A CULPA NOSSA DE CADA DIA - Parte 2
Um estudo fenomenológico da crise no Brasil com base nos Esquemas de Diferenciações de Karl Jaspers a respeito da culpa.
Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo.
Isaías 5.20
2. A Culpa Criminal
O primeiro tipo de culpa é aquele baseado na lei dos homens. No cumprimento ou na desobediência de preceitos que permitem a sobrevivência da sociedade por meio de suas instituições. Essa culpa deve ser despertada por uma conduta que se encaixe em um processo formal, e deve ensejar uma penalidade, uma agressão contra aquele que ofendeu.
A culpa criminal deve ser satisfeita. Roubou, corrompeu, matou? Há que ser preso, removido da convivência dos homens de bem.
Hoje, homens de bem ficam trancados em casa, atrás de barras de ferro e cadeados, enquanto o criminoso passeia na rua ou dorme em palácios no cerrado brasileiro, debaixo de grandes e espessas placas de concreto ondulado erguidas pela visão seca e faraônica do arquiteto comunista, e stalinista, diga-se de passagem, Niemeyer.
Os crimes precisam de ser averiguados, tipificados, preparados com muito zelo e blindados contra os mil e um recursos de bons advogados que dedicaram suas vidas a livrar os bandidos do colarinho branco, porém manchado. Mas não há problema em manchar ternos e camisas brancas, pois o auxílio-paletó serve para resolver isso mesmo.
Observamos, já há alguns poucos anos, um tipo de levante jurídico, de reação, eu diria, no qual intocáveis da elite são presos, e no qual dinheiro público retorna às contas públicas, de onde poderá novamente ser roubado por mais políticos corrompidos num ciclo cujo fim ultrapassa meu horizonte míope.
Observamos também um levante diferente, do tipo daqueles que querem reescrever a constituição ao seu modo, reinterpretando tudo como se toda letra não fosse mais do que uma louca alucinação lisérgica apreendida pelo relativismo de um Jacques Derrida.
Cidadãos, se é que podem ser assim chamados quando na verdade se comportam mais como servos ou escravos do tirano magnânimo que cobra a alma em troca de esmolas, reclamam da prisão de um criminoso da estatura de um ex-presidente com nove dedos que agarra poder, dinheiro e pinga como se tivesse oito tentáculos. Gritam que outros bandidos existem e não foram presos. É difícil distinguir o mais corrupto na situação. Quem corrompe ou quem tenta justificar um erro com outro.
O crime em nosso país perde totalmente a objetividade para essa minoria violenta e cega. Só é crime se for cometido pelo outro, só é crime se não tiver sido cometido pela causa. Agora, que causa é esta de verdade, só Deus sabe.
O crime também perde o grau. Sofistas de plantão, daqueles que são cuspidos aos borbotões dos esgotos acadêmicos radicais de nossas federais, comparam crimes que lesam toda a pátria ou atentam frontalmente contra a vida humana com pequenos e medíocres “crimes” do cidadão comum. Quem somos nós para julgar o roubo de bilhões, a destruição de uma estatal estratégica para todo um país continental e as suspeitas mortes que ocorreram no longo governo da elite proletária que nunca trabalhou de verdade? Joguei papel no chão. Não posso falar mal do abortista, estuprador ou delinquente assassino traficante de drogas, não é mesmo?
Ah, mas prenderam o bandido dos oito braços - com um dedinho a menos - e dois tentáculos! Falta ainda a desconjuntada tartaruga no poste com o cachorro atrás, que ninguém sabe direito como foi parar lá em cima e o que estava fazendo. E falta muitos outros bandidos ainda. Garçom, traga o próximo por favor. O gosto do bom freguês é eclético.
Não importa a safra. Culpa criminal deve ser punida. Não importa o pedigree. Não se deve ter bandido de estimação. E não se deve perder o senso das proporções para que não se afunde em pura histeria, perdendo a percepção da gravidade dos grandes crimes contra todo um povo enquanto se perde tempo com nulidades.
Nossa elite não somente roubou o povo brasileiro. Nossa elite permite o assassinato de mais de sessenta mil vidas humanas todos os anos; uma multidão de anônimos massacrados. Nossa elite envia dinheiro para tiranias no estrangeiro que oprimem e matam seu próprio povo. Nossa elite faz pactos com sequestradores internacionais e terroristas que ganham dinheiro com tráfico de drogas. Mas perigoso de verdade é o sujeito que fura a fila, joga papel no chão, anda com a placa do carro ilegível, coloca saleiro em cima da mesa no restaurante ou resolve vender hotdogna calçada da praia com maionese suspeita, percebe?
A ausência de senso das proporções arma o cenário ideal no qual se torce o direito para que o crime compense no fim das contas.
A etiquetagem do crime e a defesa do bandido que pertence à mesma patota é outra indecência que assola nosso povo. O “rouba, mas faz” dos lulistas e malufistas.
Talvez nosso maior problema seja mesmo a violência, a brutalidade em que vive o cidadão comum nas ruas brasileiras. E este problema se mantém forte e sempre presente graças ao contexto cultural degenerado em que nos encontramos.
Enquanto nosso sábio lumpenproletariategresso das ciências sociais acusa políticos que assaltam o erário público; enquanto nossos burguesinhos filhinhos de papai e mamãe baby-boomersse deleitam criticando os últimos acontecimentos do Big Brother Brasilou comentando a última entrevista num condimentado programa acéfalo da televisão; milhares de Marias, Josés e tantos outros morrem, drogados, vitimados por balas perdidas ou bem endereçadas, desgraçando a vida de famílias inteiras.
A culpa criminal exige reparação proporcional, exige justiça. Doa a quem doer. É uma necessidade básica para criar a estabilidade e a confiança sem as quais é difícil imaginar o céu azul novamente.
Se há alguma coisa que torna insuportável a vida em um país e rouba o futuro da próxima geração é o profundo sentimento de injustiça, de impunidade.
LEIA A PARTE 3
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