quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Corrigindo uma injustiça: Abraham Flexner, o grande educador.


Na Educação Médica, a plenos pulmões, o educador Abraham Flexner é acusado de conteudismo pedagógico, biologismo anti-humanista, tecnologização da prática, medicina curativa individualista e de ser submisso às corporações médicas.

Mesmo eu já repeti críticas ao "modelo biomédico flexneriano" sem pensar direito no que fazia e com que bases eu anunciara tais acusações. Dou uma dica: ouvi dizer que...

Porém, fiz o que todos devemos fazer quando em nossas vidas começamos a levar as coisas a sério: fui às fontes originais.

Lendo o Relatório Flexner e o excelente artigo de Naomar de Almeida Filho (Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(12): 2234-2249, dez, 2010) intitulado "Reconhecer Flexner: inquérito sobre produção de mitos na educação médica no Brasil contemporâneo", constatei a enorme injustiça feita ao pedagogo norte-americano.

Num ambiente de escolas médicas em enorme quantidade (eram 457 antes e 31 depois do relatório), isoladas dos demais cursos e sem critério algum de funcionamento, Flexner falou de integração entre cursos, medicina preventiva, modelos de ensino precursores da Aprendizagem Baseada em Problemas, autodidatismo, aprendizagem contínua (lifelong learning) e estudo das humanidades antes e durante o curso de Medicina com o intuito de obter "experiência cultural variada e ampla". Além disso, enfatizou realmente a qualidade científica dos currículos, muitas vezes carregados de retórica barata e empirismo inadequado.

E constatei, por fim, que fiz injustiça a um grande educador não médico que muito ofereceu à Medicina do mundo inteiro. Flexner foi um visionário, de fato.

Pena que no Brasil falamos tão bem de maus professores, como o Paulo Freire, e difamamos tanto os excelentes, isso quando simplesmente não os esquecemos, como é o caso de Reuven Feuerstein.