domingo, 8 de fevereiro de 2015

TEMPERANÇA como Virtude Médica

Publicado originalmente no portal Academia Médica


É a arte do autocontrole, da busca pelos prazeres ditos do espírito e não do físico, sabendo que em última instância, este se beneficiará muito mais daquele. Seu papel lembra em grande parte a virtude da Prudência, mas apresenta especificidades interessantes para o médico moderno.

É a arte de evitar excessos ou faltas, é a arte de viver de forma inteligente. É no cotidiano evitar os vícios que podem destruir a carreira e prejudicar a capacidade de beneficiar o paciente.

Isso inclui coisas óbvias, desde evitar tomar um porre na véspera do plantão no Centro Cirúrgico até o exercício da modéstia cautelosa em grandes cirurgias plásticas, nas quais alguns pacientes podem nutrir expectativas irreais.

Os antigos sabiam que a busca pela saúde é também uma busca moral, uma busca pela vida correta. Nas Dietas e Regimes prescreviam-se não somente fármacos terapêuticos, mas também condutas e virtudes a serem praticadas para a boa vida.

Uma situação que logo vem à mente é a tentação de brincar de Deus, de negar a vida ao bebê no útero materno, de apressar a morte de forma indevida, de legislar sobre o que é o ser humano de forma arrogante e de ousar encarnar na prática médica um tipo de engenharia do novo homem ou do super-homem ideológico, tecnológico e geneticamente alterado.

A temperança ajuda a evitar o abuso de tratamentos dispendiosos e inúteis para o paciente, a temida obstinação terapêutica. A temperança ajuda a evitar danos ao paciente ao exagerar na mão durante procedimentos, causando a temida Iatrogenia.

Por fim, a Temperança está colada às demais virtudes de forma semelhante à Prudência, aconselhando o bom e velho “caminho do meio” que Aristóteles preconizava em sua Ética a Nicômaco.