Publicado originalmente no portal Academia Médica
É a arte do autocontrole, da busca pelos prazeres ditos do
espírito e não do físico, sabendo que em última instância, este se beneficiará
muito mais daquele. Seu papel lembra em grande parte a virtude da Prudência,
mas apresenta especificidades interessantes para o médico moderno.
É a arte de evitar excessos ou faltas, é a arte de viver de
forma inteligente. É no cotidiano evitar os vícios que podem destruir a
carreira e prejudicar a capacidade de beneficiar o paciente.
Isso inclui coisas óbvias, desde evitar tomar um porre na
véspera do plantão no Centro Cirúrgico até o exercício da modéstia cautelosa em
grandes cirurgias plásticas, nas quais alguns pacientes podem nutrir
expectativas irreais.
Os antigos sabiam que a busca pela saúde é também uma busca
moral, uma busca pela vida correta. Nas Dietas e Regimes prescreviam-se não
somente fármacos terapêuticos, mas também condutas e virtudes a serem
praticadas para a boa vida.
Uma situação que logo vem à mente é a tentação de brincar de
Deus, de negar a vida ao bebê no útero materno, de apressar a morte de forma
indevida, de legislar sobre o que é o ser humano de forma arrogante e de ousar
encarnar na prática médica um tipo de engenharia do novo homem ou do super-homem
ideológico, tecnológico e geneticamente alterado.
A temperança ajuda a evitar o abuso de tratamentos
dispendiosos e inúteis para o paciente, a temida obstinação terapêutica. A
temperança ajuda a evitar danos ao paciente ao exagerar na mão durante procedimentos,
causando a temida Iatrogenia.