sábado, 25 de fevereiro de 2017

RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE NOS ESCRITOS HIPOCRÁTICOS

A Relação Médico-Paciente na Obra Hipocrática: Medicina Antiga
Excertos da obra hipocrática que nos ajudam a compreender os deveres atemporais dos médicos
Retirados do Artigo Publicado em Mirabilia Medicinae 7

No Brasil, e em todo o mundo, são muitos os críticos da medicina hipocrática, sendo os seus defensores considerados paternalistas e com uma conduta incompatível com a atualidade. Entretanto, muito pouco se pesquisa sobre os escritos hipocráticos originais, e preconceitos infundados podem ser tomados por verdade sem que se busque nos textos originais e se reflita sobre o pensamento hipocrático, a realidade contemporânea ao autor e as implicações éticas e morais que o seu pensamento compartilha com a boa prática médica na atualidade.

Medicina Antiga 

Qualquer pessoa que coloque isso [métodos e descobertas feitas ao longo do tempo] de lado e rejeite todos esses meios, tentando conduzir uma pesquisa de qualquer outra forma ou por meios diferentes, e afirme que descobriu alguma coisa, será vítima de engano.
Na prática atual da medicina o médico é constantemente bombardeado por novidades, sejam descobertas científicas, sejam novas modalidades terapêuticas. Essas informações se propagam em grande velocidade, chegando ao médico por meio de revistas, noticiários ou dúvidas dos pacientes. 

Entretanto, o bom médico deve possuir os meios adequados para refletir sobre essas informações e guiar a sua boa prática sem se influenciar pela moda de pensamento, pautando-se em evidências. 

Assim como nos tempos hipocráticos, deve o médico sempre estar atualizado e conhecer as bases técnicas e científicas de sua base profissional. Também cabe  ao médico contemporâneo, conforme princípio fundamental expresso no Código de Ética Médica, 

(...) aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente. 

O conceito atual de educação permanente, presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Graduação em Medicina, também preconiza, desde o primeiro ano do curso de medicina, o mesmo preceito da orientação de Hipócrates. 

Aprender com autonomia e com a percepção da necessidade da educação continuada, a partir da mediação dos professores e profissionais do Sistema Único de Saúde, desde o primeiro ano do curso.

 Além disso, nas normas para pesquisa científica no Brasil, é necessário que o pesquisador trabalhe baseado no que há de mais atual no campo da ciência, e utilizando um método científico rigoroso e evitando agir com nível intolerável de incerteza. 

III.2 - As pesquisas, em qualquer área do conhecimento envolvendo seres humanos, deverão observar as seguintes exigências: a) ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com possibilidades concretas de responder a incertezas; b) estar fundamentada em fatos científicos, experimentação prévia e/ou pressupostos adequados à área específica da pesquisa;

Ainda na obra Medicina Antiga lê-se que:

É particularmente necessário, na minha opinião, para o que discute esta arte, falar de coisas familiares às pessoas comuns. Pois o assunto de discussão é simplesmente e somente os sofrimentos dessas mesmas pessoas comuns. Para que aprendam sozinhos como os seus próprios sofrimentos surgem e cessam, e as razões pelas quais eles pioram ou melhoram, não é uma tarefa fácil para pessoas comuns. Porém, quando estas coisas são reveladas e demostradas por outros, tornam-se de mais simples compreensão.
Hipócrates demostra que, para o bom relacionamento médico-paciente, é fundamental que o médico esteja apto a conversar em linguagem familiar, isto é, inteligível, e que o doente possa compreender seu estado de saúde. Inferimos que o uso de termos técnicos, embora demostre conhecimento teórico da parte do médico, seja problemático no tocante à capacidade comunicativa com o paciente. Este trecho ressalta a disposição em promover o aprendizado do paciente mediante efetiva comunicação. 

Hoje, é considerada obrigatória a comunicação com o paciente em linguagem acessível, para que o mesmo possa exercer sua autonomia de forma eficaz, o que é um importante princípio bioético contemporâneo.

Nas normas de pesquisa científica do Brasil, o Conselho Nacional de Saúde define também, por exemplo, que a comunicação com o paciente por meio do Termo de Consetimento Livre Esclarecido deve ser feita de forma acessível. 

IV.1 - A etapa inicial do Processo de Consentimento Livre e Esclarecido é a do esclarecimento ao convidado a participar da pesquisa, ocasião em que o pesquisador, ou pessoa por ele delegada e sob sua responsabilidade, deverá: (...) b) prestar informações em linguagem clara e acessível, utilizando- se das estratégias mais apropriadas à cultura, faixa etária, condição socioeconômica e autonomia dos convidados a participar da pesquisa. 

Assim, observa-se desde a antiguidade, a preocupação na comunicação entre médicos e leigos. O trecho também trata da educação em saúde destinada ao paciente, quando ressalta a importância de informar ao paciente sobre as causas, o prognóstico, possíveis tratamentos e fatores que podem piorar a condição de saúde. O objetivo é tornar o paciente apto a cuidar da própria saúde ou de colaborar ativamente com seu médico. 

A educação do paciente em saúde tem sua importância ressaltada, por exemplo, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Graduação em Medicina no Brasil onde, junto com assistência, educação e gestão em saúde, a socialização do conhecimento integra o escopo de ação desejado em sociedade em relação ao médico. 

Art. 19. A Área de Competência de Educação em Saúde estrutura-se em 3 (três) ações-chave: I - Identificação de Necessidades de Aprendizagem Individual e Coletiva; II - Promoção da Construção e Socialização do Conhecimento; e III - Promoção do Pensamento Científico e Crítico e Apoio à Produção de Novos Conhecimentos.

LEIA O ARTIGO COMPLETO EM: MIRABILIA MEDICINAE