V SEMINÁRIO UNESC DE HUMANIDADES MÉDICAS
MEDICINA: HISTÓRIAS DE VIDA
Nos
dias 9 e 10 de junho de 2017 aconteceu o V Seminário de Humanidades Médicas do UNESC,
um evento pioneiro criado em 2013 para o debate de diversos temas incluindo:
Bioética, Filosofia da Medicina, História da Medicina, Relação Médico-Paciente,
Ética Médica e Literatura em Saúde. Esta edição foi denominada “Medicina:
Histórias de Vida”, e foi dividida em três blocos: (a) Humanização em Saúde,
abordando as histórias de vida dos pacientes; (b) Profissionalismo e Ética,
abordando as histórias de vida dos profissionais da área da saúde; e (c) Bioética
– O Debate do Aborto, com diferentes visões sobre a vida de médicos, mães e da
futura geração.
O
evento foi coordenado pelo Prof. Dr. Hélio Angotti Neto e pela Profa. Ms.
Renylena Schmidt Lopes, com a organização da Liga Acadêmica de Humanidades
Médicas, do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina, da Diretoria Acadêmica
do UNESC e da Coordenação do Curso de Medicina.
O
apoio acadêmico e estrutural para que mais essa edição do evento se
concretizasse foi oferecido pelo Centro Universitário do Espírito Santo, em
Colatina, com o apoio acadêmico da Revista Mirabilia,
sediada no Instituto de Estudos Medievais da Universidade Autônoma de
Barcelona, na qual serão publicados artigos derivados das apresentações a
critério dos palestrantes do evento e editores da revista.
Colaboraram
de forma magnífica para a realização do evento os palestrantes, muitos deles de
fora da cidade e até mesmo do estado do Espírito Santo, que vieram ao Seminário
dispostos a compartilhar importantes lições.
Por
fim, os alunos do curso de Medicina e Direito do Centro Universitário do
Espírito Santo, além de diversos membros da comunidade capixaba, profissionais de
diversas áreas, prestigiaram o evento e participaram ativamente dos debates e
das discussões.
BLOCO I – Humanização em Saúde
A
abertura do evento foi feita pelo Diretor Acadêmico do UNESC, Prof. Neacil Broseghini[1],
em nome da Reitoria do UNESC. Destacou a necessidade das Humanidades Médicas para a
busca da medicina integral, visando ao cuidado desde o nascimento até à morte
da pessoa.
Hélio Angotti Neto[2], Coordenador do SEFAM e do Curso de Medicina do
UNESC, ressaltou a importância das Humanidades Médicas no currículo médico, sem
desvalorizar a aprendizagem científica e técnica que tão bem pode fazer ao
paciente fragilizado.
O
médico de família e comunidade, Edgar
Gatti[3],
falou da Medicina Centrada na Pessoa. O método clínico centrado na pessoa foi
esquematizado hodiernamente por Ian McWhinney e Moira Stewart, com importante
foco na atenção ao paciente e na solidariedade. Os seis passos da metodologia
incluem (1) a exploração da enfermidade da perspectiva médica e da perspectiva
do paciente, (2) o entendimento da pessoa e de seu contexto, (3) o projeto
terapêutico compartilhado por decisões conjuntas, (4) a incorporação da
prevenção e da promoção de saúde, (5) a intensificação da relação entre
profissional da saúde e paciente e (6) o realismo necessário para obter bons
resultados no contexto geral em que se encontra.
O
médico geriatra e paliativista Heitor
Spagnol dos Santos[4],
professor e tutor do UNESC, explicou como abordar os aspectos sociais e
espirituais do paciente em fase final de vida. Por meio de instrumentos e
técnicas adequadas num contexto de compaixão, o profissional pode auxiliar o
paciente a refletir sobre questões existenciais, a resgatar seus
relacionamentos e a encontrar significado para seu sofrimento, evitando ou
aliviando o que pode ser chamado de “Dor Total”.
Trazendo a inspiradora história de Zilda Arns,
que se dedicou a promover a saúde e beneficiar a milhões de crianças por meio
de medidas educativas e eficientes como a introdução do soro caseiro, a médica
dermatologista Patrícia Duarte Deps[5]
e a médica pediatra Norma Suely de
Oliveira[6]
mostraram como a boa vontade e o amor podem interferir positivamente na
sociedade e como todos nós somos convidados a deixar um legado para melhorar o
que recebemos.
Para
encerrar o bloco I do Seminário de Humanidades Médicas, o médico oncologista Marco Antônio Cortelazzo[7]
trouxe importantes informações sobre a Ortotanásia e sua diferenciação da
eutanásia e da Distanásia. Tratou da aplicação dos princípios bioéticos na
prática médica e de conceitos centrais ao pensamento ético em saúde como o
princípio do duplo efeito de Tomás de Aquino.
O
segundo bloco, realizado na tarde do dia 9 de junho de 2017, abordou as
histórias de vida dos médicos e de como agir de forma ética e profissional.
George da Silva Carvalho[8] falou do mercado de trabalho no Brasil e de seus
desafios para o egresso do curso de medicina. Abordou também as diferentes
formas de vínculo empregatício e tributação sobre profissionais, trazendo
conhecimentos de grande utilidade para o planejamento da carreira e para o
amadurecimento dos futuros médicos.
Carlos Magno Pretti Dalapicola[9], presidente do Conselho Regional de Medicina do
Espírito Santo, expôs as principais causas de processo ético profissional e
orientou sobre como prevenir-se contra erros médicos. Sua apresentação
ressaltou a importância do estudo e da prática ética da medicina, com forte
ênfase no aspecto humanístico do profissional da saúde. Também demonstrou as
obrigações do médico em relação com seu Conselho Profissional.
Para
encerrar o segundo bloco, diversos membros do Conselho Regional de Medicina do
Espírito Santo participaram de um Julgamento Ético Profissional Simulado, no
qual os participantes tiveram a oportunidade de analisar um caso baseado em
fatos reais e refletirem sobre as consequências da má prática médica e das
possíveis penalidades às quais está sujeito o médico. Foi ressaltada a
importância do exame clínico meticuloso e completo, além do vínculo de
confiança estabelecido com o médico assistente.
Sem
dúvida foi um dia repleto de muitas oportunidades de crescimento profissional,
no qual a participação ativa dos participantes em muito enriqueceu o evento.
Bloco III – Bioética – O Debate do Aborto
O
terceiro dia trouxe um rico e controverso debate sobre um dos temas que mais polarizam
opiniões na Bioética contemporânea e que toca em princípios básicos para
a definição de uma civilização: o papel do abortamento na sociedade.
Cleverson Gomes do Carmo Júnior[10] fez sua apresentação inicial ressaltando a
valorização da autonomia da mulher na questão do abortamento. Definiu
importantes conceitos técnicos a serem utilizados na discussão e ressaltou a
preocupação e o cuidado com a vida da gestante.
Leonardo Serafini Penitente[11] questionou a atuação do Supremo Tribunal Federal
do Brasil na questão do abortamento e enfatizou os problemas éticos derivados
de sua possível liberação, incluindo as contradições legais daí decorrentes.
Hélio Angotti Neto abordou aspectos estatísticos, históricos e
culturais relacionados à questão do abortamento, contrastando alguns dados com
informações previamente apresentadas e alertando sobre a futura discussão do
fim da objeção de consciência por parte do profissional de saúde.
Após
as réplicas entre os debatedores, foi realizado um momento de perguntas e
respostas. Temas de grande relevância foram discutidos, incluindo a engenharia
social, a fragilidade da mulher na sociedade, que não oferece muitas vezes o
amparo necessário, e os valores de uma sociedade em derrocada.
Ao
término da manhã foi encerrado o V Seminário de Humanidades Médicas do UNESC. Foi
realizado um riquíssimo debate acadêmico e os palestrantes cumpriram com a
obrigação implícita no melhor conceito do que deve ser a Academia: um espaço
aberto à sincera busca pela verdade e pelo bem, mesmo em meio a discordâncias.
Foram
dois dias de interação entre diferentes cursos universitários, entre alunos,
professores e membros da comunidade de diversas cidades e perfis. Saímos todos
com a certeza de que ganhamos conhecimento e aprofundamos nossas perspectivas
acerca de assuntos de importância crucial para o bem de nossa sociedade.
Em
2018, o Seminário de Humanidades Médicas regressará em sua sexta edição, na
expectativa de reencontrarmos amigos novos e antigos, e de continuarmos no
caminho da crescimento da intelectualidade e do caráter.
[1]
Neacil Broseghini é enfermeiro com mestrado em administração de empresas e é
Diretor Acadêmico do Centro Universitário do Espírito Santo (UNESC).
[2]
Hélio Angotti Neto é médico oftalmologista pelo Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) com doutorado em ciências
pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). É coordenador
do curso de medicina do UNESC.
[3]
Edgar Gatti é médico de família e comunidade com pós-graduação em medicina do
trabalho e é preceptor da residência médica em Saúde da Família e Comunidade do
UNESC e do Internato Médico do UNESC.
[4]
Hetor Spagnol dos Santos é médico geriatra com pós-graduação em Cuidados
Paliativos. É professor e tutor do método de Aprendizagem Baseada em Problemas
do UNESC.
[5]
Patrícia Duarte Deps é médica dermatologista pela Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP) com mestrado em doenças infecciosas pela Universidade Federal
do Espírito Santo (UFES) e doutorado em medicina pela UNIFESP. Fez
pós-doutorado em Medicina Tropical pela London High School of Hygiene &
Tropical Medicine. É professora do Departamento de Medicina Social da UFES.
[6]
Norma Suely de Oliveira é médica pediatra com mestrado em doenças infecciosas
pela UFES e doutorado em pediatria pela UNIFESP. Atua como professora do
Departamento de Pediatria da UFES e chefe da Unidade de Terapia Intensiva e da
Unidade Semi-Intensiva neonatais e pediátricas do Hospital Universitário
Cassiano Antônio de Morais (HUCAM).
[7] Marco Antônio Cortelazzo é médico cirurgião oncologista com mestrado e doutorado em oncologia pela FMUSP. Realizou pós-graduação em Bioética também pela FMUSP e atua na qualidade de professor da UNIFEBE.
[8] George da Silva Carvalho é médico formado pela UFES com Residência em cirurgia pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro e em Cirurgia Plástica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professor do UNESC.
[9] Carlos Magno Pretti Dalapícola é médico com especialização em Medicina do Trabalho e é o atual Presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo.
[10] Cleverson Gomes do Carmo Júnior é médico ginecologista e obstetra com especialização em mastologia pela UFES. Atua no Pré-Natal de Alto Risco da Prefeitura de Vitória, Espírito Santo, e é chefe da Unidade Materno Infantil do HUCAM, na UFES.
[11] Leonardo Serafini Penitente é advogado criminalista com mestrado em Direito Penal pela Universidade Federal do Pernambuco. Atua como professor da Universidade de Vila Velha.