domingo, 26 de abril de 2020

EM TEMPOS DE BIOPOLÍTICA, GLOBALISMO E GEOPOLÍTICA

EM TEMPOS DE BIOPOLÍTICA, GLOBALISMO E GEOPOLÍTICA

A recente pandemia, conforme a Organização Mundial de Saúde decretou em 2020 por causa do Coronavírus, realmente trouxe fatos importantes que devem ser analisados e que impactarão sobre nossa realidade de forma significativa.
Pela primeira vez na história da humanidade, bilhões de pessoas acompanharam em tempo real o alastramento da doença, caso a caso. Todos fomos expostos a uma enorme carga de informação e especulações com enormes potenciais tanto positivos quanto negativos. 
Do lado positivo, sem dúvida, a possibilidade de acompanhar curvas epidêmicas e compará-las em todo o mundo, enriquecendo em muito a ciência epidemiológica. Do lado negativo, a enorme ansiedade que isso gera e todo o impacto social e econômico decorrente.
Quanto ao alastramento da doença, foi auxiliado pela intensa globalização, que abriu fronteiras e mercados por todos os lados, aprofundando laços de interdependência entre os países e o deslocamento de grandes massas humanas em pouquíssimo tempo.
Essa interdependência e essa fluidez de fronteiras geraram situações interessantes no contexto da pandemia. Uma delas é, por exemplo, a concentração da produção global de máscaras cirúrgicas na China, justamente onde se iniciou a pandemia.
Mundo afora, há diversos oligopólios globais, gerando especializações centradas em algumas nações. Na hipótese de fechamento de fronteiras, há um sério risco de desabastecimento do mercado interno de diversas nações dependentes. Para um mundo globalizado, eis que foi desenvolvida uma solução globalista.
Isso gera uma preocupação em relação à plena abertura dos mercados e uma nova tendência ao protecionismo, que pode ser interessante no caso de bens essenciais à subsistência e à segurança de todo um povo.
A dependência de uma nação, em termos estratégicos, da produção de outra nação significa algo muito claro: submissão, seja ao governo que produz o bem para exportação, seja ao grupo que lidera a produção, que pode apresentar caráter não governamental. De ambas as formas, há uma série de possíveis fragilidades, ainda mais em tempos de conflito e desconfiança, como aqueles presenciados durante a pandemia da Doença do Coronavírus (COVID-19).
Não se pode desprezar os ganhos da globalização. Informação rápida, facilidade na aquisição de mercadorias antes indisponíveis, flexibilização das fronteiras e aumento do sentimento cosmopolita por todo o globo. Mas há que se diferenciar duas situações.
A globalização propriamente dita do globalismo.
O globalismo é uma forma de administrar a realidade globalizada em termos políticos, econômicos e culturais. Sua grande ênfase é o poder concentrado em entidades supranacionais, é como controlar o próximo por cima de suas fronteiras. Há um elemento de substituição de uma elite governante de caráter nacional, muitas vezes alocada pelo próprio povo de uma nação, por uma elite tecnocrática que rompe questões como nacionalidade e patriotismo. 
Essa elite internacional atua em diversos países e funciona como um poderoso elemento geopolítico que não pode ser ignorado. 
Um exemplo seria o de um pequeno país no qual se instala um enorme complexo produtor pertencente a um dos membros dessa elite internacional. Uma vez dependente do comércio internacional, este pequeno país pode praticamente ser colocado em profunda recessão econômica e grave crise política caso tal complexo seja removido ou fechado.
A resposta dada à pandemia nesse delicado contexto de globalização permeada de globalismo, com seus mercados abertos em nível internacional, gerou uma consciência aguda acerca das limitações do modelo de caráter internacionalista.
Novamente muitos questionam as vantagens e desvantagens do nacionalismo, diferenciando a postura cautelosa e protetora da cultura e dos interesses nacionais – o nacionalismo propriamente dito – daquela postura agressiva de conquista e imposição cultural, denominada de imperialismo por autores como Yoram Hazony, autor da obra As Virtudes do Nacionalismo.
As repercussões desse grande tubo de ensaio em que se tornou a pandemia serão percebidas no campo das Relações Internacionais, da Economia, da Saúde, da Política e do Direito só para começar. As repercussões culturais ainda são incalculáveis.
Vivemos, na verdade, um cenário parcialmente previsto pelo Filósofo Olavo de Carvalho no início do século XXI, que recomendara ao então presidente do Brasil, Itamar Franco, a realização de um Congresso Mundial sobre o Nacionalismo. A sugestão então ignorada agora se faz urgente, como também é urgente a redefinição dos mercados e das fronteiras diante das atuais mutações políticas, científicas, econômicas e culturais.