terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Precisamos mesmo de falar sobre quem fala do Olavo de Carvalho?

Da arte de difamar e menosprezar o melhor...


Foto de Matheus Bazzo Malgarise - Permissão de Josias Teófilo

Se há algo cansativo no ambiente letrado – ou pseudoletrado – do Brasil é a difamação contra os melhores.

Exemplo mais que repetido é o que se faz contra o filósofo (filósofo sim), professor e escritor Olavo de Carvalho.

O filósofo Olavo reúne uma plêiade caricatural e tenebrosa de ex-alunos e de acadêmicos diplomados que não param de prestar-lhe atenção a todos os movimentos, dispostos ao ataque no mais simples deslize ou mal-entendido. Os professores e grandes pesquisadores já o deixaram em paz há anos, após terem se escaldado na água fervente de sua crítica cultural em obras essenciais para o Brasil como O Imbecil Coletivo I e II e O Mínimo. Porém, agora é a vez dos miúdos, que atacam sem a cautela dos grandes, e com menos vergonha também.

Um texto que repete a fórmula foi publicado na revista Colombo pelo economista Joel Pinheiro, que destaca alguns trechos de sua escolha para representar seu material (http://www.cafecolombo.com.br/ideias/precisamos-falar-sobre-olavo-de-carvalho/). O autor direciona sua mira também aos alunos e amigos do filósofo brasileiro radicado na Virgínia.

Solicitado a traçar um perfil, Joel respondera que este seria crítico. Mas creio que o significado da palavra crítico não foi bem compreendido pelo editor. O perfil foi, ao que parece pelos trechos selecionados, uma difamação pura e simplesmente, e não somente contra Olavo de Carvalho, mas também contra os seus alunos, entre os quais felizmente tenho a pretensão de me incluir.

Alguns trechos foram destacados pelo próprio autor, divulgando sua publicação na revista. Ofereço um contraponto baseado numa simples e concreta realidade: estudo a obra do Olavo há doze anos e faço seu curso online desde o início. Li praticamente tudo o que ele publicou nesse período, conheço seus alunos pelos resultados mostrados e, alguns, diretamente por meio de laços acadêmicos, de respeito ou de amizade.

Sei o que sou e sei do que e de quem falo em meu contexto. Coisa que não posso afirmar do Joel, de quem pouco sei. Mas o assunto não é Joel. O assunto é Olavo e os alunos de Olavo.


“Diante de tal cenário [dominação da América Latina pelo comunismo], Olavo propõe uma solução clara e consistente: um golpe militar para extirpar a esquerda do poder. Embora já tenha clamado pelo golpe nas redes sociais, prefere instruir seus seguidores a agirem com discrição e arquitetarem a intervenção por trás dos panos, junto às Forças Armadas. Felizmente, ninguém que o leva a sério parece ter muita influência nos centros de poder. ”


Olavo nunca propôs golpe militar algum. Como todo bom filósofo deveria fazer, ele por diversas vezes listou pontos contrários e favoráveis a tal medida e, inclusive, reuniu ofensas contra si mesmo por parte de alguns alunos intervencionistas quando criticou a avidez com que alguns desejavam jogar nas costas dos militares o dever de “salvar” o Brasil.

A medida sempre defendida pelo filósofo foi a de criar uma nova elite cultural, sábia, responsável e profundamente amparada pelo estudo, pela produção de alta qualidade e pela maturidade.

Sobre extirpar algo do poder, há sim uma pretensão: extirpar o monopólio esquerdista do poder político e cultural. Se muitas críticas são feitas à esquerda, qualquer informado com o mínimo aceitável de dados para ousar escrever um perfil deveria saber que muitas outras críticas são tecidas aos liberais e conservadores brasileiros. E extirpar o monopólio esquerdista é algo tremendamente diferente de extirpar a presença da esquerda!

Conselhos foram dados sim para inúmeras pessoas sobre inúmeros assuntos. Um conselho confirmado pelo próprio Olavo de forma explícita era o de que liberais deveriam ter se aproximado dos militares. Quem deveria escutar não escutou, e o que temos é a esquerda se esforçando para influenciar, cooptar e usar os militares brasileiros enquanto os liberais não querem se “misturar”.


“Estou convencido de que, na atuação de Olavo, a forma é mais importante que o conteúdo, e chega mesmo a substituí-lo. Olavo vende com maestria a imagem de sábio e de bravo defensor do bem para jovens sedentos de certezas. E, com a confiança que nele depositam, leva-os pela mão a seu mundo mental particular. ”


Algo escrito nas entrelinhas não cheira bem. Se alguém acusa Olavo de vender uma imagem, está implicitamente deixando a pista de que ele nada é do que afirma ser ou vende. Então, em uma pequena frase, temos as acusações de que Olavo é imprudente, falsário (apenas aparência, sem conteúdo) e maligno, além de possivelmente ser um aproveitador de jovens sedentos de certezas.

É engraçado notar alguns nomes entre os jovens cheios de incertezas, citados como leitores, admiradores e seguidores pelo próprio Joel: Reinaldo Azevedo, Felipe Moura Brasil, Rodrigo Constantino, Bruno Garschagen, Flavio Morgenstern, Rodrigo Gurgel, Martim Vasques da Cunha, Lobão, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e Padre Paulo Ricardo. É claro que a alcunha de jovens cheios de incertezas pode até ser lisonjeira para alguns desses experientes senhores repletos de cabelos brancos – ou carecas - e, em alguns casos, pais de família. Afinal, os pobres e imaturos citados são apenas escritores experientes, editores, economistas, cientistas políticos, críticos literários, músicos da “velha guarda” do rock brasileiro, políticos bem conhecidos e um sacerdote católico experiente com formação na Universidade Gregoriana do Vaticano.

Eu mesmo - pai de família, médico, presbítero, pesquisador, professor e gestor em educação médica – estaria incluído na lista de jovens inexperientes? Agradeço pelo jovem, e até mesmo pelo inexperiente, se isso significar alguém disposto a aprender com a experiência até o último suspiro.

Experiente, idoso e sábio mesmo deve ser o Joel, certo? Afinal, julga cientistas, escritores, sacerdotes e políticos com um ar repleto de nobre condescendência.

Em relação a ser fonte de certezas, após mais de meia década de aulas e uma década de leitura e pesquisa de seus livros e artigos, posso dizer que escutei muito mais a afirmação “não sei” do que respostas definitivas vindas do Olavo. E quando escutei respostas, provisórias ou definitivas, estas vieram classificadas conforme sua teoria aristotélica dos quatro discursos, graduadas de acordo com a credibilidade e o nível de certeza. Algo bem distante do perfil difamatório traçado na revista Colombo.

Foto de Matheus Bazzo Malgarise - Permissão de Josias Teófilo

Por fim, posso concordar que Olavo realmente conduziu muitos ao seu “mundo mental particular”, se por esse termo entende-se a explicitação de toda uma cosmovisão. Aliás, Olavo não possui mundo mental público! O Joel possui? Ou considera que o mundo particular mental de Joel é melhor do que o do Olavo? Não sei. Prefiro deixar para lá, dada a irrelevância de tal assunto “joelístico” para meu crescimento pessoal e considerando a amostra de seu mundo mental exposta na Revista Colombo. O fato é que toda a interação humana inclui o encontro entre mundos mentais, e que bom o Olavo disponibilizar o seu.


“O olavismo é um simulacro de religião que segrega seus adeptos do mundo. Uma “religião” que é parasitária do cristianismo por ele pregado, e em especial do catolicismo, mas que poderia facilmente se moldar a outros credos. Todos os possíveis pontos de contato com visões diferentes são neutralizados.”


Não vejo, entre os nomes de jovens inexperientes já citados, pessoas desligadas do mundo. Vejo cientistas políticos concluindo doutorados internacionais, colunistas de revistas de circulação nacional, críticos literários que participaram de bancas julgadoras em eventos internacionalmente reconhecidos e religiosos de grande repercussão.

E, pessoalmente, depois do estudo facilitado pela obra do Olavo, não posso afirmar que fiquei segregado. Pelo contrário. Participei de congressos nacionais e internacionais, fui reconhecido e premiado pelo meu trabalho, tornei-me diretor editorial de uma revista internacional, conheci acadêmicos, pesquisadores e professores do mundo inteiro, fui chamado a uma palestra nos Estados Unidos e fui escolhido para participar de uma iniciativa global em Bioética. Se isso é ser segregado do mundo, até canso em pensar o que seria ser “inserido” no mundo. Talvez o tecedor de perfis possa mostrar como é alguém superexposto, engajado e inserido para nossa iluminação, certo? Seria escrever um perfil difamatório na jovem revista Colombo o critério suficiente para o atestado de não alienação frente ao mundo? Ou na ainda jovem e interessante Dicta & Contradicta? A ausência de critérios nos leva a especular...

Sobre neutralização de perspectivas discordantes, tenho que discordar novamente. Vários de seus alunos discordam em pontos cruciais do que escutam, e nem por isso o diálogo e a aprendizagem são impedidos. Aliás, o ambiente filosófico criado raramente “neutraliza” alguém. Os poucos que foram retirados do curso (lembro de dois casos em mais de cinco anos em meio a milhares de alunos) demonstraram previamente uma falta de sinceridade e de caráter comprometedora. E os demais que saíram o fizeram por conta própria, muitas vezes tendo entrado com segundas intenções.

Eu mesmo, cristão protestante reformado, tenho minhas diferenças teológicas e discordâncias em relação ao que escuto, mas não vejo em que isso impossibilitaria uma produtiva relação de aprendizagem e amizade com o filósofo Olavo de Carvalho ou em que isso diminui o valor do conhecimento adquirido. Outros, como o genial Fábio Salgado de Carvalho, nutriram discussões metafísicas e metodológicas importantes e foram, inclusive, citados elogiosamente pelo professor, mesmo em discordância.

Sobre existir um fenômeno chamado olavismo, e tal fenômeno ser um simulacro de religião, pouco entendi. Faltaram na vulgar afirmação definições mais precisas para que alguém ouse entender melhor e tente responder (quem sabe não encontro no perfil completo quando chegar a Revista Colombo?). 

Se olavismo for estudar com Olavo de Carvalho, aí sim é algo real. Mas religião? Improvável. E se for uma deturpação alheia do que na realidade Olavo faz, não caberia ser citado de tal forma num perfil.


“Tudo em Olavo leva o aluno a se aferrar na autoridade e importância do mestre. Olavo destrói a autoestima de seus seguidores, substituindo-a pela devoção à sua pessoa. A dependência pessoal, a confiança exacerbada, a aniquilação do senso crítico em favor de uma visão supostamente mais profunda, o cultivo da admiração embasbacada. Em cada um deles, uma só conclusão: Olavo é o único canal seguro de contato com a realidade. E por isso a defesa tão aguerrida de seus seguidores. Se Olavo cair, isto é, se ficar patente que ele não é esse grande luminar do pensamento que lhes foi vendido, cairá o mundo dos discípulos.”


Joel confunde admiração e amizade pelo professor com devoção. Em relação à baixa autoestima, novamente incorre em terrível imprecisão. Depois que estudei com o Olavo, ganhei coragem para entrar no campo interdisciplinar de pesquisa e obtive todas as conquistas já descritas. Se ganhei algo, foi coragem, curiosidade e reconhecimento. E tudo foi feito sem nenhuma permissão ou orientação direta do Olavo, que à época mal sabia de minha existência; sou apenas um entre muitos alunos do curso online que nunca o viram pessoalmente, tampouco receberam orientação estratégica ou intelectual personalizada, mas que nutrem um cordial sentimento de amizade.

O desfile de mentiras sem fundamentação nos pequenos excertos selecionados pelo autor é grande, porém denota até certa criatividade ao imaginar um terrível guru opressor que instiga em seus “discípulos” (termo que gera particular aversão ao próprio Olavo): “a dependência pessoal, a confiança exacerbada, a aniquilação do senso crítico em favor de uma visão supostamente mais profunda, o cultivo da admiração embasbacada...”

Joel conclui que, para os alunos do Olavo, “Olavo é o único canal seguro de contato com a realidade”. Com a liberdade da expressão e autoridade de aluno, só posso responder uma coisa: mentirinha cabeluda, hein?

Sobre a pretensão de ser um “único canal seguro”, só posso afirmar que Olavo é ótimo em apresentar outros filósofos e escritores de peso para seus alunos e em ampliar formidavelmente o leque de influências. Onde mais alguém escutaria indicações elogiosas de filósofos, teólogos e escritores protestantes (Abraham Kuyper e Dooyeweerd), católicos (Tomás de Aquino, Bernard Lonergan e muitos, muitos outros), muçulmanos, seculares etc.

Se há alguém no Brasil que foi responsável por iniciar uma revolução editorial e refrescar com novos ares e múltiplas influências o embolorado ambiente intelectual brasileiro, esse alguém foi o Olavo.

Se, de acordo com Joel, Olavo cair, seja lá o que isso quer dizer, ficará comprovado o que o próprio Olavo afirma repetidamente: ele é apenas um ser humano, falho em diversos pontos, assim como eu ou até mesmo o tecedor de perfis, Joel Pinheiro. O mundo continua e, como já escutei em uma das aulas do Seminário de Filosofia, “um grande conforto é saber que se eu desaparecer de uma hora para outra, o mundo seguirá seu curso normalmente. ”

Sobre ser defendido de forma tão aguerrida por seus alunos e amigos – seguidores é uma palavra que beira um recurso erístico do tipo “rotulação odiosa” e nada acrescenta de útil ao perfil -, a razão é clara: ele ofereceu muito conhecimento de grande valor a muita gente. Pessoalmente, posso afirmar que o sentimento de gratidão e amizade pelo ensino e pelo incentivo recebido para o ingresso na vida intelectual geraram um profundo sentimento de respeito e uma vontade, aguerrida sim, de defendê-lo contra a injusta malícia alheia.

Isso não me torna um seguidor, um fanático ou qualquer outra coisa que caiba em perfis difamatórios, isso atesta que reconheço um benefício recebido.


“Quem quiser ler o resto, é só comprar a Revista Café Colombo. Não se decepcionará. ”


Fiz o que o editor da Revista Colombo provavelmente queria com a publicação do perfil, comprei um volume. Nada mais justo do que ler na íntegra o tal perfil e torcer para que seja muito melhor do que a seleção de trechos indicada pelo seu autor. Se algo de conteúdo aparecer, prometo escrever mais sobre o tema.

Espero ser a primeira e última vez que compro a Revista Colombo.

Primeira vez por um mórbido desejo de ver onde mais a difamação pode alcançar (talvez nutrido pela inclinação de estudar processos patológicos natural a um médico) e pelo sentimento de obrigação em defender a honra de um filósofo, pai de família, benfeitor e professor. Última vez pela constatação de que revistas que publicam perfis sensacionalistas e difamatórios não devem prosperar num ambiente decente. Mas, enfim, quem disse que nosso Brasil de hoje é decente?

Ah, antes que eu esqueça. Precisamos mesmo falar de quem fala do Olavo? Que canseira, não precisamos não!

Sei que o Joel é economista de estirpe liberal e é diplomado pela USP, e sei que escreveu um perfil difamatório sobre o Olavo. Mais não preciso e nem quero saber. Espero que, fora este ato difamatório, seja um bom moço e que alcance sucesso produzindo coisas melhores e mais dignas. E falemos de coisas mais importantes, certo?

Acredito que até mesmo o Olavo de Carvalho concordaria comigo e diria que é muito mais desafiador e intrigante escrever sobre filosofia, biografias de santos e/ou heróis e literatura de boa qualidade do que traçar perfis desta categoria sobre este ou aquele professor ou aluno.

Deixo somente uma recomendação final: se gostam de biografias e perfis de boa qualidade, prestem atenção a um projeto que promete muito: o documentário Jardim das Aflições. Será sobre a vida e obra do filósofo Olavo de Carvalho e está em produção nas mãos competentes de cineastas e entrevistadores profissionais. Possui uma qualidade quase que singular nesses nossos dias de Lei Rouanet: não utilizou verba pública! Algo que merece louvor até mesmo de um economista liberal como o Joel, não é mesmo?

***

Continuação do texto - após leitura do "perfil crítico" completo na Revista Colombo.

NADA DE NOVO, NADA DE ÚTIL
Escrevi há alguns meses um breve artigo sobre a maledicência contra Olavo de Carvalho.

Foi sobre um perfil difamatório publicado na Revista Colombo. A revista chegou e li o artigo na íntegra. Estava devendo a continuação da crítica.


Nada de novo e nada de útil encontrei após ler tudo. Só reforcei a constatação de que o jovem tecedor de perfis tem a capacidade de distorcer tudo com um olhar incrivelmente malicioso.

A capacidade de enxergar maldades é tão intensa no texto difamatório que eu imagino se, por exemplo, ao ler os quatro Evangelhos, o autor do escrito publicado na revista "cultural" não encontraria mil razões ocultas e malignas para até mesmo Cristo ter feito o que fez.

Por trás de cada atividade do Curso Online de Filosofia, Joel Pinheiro encontrou planos maquiavélicos e intenções escusas. Conseguiu distorcer todo o propósito (causa final) de tudo o que é ou foi feito no curso online, oferecendo explicações totalmente mediocrizantes, desprovidas de empatia ou de sincera busca bem intencionada pela verdade.

Depois é o Olavo quem é adepto da Teoria da Conspiração! (12 de agosto de 2016).

Prof. Dr. Hélio Angotti Neto
Coordenador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Liga de Humanidades Médicas no Natal.

A LIAHM organizou de uma singela ação hoje, no Hospital Maternidade São José, no Setor de Pediatria.

Participaram os alunos Kaique Dadalto, Letícia Dalvi, Alexandre Calasans, Suellen e Pâmela. Ainda hoje farão uma visita ao Orfanato, e já estão organizando ações junto à APAE de Colatina.

Parabéns aos alunos pela bela iniciativa.











Grupo de Estudos em Filosofia Política e Saúde - 1º Vídeo

Grupo de Estudos em Filosofia Política e Saúde - 1º Vídeo: Formas Discursivas


Está disponível a primeira comunicação em vídeo com o Grupo de Estudos em Filosofia Política e Saúde. Sugiro várias leituras de formação do imaginário e de aquisição de ferramentas discursivas básicas para analisar a realidade política.

Àqueles que desejarem participar, não deixem de enviar suas dúvidas e observações acerca das três obras básicas iniciais. Em até três semanas marcamos outro vídeo para responder às perguntas e comentar algo sobre os livros e sua aplicação à política brasileira.





sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Não li, não gostei?


NÃO LI, NÃO GOSTEI?



É incrível como no Brasil, de forma contínua, as pessoas que são referenciais para a cultura (acadêmicos, docentes e autoridades diversas) se erguem e dizem, sem a menor vergonha na cara, que desprezam ou não gostam de algo que simplesmente nunca leram.

É algo tão comum que passa como opinião válida numa conversa "normal". Coloco normal entre aspas por razões estatísticas, e não por acreditar que a situação seja a adequada.

Eu mesmo escutei uma vez, de alguém que leu somente as quatro páginas iniciais do meu livro A Morte da Medicina, que meus argumentos eram inválidos porque eram religiosos. Claro atestado de que o sujeito, formado na Universidade de Brasília e aspirante a intelectual conforme padrões brasileiros, simplesmente declarava seu preconceito infundado contra algo que nem conhecia. E clara evidência do exército de analfabetos funcionais e desavergonhados que são vomitados de nossas universidades todos os anos.

Não que não tenhamos direito a alguns preconceitos. Certas formas de cautela são indispensáveis para uma vida viável. Mas no campo intelectual, é lamentável que alguém se disponha a emitir opiniões com base em leituras fragmentárias ou parciais, ou com base em absolutamente nenhuma leitura.

Cansei de ver pessoas criticando a esquerda sem ao menos ler livros escritos pela esquerda.

Cansei de ver pessoas, teoricamente cultas, renderem-se à linguagem do politicamente correto e torcerem o nariz ao escutarem que alguém é conservador, mas que nunca em suas vidas leram um livro que descreve o que é ser um conservador nas palavras de alguém que o seja.

Cansei de ver gente criticando autores como Olavo de Carvalho sem ter lido sua obra inteira ou pelo menos uns dois ou três livros (não digo as compilações de artigos jornalísticos - excelentes, por sinal -, mas os livros do tipo "Jardim das Aflições" ou "Aristóteles em Nova Perspectiva").

Alguém poderia até dizer que tais exigências são muito altas. Mas a resposta é que tais exigências são o mínimo para uma categoria de pessoas que ousa afirmar pertencer à casta intelectual de uma sociedade. Isso inclui qualquer professor ou pesquisador. E não é uma questão somente de intelectualidade, é uma questão de caráter, de moral.

Alguém com conhecimento e, portanto, responsabilidade, tem a obrigação moral de emitir opiniões a público muito bem fundamentadas. E, neste caso, o famoso "não li e não gostei" do brasileiro não passa de um grande atestado de falência do caráter daqueles que, pretensamente, seriam as lanternas na vante do Brasil.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Grupo de Estudos em Política e Saúde - Parte 01

Leitura Recomendada: Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos. Autor: Olavo de Carvalho.



A primeira atividade do grupo é o estudo dos quatro discursos e o exercício de sua contextualização nas situações políticas vividas pelos profissionais da saúde.

Considerando que, dentro da tipologia do poder (coercitivo, de troca ou de convicção), a Medicina exerce primariamente e preferencialmente o tipo cultural, por convicção, e que o exercício de tal tipo se dá principalmente por meio da linguagem, há que se ter uma noção mais técnica da linguagem utilizada.

Um resumo da Teoria dos Quatro Discursos na Medicina pode ser visto no breve artigo: Os Quatro Discursos Aristotélicos na Medicina: Ferramentas Educacionais para Médicos[1]. Mas o ideal é que todos leiam o livro indicado na íntegra.[2]

Estabelecerei um tempo para leitura de duas semanas, e depois gravarei uma aula para refletirmos sobre o tema e aplicarmos o conhecimento obtido a situações práticas em política e saúde.
Aproveito para reforçar que a política, adequadamente entendida, é a parte da filosofia que envolve o relacionamento do indivíduo com a sociedade de forma pragmática e universal, sem descartar a moralidade inerente à experiência humana. Logo, não poderemos nos furtar de estudar uma boa dose de filosofia e de história.[3]

Se algum dos participantes quiser gravar uma breve resenha do livro ou escrever um resumo, não deixe de informar, para que compartilhemos com o grupo. Se alguém não recordar o que é tipologia do poder, um breve vídeo poderá ajudar a lembrar: https://www.youtube.com/watch?v=n-mP4U5vPUA 

Durante o estudo, todos os participantes do grupo poderão enviar perguntas que serão lidas e debatidas na gravação da aula. E aos poucos o intercâmbio entre os participantes naturalmente aumentará e a profundidade das análises feitas ganhará em qualidade. Sabendo que não há como fazer algo de qualidade sem tempo, sem paciência e sem estudo, deixo um antigo conselho para o grupo: in tempus veritas.

Abraços e bons estudos a todos.


Hélio Angotti Neto
Coordenador do SEFAM



[3] Cf. WEIL, Eric. Filosofia Política. São Paulo: Edições Loyola, 1990.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Programação da Oficina de Formação Política

Oficina de Formação Política - III Seminário de Humanidades Médicas do UNESC e I Seminário de Humanidades Médicas da UFES



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Profa. Márcia de Cássia Cassimiro: palestrante do Seminário de Humanidades Médicas

Dignidade humana e conflito de interesses nos ensaios clínicos na obra "O Fiel Jardineiro”




Capes Split PhD Scholarships Program, 2015 (Bolsista Capes no Programa de Doutorado Sanduíche na Europa). Doutoranda em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Área de concentração: ética e Filosofia Política, Linha de pesquisa: fundamentação da Ética. 

Membro dos seguintes grupos de pesquisas: Filosofia e Interdisciplinaridade, e Filosofia Sistemática: dialética e Filosofia do Direito, ambos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Pesquisadora Visitante do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa (2015). Mestre em Saúde Coletiva, pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ/IESC (2010). 

Servidora Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ), lotada na Vice Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Instituto Oswaldo Cruz-IOC/FIOCRUZ. 

Docente e Coordenadora da Disciplina Bioética, em diversos Programas de Pós-Graduação Stricto sensu e do Curso Técnico de Nível Médio em Biotecnologia (CTB/IOC/Fiocruz). 

Membro do Grupo de Trabalho (GT) Biobanco da Fiocruz (Portaria n° 1228/2014-PR, de 07.11.2014). 

De maio a novembro de 2011, com bolsa concedida pela UNESCO cursou o VI Curso de Ética de la Investigación en Seres Humanos, do Programa de Educación Permanente en Bioética, da Redbioética UNESCO. 

Áreas de Interesse: Bioética; Integridade Científica; Política científica; Ética em Pesquisa com Seres Humanos. 

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

THE HEART OF A TRUE PHYSICIAN

Religião, Virtude e Medicina: meditações na Carta aos Romanos para Médicos

A convite do Programa de Humanidades Médicas estarei em fevereiro na Universidade de Baylor no Texas, Estados Unidos, tratando da essência do que é ser médico.

Saiba mais sobre o Programa de Humanidades Médicas da Baylor em: http://www.baylor.edu/medical_humanities/ 

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Entrevista

A Importância das Humanidades Médicas na Formação do Médico

Entrevista cedida a Davi Vieira, do Grupo de Estudos em Humanidades Médicas John Locke, da PUC-SP.



GELocke: Em primeiro lugar, nós do GELocke gostaríamos de agradecê-lo por aceitar nosso convite para esta entrevista. Como surgiu o seu interesse pelas Humanidades Médicas, e o que o fez criar o Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina?
Obrigado pelo convite!
O interesse nas Humanidades Médicas surgiu por uma confluência de diversos fatores.
Primeiro, começava a travar na época um contato mais próximo com meus pacientes, durante a residência, e assumia responsabilidades maiores pelo próximo, o que sempre estimula a maior reflexão.
À época, também conheci a obra filosófica de Olavo de Carvalho, que despertou o interesse pela área de Humanidades e me levou ao estudo de diversos outros filósofos e campos do saber, incluindo história, ética, psicologia, teologia e literatura.
Fortalecer minha fé também permitiu questionar com profundidade o sentido de minha profissão e o quão importante e valoroso era buscar o significado de tudo o que fazia, para mim e para o paciente que necessita de auxílio.
No decorrer dos estudos humanísticos, que se iniciaram aproximadamente em 2004, tive a oportunidade de ler Platão, Aristóteles, Hipócrates, Louis Lavelle, Diego Gracia, Xavier Zubiri, Eric Voegelin, Mário Ferreira dos Santos, Agostinho, João Calvino, Tomás de Aquino, José Ortega y Gasset, Pedro Lain Entralgo, Julián Marías, Viktor Frankl e vários outros.
Conforme estudava e vivia a prática médica, também percebi a falta que os estudos humanísticos de qualidade faziam à medicina. Quando muito, o acadêmico (inclusive eu em minha graduação) recebia o que agora denomino “marmita sociológica pop pseudointelectual”, uma vulgarização do que deveria ser o conhecimento humanístico, uma peça ideológica muito longe da verdadeira reflexão filosófica.
Em 2012, na qualidade de professor de medicina, resolvi fazer minha parte para mudar o cenário e montei o SEFAM (Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina). Meu objetivo era partilhar o que aprendera e prosseguir na busca de conhecimentos humanísticos úteis aos médicos e aos pacientes. Desde então sonho em formar novos estudiosos, novos médicos com bagagem cultural suficiente para trilharem seus próprios caminhos e enriquecerem a cultura médica em novas direções sem perderem suas raízes milenares.
Foi no SEFAM que comecei também a aprofundar os estudos na obra de Edmund Pellegrino - o pai da Ética Médica contemporânea, quase que completamente desconhecido no Brasil – e dos originais hipocráticos, iniciando uma de minhas linhas de pesquisa.
Como metodologia para o SEFAM, utilizei a Teoria Aristotélica dos Quatro Discursos elaborada por Olavo de Carvalho, iniciando com a formação cultural geral e literária, avançando pela retórica e pelas regras de argumentação, para enfim exercitar a dialética e a lógica, afinando o discurso e o pensamento durante dois ou mais anos. O SEFAM também trata de diversos outros assuntos, e é um pouco imprevisível na medida em que abordamos temas de interesse dos participantes. Podemos começar falando de metafísica aristotélica e terminar em economia, política e saúde, por exemplo.
Desde o começo, a grande preocupação era agregar pessoas verdadeiramente interessadas em crescer, refletir e aprender. Jamais foram enfatizados títulos, notas ou certificados. Felizmente tais pessoas motivadas apareceram e, embora poucas, tenho certeza que brilharão no futuro e, se Deus quiser, serão muito melhores do que consegui ser.
Hoje o SEFAM caminha bem, com um livro publicado (A Morte da Medicina), um trabalho premiado em Congresso Brasileiro e diversos outros apresentados em congressos de nível nacional e internacional, artigos acadêmicos publicados em revistas nacionais e internacionais, um segundo livro em edição e mais dois em elaboração, três iniciações científicas concluídas e dois convites para palestrar nos Estados Unidos e aumentar o intercâmbio cultural. Também estamos na terceira edição do Seminário UNESC de Humanidades Médicas e este ano ajudamos a organizar o I Seminário UFES de Humanidades Médicas. Com menos de quatro anos de existência o SEFAM foi muito mais longe do que eu pensava. E o melhor de tudo: estamos perto de concluir o ciclo de uma segunda turma do SEFAM!

GELocke: Qual é a importância das Humanidades na formação do médico?
A Medicina é uma maravilhosa Arte. Como toda arte, produz algo único, assim como é único cada ser humano e cada situação que vive. Mas a Medicina também utiliza a ciência e a tecnologia, amparada pela evidência estatística. Essa combinação só é eficaz se somarmos a experiência e prudência de um agente humano. Nenhum desses componentes pode faltar.
O médico precisa da ciência e da tecnologia para tratar com eficiência. E precisa das humanidades para ser ele mesmo um agente terapêutico, para gerar o famoso efeito placebo do médico. Precisa também das humanidades para se comunicar de forma eficaz e para sentir na pele o que o paciente sente, ter a tão necessária empatia que vem com a experiência de vida e com o caráter virtuoso.
É curioso notar que, ao longo da história, quando o médico mais cuidou de seu lado humanístico e, entenda-se, da ética profissional, de seu próprio caráter e de sua excelência, ele gerou maior confiança e satisfação em seus pacientes.
Por outro lado, mesmo dotada de incríveis aparatos tecnológicos e estatísticas extremamente complexas unidas à metodologia de pesquisa, a medicina contemporânea falha em satisfazer o paciente.
Medica-se! Porém não se “cuida” do paciente e, às vezes, nem de si mesmo.
As Humanidades Médicas complementam a Arte Médica. Dão profundidade, experiência, riqueza de emoções, compreensão e comunicação ao médico. E acima de tudo, potencializam o bem que pode ser feito ao paciente em necessidade.
E é claro que estudar humanidades é algo divertido, um fim em si mesmo. Como não apreciar a leitura dos clássicos? Como não se surpreender com os efeitos terapêuticos da música de qualidade em nosso espírito? Como não encher os olhos e a mente com a boa pintura? Como não meditar na profundeza das Escrituras e dos textos filosóficos?

GELocke: O nosso grupo tem como patrono o filósofo inglês John Locke. O que pensa a respeito de Locke e da tradição liberal britânica?
O pouco que sei disso deriva principalmente da obra de Roger Scruton, e de alguns volumes de história da filosofia (Giovanni Reale, Frederick Copleston, Olavo de Carvalho e Julián Marías). Julgo que ainda não estudei o suficiente para opinar a respeito de John Locke (não li seus livros) e da tradição liberal britânica com qualidade, embora a princípio não concorde com a idéia de não termos idéias inatas e considere que o liberalismo funciona muito bem somente quando se tem valores culturais bem estabelecidos e de boa qualidade.

GELocke: Recentemente, realizamos nosso primeiro evento, o I Ciclo de Palestras "Bioética".  Qual é a importância da Bioética, e quais são os tópicos que mais despertam o seu interesse na área?
Em primeiro lugar é importante ressaltar que não podemos falar da Bioética, mas de muitas bioéticas, com muitas ênfases e muitas perspectivas. Temos escolas de pensamento utilitaristas, escolas baseadas em princípios ou virtudes, escolas secularistas ou religiosas, escolas liberais ou marxistas, escolas feministas etc.
A Ética Médica é uma forma de bioética especializada. Mas também gostaria de lembrar que o termo bioética ganhou destaque há menos de meio século, enquanto que a Ética Médica já é discutida há mais de dois milênios.
Os temas que despertam meu interesse em bioética incluem o valor da vida humana e sua dignidade, o aborto e a eutanásia, a história da ética médica e da medicina ao longo dos séculos, a filosofia da medicina e a teologia aplicadas a questões éticas e a interface entre política, cultura e saúde. Por gostar de Medicina Baseada em Evidências e fazer parte de um Comitê de Ética em Pesquisa, acabo lidando também com Filosofia da Ciência, Metodologia Científica e Ética em Pesquisa, assuntos extremamente interessantes e importantes.

GELocke: Para maior aprofundamento nos tópicos relacionados à Bioética, quais leituras o senhor sugere?
Há enciclopédias, manuais e tratados de grande abrangência, e há livros sobre temas específicos. Depende muito do que se busca.
O primeiro conselho que posso dar é ir às fontes. Ler artigos é necessário, mas sem bagagem cultural e muitos livros, nada feito.
Quer saber como Edmund Pellegrino abordou a ética em saúde? Leia os livros de Pellegrino e tire suas conclusões.
Quer tecer críticas a respeito do principialismo? Leia os Princípios de Ética Biomédica e assista aos cursos online da Georgetown University (principalmente as aulas do Beauchamp).
Quer saber o que os religiosos pensam a respeito da Bioética? Leia Fundamentos da Bioética Cristã Ortodoxa (Tristram Engelhardt), Ética Cristã (Norman Geisler), a série publicada pela Editora Cultura Cristã e os dois volumes do Manual de Bioética (Elio Sgreccia). Isso só para falar dos Cristãos, sem tocar na Bioética judaica, islâmica ou oriental.
Quer entender a Ética Médica tradicional? Leia Hipócrates, Galeno, William Osler, Thomas Percival e outros antigos, medievais, modernos e contemporâneos de destaque.
Quer descobrir a fantástica trajetória da bioética e da Ética Médica? Leia Diego Gracia e Albert Jonsen.
E se alguém deseja abordar um problema, pesquise opiniões, artigos e livros de várias perspectivas, contrárias e favoráveis. Deixe correr um pouco de tempo enquanto acumula diferentes experiências e conhecimentos. In tempus veritas. Abstenha-se de emitir opiniões por um tempo enquanto ganha profundidade. Mantenha-se informado: a realidade e a experiência concreta das pessoas envolvidas é crucial. Para sair o meu primeiro artigo de bioética e meu primeiro livro foram quase dez anos de estudo sobre um tema; e ainda acho que poderia ter estudado mais.
Edmund Pellegrino dava outra dica importante. Não há como estudar Bioética sem estudar as Humanidades Médicas. E não há como estudar Humanidades sem apelar à Filosofia. E como compreender o ser humano sem compreender sua fé, seus valores, sua cosmovisão? Como consolar sem saber qual o sentido da existência de seu paciente? O bom médico que pretende refletir sobre a vida humana e a bioética apelará inclusive para a sabedoria dos textos sagrados e da Teologia.
Não há atalho. Há somente a perspectiva de uma vida de busca e intensos estudos.

GELocke: Nesse mesmo evento, uma das palestras tratou da teologia asclepíade em Hipócrates. Qual é a relevância de Hipócrates na história da medicina, e como seus ensinamentos ecoam na medicina contemporânea?
Hipócrates foi uma figura de grande carisma que nomeou toda uma escola incluindo uma linhagem de médicos que herdaram concepções religiosas de Pitágoras. Na extensa obra assinada com seu nome são demonstrados os fundamentos morais da Medicina - que considera o ser humano digno – e a busca pela virtude pessoal. Há um compromisso pessoal com a busca por uma vida compatível com tão nobre missão. É com a escola hipocrática e sua descendência também que o médico surge como profissional (professando valores), destacado do ofício religioso propriamente dito, porém sem tornar-se destituído do sentimento religioso.
A ética hipocrática é tão rica e possui elementos tão universais que foi inclusive absorvida pela cristandade primitiva e medieval.
Obviamente é necessária uma contextualização de qualquer ética prévia. Os tempos mudam sempre, com suas tecnologias e ciências, mas seu elemento de universalidade e seu conteúdo humanístico persiste, e permite ao estudioso ler Hipócrates e obter insights valorosos para a prática médica contemporânea.
GELocke: Muitíssimo obrigado, professor!

Novamente agradeço o convite. Sucesso a todos vocês, e não desistam de lutar por uma Medicina cada vez mais completa, mais científica e mais humana!

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Oficina de Formação Política está pronta!!!

A Oficina de Formação Política está pronta!

E os temas serão muitos.

Alguns esclarecimentos se fazem necessários:

- Não é um curso de Ciência Política, mas sim de formação política com forte ênfase em estratégia, filosofia e história;

- O curso é primariamente devotado aos profissionais da área da saúde, mas pode ser aproveitado por qualquer um que esteja interessado no tema;

- Uma das finalidades é criar um grupo de pessoas honestas e dedicadas ao estudo sério e à pesquisa do tema.

Inscrições na Primeira Oficina podem ser feitas conforme orientação abaixo:

Depoimento: Pâmela Nascimento Simoa da Silva

Depoimento - Primeira Turma do SEFAM (2012-2013)



Digo sem dúvidas que divido os meus conhecimentos em antes e depois do SEFAM. Aprendi com o professor Hélio Angotti Neto a pensar criticamente e a "sair da caverna" à procura da Verdade. Alta cultura, filosofia, discussão de artigos científicos, medicina baseada em evidências, história (a que não é contada pelos livros do MEC), literatura, humanidades médicas e atualidades. Uma mistura de tudo isso e muito mais levaram a mim e a meus amigos que também participaram a pensarmos grande.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Prof. Ms. Helvécio de Jesus Júnior: palestrante do Seminário de Humanidades Médicas

Relações Internacionais e Dignidade Humana



Graduado em Relações Internacionais pela Universidade Vila Velha (2005), Mestre em Relações Internacionais - Instituto de Relações Internacionais - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2006). Doutorando em História pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). 

Atua na área de Relações Internacionais, principalmente nos seguintes temas: Segurança Internacional, Geopolítica, Teorias de Guerra e Paz e Teoria das Relações Internacionais. 

Atualmente é professor dos cursos de Relações Internacionais e Economia na Universidade Vila Velha, ES (UVV).

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Sugestão de Leitura: Células-Tronco, Promessas e Realidades

Células-Tronco, Promessas e Realidades



Quando o assunto é Células-Tronco (CT), e ainda por cima quando se fala do tipo embrionário, a polêmica sobre a dignidade da vida humana se acende. E junto com a polêmica, também se acendem fortes esperanças de cura, regeneração ou até mesmo de imortalidade, numa estranha mistura entre escatologia religiosa, materialismo e progressismo científico (confira uma breve palestra sobre as expectativas quase religiosas de certos ramos da bioética em: https://www.youtube.com/watch?v=T6h1jyqdaZI ).

Até mesmo as graves suspeitas ou falhas da conduta ética em pesquisa, como aquelas evidenciadas pelas gravações com funcionários da Planned Parenthood, podem ser menosprezadas quando o que está em questão é a esperança quase escatológica em um hipotético sucesso das pesquisas com CT (http://www.medicinaefilosofia.blogspot.com.br/2015/09/espantalhos-nazistas-e-coerenciaetica.html).

Recentemente li uma entrevista muito realista, sem ser pessimista, acerca das reais expectativas e conquistas do uso de CT adultas e embrionárias na revista Ser Médico, do CREMESP, cedida pela Professora Lygia da Veiga Pereira, chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias do Instituto de Biociências da USP. 

Da entrevista fui ao livro.

O livro, numa linguagem muito acessível ao leigo e ao médico ou pesquisador não especialista, trata das origens e modalidades da pesquisa com células-tronco. Também trata das (grandes) expectativas e dos (poucos) resultados concretos alcançados quando se fala de aplicabilidade à clínica. 

No fim do livro, a autora toca num perturbador tema da atualidade: o comércio inadequado e cientificamente reprovável de terapias milagrosas com CT em clínicas suspeitas e os graves danos já causados a algumas pessoas vítimas de terapeutas inescrupulosos que se aproveitaram da imensa expectativa depositada nos ombros de cientistas e médicos (como descreve o artigo "Donor-Derived Brain Tumor Following Neural Stem Cell Transplantations in an Ataxia Telangiectasia Patient", disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2642879/ ).

Dra. Lygia não deixa de demonstrar sua empolgação em trabalhar na vanguarda da pesquisa médica, mas também consegue de forma muito sóbria demonstrar que o trabalho a ser feito ainda é grande, e que a velocidade das descobertas utilizáveis diretamente na terapia com seres humanos pode não corresponder às expectativas.

Lembra que: 

"Apesar da urgência dos pacientes para que as terapias com Células-Troncos comecem logo a ser oferecidas, o desenvolvimento científico sério deve ser feito de forma absolutamente responsável, para não submetermos essas pessoas a riscos desnecessários."

É fato que a pesquisa séria é lenta, e que os seres humanos diferem muito entre si, sendo extremamente complexos e respondendo de formas muito particulares a determinados estados de saúde ou terapias. 

É fato também que mesmo com a aprovação do uso de CT Embrionárias em pesquisas, ainda há polêmica entre diferentes setores da sociedade, como a própria autora lembra em seu livro. A autora repete a pergunta que muitos se fazem quando pesquisas são feitas com embriões: "Que formas de vida humana nós permitiremos violar?" 

Explica que a vida já pode ser violada em algumas situações, porém comete uma imprecisão ao dizer que "nesses casos (feto resultado de estupro ou feto que representa risco à gestante) o aborto é legal". Na verdade o aborto não pode ser denominado "legal" em nenhum caso; o que há é a não punição dos abortos realizados em tais situações de grande sofrimento.

No geral, é um bom livro para aqueles interessados em conhecer um pouco mais acerca da pesquisa médica e das expectativas da emergente Terapia Celular.

Hélio Angotti Neto
Coordenador do SEFAM
www.medicinaefilosofia.blogspot.com.br