sábado, 29 de agosto de 2015

Sugestão de Leitura: A Imagem Descartada, de C. S. Lewis.


Minha linha de pesquisa levou-me a pesquisar a Ética Médica ao longo dos milênios. Parte desse esforço inclui a necessidade de compreender como os antigos, os medievos e os modernos enxergaram o mundo. O que foi descartado, o que foi absorvido, o que foi destruído e o que foi criado de novo ou recriado.

No caminho para entender melhor a mente daqueles que fundaram nossa civilização, deparei-me com uma obra preciosa, recentemente traduzida e lançada pela É Realizações: A Imagem Descartada: Para Compreender a Visão Medieval do Mundo, escrita pelo fantástico C. S. Lewis, conhecido principalmente pelo seus livros infantis, secundariamente pela sua obra apologética e, por alguns poucos, pela sua obra de Alta Cultura e resgate das bases culturais de nossa civilização. 

Lá estão Boécio, PseuDionísio e Apuleio. Lá estão as descrições do Céu, os Seres Longevos, a Terra e seus habitantes. Lá está o "Modelo", como Lewis chamava.

As referências e alusões da obra são muito ricas e distantes para o leitor brasileiro, e aqueles que ousarem confrontar o lado mais complexo - e por que não dizer rico - da obra do criador das Crônicas de Nárnia, encontrarão um maravilhoso convite para entrar no mundo dos clássicos e na mente dos antigos.


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

SEFAM Módulo IV - Aula 04: O que é "Humanidades Médicas" e o Ensino das Virtudes



Nesta aula do SEFAM foram discutidos vários temas, incluindo Tanatologia, Universais, Metafísica, Estética, Epistemologia e Teologia. De todo o conteúdo apresentamos o segmento que tratou da definição de Humanidades Médicas e de como utilizar tal área de estudo na formação do médico.


terça-feira, 25 de agosto de 2015

Pérolas da Medicina: Lisa Rosenbaum

"Os médicos que eu mais admiro não são caracterizados pelo quanto sabem, mas sim, por uma sofisticada intuição sobre como compartilhar melhor o que sabem. Algumas vezes eles dizem ao paciente o que fazer; algumas vezes eles oferecem uma escolha. Algumas vezes, quando discutem o tratamento, podem cobrir todos os sete princípios do consentimento informado. Outras vezes, vendo o terror e a incerteza no rosto de seus pacientes, poderão oferecer recomendações e dizer: 'Eu não sei como tudo irá acabar, mas eu prometo que estarei aqui com você todo o caminho'. "


Dra. Lisa Rosenbaum, Cardiologista
Correspondente Nacional do New England Journal of Medicine
"The Paternalism Preference - Choosing Unshared Decision Making"
Perspective, August 13, 2015. The New England Journal of Medicine

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Não é hora de "mea culpa", mas sim, de agir!

Frente aos perversos, demonstrar fraqueza é pedir o desprezo e a agressão. Lembrem-se das sábias palavras que nos aconselham a sermos símplices como as pombas, porém prudentes como as serpentes.

Sobre a culpa da má fama da medicina ser dos médicos e do governo ao mesmo tempo, tenho algo que gostaria de compartilhar...

Observem as seguintes críticas:

- Os médicos transformaram a arte de curar na arte de ganhar dinheiro.

- Vemos que os médicos (...) andam bem vestidos (...) e juntam riquezas (...) graças aos grandes enganos que causam a seus doentes, os quais enganam de todas as maneiras, pois se gabam de conhecer a doença que não conhecem. Além disso, eles prolongam (...) as doenças nos doentes, para que tenham mais ganhos. E eles dão aos doentes (...) [medicações] para que tenham parte do lucro do que fazem os especialistas nas coisas que vendem aos doentes.



A primeira foi feita no século XIII por Tomás de Aquino, a segunda foi feita por Ramón Llull (1), um filósofo catalão contemporâneo a Tomás de Aquino que escrevia sobre Medicina.

Sempre existiu a crítica contra maus médicos, e mesmo naqueles tempos o bom médico era querido e gozava de boa fama.

Hoje existem bons e maus médicos como sempre existiram. Porém, os bons amargam uma realidade cada vez pior e um ódio gratuito vindo de muitos elementos da população. Qual a diferença?

O governo nos difama. É simples assim.

Mea culpa por causa de médicos picaretas é algo comum na história da medicina no ocidente.

Hipócrates já falava mal dos médicos de "mentirinha", meros figurantes perto dos verdadeiros atores da medicina. Mas à época não tinham uma elite revolucionária caluniadora e maquiavélica para combater.

Paremos com o discurso politicamente correto assumindo culpas por todos os lados. Os bons médicos estão sofrendo. A esquerda revolucionária é perita em utilizar o discurso de culpa alheio para promover a destruição do próximo e se reerguer cobrindo as próprias falhas, como já foi mais do que bem descrito pelo fenômeno do Bode Expiatório (René Girard) e pelo uso sistemático do ódio (Gabriel Liiceanu).

É hora de trabalhar fazendo boas coisas ao lado dos pacientes, e ganhar seus corações com as boas virtudes e as boas obras que sempre caracterizaram a medicina como profissão.

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1 - ANGOTTI NETO, Hélio; COSTA, Ricardo da. A Lepra Medieval e a Medicina Metafórica de Ramon Llull (1232-1316). Disponível em: <http://www.ricardocosta.com/artigo/lepra-medieval>. Acesso em: 24 ago. 2015.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

MEDICINA E ESPIRITUALIDADE: DUAS PALESTRAS NA BAYLOR UNIVERSITY

Começa a preparação para a apresentação de duas palestras na Universidade Baylor, no Texas, em fevereiro. 



Recebi o gentil convite do grande professor James A. Marcum, autor de um livro de Introdução à Filosofia da Medicina (An Introductory Philosophy of Medicine: Humanizing Modern Medicine) que li há alguns anos.



Lembro de pensar comigo como eu gostaria de poder trocar alguns pensamentos e aprender mais com o autor do livro que lera. E quem diria que anos depois receberia um honroso convite para encontrar pessoalmente um daqueles que inspirou o livro A Morte da Medicina!


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Apresentação no I Seminário UFES de Paleopatologia: A Lepra na Idade Média

Hoje o trabalho "A Lepra Medieval e a Medicina Metafórica de Ramon Llull (1232-1316)" foi apresentado no I Seminário UFES de Paleopatologia, ao lado do grande professor medievalista Ricardo da Costa.


Confira o trabalho na página do professor Ricardo da Costa!
http://www.ricardocosta.com/artigo/lepra-medieval-e-medicina-metaforica-de-ramon-llull-1232-1316


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

SEFAM IV - Aula 04: A Medicina e a Morte

SEFAM Módulo IV: A Medicina e a Morte: Aspectos Culturais, Filosóficos, Sociais e Bioéticos.

Na terceira aula do SEFAM, o grupo mostrou interesse no estudo da Tanatologia. Conforme pactuado entre os participantes, os temas são parcialmente direcionados de acordo com a curiosidade e o contexto das discussões, e o papel do médico frente à morte será o assunto abordado semana que vem, dia 26 de agosto de 2015, das 18:30 às 21:30 na sala de vídeo da Biblioteca do CAMPUS I do UNESC.

O encontro do dia 19 foi adiado, pois estarei no I Seminário UFES de Paleopatologia apresentando em conjunto com o grande professor Ricardo da Costa a respeito da Lepra na Idade Média.



Roteiro de Estudo

- Retratos da morte no século XXI.

- Etapas psicológicas da morte

- A condução médica da morte

- Ars moriendi

- Visões sobre o morrer

- Visão médica sobre a morte

- A medicina como a mensageira da morte

- Choque de princípios na condução da morte

- O suicídio e a Medicina

- A eutanásia e a Medicina

- O preparo para a morte

- Sofrimento e morte

- Protocolo Groningen


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

FILOSOFIA DA CIÊNCIA E ASCENSÃO DA MEDICINA MODERNA

SEFAM, Módulo IV, Aula 02. Filosofia da Ciência e Ascensão da Medicina Moderna


Gravação da segunda aula do SEFAM, segundo semestre de 2015.


Pintura Original

domingo, 9 de agosto de 2015

SEFAM IV - Aula 03: Aforismas de Hipócrates e Virtudes Médicas

Na terceira aula do SEFAM, duas missões: Falar acerca de quais lições podemos retirar dos aforismas de Hipócrates quando o assunto é ética médica e iniciar o trabalho no mapeamento de todas as medidas tomadas durante o governo do PT contra a profissão médica.



GUIA DE ESTUDO

Medicina hipocrática e ética médica.

Leitura e interpretação dos aforismas que tratam de ética.

Introdução à Ética Baseada em Virtudes. Da possibilidade de se ensinar a moral. A comunidade moral dos médicos. Exemplos positivos e negativos da medicina ocidental ao longo do tempo. Resgate cultural como resgate profissional e moral da medicina.

Leitura dos artigos do volume IV da Revista Mirabilia.

Leitura do Decreto 8497/2015 sobre formação de especialistas no Brasil.




terça-feira, 4 de agosto de 2015

Perguntas e Respostas: DA ESSÊNCIA DA MEDICINA



Recebi algumas perguntas interessantes (obrigado ao Cezar Moura) que aprofundam o debate sobre o que é a Medicina. Como o assunto toca temas centrais ao entendimento da antiga Arte, creio que vale uma publicação aqui no SEFAM.

1 - Na medicina atual, a falta de estudo sobre placebo seria o medo de ver que muitos dos tratamentos médicos continuam agindo mais pelo efeito placebo?

Não diria que faltam estudos sobre o placebo, pelo contrário. Encontram-se livros e artigos científicos sobre, inclusive, o papel do médico como terapia, isto é, como placebo benéfico. E a ação do placebo é bem conhecida e utilizada com sabedoria por muitos médicos experientes.

Um dos livros que trata especialmente dos efeitos benéficos de uma boa relação médico-paciente foi escrito pelo médico húngaro Michael Balint, intitulado: O Médico, seu Paciente e a Doença. Recomendo a leitura e a reflexão.

Outro trabalho curioso foi publicado por Fabrizio Benedetti, na revista Physiological Reviews, e tem como título: PLACEBO AND THE NEW PHYSIOLOGY OF THE DOCTOR-PATIENT RELATIONSHIP. O artigo é uma interessante revisão que inclui mais de 350 artigos originais!

2 - A medicina atual é uma ciência, ou apenas usa a ciência em benefícios corporativos e financeiros?

A medicina é uma arte que usa a ciência para fins pragmáticos, isto é, para aumentar as chances de cura ou alívio de doenças ou padecimentos do ser humano. Pode agir em benefício de interesses corporativistas e financeiros? Sim, desde que idealmente não se afaste do foco principal.

Quem trabalha de graça completamente abstraído do ganho financeiro? Alguma profissão é capaz de se sustentar sem ganhar nada? A única crítica que cabe em relação ao elemento financeiro seria a perversão da hierarquia de valores, esta sim, um vício.

Em relação ao corporativismo, há trabalhos que discutem o mesmo como ferramenta de controle da credibilidade e da qualidade profissional. Quando bem utilizado, pode servir como auxílio no efeito placebo que beneficia o paciente inclusive. Desde Hipócrates já se reconhecia que um médico de boa fama e comportamento auxiliar na cura de seu paciente.

3 - Mas qual trabalho científico, nos moldes atuais, não envolve efeito placebo?

De fato, é impossível escapar totalmente do efeito placebo, embora se tenham mecanismos de redução do mesmo, desenvolvidos principalmente nos estudos do tipo Ensaio Clínico.

Sem dúvida nenhuma, um dos elementos da ascensão da medicina moderna foi o desenvolvimento do experimento clínico por Austin Bradford Hill, como James Le Fanu lembra em sua obra The Rise and Fall of Modern Medicine. Tal desenho de estudo minimizou o aspecto subjetivo da pesquisa médica.

4 - Mas tu sabes o quanto o afastar por completo o efeito placebo é impossível, pois a simples interação entre 2 humanos já está gerando o efeito placebo, enfim, se não podemos afastar por completo, como podemos saber qual percentual de efeito placebo aconteceu?

Não podemos, mas podemos saber se há diferença estatística entre tratamentos que incluam doses semelhantes de placebo, desde que o estudo seja duplo-cego, mascarado e controlado, por exemplo.

5 - Como considerar a medicina atual não reducionista, no momento em que atua por especialidades?

Como quase tudo o que se faz hoje em dia, guarda-se importante aspecto reducionista. Mas toda ação, por mais reducionista que seja, ocorre num ambiente real, isto é, extremamente rico e complexo. O que cabe não é evitar a especialização, mas sim, buscar a especialização de qualidade sem abrir mão dos conhecimentos gerais que fundamentaram a especialidade, como o filósofo Mário ferreira dos Santos já alertava.

Hoje temos inúmeros defensores do pensamento complexo e da necessidade de entender a realidade de forma adequada, incluindo Xavier Zubiri, Olavo de Carvalho e Edgar Morin, mas tal anseio está presente há séculos. Encontro as raízes do pensamento complexo em Platão e Aristóteles, por exemplo, que analisavam uma questão sob diversas perspectivas, mas buscavam respostas em profundidade. Todo médico tem um grande desafio se ousar a especialização: não deixar de ser médico com profundos conhecimentos gerais, inclusive conhecimentos humanísticos, como Gregório Marañón já alertava ao dizer que "O Médico que só sabe Medicina, nem Medicina sabe. "

Com a tecnologia atual, é impossível não se especializar um mínimo que seja sem abrir mão da qualidade.

6 - Aliás, estaria a ideia de especialidade médica gerando simplesmente aumento de consumo de serviços médicos?

De certa forma sim. O aumento de ferramentas e conhecimentos à disposição do paciente aumentou exponencialmente e, com isso, a necessidade de que pessoas se dediquem a áreas específicas para que o benefício máximo seja alcançado também aumentou.

Para um médico conseguir realizar uma cirurgia chamada vitrectomia e evitar a cegueira num descolamento de retina grave, há a necessidade de no mínimo onze ou doze anos de estudo, só para citar um exemplo. Isso não desmerece quem optou por um campo mais genérico (tão desafiador e complexo quanto a especialidade, quando encarado seriamente).

O problema na pergunta é a palavra simplesmente. Aumenta-se o consumo, mas aumenta-se também em muitos casos a qualidade de vida. Considere os avanços na cirurgia de catarata, por exemplo. Pessoas de sete ou oito décadas de vida praticamente cegas que voltam a enxergar e se conectam novamente com o mundo e que, além disso, evitam traumas e quedas ao ver melhor por onde caminham.

O aumento do "consumo" médico vem ao lado de muitas conquistas.

7 - Numa sociedade que consome serviços de saúde quando está doente, estaria a ideia de especialidade médica gerando mais doença ou isto tudo é mera coincidência com o fato do governo pensar que o problema de saúde do Brasil é falta de médico para atender tantas consultas?

A visão de que a sociedade "consome serviços" é um pouco estranha e enviesada. Prestação de serviços de saúde não é material de consumo. Mas é um fato que as pessoas de todas as classes sociais demandam cada vez mais serviços de qualidade e alta complexidade. E também é fato que muitos comecem a enxergar - erroneamente - a medicina como um produto.

Também não se pode evitar a percepção de que muitos procedimentos trazem benefícios às custas de efeitos colaterais novos e novos desafios, e que a Iatrogenia (lesão causada por ação médica) é uma realidade que deve preocupar cada vez mais os médicos conscientes.

Já as razões para que o governo traga mais médicos são várias, e recomendo uma leitura no artigo publicado na revista Ibérica de Estudos Interdisciplinares. Nessa questão do Mais Médicos, o buraco é muito mais embaixo. Artigo: http://www.sophiaweb.net/repositorio/iberica/iberica21/interiorizacao-medico-angotti.pdf