quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A TRADIÇÃO DA MEDICINA

A Tradição da Medicina


Prefácio: Eduardo Cabette
Revisão: Rogério Portella
Edição e Capa: Felipe Sabino
Coleção: Academia Monergista

Já disponível pela Amazon! Em breve, na versão impressa.

Este livro esclarece de forma exemplar a ligação indelével entre medicina e moral. Trata-se de reconhecer que a arte médica não pode jamais se reduzir à técnica e que o bom médico não é apenas o que domina os conhecimentos científicos e técnicos, mas o conhecedor e praticante da arte do bom e do justo. Em uma das últimas passagens da obra, Angotti assim se manifesta, proporcionando como que um resumo da mensagem que pretende difundir:
O que o médico deve fazer diante de tudo o que foi exposto? O primeiro passo é praticar a boa medicina. Amar o paciente, ser caridoso, ter compaixão. O segundo passo é estudar profundamente, não só para tratar o paciente de forma técnica, mas também para se tornar um grande humanista. É necessário estudar medicina, filosofia, história, ciências sociais em geral etc. Na concepção do grande médico humanista José de Letamendi e Manjarrés: “O médico que só sabe medicina, nem medicina sabe”. Essa frase de Letamendi precisa ser apreendida pela classe médica.



quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Humanidades Médicas e a Reconquista da Educação Liberal

Humanidades Médicas e a Reconquista da Educação Liberal

“O novo bárbaro, atrasado em sua época, arcaico e primitivo em comparação com a terrível atualidade dos seus problemas. Esse novo bárbaro é principalmente o profissional, mais sábio que nunca, porém mais inculto também – o engenheiro, o médico, o advogado, o cientista”.
Ortega y Gasset em A Missão da Universidade


Um colegiado de professores que ensinam as artes liberais recebe a incumbência de justificar o ensino de línguas mortas e de clássicos da literatura em 1828, na Universidade de Yale. Em seu relatório, os professores mostram o que é educação superior, qual a verdadeira missão das artes liberais e sua importância.

Em seu relatório mostram que cabe à Universidade oferecer muito mais que conhecimentos. É necessário treinar a capacidade comunicativa e o exercício da inteligência e da imaginação, amplificadas pelo aprofundamento nos clássicos de nossa civilização.

O papel daquele conhecido à época como tutor, responsável por um grupo pequeno de alunos a quem trata como verdadeiros afilhados, é ressaltado como parte fundamental do verdadeiro esforço formativo. Os antigos tutores eram o que hoje se conhece pelo nome de Mentores. Embora o sentimento seja semelhante, assim como os propósitos, há um elemento radicalmente diferente entre a aprendizagem com mentores no Brasil e a aprendizagem universitária norte-americana, por exemplo. Muitos professores universitários nos Estados Unidos ainda vivem próximos – no mesmo local, para ser mais exato – que seus alunos, e agem como membros da família, apoiando e cobrando resultados. No Brasil não é incomum a figura dos inalcançáveis iluminados, distantes do convívio, desaparecidos atrás dos muros de títulos, diplomas e publicações que os isolam da realidade e do convívio nem sempre pacífico entre as mentes que buscam o conhecimento.

O relatório lembra a respeito do profissional que negligenciou uma formação geral em artes liberais, que:

Caso se destaque em sua profissão, sua ignorância de outros temas e as imperfeições de sua educação estarão ainda mais expostas à observação pública. Por outro lado, aquele que não só é eminente na vida profissional, mas também possui uma mente ricamente abastecida de conhecimentos gerais, tem uma elevação e uma dignidade de caráter que lhe confere uma influência poderosa na sociedade, e uma esfera muitíssimo ampla de utilidade. Sua situação permite-lhe difundir a luz da ciência em meio a todas as classes da comunidade.[1]

Há uma intensa crítica aos que pensam ser o ensino superior destinado a criar o substrato que nutrirá os postos de emprego. Médicos, advogados e teólogos são convocados a desenvolverem seu caráter e sua inteligência antes de mergulhar nos profundos mares da especialização.

Uma educação liberal presta-se a ocupar a mente, na medida em que tem o poder de abrir e alargar; uma educação de formação profissional exige um entendimento já cultivado pelo estudo e preparado pela prática para esforços metódicos e perseverantes.[2]

No Brasil, adolescentes caem direto na Medicina, por exemplo, com um preparo prévio que os padronizou para um teste – o vestibular ou o ENEM. Seu conhecimento literário baseia-se em pobres resumos de apostilas superficiais. Sua vivência resume-se ao convívio de familiares e amigos da mesma idade, longe dos desafios de uma sociedade complexa na grande maioria das vezes. Suas opiniões, de regra, reproduzem as doutrinas e as figuras de linguagem destiladas pela elite midiática e intelectual numa marmita pop. O amadurecimento nem sempre vem rápido, e os jovens estudantes de medicina encontram-se, de repente, frente a pacientes que sofrem, morrem e assustam.
Ter um preparo humanístico não somente capacitaria o jovem a desfrutar mais de sua profissão e da sociedade, mas também prepararia para que fosse um guardião do que há de melhor em uma determinada cultura.

Diminua-se o valor de uma educação acadêmica, e a difusão de conhecimento entre as pessoas cessaria, o nível geral de valor intelectual e moral cairia, e nossa liberdade civil e religiosa seria colocada em risco por causa da desqualificação última de nossos cidadãos para o exercício do privilégio da democracia.[3]

Qualquer comparação fácil com o Brasil de hoje não é mera coincidência. Nossas escolas de regra entendem que devem educar para a profissão, mas raramente se colocam como educadoras para a vida. O analfabetismo funcional que abunda no ensino superior brasileiro não é coincidência.

Verdade seja dita, a educação liberal é para uma elite moral e intelectual[4], enquanto que uma visão puramente profissionalizante da educação prepara o perfeito escravo, incapaz de participar do diálogo universal que atravessa eras e nações.

O ensino das Humanidades Médicas, nesse contexto, é uma tentativa tardia, porém ainda possível, de reconquistar o legado cultural que nos foi negado. É a chance de tornar-se um profissional ou um cidadão mais íntegro.


Hélio Angotti Neto
Médico Oftalmologista pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Coordenador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina, Coordenador do Curso de Medicina do UNESC, Colunista do Academia Médica, Autor do Livro “A Morte da Medicina”. Global Scholar em 2016 no Center for Bioethics and Human Dignity.




[1] A Educação Superior e o Resgate Intelectual: O Relatório de Yale de 1828. Campinas, SP: Vide Editorial, 2016, p. 58.
[2] Ibid., p.102.
[3] Ibid., p. 161-162.
[4] O fato de que brasileiros em geral entendem a palavra “elite” ligada a dinheiro só reforça a degeneração cultural e moral que sofremos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

The Great Treasure of an Institution


O sucesso de nossos alunos é o nosso sucesso!

"The great treasure of any university is its great names. It is not the 'pride, pomp, and circumstance' of an institution which bring honour, nor its wealth, nor the numbers of its schools, not the students who throng its halls, but the men who have trodden in its service the thorny road through toil, even through hate, to the serene abode of Fame, climbing 'like stars to their appointed height'".

William Osler

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

AEQUANIMITAS: William Osler e a Tranquilidade Médica

EQUANIMIDADE - A TRANQUILIDADE MÉDICA


A cena se repete em filmes e seriados. E todos os dias acontece na vida real. Um paciente gravíssimo chega, à beira da morte, e a equipe calmamente, porém sem demora, reage como se fizesse a coisa mais comum do mundo, mais corriqueira e sem importância. Na mesa de cirurgia, uma hemorragia ameaça tomar a vida do paciente; o cirurgião tranquilamente trabalha sobre a complicação para finalizar a cirurgia normalmente logo após.

As aparências enganam. O coração acelera na hora da cirurgia complicada ou do atendimento emergencial. A adrenalina está nas veias. Mas o médico desenvolveu uma curiosa capacidade: a Equanimidade. Seu ânimo não varia, seus movimentos mantêm-se contínuos - como se nada perturbasse o profissional - e sua face, quase que inexpressiva.

Ao observador incauto, essa ausência de expressividade e nervosismo pode parecer frieza, mas é elemento indispensável ao bom médico. Manter a mente alerta e tranquila, assim como a expressividade e os movimentos corporais durante graves situações, só reforça a confiança que o paciente depositou no médico e a confiança que a equipe tem em seu líder. 

William Osler afirmava que a Equanimidade não era apenas uma vantagem, era uma necessidade positiva ao exercer o juízo acerca de um quadro clínico ou executar uma operação delicada.

Osler recomendava que cada médico cultivasse a Equanimidade, porém, sem jamais deixar endurecer o coração que o liga à prática humana da medicina.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

MÁQUINA DE FAZER DINHEIRO

Máquina de Fazer Dinheiro

A Indústria Milionária do Aborto 


MÁQUINA DE FAZER DINHEIRO[1]

O aborto é uma máquina de fazer dinheiro. Comece com um bebê ainda no útero de sua mãe, acrescente um carniceiro abortista ávido por verdinhas e obtenha mais duas vítimas sem muito esforço: a mãe e seu filho abortado. Equação sangrenta e lucrativa, pelo menos para o abortista.

Não exagero. Ou você realmente acha que médicos – se podemos chamá-los assim – matam fetos e bebês por caridade de suas alminhas santas?

Tome por exemplo a megaempresa abortista Planned Parenthood (PP), fundada pela eugenista Margareth Sanger, de quem falarei mais adiante e cujo legado de eliminação racial ainda perdura. Veja alguns números:

- Realizou 323.999 abortos em 2014, isto é, ceifou 888 vidas por dia ou uma vida a cada 97 segundos. Um prodígio da carnificina.[2]

- Foi responsável por um terço dos abortos realizados nos Estados Unidos em 2011 (333.964 em 1,06 milhões de mortes).[3]

- De 2011 a 2014 fez 1.312.728 abortos e ofereceu mais 1,3 milhões de kits de contracepção de emergência (isto é, mais abortos farmacológicos).[4]

Verdade seja dita, o aborto é o holocausto contemporâneo dos indefesos.

Toda essa casuísta genocida é justificada, ou pelo menos amenizada, por meio de desculpas como aquela que afirma ser o aborto somente uma atividade minoritária entre os muitos serviços de saúde prestados pela PP. Pelo menos isso funciona como fator de alívio na cabeça de muitos abortistas.

Tais serviços de saúde incluiriam campanhas de prevenção contra o câncer de mama, acompanhamento pré-natal e referência para adoção. Porém, antes que uma lágrima comovida escorra do canto de algum olho de crocodilo, tenho que revelar que tais serviços têm caído de forma consistente nos últimos anos.[5]

A sangrenta realidade é que 94% do que a PP faz é abortar.[6]

Apesar de divulgarem a cifra mágica de 3% de serviços ligados ao aborto, uma análise da distorção estatística revela a marota manipulação de dados. Um pacote de serviço de pré-natal é contado, em cada visita, como um serviço isolado. Um atendimento com diversos procedimentos conta como um serviço isolado para cada procedimento. Nesse superfaturamento macabro, o principal serviço da PP – o aborto - é maquiado.[7]

A PP é tão boa em praticar a maldade que até ousam estipular uma cota de quantos bebês precisam morrer por ano.[8] Stálin, com suas cotas de deportados para Gulags na Sibéria, ficaria orgulhoso.

Apesar de a PP declarar-se como uma organização sem fins lucrativos, seu orçamento no biênio 2014-2015 foi de 1,3 bilhões de dólares.[9] Dessa montanha de dinheiro, 554 milhões de dólares saíram dos cofres públicos, sustentados por muitos cristãos a favor da vida.[10]

Como se não bastasse o lucro imoral obtido com a matança de milhões, a PP ainda foi capaz de faturar com a venda de pedaços de bebês e fetos. É um açougue de gente![11]

Mas se não deu tempo de abortar, sem problemas. Há como lucrar enquanto são crianças, como mostra a cumplicidade com a prostituição infantil. Abortemos as crianças das crianças.[12]

Com tanto dinheiro na jogada, é claro que os abortistas lutarão com unhas e dentes – ou melhor, curetas e aspiradores – para que a fonte jamais seque. Embora se declarem apartidários, promovem intenso lobby e injetam dinheiro na campanha de candidatos abortistas em todas as instâncias políticas.[13]

De volta ao legado racista e eugenista da senhora Sanger, tão celebrada por progressistas como Hillary Clinton, nota-se que 79% das instalações abortistas ficam nas periferias onde habitam afrodescendentes e latinos.[14] Minorias perfazem 64% dos abortos nos Estados Unidos e para cada criança branca abortada são abortadas cinco crianças negras.[15] Há inclusive uma disposição em aceitar doações especialmente destinadas ao aborto seletivo de determinados grupos étnicos.[16]

A próxima vez que você questionar sobre a razão de o aborto ser tão defendido por certos grupos de interesse, tenha em mente que, ao contrário de cuidar por meio da cura, do alívio e do consolo, matar é extremamente fácil, e muito lucrativo também.

Hélio Angotti Neto





[1] Artigo baseado no relatório do Family Research Council, de janeiro de 2016, disponível em: http://downloads.frc.org/EF/EF15F70.pdf
[2] “Planned Parenthood, 2014-2015 Annual Report,” Planned Parenthood Federation of America, accessed January 5, 2016, https://www.plannedparenthood.org/files/2114/5089/0863/2014-2015_PPFA_Annual_Report_.pdf
[3] “Induced Abortion in the United States,” Guttmacher Institute, July 2014, accessed July 24, 2015,
http://www.guttmacher.org/pubs/fb_induced_abortion.html; “Planned Parenthood, Care. No matter what, 2011-2012 Annual Report,” Planned Parenthood Federation of America, accessed January 5, 2016,
[4] “Planned Parenthood, Care. No matter what, Annual Report 2011-2012,” Planned Parenthood Federation of America, accessed January 5, 2016, http://www.plannedparenthood.org/files/4912/9620/1413/PPFA_AR_2012_121812_vF.pdf ; “Planned
Parenthood, Care. No matter what, Annual Report 2012-2013,” Planned Parenthood Federation of
“Planned Parenthood, Our Health. Our Decisions. Our Moment, Annual Report 2013-2014,” Planned
Parenthood Federation of America, accessed January 5, 2016, http://www.plannedparenthood.org/files/6714/1996/2641/20132014_Annual_Report_FINAL_WEB_VERSION.pdf ; “Planned Parenthood, 2014-2015 Annual Report,” Planned Parenthood Federation of America, accessed January 5, 2016, https://www.plannedparenthood.org/files/2114/5089/0863/2014-2015_PPFA_Annual_Report_.pdf ; Susan Wills, Esq. “New Studies Show All Emergency Contraceptives Can Cause Early Abortion,” Charlotte Lozier Institute, January 1, 2014, accessed July 24, 2015,
[5] “Planned Parenthood, 2011-2012 Annual Report,” p. 2-3; “Breast Health Initiative,” Planned Parenthood, accessed July 24, 2015, http://www.plannedparenthood.org/about-us/newsroom/breast-healthinitiative ; “Planned Parenthood and Mammograms,” Fact Check, October 18, 2012, accessed July 24, 2015, http://www.factcheck.org/2012/10/planned-parenthood-and-mammograms/ ; “Cecile Richards Lied About Mammograms, Finally Comes Clean,” Breitbart, accessed October 6, 2015, http://www.breitbart.com/big-government/2015/09/30/cecile-richards-lied-mammograms-finallycomes-clean/
[6] “Planned Parenthood, 2011-2012 Annual Report,” accessed July 24, 2015, p. 5.
[7] Abby Johnson, “Planned Parenthood Business Model All About Abortion,” LifeNews.com, April 5, 2011, accessed July 24, 2015, http://www.lifenews.com/2011/04/05/abby-johnson-planned-parenthoodbusiness-model-all-about-abortion/ ; Planned Parenthood, 2014-2015 Annual Report,” accessed January 5, 2016, p. 30.
[8] “Exposed: Former Planned Parenthood Director Says It Has Abortion Quotas,” LifeNews.com, accessed
[9] Planned Parenthood, 2014-2015 Annual Report,” accessed January 5, 2016, p. 34.
[10] Planned Parenthood, 2014-2015 Annual Report,” accessed January 5, 2016, p. 32-33.
[11] “Investigative Footage,” The Center for Medical Progress, accessed July 24, 2015, http://centerformedicalprogress.org/cmp/investigative-footage ; Abby Ohlheiser, “Congressional, state investigations into Planned Parenthood underway after undercover video goes viral,” The Washington Post, July 15, 2015, accessed July 24, 2015, http://www.washingtonpost.com/news/acts-of-faith/wp/2015/07/15/congressional-stateinvestigations-into-planned-parenthood-underway-after-undercover-video-goes-viral
[12] “Exposing Planned Parenthood’s Cover-up of Child Sex Trafficking,” Live Action, accessed July 24, 2015, http://liveaction.org/traffick
[13] “Planned Parenthood,” The Sunlight Foundation, Influence Explorer, accessed July 24, 2015,
[14] “Map Guide,” Protecting Black Life, accessed October 20, 2015, http://www.protectingblacklife.org/pp_targets/
[15] Susan A. Cohen, “Abortion and Women of Color: The Bigger Picture,” Guttmacher Policy Review 11, (Summer 2008): 3, accessed July 24, 2015, http://www.guttmacher.org/pubs/gpr/11/3/gpr110302.html
[16] The Planned Parenthood Racism Project, Live Action, accessed July 24, 2015, http://liveaction.org/theplanned-parenthood-racism-project/

sábado, 12 de novembro de 2016

MEDICINA, UM ESTILO DE VIDA

William Osler, um Estilo de Vida na Medicina


William Osler foi um dos mais famosos médicos modernos. Escreveu um consagrado livro sobre os princípios da Clínica Médica em seu tempo, mas as obras que permaneceram atuais foram justamente aquelas que trataram dos aspectos humanísticos e profissionais da medicina.

Em uma de suas famosas obras, "A Way of Life", Osler recomenda algumas atitudes valiosas para médicos e acadêmicos. 

A primeira recomendação é viver o presente, deixando os problemas e as preocupações do passado no passado e corrigindo o que for necessário e possível corrigir no agora. A medicina sempre foi uma arte pragmática.

Também aconselhou contra o pensamento fincado no futuro, que gera a perda de precioso tempo em ilusões e no faz-de-conta imaginando projetos que nunca são iniciados no presente. Osler recomenda tratar do presente, do que pode ser visto e feito agora, enquanto há tempo.

Sobre os modos, recomenda temperança, principalmente aos estudantes. Evitar excessos, como o abuso de tabaco e álcool, a libertinagem e a vida hedonista, que enfraquecem a dedicação profissional do estudante.

Nos estudos, aplicar-ase durante um tempo razoável, sem exageros, mas diariamente, com disciplina e profunda concentração. De forma muito compatível com achados recentes da neuro pedagogia, Osler adianta algumas dicas bem modernas como o uso da atenção focal e a delimitação das horas de estudo em constância.

Repetindo uma concepção antiga e que ainda deveria perdurar, Osler recomenda que o médico cuide de sua alma, além de seu intelecto. Que leia os clássicos imortais da literatura, entre eles o grande códice ocidental: a Bíblia. Lá estarão as histórias que moverão corações fiéis e descrentes, lá está a raiz de nossa cultura. O velho médico recomendava pelo menos cerca de vinte minutos, todos os dias - isso mesmo, sem exceção, só vinte minutos todos os dias - de leitura incluindo as Escrituras. 

Com o hábito, a nossa capacidade de concentração e estudo aumentará, e a mente se transformará numa potente ferramenta a nosso serviço e a serviço do paciente, colaborando para uma formação científica e humanística de qualidade. Dicas do bom e velho William Osler.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Edmund Pellegrino: One of the Main Inspirations for our Efforts in Medical Humanities

Excerpts from the article by James Giordano: Foni phronimos – An Interview with Edmund Pellegrino. Philosophy, Ethics, and Humanities in Medicine 2010, 5:16



Concerning the importance of Medical Humanities.

“Medicine is the most scientific of the humanities and the most humane of sciences. It bridges the physical state of the human being with her psychological state, and I daresay with her spiritual state – however we define that to be. That is not just a person’s religion, but those transcendent aspects of what she is – and values – beyond the merely material domains of being.”

“Biotechnology cannot substitute for moral and ethical reflection. That is why I believe that Aristotle, Aquinas or Augustine will not – and should not – fade from our view.”

What should we study?

“It is important that the physician be well trained in liberal arts. (…) those arts that free our minds from the tyranny of other minds. To do this requires critical thinking. A differential diagnosis in medicine in an exercise of dialectics.”

“The idea of prudence is classical; as is the idea of dialectics. These ideas have origins in Aristotle’s posterior analytics. So, the point is not that science is unimportant to the physician. Equal time should be dedicated to the emphasis on how to think about, evaluate and make prudent decisions because most clinical choices are made without the certainty of having all the facts, without knowing what the future is going to hold, and having to weight one thing against another and arrive at what at this moment concretely represents the right thing and good decision for a particular patient.”

Original Article available at: https://peh-med.biomedcentral.com/articles/10.1186/1747-5341-5-16 

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

OS PERIGOS DA SUBMISSÃO MORAL À AUTORIDADE

BANALIDADE DO MAL, SUBMISSÃO MORAL E A PESQUISA DE STANLEY MILGRAM

https://academiamedica.com.br/da-submissao-imoral-autoridade/


Já tratei do comunismo e do nazismo na medicina, e de como tais ideologias sangrentas levaram à completa destruição do legado hipocrático e cristão. Já falei dos perigos do transumanismo e de como tal utopia poderá nos levar a um despotismo “esclarecido”. Já falei da necessidade de compreender a Medicina enquanto comunidade moral, detentora de valores próprios dignos de serem defendidos em prol da sociedade.
Em todos os casos de abuso, pensadores de grande capacidade estiveram à frente das mutações sociais tantas vezes desastrosas. Todavia, resta uma pergunta extremamente importante.
Por que muitas pessoas inteligentes e capazes, devotadas profissionalmente ao bem do próximo, pelo menos em tese, fizeram tanto mal após terem deixado se levar pelas mais loucas e estapafúrdias idéias?
Já sabemos que as mutações sociais genocidas e criminosas começaram na cabeça de pequenas elites intelectuais. Resta saber como é que tantos foram capazes de cair no canto da sereia totalitarista.
Tal pergunta não é novidade, e suscita uma resposta inquietante.
***
Stanley Milgram, um pesquisador da área das Ciências Sociais, também se perguntou como era possível que tantas pessoas teoricamente esclarecidas pudessem apoiar coisas tão monstruosas como o nazismo. Para responder, criou um experimento assustador, no qual suas cobaias participavam inadvertidamente de uma hipotética pesquisa imoral.
No vídeo abaixo você assiste um documentário legendado para portugues que o farrá entender um pouco mais do Experimento de Stanley Milgram. As conteúdo pode pertubar um pouco, mas os conhecimentos são muito válidos.
Na pesquisa, as cobaias dariam choques em indivíduos destacados para responder a um teste de memória. Ao lado da cobaia ficava o ator que fazia o papel de pesquisador, sempre reafirmando que estava tudo sob controle e que tudo fazia parte de um protocolo científico. Os choques eram dados após respostas inadequadas até cargas altíssimas. A cobaia que consentisse com o experimento, mesmo que protestando durante o mesmo, seguia aumentando a voltagem dos choques até níveis letais, apesar dos gritos de quem teoricamente estava levando uma descarga elétrica na outra sala, sempre sob o olhar do “pesquisador” que encarnava a autoridade científica.
Qual foi o resultado do experimento? A grande maioria das pessoas, professores universitários altamente instruídos entre elas, disparou cargas elétricas na “falsa cobaia” do outro lado, ultrapassando até mesmo o limite de risco mortal. [1]
A conclusão é inquietante. Quando estamos diante de uma autoridade que nos manda prosseguir, mesmo sabendo que há algo de profundamente errado, nossa tendência é seguir adiante, suprimindo nossa intuição moral e praticando atos cruéis.
Além dessa pesquisa, que mostra como somos obedientes ao ponto de tomar parte em genocídios e pesquisas antiéticas, outra pesquisa na mesma linha verificou como preferimos nos acomodar ao grupo ao invés de agir de forma independente. O experimento de Solomon Asch incluiu vários autores que participavam do experimento ao lado de uma única cobaia desavisada. Uma imagem era projetada e cada um emitia sua opinião. Tudo começava bem, mas em determinado ponto, os atores propositalmente respondiam de forma errada, porém coerentes entre si. A maior parte das cobaias negou o que estava diante de seus olhos e respondeu em conformidade com o grupo.[2]
Os mecanismos de conformismo grupal e de submissão à autoridade podem ser utilizados para bons fins, obviamente, mas abrem espaço para perigosas manipulações. Nesse sentido, uma das principais características propaladas pela Bioética vem bem a calhar.
Desde o seu surgimento, a Bioética se propôs a questionar, inclusive a si mesma. Nascida nos agitados e rebeldes anos das décadas de 60 e 70 do século XX, a Bioética se colocou a examinar o que estava estabelecido.
Quem acompanha meus textos sabe muito bem que considero deletério muito do questionamento feito contra a tradição hipocrática, que muitas vezes é infundado e irresponsável. Porém, não há como discordar de que o estímulo ao questionamento – do ponto de vista socrático, digamos assim – pode ser extremamente benéfico.
A Bioética, em termos técnicos e acadêmicos, está em franca expansão, cada vez mais recheada de estudiosos e trabalhos de qualidade diversificada. Dialeticamente falando, tornou-se ela mesma uma disciplina que servirá de autoridade e estimulará o conformismo grupal em seus membros.
Porém, tenho a esperança de que a Bioética jamais abandonará sua disposição inicial de estimular sempre a inteligência individual a olhar novamente a realidade, com olhos ávidos pelo conhecimento responsável, buscando novas perspectivas em antigas situações e em desafios inéditos.
A obediência em si à autoridade é neutra e pode ser muito bem direcionada e aproveitada, mas a obediência cega à autoridade científica ou política é pura irresponsabilidade. Que a Bioética seja um auxílio à remoção das escamas que cobrem nossos olhos.
Prof. Dr. Hélio Angotti Neto é Colunista do Academia Médica, Coordenador do Curso de Medicina do UNESC, Diretor da Mirabilia Medicinæ (Revista internacional em Humanidades Médicas), Membro da Comissão de Ensino Médico do CRM-ES, Visiting Scholar da Global Bioethics Education Initiative do Center for Bioethics and Human Dignity em 2016, Membro do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC, Presidente da Comissão de Bioética do Hospital Maternidade São José/UNESC e criador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina (SEFAM).

[1] Milgram, Stanley (1963). “Behavioral Study of Obedience”. Journal of Abnormal and Social Psychology. 67 (4): 371–8. doi:10.1037/h0040525
[2] Asch, S.E. (1951). Effects of group pressure on the modification and distortion of judgments. In H. Guetzkow (Ed.), Groups, leadership and men (p. 177–190). Pittsburgh, PA: Carnegie Press

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Os Melhores Livros de 2016

DICAS DE LEITURA


2016 foi um ano de muitos estudos, muito trabalho e muitas conquistas. Vale a pena fazer um balanço geral acadêmico para passar adiante o que considero mais valioso. Eis os livros que considero mais importantes dentre aqueles que li este ano.


O melhor romance, sem dúvida, foi "O Velho e o Mar", de Ernst Hemingway. Uma obra que possui tudo! O conflito entre o imanente e o transcendente, o novo e o velho, a natureza e a cultura. Está tudo lá, desde a jornada do herói até às tensões da realidade. Uma obra rápida e certeira, além de profundamente comovente.


Considerando a temática de Bioética, uma indicação preciosa de Felipe Sabino, Editor da Monergismo, foi o livro de Francis Schaeffer: "Wathever Happened to the Human Race", que aborda temas semelhantes ao "A Morte da Medicina" e vai além, assim como o lançamento recente de Richard Weikart, "The Death of Humanity".

Sobre história da medicina, a obra "Rise and Fall of Modern Medicine" foi divertida, informativa e útil para preparação de aulas e obtenção de detalhes históricos importantes na evolução da medicina.


Sobre a tradição hipocrática e as ameaças contemporâneas, recomendo o livro de Nigel Cameron, "The New Medicine: Life and Death After Hippocrates", que começo a traduzir com autorização do autor. Ainda sobre a tradição hipocrática, li "Hippocrate's Shadow", de David Newman, que remonta ao passado em busca de qualidades humanísticas para regenerar a prática médica contemporânea junto com o aporte de conhecimentos valiosos da Medicina Beaseada em Evidências, oferecendo uma forte crítica.


De filosofia, reli com muito gosto "Filosofia e Cosmovisão", de Mário Ferreira dos Santos, e "A Dialética Simbólica", de Olavo de Carvalho, agora com maior compreensão e aproveitamento. Ainda no campo da leitura formativa, li "Imitação de Cristo" de Tomás de Kempis, e "Sobre o Sermão da Montanha", do bispo Agostinho de Hipona.






VALORIZAÇÃO DA MEDICINA

VALORIZAÇÃO DA MEDICINA, TRECHO DE "A TRADIÇÃO DA MEDICINA"


"Ver órgãos de classe brigando principalmente por carreira médica estatal e salários médicos, por mais que seja necessário dentro de certos limites, me entristece. Pedir carreira médica para o Estado é pedir um nó apertado na coleira, é vender nossos valores profissionais aos valores do Estado na medida em que teremos que nos adequar às exigências de pessoas que nem sempre priorizam a saúde do próximo. Uma liderança política nunca, nunca mesmo, dá algo de graça.

"Valorização se conquista, como conquistaram nossos antepassados de outras eras a duras penas, com grandes sacrifícios e exemplos imortalizados nos escritos de diversos povos e tempos. Valorização é uma consequência decorrente de um objetivo alcançado, não o próprio objetivo pelo qual se luta.

"Se alguém quiser uma dica sobre por onde começar, repito palavras proferidas por alguém infinitamente mais sábio do que eu: 'por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não repara na trave que está no teu próprio?' Se não trabalharmos quem somos, a própria raiz que somos estará apodrecida, e nossa profissão irá imediatamente parar na lama."

Hélio Angotti Neto
Publicado originalmente no portal Academia Médica