A Medicina Comunista
O Horror e a Repressão de uma Medicina que se Transformou em Arma Estatal
O Estado - enquanto organização de pessoas que naturalmente tende à própria perpetuação e ao aumento do seu poder e de suas funções - pode transformar-se num perigoso elemento de totalitarismo numa sociedade. O Estado também pode instrumentalizar todas as instituições e grupos da sociedade para o propósito final de crescer cada vez mais, drenando tudo e todos.
Já a medicina, que detém grande autoridade
científica e social, pode ser um eficaz instrumento de controle e manipulação
da sociedade, para o bem ou para o mal. O médico tem o poder para remover
alguém do trabalho, aposentá-lo, abrir seu corpo causando um dano controlado
chamado cirurgia, declarar alguém morto e, talvez o mais assombroso, nomear uma
doença e determinar parcialmente o futuro de um paciente. Talvez este último
seja o mais sutil e poderoso elemento da profissão médica.
Quando estamos diante de uma
doença claramente identificável, como um carcinoma basocelular na pele de um
paciente, não há muito que duvidar. Pode chamá-lo por outro nome, pode tratá-lo
de diferentes formas, mas a evolução e as repercussões físicas são bem
objetivas e previsíveis. O problema começa quando estamos diante da doença
psiquiátrica. Há, obviamente, um espaço muito maior para elementos subjetivos
de comportamento que podem alterar radicalmente o prognóstico do paciente, e é
justamente aí que um grande perigo pode surgir.
A mistura é explosiva. De um
lado, um Estado ocupado por perigosos psicopatas[1],
sedentos de poder e controle. Do outro, a medicina, capaz de gerar gigantesca
influência na sociedade. Una tudo isso a um governo do tipo revolucionário e
totalitário[2] e voilá! A máquina de moer carne humana
está pronta. E qualquer um que se oponha poderá ser denominado louco ou doente.
A racionalidade por trás de tudo isso é cruel: “nós temos a perfeição encarnada
no sistema, qualquer um que avance contra nós é louco e perigoso.”
Nenhum regime encarnou tão bem o
ideal do totalitarismo político e espiritual – no sentido de domínio sobre a
mente do sujeito – do que o Comunismo em suas diversas encarnações.
Os maiores crimes contra a vida
humana podem simplesmente ser cobertos pela desculpa de que pessoas precisam de
tratamento psiquiátrico. Ainda hoje alguns manifestantes e oposicionistas dos
regimes de esquerda (Rússia, China e tantos outros) desaparecem da sociedade
quando adentram um hospital psiquiátrico para que sejam “tratados”. É uma
solução muito cômoda, porque muitas explicações seriam necessárias se
simplesmente matassem o indivíduo, certo?[3]
Conforme o que o próprio Nikita
Khrushchev disse em 1959:
“Um crime é um desvio dos padrões
geralmente reconhecidos de comportamento, frequentemente causado por problemas
mentais. É possível que existam doenças, problemas mentais, entre certas
pessoas da sociedade comunista? É evidente que sim. Se é assim, logo existirão
ofensas características de pessoas com mentes anormais... Para aqueles que
comecem a erigir oposição ao Comunismo de tal forma, nós podemos dizer que...
claramente seu estado mental não é normal.”[4]
Não é surpresa o intenso trabalho vindo de terras socialistas e comunistas a leste investido na pesquisa dos processos psicológicos e psiquiátricos, muitos buscando a chave de como manipular o comportamento humano. O bom e velho Pavlov, e toda uma hoste de pesquisadores da psicologia social e da manipulação não me deixam mentir.
Aliado ao uso da medicina
psiquiátrica para fins totalitários, basta misturar a manipulação da cultura
conforme os ditames de Antônio Gramsci e de toda a Escola de Frankfurt[5]
e teremos o caminho para a escravidão perfeitamente pavimentado.
E novamente voltamos ao problema
da medicina que perdeu sua identidade. Uma vez que a proteção da vida e da
integridade do paciente movida por um compromisso inegociável com a
beneficência for trocada por qualquer outra coisa ou qualquer outra fidelidade,
está encerrada a medicina tradicional hipocrática e cristã.
Ao invés de direcionar-se ao paciente
como objetivo concreto e imediato da prática médica, o juramento médico
soviético, por exemplo, se direcionava à abstrata humanidade e à sociedade,
demonstrando o predomínio do utilitarismo social contra a beneficência direta
ao ser humano. Ao invés de apelar para uma lei universal, apela-se à moralidade
comunista – isso é assustador para qualquer um que tenha lido o mínimo de
história soviética – e à obediência ao Estado. Sem dúvida nenhuma é o juramento
que todos os Estados com tendência totalitarista gostariam de impor aos seus
médicos.[6]
Voltando aos dias de hoje, longe
no tempo e na geografia, não estranho nem um pouco a insistente atenção dada
aos médicos e à educação – ou deseducação – pelos governos da esquerda radical
no Brasil. O constante desmanche da autoridade médica, substituída é claro pela
autoridade ideológica radical que ocupa o vácuo deixado, e o trabalho de
hegemonia cultural sempre presente nas universidades e escolas, onde temos
ideólogos manipuladores aliados aos piores índices educacionais internacionais,
deixam bem claro a tendência entrópica de nossa elite.
A progressiva substituição do
perfil médico brasileiro, saindo de uma classe profissional altamente
científica e técnica, com padrões de qualidade reconhecidos internacionalmente,
porém quase que completamente destituída de formação política, para uma classe
subserviente ao Estado, menos qualificada e muito mais ideologizada, claramente
remete a uma intensa medida de engenharia social. Pessoalmente, considero os
dois modelos errados e distantes da identidade tradicional da medicina, que
deve ansiar por excelência em termos científicos, técnicos e morais, incluindo
a política.
Junto com a destruição da
identidade médica, atos frontalmente contrários à vida humana - e à opinião
majoritária do provo brasileiro, diga-se de passagem - são cotidianamente
instituídos. Prega-se o abortamento voluntário e a eutanásia, por exemplo, e a
vida humana deixa de ser sagrada.
Cartaz educativo sobre o aborto seguro na União Soviética.
Realmente sagrado deve ser o
Estado - esse Leviatã insaciável - e a vontade de nossa elite política
esquerdista, certo?
Não. Certo é o compromisso mais
que milenar de nossa Medicina com a vida humana e com o ser humano concreto, de
carne e osso, que todos os dias senta-se à frente de seu médico e pede auxílio,
socorro e compreensão. Certo é defender a vida humana, pressuposto de qualquer
atividade médica. Certo é defender nossa própria identidade moral contra os
enxertos desumanos que ideologias monstruosas tentam empurrar à força sobre a
sociedade.
A boa medicina, de raiz cultural hipocrática
e cristã, tem sua própria escala de valores a ser defendida.
[1]
LOBACEWSKI, Andrew. Ponerologia Política.
Campinas: VIDE Editorial, 2015.
[2] Na
concepção de Olavo de Carvalho, revolução é a concentração de poder mediante a
promessa de um futuro melhor, justificando a inversão moral, isto é,
desculpando atos imorais para se alcançar um distante fim desejável.
[3] VAN NOREN, Robert. Ending political
abuse of psychiatry: where we are at and what needs to be done. BJPsych Bulletin (2016), 40, 30-33,
doi: 10.1192/pb.bp.114.049494
[4] Ibid.; KNAPP, M. Mental Health Policy and Practice Across Europe: The Future Direction
of Mental Health Care. McGraw-Hill, 2007.
[5]
CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a
Revolução Cultural. Campinas:
VIDe Editorial, 2015.
[6] Association of American Physicians
and Surgeons. Comparison between Oath of
Hippocrates and Other Oaths. Internet,
http://www.aapsonline.org/ethics/oathcomp.htm