A expressão “Direitos Reprodutivos” merece um
pouco de atenção, pois de reprodutivo nada ou pouco tem de fato, a não ser se fosse o
direito de evitar um aborto para que nascesse uma criança fruto da reprodução.
Contudo, a expressão é utilizada em muitas conversas para comunicar justamente a
vontade de destruir fetos e bebês, o fruto da reprodução. É como se
eu inventasse a expressão “Direitos Dietéticos” para fazer uma greve
de fome ou utilizasse “Direitos Sexuais” para optar pelo celibato.
Outro ponto que demonstra o ridículo de se falar
em Direitos Reprodutivos é o fato de que ninguém é obrigado a copular com o
próximo. Eu não tenho o direito de reproduzir, já que ninguém tem a obrigação
de ser meu cônjuge. O uso da palavra “direito” neste caso é, no mínimo, uma figura de
linguagem muito inadequada que só traz confusão ao debate bioético, quando não
o distorce completamente.
O nome verdadeiro deveria ser “Direito de
Extermínio”. Pena que o nome não seria lá muito politicamente correto, embora
muito mais veraz.
A coisa fica ainda mais louca quando engenheiros
sociais classificam Direitos Reprodutivos como Direitos Humanos Universais, o
que equivale a dizer que é um direito universal do ser humano matar outro ser
humano e eliminar a possibilidade do outro em exercer qualquer outro direito
neste plano existencial.
Ao lidar com essas expressões, na grande maioria
das vezes esdrúxulas e ambíguas, é preciso saber que cada termo tem uma
história. Alguém criou o termo com determinado fim em mente.
Tome, por exemplo, a expressão “Direito de
Decidir”, que se refere às mulheres que, convencidas pelos engenheiros sociais
e pelos abortistas em geral, querem ajuda médica e dinheiro público para que
assassinem seus filhos. Isto é, desejam decidir pelo assassinato de outra
pessoa, inocente e indefesa, no interior de seus corpos.
Um dos criadores e divulgadores da expressão "direito de decidir" foi Bernard Nathanson, o rei do aborto. Ao lado de militantes radicais ligados
ao que hoje alguns chamam de marxismo cultural e feminismo radical, Nathanson
cunhou termos para que ficasse mais fácil a guerra cultural e jurídica em prol
da liberação do aborto.
Nathanson sabia do poder das palavras e de como
poderíamos utilizá-las para manipular a sociedade e dobrá-la às nossas
vontades. Neste caso, a vontade de faturar alto com a morte dos bebês e fetos.
Essa manipulação tosca, porém muito bem sucedida,
é vista todos os dias, e repetida de forma ingênua por milhões de pessoas, verdadeiros
bonecos de ventríloquo dos iluminados engenheiros de nosso futuro.
Não fale do direito de matar, fale do direito de
decidir.
Não fale do direito à vida, fale do direito
reprodutivo.
Não fale da proteção da vida humana, fale da
proteção da autonomia e da independência.
Não fale de massacres eugênicos, fale de
empoderamento feminino.
Não fale da indústria do aborto, fale do
radicalismo religioso dos defensores de bebês.
Não fale da venda de órgãos fetais e infantis,
fale do direito de fomentar o progresso científico e da otimização da utilidade.
Não fale do regresso à cultura pré-cristã do
infanticídio, fale do reacionarismo cristão em defender a vida de crianças.
Poderia prosseguir por páginas e mais páginas, e a
cada dia uma expressão nova, artificial e estupidificante, é produzida.
Nossa sociedade vive seu momento de grande
mediocridade. Muitos preferem ouvir a respeito do direito de decidir, mas poucos
ousam defender abertamente o dever de proteger uma vida humana. Uma sociedade
mergulhada no egocentrismo, no relativismo e no hedonismo, imbuída do mais
rasteiro sentimento de massa, como Ortega y Gasset descrevia tão bem em seu
livro “A Rebelião das Massas”,
só pode mesmo exaltar a morte do bebê para evitar as dificuldades em ceder o
próprio tempo para cuidar de alguém.
Como explicou Olavo de Carvalho:
Ortega y Gasset já dizia que os
principais inimigos da cultura são os “señoritos satisfechos” que desfrutam do
legado da civilização sem ter a menor idéia de como foi conquistado e, por
ignorância das condições que o geraram, acabam por destruí-lo.
Abortistas são como “señoritos satisfechos”,
fitando o próprio umbigo e colocando seus direitos reprodutivos acima da vida
alheia.
Esse desrespeito autodestrutivo pela cultura
cristã, base de nossa civilização e aguerrida defensora da vida humana, só pode
culminar na nossa própria destruição, gerando a crise linguística que poderíamos
definir como revolucionarismo linguístico, conforme descrito na obra “A Origem
da Linguagem”, de Eugen Rosenstock-Huessy.
Conceitos são destruídos e novos termos
artificiais são criados em um ritmo que impede a expressão sincera e rica de um
povo e sua cultura, gerando um povo sem raiz, repleto de indivíduos moldáveis,
desmemoriados, calados pela linguagem embrutecedora do politicamente correto,
censurados em sua inteligência, perfeitos para a engenharia social e capacitados
para os mais terríveis feitos, como, por exemplo, assassinarem bebês e fetos,
matarem seus próprios filhos.
Justamente esses que defendem o direito de
exterminar a vida humana são os que normalmente arrogam para si o título de
defensores da igualdade. O já citado Olavo de Carvalho aponta a contradição:
Não, não há nada que os apóstolos da
igualdade abominem mais do que a igualdade de valor entre as vidas humanas. A
deles valem o infinito. As dos outros, nada.
Hélio Angotti
Neto
Médico Oftalmologista, Colunista do Academia
Médica, Coordenador do Curso de Medicina do UNESC, Global Scholar em 2016 do
Center for Bioethics and Human Dignity, Presidente da Comissão de Bioética do
Hospital Maternidade São José / Centro Universitário do Espírito Santo, Membro
do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC. Criador do Seminário de Filosofia
Aplicada à Medicina (SEFAM – www.medicinaefilosofia.blogspot.com.br).