O Fantástico Amontoado de Células
O abortismo à prova da inteligência humana e da realidade.
Uma das grandes afirmações dos
abortistas é que o zigoto ou o embrião nada mais é do que um amontoado de
células. Com isso, esperam que seja demonstrado o aspecto inumano “daquilo” que
está dentro do útero materno, talvez com o intuito de dessensibilizar as mães e
a população em geral para a realidade biológica da nova vida que se desenvolve.
A afirmação de que o zigoto, embrião ou
feto não passam de amontoados de células é, no mínimo, ignorante e estúpida. Na
maioria das vezes é pura mentira maliciosa.
Falar que algo não passa de um
amontoado de qualquer coisa dá a entender que não há um estado organizado
especial manifestado, não há unidade. Nada poderia ser mais distante da
realidade do embrião ou do zigoto.
Qualquer biólogo honesto e minimamente
inteligente terá que concordar que não há absolutamente nada de desorganizado
num zigoto ou num embrião, quiçá num feto!
Desde antes dos momentos iniciais da
vida humana, a complexidade e a organização estão presentes. No momento da
união entre gametas, quando os cromossomos paternos e maternos se unem, a nova
identidade genética surge e incontáveis processos bioquímicos se iniciam em uma
fantástica ordem. E durante todas as fases do desenvolvimento, o novo ser
humano já demonstra incríveis capacidades.
Na sétima semana após a concepção, por
exemplo, o pequeno feto (ou embrião tardio) já reage a estímulos ao redor da
boca, afastando a cabeça; uma clara demonstração de resposta neurológica. Na
décima primeira semana, o feto já possui estrutura para a sensibilidade cutânea
do rosto, das mãos e dos pés. Um pouco mais tarde, na vigésima segunda semana,
o feto reage, inclusive, à música ambiente![1]
Convido o leitor a acompanhar o
desenvolvimento humano passo a passo, de forma muito resumida e simplificada,
para que entenda um pouco da maravilhosa complexidade dos eventos que se
sucedem após o momento da concepção.[2]
1º dia: ovócito fertilizado. O zigoto
já possui o código genético que carregará por toda a vida (exceto por eventuais
mutações). Incontáveis processos bioquímicos de alta complexidade direcionam as
primeiras divisões celulares, e milhares de substâncias são produzidas e
interagem entre si e com o ambiente do útero materno.
2º ao 5º dia: ocorrem as fases de
Mórula e de Blastocisto do zigoto, nas quais a divisão celular prossegue aumentando
a complexidade funcional e estrutural do zigoto.
6º dia: ligação do blastocisto com a
parte interna do útero materno, denominada endométrio.
7º ao 12º dia: implantação do embrião no
endométrio, possuindo duas camadas de tecido e um pequeno saco vitelino.
17º dia: embrião com três camadas de
tecido e com aumento crescente de complexidade e interação tecidual com a mãe.
19º dia: fase de gastrulação com
formação do processo notocordal, responsável por coordenar as progressivas
diferenciações teciduais que gerarão sistemas especializados do corpo humano e
órgãos específicos.
23º dia: presença do Nó de Hensen e
diversas outras estruturas como fosseta primitiva, notocorda, canal
neuroentérico, placa neural, pregas neurais e ilhotas sanguíneas.
25º dia: surgem os primeiros somitos, o
sulco neural profundo, a elevação das pregas neurais cefálicas e os tubos
endocárdicos iniciais.
28º dia: início da fusão das pregas
neurais, formação dos sulcos ópticos, presença dos dois primeiros arcos
faríngeos, início dos batimentos cardíacos e dobramento do embrião.
29º dia: formação das vesículas ópticas
e rompimento da membrana orofaríngea. Fechamento do neuróporo cranial.
30º dia: Fechamento do neuróporo
caudal, formação do terceiro e quarto arcos faríngeos, aparecimento dos brotos
dos membros superiores e broto da cauda e formação da vesícula óptica.
2º mês (4 a 8 semanas após a
concepção): aparecem os brotos dos membros inferiores, desenvolvimento das
estruturas primordiais do olho, início do desenvolvimento dos hemisférios
cerebrais, desenvolvimento das mãos e dos pés e desenvolvimento das estruturas
da face incluindo nariz, pálpebras e orelhas.
3º mês (8 a 12 semanas após a
concepção): Aparece a sobrancelha, começa a produção de urina, a genitália já se
diferencia, começa a deglutição do líquido amniótico, começa a sugar o polegar
e a fazer movimentos de apreensão, as unhas se desenvolvem, boceja, a cabeça já
assume forma mais diferenciada, apresenta resposta à estimulação da pele, o
interior da boca já possui papilas gustativas e o intestino começa a se mover e
a expelir mecônio.
4º mês: mãe começa a sentir os
movimentos do feto, ocorre produção da bile, presença de folículos primordiais
nos ovários e produção do sangue.
5º mês: distensão do abdome, aumento
progressivo da complexidade cerebral e descida dos testículos.
6º mês: a pele fica enrugada e
vermelha, cabelos finos que cobrem o corpo começam a escurecer, começa a
detecção de odor e paladar, ocorre a secreção do surfactante (substância que
ajuda o pulmão a trocar oxigênio por meio da expansão dos alvéolos na presença
de ar ambiente após o parto).
7º mês: pálpebras começam a se abrir,
movimentos respiratórios são comuns, aparecimento de sulcos e giros cerebrais.
8º mês: pele rosada e lisa, olhos
respondem à luz com reflexo pupilar, testículos entram no escroto, unhas
alcançam a ponta dos dedos das mãos.
9º mês: Unhas alcançam a ponta do dedo
dos pés, cérebro começa a ser revestido pela mielina, um revestimento lipídico que
ajudará na transmissão de eletricidade pelos axônios neuronais.
De toda essa jornada do pequeno ser
humano dentro do útero de sua mãe, já se deve concluir obrigatoriamente que
nunca poderia ser chamado de amontoado de células.
O pequeno ser humano, desde a
concepção, é um indivíduo no sentido em que é distinto dos demais seres, mesmo
que não seja independente – e quem o é totalmente? –, mantém a unidade de uma
pluralidade de componentes cuja função torna-se mais que a mera soma de seus
componentes em função isolada.[3]
Por outro lado, o que então seria um amontoado
de células?
Um raspado da parte interna da
bochecha, por exemplo, utilizado para pesquisas genéticas, é um amontoado de
células. Removido do seu ambiente, perdem suas funções dentro de um organismo
complexo. Em seu conjunto não formam um organismo, são apenas parte do
organismo humano. Mesmo que as células extraídas da bochecha sejam mantidas
vivas numa placa de cultura, não manterão sua organização original e perderão
inevitavelmente sua função sistêmica.
Pegar um zigoto, um embrião ou um feto
e utilizá-lo em pesquisas científicas, sabendo de sua especificidade humana, é
algo moralmente questionável, pois ali está um organismo inteiro, concreto e
complexo.
O zigoto é um ser vivo tão especial e
possuidor de características tão únicas e maravilhosas que se tornou alvo dos
anseios de pesquisa de muitos cientistas. Os proponentes da pesquisa em
embriões prometem muitos achados ao preço de se relativizar o valor da vida humana
e utilizar as teoricamente incríveis capacidades do início da vida humana como
ferramentas para curar ou aliviar o sofrimento do próximo.
Alguém pode até erguer uma objeção
dizendo que o zigoto depende do organismo da mãe para sobreviver, e que não
pode ser considerado um ser vivo. Ora, se o critério for independência de outro
organismo ou do ambiente, ninguém estará capacitado a ser algo além de
amontoado de células, pois o ser humano nasce extremamente dependente e, se
viver o suficiente, morrerá extremamente dependente também. E durante toda a
nossa vida, a dependência de outros seres humanos é uma realidade.
Outros afirmariam que o zigoto ainda
não é um ser humano, pois há um estágio de indeterminação no qual ele pode
dividir-se gerando dois ou mais seres humanos – gêmeos monozigóticos, trigêmeos
etc. - ao invés de um. Enxergar nesse argumento uma permissão para que se
instrumentalize o zigoto ou o embrião a o invés de valorizar ainda mais sua
dignidade é um oximoro. Simplesmente ressalta ainda mais o valor para tentar
menosprezá-lo a seguir.
O embrião não é somente um amontoado de
células. É um ser vivo, é um humano (ou mais de um)! Como diria Ben Shapiro, se
você encontrar um pequeno agrupamento organizado de células em Marte, você
declarará em alto e bom som que há vida em Marte, e não que há amontoados de
células em Marte. Por que tanta indisposição em reconhecer no embrião humano
algo mais que um amontoado de células?[4]
Respondo: a causa vale mais que a verdade. Com pessoas que pensam e agem nesse
tipo de modalidade sofística, em que a causa vale mais que a verdade, qualquer
conversa produtiva é impossível. Para eles a sua própria conveniência vale mais
que uma vida humana.
Toda a questão se resume enfim a
definir o seguinte ponto: O embrião está vivo ou não? É vida humana ou não? A
única resposta adequada é sim. Daqui em diante o que se discute é quem podemos
matar e quando podemos matar. Daqui em diante, a conversa é sobre extermínio
humano.
[1] Uma
breve introdução às características fetais, em linguagem bem acessível e
contendo informações científicas amplamente fundamentadas em bibliografia
adequada, pode ser encontrada em BELLIENI, Carlo. Se não é um ser humano... O feto: um novo membro da família. São
Paulo: Edições Loyola, 2008.
[2]
CARLSON, Bruce M. Embriologia Humana e
Biologia do Desenvolvimento. 5ª Edição. Rio de Janeiro e São Paulo:
Elsevier Editora LTDA, 2014.
[3]
BOURGUET, Vincent. O Ser em Gestação:
Reflexões Bioéticas sobre o embrião Humano. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p.
26.