O Médico, de Rubem Alves
Há dois dias li "O Médico", de Rubem Alves.
O livro abre com capítulos repletos de lirismo ao redor da bela obra de Luke Fields. A mesma que adorna a página de abertura do SEFAM. O protótipo do bom médico, do médico humanista, do médico presente, reflexivo e prestativo.
Rubem Alves segue o livro contando um pouco da inspiradora história de Albert Schweitzer, músico, filósofo e médico ganhador do prêmio Nobel da paz.
Fala também sobre a sempre presente morte. Certeza dos nascidos e amiga incômoda de todo médico, de toda a vida.
Terminaria bem o livro, mas não segue na mesma toada de seu início.
Aqui sei que arrisco muito em futucar um buda dourado, um ícone "sagrado", como Rubem Alves.
Mas quando o lirismo descamba para uma romantização artificialmente embelezadora de maníacos cruéis como Lênin e Marx, quando velhas figuras de linguagem automatizadas pela ideologia de esquerda ("caminhando e cantando...") aos poucos substituem o lirismo profundo, íntimo e belo, o escrito progressivamente toma um ar de superficialidade, de ênfase forçada.
O lirismo de Rubem Alves também soa superficial ao criticar a religião e a teologia cristã, contra as quais o autor guardou, provavelmente, alguns ressentimentos de antigos desafetos. Transforma fenômenos complexos e sublimes em espantalhos.
Mas creio sinceramente que este livro não é amostra do que o autor tem de melhor.
Mais, eu não digo, pois sei que já remexi demais o vespeiro. E antes que algum dardo inflamado dispare em minha direção, deixo duas excelentes opções de crônicas e relatos belíssimos sobre a arte de ser médico e de ser paciente, sem pretensões ideologizantes:
- Sinto Muito, de Nuno Lobo Antunes;
- A Morte de Ivan Illitch, de Leon Tolstói.