Artigo originalmente publicado no Portal Academia Médica
Edmund
Pellegrino afirmava que:
“Phronesis
era o termo que Aristóteles utilizava para a virtude da Sabedoria Prática, a
capacidade de intuição moral, a capacidade – em uma circunstância específica –
de discernir qual escolha moral ou curso de ação conduzirá melhor ao bem do
agente ou da atividade na qual o agente encontra-se comprometido. Phronesis é a virtude intelectual que
nos predispõe a buscar a verdade em prol da ação, oposta à busca da verdade em
prol dela mesma, o que constitui a sabedoria especulativa ou sophia.”[1]
A
prudência é mediadora entre todas as demais virtudes na busca ativa de executar
um bem[2].
Como balancear a beneficência com a autonomia? Utiliza-se a prudência. O quão
justo, corajoso, humilde, compassivo e bondoso se deve ser? A prudência ajuda a
tomar o “caminho do meio”, ajuda-nos a não desviar nem para a direita e nem
para a esquerda.
Na
Medicina a prudência irá auxiliar sobremaneira o raciocínio clínico e o plano
terapêutico. É a prudência que equilibrará a compaixão subjetiva e a
equanimidade objetiva. É a prudência que nos auxilia a contar uma notícia
trágica, a comunicar a morte de um ente querido, a anunciar o fim das
capacidades da medicina, de nossa inteligência e de nossa tecnologia. É ela que
nos ajuda a dosar a quantidade e a temperatura da informação dada a cada
momento.
Ao
pesar o risco de uma terapia e seus benefícios contra o risco de se deixar uma doença
seguir seu curso e ao se considerar o quanto de qualidade de vida será
comprometida com determinado curso de ação, a prudência será a haste da
balança.
Na
tríade do erro médico, a imprudência arrasta os outros dois quesitos. Um médico
imprudente tomará a conduta errada mesmo que tenha o conhecimento adequado e
mesmo que queira ajudar o paciente. Um médico imprudente ousará ir além do
limite permitido por seu conhecimento e seus estudos e práticas, prejudicando o
paciente. Um médico imprudente, por fim, agira de forma negligente, deixando de
utilizar seu conhecimento e sua técnica para realizar o bem a seu paciente[3].
Se há
uma virtude que “tempera” todas as demais, esta virtude é sem dúvida nenhuma a
prudência.
[1] PELLEGRINO, Edmund. The Virtues in Medical Practice. Oxford: Oxford University Press,
1993.
[2]
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução
do grego de António de Castro Caeiro. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2009.
[3]
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. A Medicina
para além das normas: Reflexões sobre o novo Código de Ética Médica. Nedy
Neves (Org.). Brasília: Conselho Federal de Medicina, 2010.