Princípio XVII – Trabalho em Equipe em prol do Paciente
XVII
- As relações do médico com os demais profissionais devem basear-se no respeito
mútuo, na liberdade e na independência de cada um, buscando sempre o interesse
e o bem-estar do paciente.
Fala-se
em equipe de saúde, e o termo aponta na direção certa. O médico deve saber
trabalhar em equipe. O cuidado com o ser humano sempre foi complexo, e sempre
acatou, ou deveria acatar, o apoio do maior número possível de pessoas
capacitadas a colaborar com o benefício do paciente que sofre.
Desde
o passado, o médico compreende a necessidade de se pedir auxílio não somente ao
colega, mas também aos familiares e demais profissionais. Sua prudência o
obriga a isso.
Na
obra hipocrática Aforismas, lê-se:
I. A
vida é breve, a Arte é longa, a oportunidade é fugaz, a experiência
é traiçoeira e o juízo é difícil. O medico deve estar pronto a não somente
cumprir seu dever, mas também a assegurar a cooperação do paciente, dos
auxiliares e de familiares (outros). [1]
Na
medicina atual, os acompanhantes do paciente – de regra, sua família –
permanecem importantes. E o auxílio do paciente por meio de sua orientação
continua a ser prática essencial ao Ato Médico.
Na
obra Epidemia 1, recomenda-se ao
médico que “Não hesite em perguntar aos leigos se,
por acaso, isso possa de alguma forma resultar em melhora no tratamento”.[2]
Ainda
na obra Epidemia 1, os antigos
médicos enfatizaram a necessidade de ser humilde e apelar àquilo que hoje
chamamos de interconsulta ou parecer:
VIII.
Tanto para tais recomendações. Pois a remissão e o agravo de uma doença
requerem respectivamente menos ou mais assistência médica. Um médico não viola
a etiqueta até mesmo se, estando em dificuldades numa
ocasião sobre um paciente e em dúvida por sua inexperiência, necessitar pedir
ajuda a outros, com o fim de aprender a verdade sobre o caso, de modo que pode
haver colegas que ofereçam uma grande ajuda. Pois, quando a condição mórbida é
teimosa e o mal cresce, na perplexidade do momento a maior parte das coisas dá
errado.[3]
O
que está em jogo é muito mais que a reputação da profissão ou a imagem do
médico enquanto conhecedor do diagnóstico ou do tratamento. É a saúde do
paciente que está em risco e, para isso, todos os esforços devem ser
mobilizados.
Contudo,
na atuação interdisciplinar, choques e conflitos de interesse podem surgir,
como se observa nos recentes problemas derivados da lei do Ato Médico. As
diferentes classes profissionais têm lutado por espaço profissional e pela
prerrogativa de chefiar os estabelecimentos de saúde. Nesse contexto político
hostil, a grande preocupação é prejudicar o elo frágil da situação: o paciente
que depende dos serviços de toda a equipe.
[1]
HIPPOCRATES & HERACLEITUS. Nature of Man. Regimen
in Health. Humours. Aphorisms. Regimen 1-3. Dreams. Heracleitus: On the
Universe. Translated by W. H. S. Jones. Loeb Classical
Library 150. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1931.
[2]
HIPPOCRATES. Ancient Medicine. Airs, Waters, Places.
Epidemics 1 and 3. The Oath. Precepts. Nutriment. Translated
by W. H. S. Jones. Loeb Classical Library 147. Cambridge, MA: Harvard
University Press, 1923, p. 314-315.
[3]
HIPPOCRATES. Epidemics 1, 1923, Op. cit., p. 322-323.