezas. E, com a
confiança que nele depositam, leva-os pela mão a seu mundo mental particular. ”
Algo escrito nas entrelinhas não
cheira bem. Se alguém acusa Olavo de vender uma imagem, está implicitamente
deixando a pista de que ele nada é do que afirma ser ou vende. Então, em uma
pequena frase, temos as acusações de que Olavo é imprudente, falsário (apenas
aparência, sem conteúdo) e maligno, além de possivelmente ser um aproveitador
de jovens sedentos de certezas.
É engraçado notar alguns nomes
entre os jovens cheios de incertezas, citados como leitores, admiradores e
seguidores pelo próprio Joel: Reinaldo Azevedo, Felipe Moura Brasil, Rodrigo
Constantino, Bruno Garschagen, Flavio Morgenstern, Rodrigo Gurgel, Martim
Vasques da Cunha, Lobão, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e Padre Paulo Ricardo.
É claro que a alcunha de jovens cheios de incertezas pode até ser lisonjeira
para alguns desses experientes senhores repletos de cabelos brancos – ou
carecas - e, em alguns casos, pais de família. Afinal, os pobres e imaturos
citados são apenas escritores experientes, editores, economistas, cientistas
políticos, críticos literários, músicos da “velha guarda” do rock brasileiro,
políticos bem conhecidos e um sacerdote católico experiente com formação na
Universidade Gregoriana do Vaticano.
Eu mesmo - pai de família,
médico, presbítero, pesquisador, professor e gestor em educação médica –
estaria incluído na lista de jovens inexperientes? Agradeço pelo jovem, e até
mesmo pelo inexperiente, se isso significar alguém disposto a aprender com a
experiência até o último suspiro.
Experiente, idoso e sábio mesmo
deve ser o Joel, certo? Afinal, julga cientistas, escritores, sacerdotes e
políticos com um ar repleto de nobre condescendência.
Em relação a ser fonte de
certezas, após mais de meia década de aulas e uma década de leitura e pesquisa
de seus livros e artigos, posso dizer que escutei muito mais a afirmação “não
sei” do que respostas definitivas vindas do Olavo. E quando escutei respostas, provisórias ou definitivas, estas vieram classificadas conforme sua teoria aristotélica dos quatro
discursos, graduadas de acordo com a credibilidade e o nível de certeza. Algo bem
distante do perfil difamatório traçado na revista Colombo.
Foto de Matheus Bazzo Malgarise - Permissão de Josias Teófilo
“O
olavismo é um simulacro de religião que segrega seus adeptos do mundo. Uma
“religião” que é parasitária do cristianismo por ele pregado, e em especial do
catolicismo, mas que poderia facilmente se moldar a outros credos. Todos os
possíveis pontos de contato com visões diferentes são neutralizados.”
Não vejo, entre os nomes de
jovens inexperientes já citados, pessoas desligadas do mundo. Vejo cientistas
políticos concluindo doutorados internacionais, colunistas de revistas de
circulação nacional, críticos literários que participaram de bancas julgadoras
em eventos internacionalmente reconhecidos e religiosos de grande repercussão.
E, pessoalmente, depois do
estudo facilitado pela obra do Olavo, não posso afirmar que fiquei segregado.
Pelo contrário. Participei de congressos nacionais e internacionais, fui
reconhecido e premiado pelo meu trabalho, tornei-me diretor editorial de uma
revista internacional, conheci acadêmicos, pesquisadores e professores do mundo
inteiro, fui chamado a uma palestra nos Estados Unidos e fui escolhido para
participar de uma iniciativa global em Bioética. Se isso é ser segregado do
mundo, até canso em pensar o que seria ser “inserido” no mundo. Talvez o
tecedor de perfis possa mostrar como é alguém superexposto, engajado e inserido
para nossa iluminação, certo? Seria escrever um perfil difamatório na jovem
revista Colombo o critério suficiente para o atestado de não alienação frente
ao mundo? Ou na ainda jovem e interessante Dicta & Contradicta? A ausência de critérios
nos leva a especular...
Sobre neutralização de
perspectivas discordantes, tenho que discordar novamente. Vários de seus alunos
discordam em pontos cruciais do que escutam, e nem por isso o diálogo e a
aprendizagem são impedidos. Aliás, o ambiente filosófico criado raramente
“neutraliza” alguém. Os poucos que foram retirados do curso (lembro de dois
casos em mais de cinco anos em meio a milhares de alunos) demonstraram previamente uma falta de sinceridade
e de caráter comprometedora. E os demais que saíram o fizeram por conta
própria, muitas vezes tendo entrado com segundas intenções.
Eu mesmo, cristão protestante
reformado, tenho minhas diferenças teológicas e discordâncias em relação ao que
escuto, mas não vejo em que isso impossibilitaria uma produtiva relação de
aprendizagem e amizade com o filósofo Olavo de Carvalho ou em que isso diminui o valor do
conhecimento adquirido. Outros, como o genial Fábio Salgado de Carvalho,
nutriram discussões metafísicas e metodológicas importantes e foram, inclusive,
citados elogiosamente pelo professor, mesmo em discordância.
Sobre existir um fenômeno
chamado olavismo, e tal fenômeno ser um simulacro de religião, pouco entendi.
Faltaram na vulgar afirmação definições mais precisas para que alguém ouse
entender melhor e tente responder (quem sabe não encontro no perfil completo
quando chegar a Revista Colombo?).
Se olavismo for estudar com Olavo de
Carvalho, aí sim é algo real. Mas religião? Improvável. E se for uma deturpação
alheia do que na realidade Olavo faz, não caberia ser citado de tal forma num
perfil.
“Tudo em
Olavo leva o aluno a se aferrar na autoridade e importância do mestre. Olavo
destrói a autoestima de seus seguidores, substituindo-a pela devoção à sua
pessoa. A dependência pessoal, a confiança exacerbada, a aniquilação do senso
crítico em favor de uma visão supostamente mais profunda, o cultivo da
admiração embasbacada. Em cada um deles, uma só conclusão: Olavo é o único
canal seguro de contato com a realidade. E por isso a defesa tão aguerrida de
seus seguidores. Se Olavo cair, isto é, se ficar patente que ele não é esse
grande luminar do pensamento que lhes foi vendido, cairá o mundo dos discípulos.”
Joel confunde admiração e
amizade pelo professor com devoção. Em relação à baixa autoestima, novamente
incorre em terrível imprecisão. Depois que estudei com o Olavo, ganhei coragem
para entrar no campo interdisciplinar de pesquisa e obtive todas as conquistas
já descritas. Se ganhei algo, foi coragem, curiosidade e reconhecimento. E tudo
foi feito sem nenhuma permissão ou orientação direta do Olavo, que à época mal
sabia de minha existência; sou apenas um entre muitos alunos do curso online
que nunca o viram pessoalmente, tampouco receberam orientação estratégica ou
intelectual personalizada, mas que nutrem um cordial sentimento de amizade.
O desfile de mentiras sem
fundamentação nos pequenos excertos selecionados pelo autor é grande, porém
denota até certa criatividade ao imaginar um terrível guru opressor que instiga
em seus “discípulos” (termo que gera particular aversão ao próprio Olavo): “a dependência
pessoal, a confiança exacerbada, a aniquilação do senso crítico em favor de uma
visão supostamente mais profunda, o cultivo da admiração embasbacada...”
Joel conclui que, para os alunos
do Olavo, “Olavo é o único canal seguro de contato com a realidade”. Com a
liberdade da expressão e autoridade de aluno, só posso responder uma coisa:
mentirinha cabeluda, hein?
Sobre a pretensão de ser um
“único canal seguro”, só posso afirmar que Olavo é ótimo em apresentar outros
filósofos e escritores de peso para seus alunos e em ampliar formidavelmente o
leque de influências. Onde mais alguém escutaria indicações elogiosas de
filósofos, teólogos e escritores protestantes (Abraham Kuyper e Dooyeweerd),
católicos (Tomás de Aquino, Bernard Lonergan e muitos, muitos outros),
muçulmanos, seculares etc.?
Se
há alguém no Brasil que foi responsável por iniciar uma revolução editorial e
refrescar com novos ares e múltiplas influências o embolorado ambiente
intelectual brasileiro, esse alguém foi o Olavo.
Se, de acordo com Joel, Olavo
cair, seja lá o que isso quer dizer, ficará comprovado o que o próprio Olavo
afirma repetidamente: ele é apenas um ser humano, falho em diversos pontos,
assim como eu ou até mesmo o tecedor de perfis, Joel Pinheiro. O mundo continua
e, como já escutei em uma das aulas do Seminário de Filosofia, “um grande
conforto é saber que se eu desaparecer de uma hora para outra, o mundo seguirá
seu curso normalmente. ”
Sobre ser defendido de forma tão
aguerrida por seus alunos e amigos – seguidores é uma palavra que beira um
recurso erístico do tipo “rotulação odiosa” e nada acrescenta de útil ao perfil
-, a razão é clara: ele ofereceu muito conhecimento de grande valor a muita
gente. Pessoalmente, posso afirmar que o sentimento de gratidão e amizade pelo
ensino e pelo incentivo recebido para o ingresso na vida intelectual geraram um
profundo sentimento de respeito e uma vontade, aguerrida sim, de defendê-lo
contra a injusta malícia alheia.
Isso não me torna um seguidor, um
fanático ou qualquer outra coisa que caiba em perfis difamatórios, isso atesta
que reconheço um benefício recebido.
“Quem
quiser ler o resto, é só comprar a Revista Café Colombo. Não se decepcionará. ”
Fiz o que o editor da Revista
Colombo provavelmente queria com a publicação do perfil, comprei um volume. Nada
mais justo do que ler na íntegra o tal perfil e torcer para que seja muito
melhor do que a seleção de trechos indicada pelo seu autor. Se algo de conteúdo
aparecer, prometo escrever mais sobre o tema.
Espero ser a primeira e última
vez que compro a Revista Colombo.
Primeira vez por um mórbido
desejo de ver onde mais a difamação pode alcançar (talvez nutrido pela
inclinação de estudar processos patológicos natural a um médico) e pelo
sentimento de obrigação em defender a honra de um filósofo, pai de família,
benfeitor e professor. Última vez pela constatação de que revistas que publicam
perfis sensacionalistas e difamatórios não devem prosperar num ambiente
decente. Mas, enfim, quem disse que nosso Brasil de hoje é decente?
Ah, antes que eu esqueça.
Precisamos mesmo falar de quem fala do Olavo? Que canseira, não precisamos não!
Sei que o Joel é economista de
estirpe liberal e é diplomado pela USP, e sei que escreveu um perfil
difamatório sobre o Olavo. Mais não preciso e nem quero saber. Espero que, fora
este ato difamatório, seja um bom moço e que alcance sucesso produzindo coisas
melhores e mais dignas. E falemos de coisas mais importantes, certo?
Acredito que até mesmo o Olavo
de Carvalho concordaria comigo e diria que é muito mais desafiador e intrigante
escrever sobre filosofia, biografias de santos e/ou heróis e literatura de boa
qualidade do que traçar perfis desta categoria sobre este ou aquele professor
ou aluno.
Deixo somente uma recomendação
final: se gostam de biografias e perfis de boa qualidade, prestem atenção a um
projeto que promete muito: o documentário Jardim das Aflições. Será sobre a
vida e obra do filósofo Olavo de Carvalho e está em produção nas mãos
competentes de cineastas e entrevistadores profissionais. Possui uma qualidade
quase que singular nesses nossos dias de Lei Rouanet: não utilizou verba
pública! Algo que merece louvor até mesmo de um economista liberal como o Joel,
não é mesmo?
***
Continuação do texto - após leitura do "perfil crítico" completo na Revista Colombo.
NADA DE NOVO, NADA DE ÚTIL
Escrevi há alguns meses um breve artigo sobre a maledicência contra Olavo de Carvalho.
Foi sobre um perfil difamatório publicado na Revista Colombo. A revista chegou e li o artigo na íntegra. Estava devendo a continuação da crítica.
Nada de novo e nada de útil encontrei após ler tudo. Só reforcei a constatação de que o jovem tecedor de perfis tem a capacidade de distorcer tudo com um olhar incrivelmente malicioso.
A capacidade de enxergar maldades é tão intensa no texto difamatório que eu imagino se, por exemplo, ao ler os quatro Evangelhos, o autor do escrito publicado na revista "cultural" não encontraria mil razões ocultas e malignas para até mesmo Cristo ter feito o que fez.
Por trás de cada atividade do Curso Online de Filosofia, Joel Pinheiro encontrou planos maquiavélicos e intenções escusas. Conseguiu distorcer todo o propósito (causa final) de tudo o que é ou foi feito no curso online, oferecendo explicações totalmente mediocrizantes, desprovidas de empatia ou de sincera busca bem intencionada pela verdade.
Depois é o Olavo quem é adepto da Teoria da Conspiração! (12 de agosto de 2016).
Prof. Dr. Hélio Angotti
Neto
Coordenador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina