quarta-feira, 22 de agosto de 2018

RUMOS DA ÉTICA MÉDICA

RUMOS DA ÉTICA MÉDICA BRASILEIRA

Tive a oportunidade de falar um pouco sobre o Juramento de Hipócrates, a Ética Médica, a Bioética e a identidade de um bom médico no Congresso Brasileiro de Clínica Médica em Belo Horizonte, no dia 06 de outubro de 2017.
A plateia presenta continha aproximadamente oitenta estudantes de medicina de diversas instituições[1]e médicos de diversos lugares do Brasil. 
Foi muito bom rever também alguns que foram alunos e hoje são colegas formados, como o Jackson, que participou do primeiro ciclo do SEFAM em 2012, e alunos que mudaram para outras instituições de ensino no decorrer da carreira acadêmica. Belo Horizonte ficou com a cara de Colatina ao ver também tantos alunos do UNESC participando do evento, interagindo nas palestras e exibindo trabalhos.
As perguntas durante a palestra foram bem instigantes, e poderiam render diversas outras apresentações. Além das curiosidades típicas do Juramento de Hipócrates e de seu contexto antigo e contemporâneo, colegas e alunos perguntaram a respeito do papel da Bioética na identidade atual do médico e a respeito dos atuais desvios éticos na medicina; perguntaram sobre Van Potter e o surgimento da Bioética e sobre como humanizar a medicina. 
Foram lembradas as situações humilhantes e desnecessárias que tantas vezes ocorrem na medicina ao invés do elo de respeito e profunda amizade entre mestres e aprendizes que se observa na ética tradicional e discutimos o que é ser corporativista e elitista no bom sentido.
Falamos sobre a preocupante experiência com a eutanásia, o aborto e o suicídio assistido nos países baixos, e como o Conselho Federal de Medicina já tentou aprovar certas medidas ligadas à Cultura da Morte nada populares anteriormente.
Os aspectos mais básicos da ética hipocrática foram ressaltados, e alguns espantalhos, como o paternalismo hipocrático, foram discutidos e contextualizados.
O ponto em que todos concordaram, provavelmente, foi o da percepção que dias difíceis chegaram para a medicina de qualidade no Brasil. Dias de submissão profissional a planos políticos e dias de massificação e perigosa mediocrização da profissão.
O tempo à frente não é fácil, vivemos os piores dos dias, e vivemos os melhores dos dias, em diferentes perspectivas. Há uma crise instalada e outra a caminho, que poderá mudar irremediavelmente a identidade do médico brasileiro e remexer a nossa qualidade profissional. 
Nesse cenário desafiador, antigos lembretes devem ser resgatados. Martin Luther King Jr. disse com muita propriedade que o problema não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons. Também disse que no final, não nos lembraremos das palavras de nossos inimigos, mas do silêncio de nossos amigos. Somos chamados à coragem justamente nesses tempos de grande crise, e somos desafiados a resgatar o que há de melhor na identidade da nobre profissão médica.
Que os médicos ousem dedicar-se a manter acesa a chama da profissão médica e a transmitir aos mais novos o que de melhor recebemos de nossos predecessores. Que médicos exemplares dividam sua prática não somente com os pacientes, mas com a nova geração que precisa de bons exemplos. Negligenciar essa necessidade é trair os altos ideais profissionais que, por milênios, fizeram a medicina ser uma amada e respeitada profissão.
Que nós não possamos ser exemplos do conhecido poema de William Butler Yeats: “The best lack all conviction, while the worst are full of passionate intensity”. Sejamos os melhores, e sejamos intensos em nossa busca pela excelência e pelo bem do próximo.
Hélio Angotti Neto.
07 de outubro de 2017, Colatina – ES.


[1]Havia alunos da UVV, UNIFESO, Multivix, UNICSAL, UFAL, UEL, UFOB, FASA, UEPA, UNIPAM, UNOESTE, UFJF-GV, UFJVM e do UNESC.