sábado, 4 de fevereiro de 2017

TRABALHO MÉDICO EM EQUIPE - 17º PRINCÍPIO DO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

Princípio XVII – Trabalho em Equipe em prol do Paciente



XVII - As relações do médico com os demais profissionais devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um, buscando sempre o interesse e o bem-estar do paciente.

Fala-se em equipe de saúde, e o termo aponta na direção certa. O médico deve saber trabalhar em equipe. O cuidado com o ser humano sempre foi complexo, e sempre acatou, ou deveria acatar, o apoio do maior número possível de pessoas capacitadas a colaborar com o benefício do paciente que sofre.

Desde o passado, o médico compreende a necessidade de se pedir auxílio não somente ao colega, mas também aos familiares e demais profissionais. Sua prudência o obriga a isso.

Na obra hipocrática Aforismas, lê-se:

I. A vida é breve, a Arte é longa, a oportunidade é fugaz, a experiência é traiçoeira e o juízo é difícil. O medico deve estar pronto a não somente cumprir seu dever, mas também a assegurar a cooperação do paciente, dos auxiliares e de familiares (outros). [1]

Na medicina atual, os acompanhantes do paciente – de regra, sua família – permanecem importantes. E o auxílio do paciente por meio de sua orientação continua a ser prática essencial ao Ato Médico.

Na obra Epidemia 1, recomenda-se ao médico que “Não hesite em perguntar aos leigos se, por acaso, isso possa de alguma forma resultar em melhora no tratamento”.[2]

Ainda na obra Epidemia 1, os antigos médicos enfatizaram a necessidade de ser humilde e apelar àquilo que hoje chamamos de interconsulta ou parecer:

VIII. Tanto para tais recomendações. Pois a remissão e o agravo de uma doença requerem respectivamente menos ou mais assistência médica. Um médico não viola a etiqueta até mesmo se, estando em dificuldades numa ocasião sobre um paciente e em dúvida por sua inexperiência, necessitar pedir ajuda a outros, com o fim de aprender a verdade sobre o caso, de modo que pode haver colegas que ofereçam uma grande ajuda. Pois, quando a condição mórbida é teimosa e o mal cresce, na perplexidade do momento a maior parte das coisas dá errado.[3] 

O que está em jogo é muito mais que a reputação da profissão ou a imagem do médico enquanto conhecedor do diagnóstico ou do tratamento. É a saúde do paciente que está em risco e, para isso, todos os esforços devem ser mobilizados.
Contudo, na atuação interdisciplinar, choques e conflitos de interesse podem surgir, como se observa nos recentes problemas derivados da lei do Ato Médico. As diferentes classes profissionais têm lutado por espaço profissional e pela prerrogativa de chefiar os estabelecimentos de saúde. Nesse contexto político hostil, a grande preocupação é prejudicar o elo frágil da situação: o paciente que depende dos serviços de toda a equipe.



[1] HIPPOCRATES & HERACLEITUS. Nature of Man. Regimen in Health. Humours. Aphorisms. Regimen 1-3. Dreams. Heracleitus: On the Universe. Translated by W. H. S. Jones. Loeb Classical Library 150. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1931.

[2] HIPPOCRATES. Ancient Medicine. Airs, Waters, Places. Epidemics 1 and 3. The Oath. Precepts. Nutriment. Translated by W. H. S. Jones. Loeb Classical Library 147. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1923, p. 314-315.

[3] HIPPOCRATES. Epidemics 1, 1923, Op. cit., p. 322-323.