A MEDICINA DA PESSOA
Danilo
Perestrello foi professor do Setor de Psicossomática da 1ª Cátedra de Clínica
Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil. Desenvolveu, desde 1958,
na 1ª Disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um
trabalho que focalizou a atenção do médico novamente na pessoa de seu paciente,
e não predominantemente em sua doença.
Sua
obra, Medicina da Pessoa, é um testemunho de sua busca constante pela
humanização da saúde e pela educação de um médico capaz de agir de forma
integral.
Perestrello,
um dos grandes precursores de todos os estudiosos de Humanidades Médicas no
Brasil, alerta para a necessidade de se abrir a entrevista clínica, centrando a
anamnese na pessoa e não na doença, como se faz ao fechar muito a entrevista ao
redor de um sinal ou sintoma guia somente.
Que
não seja ele mal interpretado, pois reforça claramente em sua obra que não se
pode abrir mão dos avanços científicos e técnicos da medicina, assim como de
uma anamnese bem dirigida no momento certo, sob o risco de transformar-se o
médico num xamã. Contudo, afirma que o elemento humanístico deve ser reforçado,
e o médico deve aprimorar em si a percepção e a capacidade de lidar com os
elementos da medicina que a transformam em verdadeira arte: a indeterminação e
sua perspectiva profundamente humana.
Uma
anamnese aberta tem a grande vantagem de permitir ao médico a apreensão de uma possível
somatização, manifestação orgânica de um evento psíquico e cultural. O médico,
neste ponto em especial, realiza um verdadeiro papel psicanalítico, promovendo
a catarse do paciente e transformando-se em terapia viva ao promover a cura por
meio da palavra.
No
encontro com o paciente, Perestrello enfatiza a escuta ativa e o amor
(caridade) que gerarão a simpatia (compaixão), sempre mantendo uma
voz e uma postura serenas, transmitindo confiança e tranquilidade ao paciente.
Ao
término do livro, Perestrello trata de seus esforços pedagógicos. Afirma que o
professor precisa de experiência clínica, habilidades didáticas e profunda experiência
da alma humana. Aconselha ao acadêmico uma vivência pessoal ao lado do paciente e dos
mestres, que proverá a base para a correta absorção de livros e textos.
Os
elementos de uma História da Pessoa, segundo Danilo Perestrello, são:
1
– Biografia resumida, como vivida pelo paciente.
Condições
de nascimento, adolescência, desenvolvimento psicossexual, trabalho e relações profissionais,
casamento e relações familiares, hábitos, crenças e ambientes sociais.
2
– Circunstâncias da vida nas quais sobreveio a enfermidade atual e condições
nas quais sobrevieram enfermidades anteriores.
3
– Maneira como o paciente se relaciona com o médico atual e com médicos
anteriores.
Tal
enfoque profundamente pessoal permite, segundo o autor, uma visão do paciente
como pessoa, e não somente como portador de uma doença.
Danilo
Perestrello permanece como uma das referências de grande importância para a
compreensão humanística e complexa da realidade do paciente e, em sua obra, conduz
o leitor a uma perspectiva pouca visitada nos cursos de medicina de forma
geral, ainda hoje. Sua obra, A Medicina da Pessoa, ainda é referência
obrigatória nas Humanidades Médicas, e resgata uma longa tradição clínica que
quase se perdeu no ocidente com o otimismo cientificista da era moderna.
Hélio Angotti Neto, 12 de novembro de 2017. Coaltina - ES.